1º Simpósio Internacional de
Arquitetura e Museu – Novas Tendências
Silvestre Gorgulho (Brasília, 17 de setembro/2010)
A ousadia de ter realizado o 1º Simpósio Internacional de Arquitetura e Museu – Novas Tendências, no ano que Brasília completou seus 50 anos, ajudou a transformar a Capital do Brasil num centro de referência nacional e mundial da nova arquitetura, urbanismo e museologia. Faz relembrar a ousadia e o pioneirismo do ex-governador José Aparecido de Oliveira que lutou junto à UNESCO para que esta cidade fosse tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade, com apenas 27 anos de vida.
Há precisos 50 anos, o povo brasileiro, pela liderança do presidente Juscelino Kubitschek, assombrou o mundo por uma decisão ousada e corajosa: inaugurar no Planalto Central, a nova Capital da República.
Concebida pelo urbanista Lucio Costa, Brasília pousou sobre o chão vermelho do Cerrado, recheada de palácios, prédios e monumentos surgidos da prancheta de Oscar Niemeyer e de outros artistas construtores como Burle Marx, Bruno Giorgi, Alfredo Cesquiatti, Mariane Perretti, Athos Bulcão, Joaquim Cardozo e tantos outros.
JK buscou nos modernistas a inspiração para a construção da Nova Capital. E o mestre Oscar Niemeyer diz muito bem: “Naquela época, arquitetura e arte, política e arte, utopia e arte eram dimensões inseparáveis...”
A nova capital fez o Brasil desviar o olhar do litoral para o seu interior e abraçar toda uma nação - a mais de mil quilômetros do mar - equidistante dos extremos Norte e Sul, Leste e Oeste.
Se Brasília foi um exemplo de criatividade e de competência do povo brasileiro, foi também Brasília que deu o sinal verde para discutir a nível mundial a importância do investimento em cultura com este 1º Simpósio Internacional de Arquitetura e Museu – Novas Tendências.
Brasília é uma cidade museu. Como cidade que nasceu nas pranchetas e ateliers dos mais renomados artistas de uma Era, Brasília por si só responde positivamente a esta pergunta: vale a pena investir em cultura? E como valeu!
Veja o que Brasília significou para o Brasil: interiorizou a economia, distribuiu melhor as benesses do desenvolvimento por regiões antes abandonadas e longe do litoral, possibilitou ao Centro-Oeste colher cerca de 60% da produção de grãos do Brasil, deu emprego e aumentou a renda numa época de crise, fez o Brasil conhecer melhor sua gente e sua diversidade, modernizou a máquina administrativa federal e, enfim, fez o Brasil ocupar um espaço antes vazio distribuindo melhor as políticas públicas.
Brasília – uma obra de engenho e arte - comprovou a capacidade criativa de um povo e se impôs como referência nacional definitiva.
Além de oportuno, foi muito significativo Brasília - antes de terminar as comemorações pelo seu cinqüentenário – reunir tantos arquitetos e urbanistas nacionais e internacionais para discutir não só sua história e sua contribuição à arquitetura e ao urbanismo mundial, mas também a economia da cultura e o processo produtivo incluso neste segmento. Mais: discutir a “mais valia” que os investimentos em cultura proporcionam.
A verdade é que não basta ser o centro de memória, preservar o patrimônio material e imaterial e irradiar o conhecimento. Temos que ir além: atualmente, os museus necessitam consolidar sua posição dentro da sociedade, como um vetor que contribui, sobretudo, para o desenvolvimento econômico da cidade, que dá emprego, que gera renda, que movimenta hotéis, restaurantes e muitas outras atividades.
Muitos espaços culturais ao redor do mundo salvaram cidades. Dois exemplos clássicos: o Museu Guggenheim transformou Bilbao, na Espanha. E o Parc de
O Guggenheim atrai um milhão de turistas por ano, sendo 75% de fora da Espanha. O Brasil inteiro não recebe cinco milhões de visitantes estrangeiros por ano.
Para conseguir o sucesso do 1º Simpósio Internacional sobre Arquitetura e Museus, é preciso reverenciar a equipe da Secretaria de Cultura – Sub-Secretaria de Patrimônio e Políticas Culturais - que colocou – a duras penas – este evento de pé.
É preciso agradecer, também, todas as muitas parcerias que nos ajudaram a promover este evento.
O fato é que, expressão-síntese da diversidade cultural brasileira, Brasília foi além de sua importância arquitetônica. Não se entende mais cultura como apenas a expressão do fazer material e do saber imaterial de um povo. Cultura é a senha para que as pessoas se sintam pertencendo ao ambiente em que vivem e produzem, contribuindo para a elevação da auto-estima.