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UMA LENDA CHAMADA PELÉ

Estou triste. Muito triste. Pelé virou lenda.

 

Era uma vez um menino pobre, de uma família pobre, em um país pobre que tinha o dom de fazer mágicas: de uma bolinha-de-meia fez sete bolas de ouro.

Era uma vez, um menino que nasceu Edson, em 23 de outubro de 1940, em Três Corações. Virou DICO, para a família. E ganhou o apelido PELÉ, em São Lourenço, quando seu pai Dondinho jogava no time de minha terra natal.

Era uma vez um garotinho negro, humilde e franzino que fez, com sua arte e sua genialidade, o Brasil maior. Colocou o mundo inteirinho dentro da Vila Belmiro, em Santos. Fez do Maracanã, do Pacaembu e de muitos outros estádios do mundo, altar de suas oferendas.

Era uma vez um garoto de 17 anos, único nessa idade a participar de uma Copa do Mundo, jogando a final, fazendo gols e sendo Campeão.

Era uma vez um atleta que entrou para o mundo das artes, participando da literatura (prefaciou um livro de Carlos Drummond de Andrade); contracenou com Sylvester Stallone (Victory), e com muitos outros artistas em 18 filmes e algumas telenovelas. Entre eles: Os Trapalhões, Paulo Goulart, Milton Gonçalves, Grande Otelo, Dina Sfat, Tereza Raquel e José Lewgoy. Gostava de música. Pelé gravou com Elis Regina, Roberto Carlos, Chico Buarque, Jair Rodrigues e Gilberto Gil.

Em julho de 1971, Pelé se aposentou na Seleção Brasileira, mas a Seleção não o deixou. Continuou como eterna referência.

Em 1971, deu nome ao Centro Educacional e Esportivo Edson Arantes do Nascimento – Pelezão, na Lapa/Barra Funda-SP.

Em vida, Pelé colecionou muitas outras homenagens.

Em primeiro de outubro de 1977, pelo Cosmos de New York, fez seu último jogo profissional, mas continuou sendo a maior personagem do esporte mundial.

Em 1981, Pelé foi eleito por jornalistas internacionais como o “Atleta do Século”.

Foi o esportista mais requisitado da História para campanhas de marketing.

Na década de 90, o COI oficializou Pelé como o “Atleta do Século”.

Em 1995, aceitou o convite para ser Ministro dos Esportes, no governo FHC. Criou a Lei Pelé, sancionada em 24 de março de 1998, que instituiu normas gerais sobre o desporto brasileiro.

Além do Diploma de Mérito de Cidadão do Mundo, da ONU, de uma estátua em Três Corações-MG e outra na Índia, de um estádio de futebol no Irã e outro em Maceió (AL) e de uma praça em Los Angeles-EUA, Pelé colecionou ruas. Muitas ruas! Tem rua com seu nome em Montevidéu, no Uruguai, e em muitas cidades do Brasil: Três Corações e Barbacena, em Minas Gerais, Cariacica-ES, Japeri-RJ, Campinas e São José do Rio Preto, em São Paulo.

Em 1997, Pelé recebeu o título de ‘SIR’ – Cavaleiro Honorário do Império Britânico, das mãos da Rainha Elizabeth II, no Palácio de Buckingham.

No ano 2000, foi reconhecido pela FIFA como o maior jogador de futebol do Século.

Em outubro de 2005, Pelé ganhou um presente de aniversário histórico: o Centro de Treinamento do Santos que passou a se chamar CT Rei Pelé.

Em junho de 2008, para comemorar os 50 anos da Copa de 1958, o Museu Nacional de Brasília fez a exposição ‘AS MARCAS DO REI’. Foi a maior mostra realizada sobre sua vida.

Em novembro de 2008, Pelé recebeu outra grande homenagem de Brasília. Ele próprio inaugurou, em Samambaia, cidade satélite do DF, a “Vila Olímpica Rei Pelé”. Nesse complexo esportivo de 2,2 hectares, são oferecidas 17 modalidades de esportes para mais de 5 mil crianças.

Em 4 de novembro de 2010, Pelé foi homenageado pelo Exército Brasileiro. Em cerimônia solene no Museu do Desporto do Exército, na Fortaleza São João, Urca-RJ, o Soldado Nascimento 201, que serviu no 6º GMAC de Praia Grande-SP, ganhou busto e um espaço especial. Apenas duas pessoas no mundo serviram o Exército de seus países na condição de ídolos e no auge da fama: Elvis Presley e Pelé.

Em dezembro de 2010, ao reconhecer o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, a Taça de Prata e a Taça Brasil como partes do Campeonato Brasileiro, a CBF proporcionou a Pelé um novo recorde: o maior campeão brasileiro da História com seis títulos nacionais.

Em 26 de julho de 2011, a presidente Dilma Rousseff nomeou Edson Arantes do Nascimento – Pelé Embaixador Honorário do Brasil para a Copa de 2014.

Em 9 de fevereiro de 2012, Pelé ganhou estátua no Estádio da Amizade, na capital Libreville – Gabão, na final da Copa Africana de Nações. A homenagem foi para lembrar janeiro de 1969, quando o Rei interrompeu duas guerras para o Santos jogar em segurança contra a seleção A e seleção B do Congo.

Em janeiro de 2014, Pelé recebeu da FIFA a Bola de Ouro Especial. O então presidente, Joseph Blatter, abriu a cerimônia dizendo: “Há poucos nomes que se destacam na História. Quando se fala em futebol, apenas um nome fica acima de todos: Pelé”.

Também em 2014, a Prefeitura de Santos inaugurou o Museu Pelé.

Em outubro de 2017, foi lançado a 57º publicação sobre sua vida. Na China.

Em dezembro de 2017, em Moscou, é reverenciado por Maradona com um beijo na testa ao abrir o sorteio para a Copa de 2018, na Rússia.

Em 2022, na Copa do Catar, Pelé é homenageado pela FIFA, por jogadores em campo e na arquibancada por torcedores.

Em 2023, Santos planeja construir, ao lado de seu Museu, o Monumento que Oscar Niemeyer projetou para glorificar Pelé.

A Era Pelé parece não ter fim. O tempo passa, os anos avançam e o mito permanece. Amantes ou não do futebol têm sempre na ponta da língua a expressão mais nobre e digna para lembrá-lo.

Lenda que sempre recomeça: ERA UMA VEZ um menino pobre, que ao fazer Mil Gols lembrou das crianças pobres e, de uma bola, fez uma coroa de Rei.

 

LEGENDAS DAS FOTOS:
1) A GEOMETRIA PERFEITA, em 2 de junho de 1965, no jogo Brasil 5 x 0 Bélgica. A foto foi Prêmio Esso de Ademar Ferreira.
2) Pelé foi duas vezes capa da revista REALIDADE.
3) Pelé cumprimenta o Rei Gustavo, da Suécia na Copa de 1958.
4) Quando os 5 maiores times da Europa queriam fazer uma “vaquinha” para comprar Pelé.
5) Pelé jogou no gol em jogos oficiais pelo menos 3 vezes.
6) O presidente JK recebe Pelé depois da Copa de 1958.
7) Elvis Presley e Pelé: os dois únicos no mundo que serviram ao Exército de seus países como ídolos e no auge da fama.
😎 A rainha Elizabeth quando foi ao Maracanã, em 10 de novembro de 1968, para ver o Rei Pelé no jogo Seleção Carioca 2 x 3 Seleção Paulista.
9) Outra capa da revista REALIDADE.
10) Cassius Clay fez questão de assistir ao jogo de despedida de Pelé no Cosmos, em 1 outubro de 1977.
11) Pelé e o presidente dos EEUU Richard Nixon.
12) Oswaldo Massaini lança o filme A MARCA quando o Rei contracenou com Paulo Goulart e Nicete Bruno.
13) Trio de gênios no futebol: Leônidas da Silva, Arthur Friedenreich e Pelé.
14) Festa de Formatura em Educação Física.
15) 4 de novembro de 2010, dia que Oscar Niemeyer presenteou Pelé com o projeto de seu monumento.
16) Projeto do monumento. Oscar fez uma dedicatória prá mim.
17) Carta que recebi do Pelé quando a Secretaria de Cultura, em 2008, fez uma homenagem aos campeões de 1958.
18) Livro sobre a vida de Pelé, lançado na China.
19) 29 de junho de 2008, quando Pelé abriu a exposição AS MARCAS DO REI, no Museu Nacional de Brasília. Foi a maior mostra sobre sua vida.
20) Em 2008, Pelé deixa seus pés eternizados para Brasília. Era para ser colocado no Estádio Mané Garrincha, mas infelizmente – depois que o Arruda saiu do governo – não se tomou uma providência para fazê-lo. Acho que a placa de cimento deve estar em algum depósito da residência oficial em Aguas Claras.

Pelé vestido de beca para a solenidade de sua formatura na Faculdade de Educação Física de Santos. Ele se formou na mesma turma de Pepe, seu companheiro de ataque na equipe. Santos. 12/01/1974. Foto: AE

 

 

 

Silvestre Gorgulho – jornalista e autor do livro “De Casaca e Chuteiras – A Era dos Grandes Dribles na Política, Cultura e História – Brasília-JK-Pelé”.

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Comemoração dos 64 anos de Brasília tem teatro e oficinas

Programação em homenagem ao aniversário da capital inclui uma agenda extensa de atividades culturais, shows e eventos esportivos e cívicos gratuitos ao longo do mês

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Por Ana Flávia Castro, da Agência Brasília | Edição: Igor Silveira

 

A programação em homenagem aos 64 anos de Brasília promete agenda cheia para os brasilienses. A lista de atividades se estende até domingo (21), com diferentes atrações gratuitas, que vão desde apresentações musicais e artísticas até eventos esportivos e cívicos por toda a cidade.

Nesta quarta-feira (16), os brasilienses poderão aproveitar oficinas, apresentações de teatro e mostras culturais gratuitas em várias regiões do Distrito Federal. A lista de atividades inclui atrativos para todos os públicos.

Memorial JK e o Museu do Catetinho receberão a cada dia cerca de 40 crianças em vulnerabilidade social em visitas guiadas intituladas ‘Descobrindo Brasília: um passeio pela história’ | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

“A ideia do governador Ibaneis Rocha e da vice-governadora Celina Leão é levar as comemorações para todas as regiões administrativas e definir o aniversário de Brasília como um evento no calendário nacional, para que as pessoas venham curtir essa semana do aniversário, movimentando a cidade, enchendo os hotéis e dando visibilidade aos artistas locais”, destaca o secretário de Turismo, Cristiano Araújo.

Projeto Cantoar e as Aventuras Encantadas fará, na quarta-feira, duas apresentações teatrais voltadas para o público infantil, apresentando ao público técnicas do universo do yoga e da meditação para encontrar o equilíbrio emocional por meio da musicalidade, palhaçaria e literatura. As exibições serão às 10h e às 15h, no Teatro Sesc Paulo Gracindo (Gama).

Além dos espetáculos, o projeto oferecerá oficinas ligadas ao mundo sensorial das crianças ao longo de todo o mês no Cepi Quero-Quero (Recanto das Emas), sempre às 10h. A atividade é gratuita, mas está sujeita à lotação, e é necessário retirar ingresso neste link.

História, arte e cultura

Até o próximo sábado (20), o Memorial JK e o Museu do Catetinho receberão a cada dia cerca de 40 crianças em vulnerabilidade social em visitas guiadas intituladas Descobrindo Brasília: um passeio pela história.

O Museu do Catetinho também está na programação do aniversário de 64 anos de Brasília | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Ao longo de todo o mês de abril, as estações do Metrô Galeria e Central terão a exposição de telas dos artistas plásticos Xande e Rivas, tendo Brasília como tema. Aulões de dança também serão ofertados nos espaços culturais do DF – complexos culturais de Samambaia e de Planaltina, Centro de Dança, Espaço Cultural Renato Russo e Casa do Cantador.

Já na Biblioteca Nacional de Brasília serão realizados clubes de leitura uma vez por semana com a discussão de obras de Nicolas Behr. Durante o mês ocorre a primeira edição do concurso de fotografia Regina Santos. Serão contempladas três categorias: fotografias de natureza, de pessoas e de arquitetura. A premiação varia de R$ 1 mil a R$ 10 mil. As imagens vencedoras ficarão expostas no Espaço Oscar Niemeyer, na Praça dos Três Poderes.

Clique aqui para ver a programação completa do aniversário de Brasília.

Veja, abaixo, a programação.

→ Projeto Cantoar e as Aventuras Encantadas – apresentação teatral
Data: quarta-feira (17)
Horário: 10h e 15h
Local: Sesc Paulo Gracindo, Gama

→ Oficinas Cantoar e as Aventuras Encantadas
Data: durante todo este mês
Horário: 10h
Local: Cepi Quero-Quero – Núcleo Rural Monjolo, Recanto das Emas

→ Exposição de telas dos artistas plásticos Xande e Rivas sobre Brasília
Data: durante todo este mês
Local: Estações de metrô Galeria (Xande) e Central (Rivas)

→ 1ª edição do Concurso de Fotografia Regina Santos
Data da premiação: domingo (21)
Local: Espaço Oscar Niemeyer – Praça dos Três Poderes

→ Aulões abertos nos espaços culturais
Data: durante todo este mês
Locais: Centro de Dança (Setor de Autarquias Norte Q 1), Casa do Cantador (Setor. N Quadra 32 Área Especial G – Ceilândia), Complexo Cultural de Planaltina (Avenida Uberdan Cardoso, Setor Administrativo Lote 02 – Planaltina), Espaço Cultural Renato Russo (Asa Sul Comércio Residencial Sul 508 Bloco A – Asa Sul) e Complexo Cultural de Samambaia | (Samambaia Sul)

→ Clube de leitura de autores brasilienses
Data: durante todas as semanas deste mês
Local: Biblioteca Nacional de Brasília

→ Projeto Cinema é Ralação – oficinas
Data: até o dia 26
Horário: 8h às 12h
Local: IFB Recanto das Emas

→ Visita guiada pelos patrimônios históricos e culturais de Brasília
Data: quarta (16),  quinta (17) e sexta (19) no turno vespertino; domingo (20), no turno matutino
Local: Memorial JK e Museu do Catetinho.

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Viva Brasília 64 anos: As várias faces da estética brasiliense

Especial de aniversário da capital tem início com reportagem explorando a identidade brasiliense, do sotaque à culinária, passando pela moda

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Por ‌Jak Spies e Victor Fuzeira, da Agência Brasília | Edição: Vinicius Nader

Prestes a completar 64 anos de vida, Brasília é a capital responsável por abrigar todos: desde candangos que edificaram prédios, passando pelos descendentes e aqueles que vêm somente para visitar e conhecer a construção da identidade cultural do Quadradinho.

No especial Viva Brasília 64 anos, a Agência Brasília convida você a lembrar, conhecer e viver o jeitinho brasiliense, contemplado pela arquitetura, culinária, arte, esporte e outras áreas.

Forjada na diversidade, a capital tem gerações que nasceram aprendendo a fazer o balão, descer a tesourinha e pegar o zebrinha – coisas que fazem sentido para os brasilienses e compõem o estilo de vida da cidade, mas podem causar estranhamento a quem vem de fora.

Arte: Agência Brasília

Para a antropóloga e professora do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Haydèe Caruso, Brasília pode ser pensada de forma muito diversa e com múltiplas identidades devido à própria concepção da cidade, que representa a junção de todas as partes e lugares do Brasil.

“A gente não estabelece padrões culturais por decretos ou protocolos, nós vamos vivendo e construindo a identidade cultural. É difícil dizer que há uma única identidade, até pelo distanciamento entre o Plano Piloto e as outras regiões administrativas, onde há vários movimentos que são berço do rap, do rock e do samba brasiliense. É um caldeirão que reúne o diverso que é o Brasil. A pluralidade pode ser nossa identidade”, explica a especialista.

Arte, cultura, arquitetura, moda e gastronomia ajudam a compor a identidade única de Brasília, cidade que reúne aspectos culturais de todas as partes do país | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

A antropóloga ressalta, ainda, que a identidade cultural é um processo contínuo de construção, em que a própria linguagem e expressões coloquiais locais podem ser citadas como exemplo.

Sotaque brasiliense

Para o brasiliense é comum pegar um baú ou camelo e ir ao Eixão do Lazer ou até mesmo morgar embaixo de um ipê e admirar o céu

Para o brasiliense, é comum pegar um baú ou camelo e ir ao Eixão do Lazer ou até mesmo morgar embaixo de um ipê e admirar o céu de Brasília – aquele conhecido como o mar da cidade. Depois, quem sabe, ir à Igrejinha e mais tarde ao Cine Drive-In ou ao Conic para um frevo.

Se você não é de Brasília, o parágrafo acima pode ser um pouco confuso de entender. Mas não se preocupe, nós o ajudamos a entender o dialeto da cidade que é só o ouro para você não pagar vexa, tá ligado, véi?

Essas são apenas algumas expressões típicas que fazem parte do sotaque brasiliense, tão claro para alguns e questionado por outros. O assunto foi tema do documentário Sotaque Capital, produzido pela jornalista Marcela Franco em 2013.

No curta, a resposta é que sim, existe um sotaque com características próprias no DF, fruto de uma mistura de diversas regiões do país. “Vinham pessoas de todos os estados para cá. Daí nasceu esse sotaque; dizem que é falado de forma cantada e que comemos algumas letras das palavras”, acentua a jornalista.

Outro termo peculiar é “babilônia”, usada para se referir às únicas quadras comerciais do Plano Piloto com ligação subterrânea. Considerada uma quebra de padrão entre as quadras modelos do Plano Piloto, a 205/206 Norte era conhecida como “a quadra estranha do Plano Piloto”, malvista por muitos e amada por alguns, e tema do documentário Babilônia Norte, dirigido por Renan Montenegro, 34.

O cineasta estava entre os que passavam pela quadra e a viam de forma diferente. Lançado em 2013, o curta explora os ângulos e espaços arquitetônicos do espaço, fazendo parte de um movimento de identificação cultural em Brasília que surgiu no mesmo ano. “O que mais potencializou esse movimento foi ser um trabalho feito por brasilienses, convidando mais artistas brasilienses para um público brasiliense. É um discurso bem bairrista: feito aqui, por nós, sobre nós e para nós. É pertencer à cidade e dar ressignificado para as coisas”, conta Renan.

O diretor aponta que o ano de 2013 foi uma virada para a identidade brasiliense e fez diferença na quadra para o que ela é hoje. A mesma lógica, que parte de ocupar os espaços públicos, é aplicada ao Carnaval de Brasília, que já tem um circuito a contemplar os brasilienses que não precisam mais viajar só para se divertir em bloquinhos.

“Para uma cidade nova, dez anos fazem muita diferença. Há um desenvolvimento dos artistas locais e do público. Brasília sempre foi muito fria pela construção arquitetônica e urbanística e pelos endereços cheios de números. Então, até esse movimento de apelidar os lugares, por exemplo, ajuda no processo de chamar a cidade de nossa”, destaca o cineasta.

Moda e gastronomia

O chef André Castro defende a gastronomia com ingredientes locais: “Precisamos começar a olhar para o quintal da gente”

Essa construção de identidade entra em outros campos. Os alimentos típicos do Cerrado são usados na elaboração de menus executivos, festivais gastronômicos e cardápios especiais. Entre os restaurantes que ressaltam essa culinária local está o Authoral, localizado na Asa Sul e comandado pelo chef de cozinha André Castro.

Durante o período em que esteve na Europa, André assimilou o importante aprendizado de enaltecer o local. “Valorizar o ingrediente que está próximo a você, seja porque ele faz parte da cultura, seja porque chega até você mais fresco: isso é valorizar, também, toda a cadeia produtiva que está próxima”, pontua.

Atualmente, há dois pratos incluídos no cardápio nessa linha. O primeiro leva óleo de babaçu tostado no lugar do óleo de gergelim. É um filé de pescada-amarela com crosta de castanhas brasileiras, musseline de batata-doce roxa, creme de moqueca e vinagrete de milho tostado. No outro preparo, é usada uma técnica espanhola para fazer uma croqueta com massa de galinha caipira com emulsão de pequi.

“Infelizmente, o brasiliense ainda conhece pouco do Cerrado. As pessoas nascem e crescem no Cerrado, mas não conseguem falar cinco ingredientes encontrados aqui. Precisamos começar a olhar para o quintal da gente”, comenta o chef.

Na loja Verdurão, Wesley Santos trabalha com duas ‘estações do ano’: seca e chuva

Não só a culinária é influenciada por características locais do DF, mas também a moda. Enquanto muitos países apresentam estações do ano bem-definidas, a marca de roupas Verdurão, criada em 2003, entende que isso não existe na realidade brasiliense.

“Temos duas estações: seca e chuva. E é assim que operamos, com roupas para época de seca e época de chuva. Eu até brinco que a Verdurão começou a falar da identidade cultural de Brasília em uma época em que a gente nem sabia que tinha uma identidade. A marca ajudou a mapear e explicitar essa identidade aos brasilienses”, afirma o diretor criativo da Verdurão, Wesley Santos.

Além de ser uma rede de apoio à economia local e às várias famílias que vivem da produção do vestuário, a Verdurão produz roupas sem nada de origem animal. Algumas são feitas com tecidos biossustentáveis, como fibra de bananeira e de cânhamo.

“Eu já rodei o mundo inteiro e nunca vi nada minimamente parecido com Brasília. É uma cidade cenário diferente de tudo”

Wesley Santos, diretor criativo

Uma das missões da empresa é, segundo Santos, “promover Brasília até para gringo conhecer” e “mostrar para o resto do país o quanto Brasília é massa”. Para o diretor criativo, não é tarefa difícil trabalhar com estampas que retratam o cotidiano da capital federal, usando e abusando dos símbolos brasilienses – placas, fauna, flora, gírias, costumes e cartões-postais.

“Estamos em uma cidade fora do normal, incrível. Temos um estilo de vida que não se encontra em nenhuma cidade do país. Eu já rodei o mundo inteiro e nunca vi nada minimamente parecido com Brasília. É uma cidade-cenário diferente de tudo”, afirma.

Brasília é poesia

Com oito livros repletos de poesias que falam sobre Brasília, o poeta Nicolas Behr compartilha dessa paixão pela cidade onde mora há 50 anos. O autor frisa que tudo está relacionado ao choque inicial que teve com Brasília, quando chegou aos 14 anos, vindo de Cuiabá (MT), e deu de cara com uma cidade estranha, nova e árida.

O poeta Nicolas Behr foi buscar inspiração nas curvas de Brasília para sua arte | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

“Essa aridez me causou um estranhamento, uma dificuldade de aceitar essa cidade e uma tentativa constante de dialogar com ela. Foi daí que nasceu a minha poesia, da tentativa de decifrar Brasília antes que ela me devorasse. É um conflito bom, que vai diminuindo à medida que você vai se incorporando à cidade”, observa.

Behr também comenta que a parte mais visível da estética brasiliense é a contribuição para a arquitetura, sendo impossível falar de Brasília sem passar pelas obras de Oscar Niemeyer. “Antes de Brasília, a arquitetura moderna era feia, pesada, sem leveza, sem graça, sem a criatividade que Oscar Niemeyer nos trouxe. Ele tirou os ângulos retos e trouxe as curvas, deu beleza ao que antes era uma coisa pesada”.

Para o poeta, Brasília representa a maior realização do povo brasileiro. “A grande história de Brasília é o que ela simboliza como uma ideia: a transposição para o papel e para o chão de uma tentativa de organizar o caos. Brasília é a cidade mais racional do mundo. É uma cidade instigante, que ganhou em vida e perdeu em mistério”, declara.

Ele finaliza reforçando que Brasília, por si só, rende muita poesia: “Aqui não existe limite para a criação intelectual. Brasília é uma cidade muito nova e, por ser nova, não tem uma tradição literária. Isso é bom para o artista, porque a tradição é um peso. Em Brasília, o horizonte está na sua frente”.

 

 

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Programa leva estudantes para visitas guiadas no Museu de Arte de Brasília

Mais de 3 mil alunos da rede pública já visitaram o Museu de Arte de Brasília por meio de projeto que oferece transporte gratuito, alimentação e oficinas educativas para os jovens

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Por Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Igor Silveira

 

Foi a primeira vez que a estudante Maiara Kelly Soares dos Santos, de apenas 6 anos, foi ao Museu de Artes de Brasília. De primeira, ela já demonstrou afeição pelas obras, elogiando não só as oficinas com brincadeiras, mas principalmente os quadros que viu durante a visita guiada. “Eu gostei mais das obras de arte, nunca vim aqui. É tudo bonito. Aprendemos o que é mais quente e mais frio”, destacou a pequena, referindo-se à tonalidade das cores ensinadas durante o passeio.

Já foram realizadas 168 visitas guiadas no equipamento público, que ocorrem desde 17 de abril de 2023 | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Maiara é uma entre os 140 alunos de educação infantil da Escola Classe Córrego Barreira, uma escola rural localizada na Ponte Alta Sul do Gama, e está entre os 3 mil estudantes do DF que já visitaram o museu por meio do MAB Educativo, que conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF). Além das mediações e práticas artísticas, o programa oferece transporte gratuito e lanche para as crianças.

Já foram realizadas 168 visitas guiadas no equipamento público, que ocorrem desde 17 de abril de 2023. Mais de sete mil pessoas já foram alcançadas pelo programa do MAB, divididas entre público espontâneo e público escolar, além de 335 professores de 94 escolas, de 20 regiões administrativas do DF – sendo 90 de escolas públicas e quatro de escolas particulares. Mais de mil pessoas foram atendidas com o transporte gratuito.

“É uma oportunidade que eles têm de sair do ambiente deles, porque nossa escola é do campo e os alunos são de comunidade bem carente, então é uma parceria muito importante. Melhora muito a criatividade, o repertório visual e de palavras, além do desenvolvimento deles no campo da arte”, destacou a vice-diretora da Escola Classe Córrego Barreira, Marlene Alves.

Mais de sete mil pessoas já foram alcançadas pelo programa do MAB, divididas entre público espontâneo e público escolar, além de 335 professores de 94 escolas, de 20 regiões administrativas do DF – sendo 90 de escolas públicas e quatro de escolas particulares

Essas visitas só foram possíveis porque o MAB foi reaberto em 2021, antes fechado desde 2007. A reabertura do espaço cultural foi um dos presentes do aniversário de 61 anos da capital federal. Para o aniversário de Brasília, além das atividades normais durante a semana, o Museu está com uma programação de oficinas especiais nos finais de semana. O MAB fica no Setor de Hoteis e Turismo Norte, trecho 1, Projeto Orla.

Interação com o mundo

O projeto, que tem capacidade atual de receber 480 crianças por semana, também disponibiliza visitas acessíveis em libras e um material educativo para as crianças. De acordo com a coordenadora pedagógica do MAB Educativo, Luênia Guedes, a acessibilidade e o transporte gratuito são a parte principal do programa. “Muitas dessas escolas estão em regiões que ficam longe e não têm condição financeira de levar esse acesso às crianças”, ressaltou.

Com supervisão pedagógica, a turminha recebe a visita mediada de forma lúdica pelo acervo, onde as crianças participam dos jogos desenvolvidos pela equipe de mediadores. Depois, elas seguem para uma oficina no laboratório, que conta com atividades interativas.

“Essa proximidade com a arte já começa transformando e dando a sensação de pertencimento para essas crianças, para que elas possam perceber que o museu é um espaço para a comunidade. A experiência com a arte acessa o sensível, o criar, as possibilidades de reflexão, de interação com o mundo e a capacidade de construir novas realidades e mundos possíveis. Esse trabalho é fundamental para a formação cidadã de cada criança”, reforçou a coordenadora.

 

 

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