Perfil

O jornalista SILVESTRE GORGULHO (31/12/1946) é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, em 1972. Foi professor- visitante (1981-1982) na University of Minesota (EUA) e antes de criar seu próprio jornal, a Folha do Meio Ambiente, em 1989, foi repórter do Diário do Comércio (Belo Horizonte); redator das revistas VEJA, QUATRO RODAS e ESCOLA, da Editora Abril, em Belo Horizonte; e colunista do JORNAL DE BRASÍLIA por 10 anos.

A vida ensina sempre. Uma das coisas que aprendi nesses meus 35 anos de jornalismo é que só a saudade faz a gente parar no tempo. Quando, em 12 de dezembro de 2002, faleceu o indianista Orlando Villas-Boas, voltei ao dia 23 de dezembro de 1972. Nesse dia me formei em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais. Os irmãos Villas-Boas, representado por Orlando, foram os paraninfos de minha turma. Orlando tinha acabado de chegar das margens do rio Peixoto, onde contactava os Krenhacãrore. Ele pegou uma kombi em São Paulo e foi para Belo Horizonte paraninfar a turma de Comunicação da UFMG. Por três dias ficou hospedado na minha “república” no 32ª andar do edifício JK, na praça Raul Soares.

Na véspera da formatura, meus 29 colegas e eu tivemos uma verdadeira Aula Magna de Brasil. Foi a mais importante aula dos meus quatro anos de universidade. Foi a aula que direcionou meu caminhar profissional: o jornalismo de meio ambiente. Éramos 30 formandos que, na véspera da grande festa, sentamos no chão do meu apartamento, em círculo como nas tribos, para embevecidos escutar Orlando Villas-Boas falar de florestas, de índios, de brancos, de rios, de matas e de bichos.
Sua primeira lição foi, para mim, ex-seminarista, um susto:

“Desde o Descobrimento o homem branco destrói a cultura indígena. Primeiro para salvar sua alma, depois para roubar sua terra”.

Depois vieram as perguntas para matar nossas curiosidades. Suas respostas doces, duras e definitivas vinham enriquecidas pela vasta vivência de décadas na Amazônia, como último dos pioneiros da saga da expedição Roncador/Xingu. Ouvíamos com máxima atenção:

“Foram os índios que nos deram um continente para que o tornássemos uma Nação. Temos para com os índios uma dívida que não está sendo paga”.

“O índio só pode sobreviver dentro de sua própria cultura”.

Para os índios, Orlando se juntou aos seus irmãos aventureiros Leonardo, Álvaro e Cláudio e viraram lenda. Habitam, hoje, o Sol e o Trovão. Para nós brancos, eles deixam uma lição de vida e de coragem.

Das lições daquele dezembro de 1972, uma eu guardo com especial carinho, pois nela está contido o segredo da harmonia.

“Em vez de querer ensinar aos índios, o homem branco deveria ter a humildade para aprender com eles que o velho é o dono da história, o homem é o dono da aldeia e a criança é a dona do mundo”.

De meu paraninfo guardei lições valiosas que orientam minha vida pessoal e profissional. O verdadeiro Brasil foi-me apresentado por Orlando Villas-Boas. Ele me ensinou a ser brasileiro. Nos meus 51 anos de jornalismo, não faço outra coisa. Já trabalhei no Diário do Comércio (Belo Horizonte), na revista VEJA, na Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha, no Ministério da Agricultura, na Embrapa, no Jornal de Brasília, no Governo do Distrito Federal, no Ministério da Indústria e Comércio, na Presidência da República e, em 1989, resolvi fazer a Folha do Meio Ambiente.

Por onde passei e por onde ainda hei de passar, nunca vou esquecer das velhas lições de meu paraninfo. Meu lema de vida continua sendo o dele: para a criança ser a dona do mundo, nós temos que ter muita garra, ser audaciosos, humildes e aventureiros. Tudo para defender nossas culturas, conservar nossa biodiversidade, preservar nossas florestas, proteger nossos rios e contactar, sempre, em nome da paz.

Convite dos formandos da UFMG – 1972

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