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Arborização urbana da Esplanada dos Ministérios em Brasília
Arborização de Brasília: Esplanada revisitada
A Esplanada dos Ministérios se assemelha mais a um sítio rural onde se cultiva, sem qualquer ordem ou técnica, um pomar misturado a um jardim e a uma horta.
“O espaço vazio é, talvez, o elemento mais importante
dos jardins e dos parques. É expressão do invisível,
um centro em torno do qual tudo se ordena.
É o equivalente do silêncio que constitui, não se deve esquecer,
um dos componentes da eloquência.
O vazio tem um valor espiritual: nossas catedrais
eram o invólucro de um espaço de
dimensões perfeitas que suscitam a prece”.
Duque d’Harcourt, em seu livro Des Jardins Heureux
Silvestre Gorgulho
O homem é verdadeiramente um ser especial. Por ser racional, tem um poder de adaptação fantástico, conseguindo viver bem em quaisquer dos ambientes habitados pelas outras espécies: pode construir seu próprio ambiente, mais frio ou mais quente, mais seco ou mais úmido, na terra ou no mar e, agora, até no espaço. O homem desenvolveu tecnologias e aprendeu a fazer seu habitat de acordo com as conveniências econômicas e sociais. Aprendeu a construir seu ambiente nas cidades, onde ele nasce, cresce, ama, se reproduz, se alimenta, realiza seu trabalho, pratica esportes, desfruta seus momentos de lazer, vive e morre. Mas nisso tudo há um segredo: é preciso que exista um certo equilíbrio entre os elementos naturais com o qual convive. Quanto maior o desequilíbrio entre esses elementos e entre eles e o homem, maior será o desconforto e a falta de saúde, comprometendo a qualidade de vida. E, na ecologia de seus assentamentos, sejam eles uma vila, uma cidade, uma metrópole ou uma megalópole, a arborização tem papel fundamental.
A arborização urbana é uma arte. Exige profundos conhecimentos de estética e uma perfeita integração entre Homem, Natureza e Prédios. Há que ter um convívio equilibrado, propiciando aos habitantes do meio urbano o prazer de um belo visual, paz de espírito e harmonia no viver diário. As plantas, os parques e os jardins emolduram uma cidade. Fazem parte da paisagem de uma cidade. Na natureza está o lado romântico das cidades.
Todas as cidades têm seus monumentos, seus prédios característicos, muitas vezes tombados como patrimônio cultural. Os parques e, sobretudo a arborização urbana, têm que fazer parte deste contexto. Não pode haver agressão – mas sim harmonização – entre os prédios e a natureza.
A questão de Brasília
Brasília é uma cidade tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. É a única cidade contemporânea tombada. Brasília é planejada. É a própria cidade-monumento. Durante anos, muitas intervenções pontuais e aleatórias foram sendo efetuadas nos grandes canteiros, no Eixo Monumental, na Esplanada dos Ministérios, sem qualquer preocupação com o conjunto e com a integração com o meio edificado.
Muitas intervenções nunca deveriam ter sido feitas. Plantaram-se tantas árvores, sem nenhum critério, em pleno coração da Capital, que acabou por gerar uma grande confusão. Pior: árvores exóticas e inadequadas estão tapando totalmente as fachadas dos Ministérios. A Esplanada, hoje, se assemelha mais a um sítio rural onde se cultiva, sem qualquer ordem ou técnica, um pomar misturado a um jardim, a uma horta, de um modo típico de quem desconhece a arte de lidar com a natureza e com a estética.
Muitos habitantes, guiados pelas melhores intenções, se viram no direito de inserir sua marca pessoal na paisagem, sob a forma de um mogno, uma mangueira, uma jaqueira, um pé de jamelão. Em muitos lugares não se vê a menor preocupação de estender à vegetação a ordem que criou a cidade e que a tornaram um bem cultural singular em todo o planeta.
Assim, ainda que na melhor das intenções, plantou-se de tudo na Esplanada. No seu livro “Manual de Intervenções em Jardins Históricos”, o arquiteto e paisagista do IPHAN, Carlos Fernando de Moura Delphim lembra muito bem que “o estrato arbóreo é um elemento quase arquitetônico. Uma árvore pode vir a assumir uma dimensão mais impactante que o próprio prédio”. E é, justamente, o que está acontecendo em Brasília.
Carlos Fernando de Moura Delphin, um dos paisagistas preferidos de Oscar Niemeyer, deixa claro que “projetada para automóveis, Brasília não precisa ser inóspita para os pedestres que não encontram qualquer aconchego na travessia de alguns de seus grandes gramados. Corredores de sombra e frescura poderiam ser criados de forma ininterrupta, curvos e sinuosos, em contraposição á geométrica e retilínea malha da cidade e sem se chocarem com suas formas“.
Erros cometidos em Brasília
Para Moura Delphim, há vários erros que devem ser corrigidos:
1 – Nas imediações de belas edificações, foram plantadas árvores exóticas cujo porte adulto, muitas vezes, nem é ainda conhecido no Brasil. Ao crescerem, as árvores vão obstruindo e ocultando totalmente a visão de prédios que foram projetados para serem livremente contemplados.
2 – Figueiras e mognos foram plantados em renque ao longo de alguns ministérios. Essas árvores têm um porte tal que estão tornando o conjunto de prédios bem menos significantes. Há uma competição entre as árvores e os Ministérios.
3 – Há, ainda, o inconveniente das raízes causadoras de ruínas, como as chamou Guimarães Rosa.
4 – A vegetação do grande canteiro existente diante do Hotel Nacional e que deveria emoldurar a vista que se tem da edificação, não tem qualquer utilidade prática, seja do ponto de vista estético, seja do ponto de vista ambiental. Arvoretas raquíticas não chegam a constituir um conjunto aprazível para os olhos nem se prestam à função de sombrear e refrescar.
Medida compensatória: para cada árvore cortada na Esplanada, será plantada uma centena de outras em áreas adequadas.
Os cheios e vazios na paisagem de Brasília
Diz o arquiteto-paisagista Carlos Fernando que é extremamente importante saber a exata medida entre os cheios e os vazios na paisagem de Brasília. “A idéia de Oscar Niemeyer em deixar amplos espaços cívicos livres e desocupados, como forma de valorizar sua arquitetura, deve ser integralmente respeitada. Entretanto as intervenções de plantio, onde se justificam, não devem ser tímidas, mas devem se integrar a esse vazios, servindo ao conforto e ao prazer estético da população”.
“Quando isoladas – lembra Carlos Fernando – antes parecem se separar do que se integrar à paisagem. Competem com o todo, subtraem, ao invés de colaborar, de acrescer. Como Brasília ficaria bela se novas espécies de árvores de floração deslumbrante fossem aqui introduzidas e se as espécies já existentes viessem a constituir conjuntos harmoniosos! Se manchas de cores vibrantes atravessassem seus espaços, se interpenetrassem, criando um novo desenho em contraponto ao lógico ordenamento urbano. Existem árvores de aspecto semelhante ao ipê com flores cor de sangue ou azuis e em outros tons também intensos de amarelo, roxo, branco e rosa. Muitas dessas árvores são nativas, outras exóticas e muitas nunca foram usadas na arborização urbana“.
O que fazer
Vamos criar uma comissão: IPHAM, UNESCO, IBAMA, Secretaria de Habitação e Urbanismo, Secretaria de Cultura e Ministério da Cultura para fazer um projeto de revitalização para adequar a arborização do Eixo Monumental e da Esplanada dos Ministérios.
A Comissão indicaria as intervenções capazes de valorizar aquilo que Brasília tem de mais singular: seus grandes vazios. Aí, então, seriam organizados os novos plantios. E, quando for necessário e justificável, indicando os espécimes arbóreos cujos inconvenientes recomendam sua supressão, observando atenciosamente se a avifauna não se utiliza destas árvores para nidificar. Assim sendo, espera-se até que os filhotes estejam adultos e portanto aptos a se mudar para outros locais. Nesse caso, seria adotada uma Medida Compensatória: para cada árvore cortada na Esplanada, será plantada uma centena de outras em áreas adequadas.
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Em Brasília, mulheres indígenas celebram diversidade cultural e marcham por lutas comuns
Na III Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, representantes de todos os biomas do Brasil celebram sua diversidade, denunciam violência de gênero e dizem não ao Marco Temporal.

Marcha das Mulheres Indígenas de 2023, em Brasília — Foto: Amanda Magnani
O som de cantos e dos maracás ecoa de todos os lados do acampamento à medida que grupos de mulheres dos mais diferentes cantos do Brasil se aproximam da tenda principal na concentração para a III Marcha Nacional de Mulheres Indígenas. São 8h00 e o sol seco de Brasília parece realçar as cores dos mais variados trajes tradicionais.
A marcha, que foi do Complexo Cultural da Funarte, onde estavam acampadas, até o Congresso, a cerca de 5km de distância, reuniu mais de 5 mil mulheres. Ela aconteceu no último dia de um evento que, ao longo de três dias, foi marcado por celebrações e denúncias.
Sob o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”, indígenas de diferentes partes do Brasil tiveram a oportunidade de dar voz às demandas específicas vividas pelos povos de seus biomas.
Para o povo Kiriri, da Caatinga, a cerca de 300 km de Salvador, um dos maiores problemas é a seca e a consequente falta de segurança alimentar. “Nossa região é muito seca, e as mudanças climáticas aumentam o impacto na insegurança alimentar”, diz Fabiana Kiriri.
Ela conta que o trabalho coletivo na comunidade e a reserva de alimentos vêm como uma forma de tentar contornar o problema. Mas uma colheita suficiente depende de muitos elementos, que vão da quantidade de chuvas à presença de pragas.
“O que realmente precisamos é de um olhar especial do governo, que proponha projetos para ajudar as comunidades a terem autonomia”, defende.
Já para o povo Kaingang do Pampa, no Rio Grande do Sul, as demandas passam principalmente pelos enfrentamentos com o agronegócio e pelos arrendamentos de áreas dentro das terras indígenas, que acabam levando monoculturas e agrotóxicos para dentro a terra.
“Nós precisamos dar visibilidade às nossas lutas e sensibilizar a nossa comunidade, para que possamos encontrar estratégias para atender as demandas dos nossos territórios”, diz Priscila Gore Emílio, psicóloga do povo Kaingang.
Enquanto isso, em Santa Catarina, os Xokleng são protagonistas no debate sobre o Marco Temporal. “Nossa região foi tradicionalmente ocupada pelos povos indígenas e o nosso território já foi muito maior. Hoje, vivemos em uma área muito reduzida, mas continuamos vivendo muitas tensões e conflitos”, diz Txulunh Gakran.
Contudo, embora povos dos diferentes biomas tenham suas demandas específicas, são muitas as lutas comuns às mulheres indígenas do Brasil como um todo. Grande parte delas gira ao redor da garantia do direito ao território e ao fim da violência de gênero.



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Castanheira-da-amazônia mostra eficiência na recuperação de solos degradados
Os estudos estão sendo realizados em cultivos de castanheiras implantados em áreas que antes eram pastagens degradadas no estado do Amazonas

Pesquisas da Embrapa em plantios de castanheira-da-amazônia (Bertholletia excelsa) indicam que a espécie é eficiente para a recuperação de solos degradados em áreas nas quais a floresta foi retirada. Trata-se de um resultado bastante promissor para a recomposição florestal desse bioma, onde existem atualmente mais de 5 milhões de hectares de solos que precisam ser restaurados. Outra vantagem observada é que as castanheiras são capazes de produzir por mais de 40 anos com pouco ou quase nenhum aporte de nutrientes. Além de contribuir para a preservação, esses cultivos podem ajudar a gerar renda e emprego para os povos da floresta, com a geração de serviços ambientais.
Os estudos estão sendo realizados em cultivos de castanheiras implantados em áreas que antes eram pastagens degradadas no estado do Amazonas. “A capacidade de crescimento demonstrada pela castanheira comprova que ela tem uma estratégia fisiológica totalmente adaptada a esses tipos de solos”, afirma o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) Roberval Lima, que realiza estudos silviculturais com essa espécie.
O embasamento para uso da castanheira na recuperação de áreas degradadas ganha ainda mais força com estudos sobre emissão de gases a partir do solo, processo também chamado de respiração do solo, e que consiste em um conjunto de fenômenos bioquímicos, envolvendo temperatura, umidade, nutrientes e níveis de oxigênio, influenciados por fatores naturais e ações humanas. As pesquisas compararam a capacidade de respiração do solo e a emissão de gases em diferentes ecossistemas, conforme os modos de uso da terra no bioma.
Uma das conclusões é que os plantios de castanheiras apresentam níveis de melhoria na qualidade do solo que mostram tendência de recuperação das características químicas, físicas e presença de microrganismos.
Segundo o pesquisador, os solos em plantios de castanheiras apresentam qualidade 50% superior à de áreas de pastagem degradadas. Foram realizados estudos comparando o fluxo de gases a partir do solo em ecossistema de floresta natural, em pós-floresta (após a corte da floresta) e em cultivos como os plantios de castanheira. “Os resultados apontam que, sob os plantios de castanheiras, o solo está se recuperando com uma tendência massiva próxima a de uma floresta natural”, destaca.
Foto acima: Siglia Souza
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Síglia Souza (MTb 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental
Contatos para a imprensa
amazonia-ocidental.imprensa@embrapa.br
Telefone: (92) 3303-7852
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