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Há 50 anos, Ulysses desafiou a ditadura e se lançou ‘anticandidato’ à Presidência

Ricardo Westin

 

Uma das ações mais ousadas do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) na ditadura militar completa 50 anos. Em 22 de setembro de 1973, o partido da oposição desafiou os generais e lançou a “anticandidatura” do deputado federal Ulysses Guimarães (MDB-SP) à Presidência da República.

Foi uma ousadia porque, desde o golpe de 1964, os militares sempre haviam corrido sozinhos na sucessão, com candidato único. Ninguém havia se aventurado a enfrentar o regime numa eleição presidencial até aquele momento.

O MDB adotou o provocativo termo “anticandidatura” por saber desde o início que não tinha chance de vencer. Tratava-se, em outras palavras, de uma candidatura simbólica.

O Arquivo do Senado, em Brasília, guarda o histórico discurso que Ulysses, também presidente nacional do MDB, proferiu na convenção partidária que o lançou “anticandidato”.

Na fala aos correligionários, explicou que o objetivo não era ganhar a votação, algo inalcançável, mas, sim, aproveitar a visibilidade eleitoral para mostrar ao povo os abusos da ditadura e convencê-lo a também pressionar pela redemocratização:

— Não é o candidato que vai recorrer o país. É o anticandidato, para denunciar a antieleição imposta pela anticonstituição que homizia [encobre] o AI-5 [a norma mais repressiva da ditadura], submete o Legislativo e o Judiciário ao Executivo, possibilita prisões desamparadas pelo habeas corpus e condenações sem defesa, profana a indevassabilidade dos lares e das empresas pela escuta clandestina e torna inaudíveis as vozes discordantes, porque ensurdecem a nação pela censura à imprensa, ao rádio, à televisão, ao teatro e ao cinema.

Trechos do discurso de Ulysses Guimarães no lançamento de sua “anticandidatura”, em 1973 (Documentário Senhor Deputado Ulysses Guimarães/TV Câmara)

O MDB não poderia ganhar porque a ditadura havia tornado as eleições para o Palácio do Planalto indiretas. Os cidadãos não votavam para presidente.

A escolha cabia ao Colégio Eleitoral, que, formado por todos os senadores e deputados federais e alguns deputados estaduais, era dominado com folga pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido de sustentação dos militares.

Por força do Ato Institucional nº 2 (AI-2), baixado em 1965, a liberdade partidária estava extinta, e a Arena e o MDB eram as duas únicas agremiações políticas autorizadas a funcionar. Por essa razão, os historiadores costumam descrever o MDB como “oposição consentida”.

A “anticandidatura” de Ulysses foi anunciada uma semana depois de a Arena apresentar a candidatura do general Ernesto Geisel. O militar, homem de confiança do regime, presidia a Petrobras.

Naquele histórico discurso de setembro de 1973, Ulysses reconheceu que a vitória do candidato da Arena era inevitável:

— O Movimento Democrático Brasileiro não alimenta ilusões. Na situação, o anunciado como candidato, em verdade, é o presidente, que não aguarda a eleição, e sim a posse. Na oposição, também não há candidato, pois não pode haver candidato a lugar de antemão provido. Dura e triste tarefa esta de pregar numa “república” que não consulta os cidadãos e numa “democracia” que silenciou a voz das urnas.

Ele resumiu o objetivo da “anticandidatura”:

— A inviabilidade da candidatura oposicionista testemunhará perante a nação e perante o mundo que o sistema não é democrático.

Anúncio do MDB nos jornais convoca filiados para convenção que lançaria “anticandidatura” de Ulysses (Biblioteca Nacional Digital)

Os documentos do Arquivo do Senado mostram que os políticos da Arena se irritaram com o discurso de Ulysses. O senador José Lindoso (Arena-AM), por exemplo, chamou-o de mentiroso:

— O discurso do candidato do MDB, homem respeitável, não correspondeu à sua reconhecida sabedoria política. Impõem-se considerações serenas, porém veementes, sobre as assertivas daquele discurso não com vista à presente geração, que o sabe de flagrante irrealismo político e desfocado do painel das perspectivas da história nacional. Impõe-se tão somente a serviço da verdade, para colaborar com o analista do futuro quando tiver de elaborar juízos ante a fala do candidato presidencial.

Lindoso avaliou que as críticas de Ulysses não passavam de “pobre jogo” e tinham “efeito eleitoreiro fora de moda”. Os generais não poderiam ser criticados porque, segundo ele, vinham garantindo ao Brasil desenvolvimento econômico e justiça social.

O senador concluiu:

— Em março de 1974, comemoraremos o décimo aniversário da revolução [golpe de 1964]. Fez-se não uma mera mudança de comando de políticos, mas uma revolução para traçar novo roteiro na história. Revolução não se faz com amenidades. Tem objetivos na defesa do povo e na luta pela eternidade da pátria. A revolução está completando o seu ciclo excepcional, e o nosso partido é o seu instrumento político. O povo maciçamente a apoia.

Para compor a chapa com Ulysses, o MDB escolheu o jornalista e ex-deputado Barbosa Lima Sobrinho para candidato a vice-presidente. A Arena, por sua vez, escalou o general Adalberto Pereira dos Santos para vice de Geisel.

Os candidatos Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho em 1973 (Acervo Digital FUG)

Entre setembro de 1973 e janeiro de 1974, Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho percorreram diversas capitais promovendo a “anticandidatura”.

Na visão do senador Danton Jobim (MDB-Guanabara), a coragem da dupla emedebista merecia aplausos:

— O que a nação hoje está vendo será, porventura, a quixotice ou a gasconnade [bravata] de uma candidatura fantástica, fantasmagórica ou impossível? Não. O que vemos é o exemplo admirável de dois cidadãos carregados de serviços à vida pública e de bravura cívica incontestável e incontestada, oficiando no altar do sacrifício para que o credo da supremacia da lei, a religião da liberdade e o culto do governo do povo pelo povo não venham a desaparecer da nossa terra.

Para espalhar sua mensagem por toda a sociedade, o MDB esperava contar com a propaganda eleitoral no rádio e na TV. A possibilidade provocou debates acalorados no Senado. Do lado oposicionista, o senador Nelson Carneiro (MDB-Guanabara) explicou:

— O que deseja o MDB é levar ao público, ao povo, a todas as camadas da opinião pública, como poderá fazer a Arena, a sua palavra para esclarecer as razões que justificaram a indicação de candidatos à Presidência e à Vice-Presidência da República.

Do lado governista, o senador Vasconcelos Torres (Arena-RJ) discordou:

— Se a eleição é indireta, indago: junto a quem a propaganda deve ser feita? Junto àqueles que vão constituir o Colégio Eleitoral e votar. Para que ir ao rádio e à TV, se os candidatos podem reunir-se aqui? Estou disposto a ouvir. Vou votar na Arena por entender que escolheu bem o seu candidato. Entretanto, quero ouvir o brilhante deputado Ulysses Guimarães e o honrado jornalista Barbosa Lima Sobrinho. O meu voto não vai mudar. Mas é aqui que a propaganda deve fazer-se.

Carneiro não se deu por vencido e insistiu:

— Nós, políticos, deveríamos estar lutando para permitir a propaganda política, não para impedi-la. É lamentável. Que fiquem tranquilos [os senadores da Arena], pois, dentro das suas modestíssimas possibilidades financeiras, o MDB fará a campanha que lhe for possível. Já no sábado, se fará a primeira reunião em Santa Catarina. Na semana seguinte, iremos ao estado do Rio de Janeiro e, com os recursos que tivermos, faremos a propaganda. Para comover este país, basta fazer um cartaz com esta pergunta: “O custo de vida subiu 12%?”. As donas de casa responderão.

 

Jornal Tribuna da Imprensa, do Rio, noticia o lançamento da “anticandidatura” (Biblioteca Nacional Digital)

O senador Eurico Rezende (Arena-ES) criticou uma motivação supostamente oculta dos adversários para o pedido de propaganda no rádio e na TV:

— Qualquer pessoa de mediana inteligência verifica que o MDB deseja não é fazer propaganda de seus candidatos à Presidência e à Vice-Presidência da República. É assegurar a sua presença na comunicação sonora e visual duas vezes, para que os seus candidatos a deputado federal e senador em 1974 embarquem agora na campanha presidencial. A honrada oposição deseja, por esse artifício, realizar duas campanhas eleitorais para os postos parlamentares deste país.

Essa intenção, na verdade, nada tinha de inconfessável. Ela havia sido anunciada pelo próprio Ulysses Guimarães no discurso de sua “anticandidatura”.

Os planos do MDB foram logo por água abaixo. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), subordinado ao governo militar, vetou a propaganda gratuita no rádio e na TV por entender que ela só fazia sentido nas eleições diretas, como aquelas para prefeito, deputado e senador.

Isso mostra que, se não chegou ao extremo de proibir a “anticandidatura” oposicionista, a ditadura fez o que pôde para sabotá-la.

O discurso do general Ernesto Geisel no lançamento de sua candidatura foi transmitido ao vivo pela TV para todo o Brasil. O discurso do deputado Ulysses Guimarães, por sua vez, não — contrariando a promessa do governo de que o evento do MDB também seria televisionado. Ulysses falou naquele 22 de setembro acreditando que era visto pelo país inteiro. Só soube que não após a convenção.

Trecho do discurso de lançamento da “anticandidatura” em que Ulysses Guimarães diz que um de seus objetivos é promover em 1973 a candidatura dos políticos do MDB que concorrerão nas eleições parlamentares de 1974 (Arquivo do Senado)

O senador Nelson Carneiro denunciou a sabotagem:

— O governo dirá que em momento algum proibiu o televisionamento e até ajudou a oposição, cedendo o caminhão de externas da Agência Nacional. Os líderes da Arena na Câmara e no Senado já estão instruídos para sustentarem a preliminar de que tudo se deveu a uma decisão das emissoras. Parece tudo muito cômodo: a transmissão não foi ao ar porque as emissoras não quiseram se responsabilizar por ela e, assim, correr o risco de punições. Provavelmente não se terá durante muito tempo a medida exata das intenções e das manobras que determinaram a não transmissão dos discursos de Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho.

De acordo com o senador Franco Montoro (MDB-SP), a sabotagem também afetou a mídia impressa. Ele citou o caso de um jornal do Rio de Janeiro:

— O jornal Opinião pretendia publicar na íntegra o discurso proferido pelo deputado Ulysses Guimarães, divulgado por toda a imprensa. Tudo foi censurado. Está aqui o exemplar da Censura. É evidente que se trata de uma exorbitância, de uma medida destituída de fundamento. São a liberdade de imprensa e o direito que tem a opinião pública de ser informada que estão sendo violados pelo ato de um funcionário subalterno da Censura. A matéria é seria e exige esclarecimento das autoridades. Há alguma coisa de desacertado entre a Censura e o Ministério da Justiça.

Por força daquele ambiente hostil à democracia, Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho não fizeram a campanha majoritariamente na rua, com grandes comícios ou passeatas, mas em locais fechados, como clubes, teatros e universidades, com público reduzido.

Em certas cidades, os governantes não permitiram que os candidatos do MDB se apresentassem em prédios públicos. Em outras, a polícia ficou na cola deles o tempo todo, com o intuito de inibi-los nas críticas ao regime.

As TVs ignoraram a “anticandidatura”. Como estavam sujeitas à censura e não queriam problemas com a ditadura, preferiram omitir as viagens de Ulysses pelo país. Os jornais, ao contrário, noticiaram a campanha, mas prudentemente sem dar destaque ou demonstrar apoio.

Muitos brasileiros, por essa razão, jamais souberam da existência de uma candidatura alternativa à Presidência da República na eleição de 1974.

Jornal Tribuna da Imprensa noticia decisão do governador da Guanabara de impedir Ulysses Guimarães de falar na Assembleia Legislativa do estado (Biblioteca Nacional Digital)

Durante a campanha, os parlamentares do MDB evitaram ataques violentos a Geisel, para não sofrerem retaliações no futuro. Afinal, o candidato da Arena inevitavelmente seria o ocupante do Palácio do Planalto. Fizeram críticas, sim, porém cautelosas, comedidas, nas entrelinhas.

O senador emedebista Nelson Carneiro discursou:

— Por votar em Ulysses Guimarães, não quer dizer que eu não reconheça no general Ernesto Geisel aquelas qualidades para governar e dirigir bem este país. Inclusive porque somente nele nós podemos depositar as esperanças do diálogo político que está interrompido neste país desde 1968 [quando foi baixado o AI-5]. É preciso que se reabra esse diálogo, e a esperança é o general Ernesto Geisel.

O colega de partido Danton Jobim adotou um tom semelhante:

— Sinto verdadeira admiração pela figura austera do ex-presidente da Petrobras, que deverá ser neste momento de exceção, por processos que não aprovamos, o futuro presidente da República. O voto do país é para que ele continue a obra do seu antecessor no campo do progresso econômico, mas que abra corajosamente uma janela no sistema fechado da revolução, por onde possa entrar uma lufada de ar fresco, a participação popular na obra do governo.

Em 15 janeiro de 1974, sem provocar surpresa ou comoção, Geisel ganhou de lavada. Ele recebeu 400 votos no Colégio Eleitoral. Ulysses, por sua vez, meros 76. Houve 21 votos nulos.

Dois meses depois, o general Emílio Garrastazu Médici passou a faixa presidencial ao general Ernesto Geisel, que se tornou o quarto dos cinco presidentes da ditadura militar.

O general Ernesto Geisel desfila em Brasília no dia da posse como presidente (Reprodução/Wikipedia)

O historiador Rodrigo Patto Sá Motta, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autor do livro Passados Presentes: o golpe de 1964 e a ditadura militar (Editora Zahar), lembra que, no momento em que lançou a “anticandidatura”, o MDB estava em franca decadência.

Entre 1966 e 1968, os parlamentares do MDB foram extremamente críticos, combativos, agressivos. A ditadura reagiu com o AI-5, cassando dezenas de mandatos. O partido ficou acuado e apático.

Ao mesmo tempo, o governo militar ganhava cada vez mais respaldo popular, em razão do chamado milagre econômico (com o país crescendo mais de 10% ao ano), do tricampeonato na Copa do Mundo de 1970 e das comemorações ufanistas dos 150 anos da Independência, em 1972.

Nas votações parlamentares de 1970 e municipais de 1972, ambas diretas, os resultados foram péssimos para o MDB, que elegeu poucos candidatos. Diante de tanta debilidade, o partido cogitou a possibilidade de se autodissolver.

Sá Motta explica que, na época, muitos políticos do MDB enxergaram a “anticandidatura” como um fiasco e até mesmo um tiro no pé:

— Primeiro, claro, porque Ulysses não venceu. Depois, porque a candidatura da oposição, na visão desses políticos, acabou legitimando o sistema de eleição indireta. Uma ala do MDB defendia a retirada da candidatura poucos dias antes da votação do Colégio Eleitoral, justamente para deslegitimá-la. Por fim, porque o partido saiu rachado da eleição. Alguns parlamentares do MDB preferiram votar nulo a votar em Ulysses.

Segundo o historiador, foi somente mais tarde que se entendeu que a “anticandidatura” representou um divisor de águas na história do MDB e marcou a ascensão do partido. Sá Motta continua:

— Eu acredito que, por causa da censura, o efeito da “anticandidatura” sobre a população em geral foi pequeno. A mensagem da oposição não chegou ao povo. No entanto, o efeito sobre os militantes do MDB foi enorme. A coragem cívica de Ulysses estimulou a militância a se tornar mais ousada, aguerrida e agressiva e levou o MDB a se firmar como um partido verdadeiramente de oposição.

Não à toa, na primeira eleição parlamentar posterior à “anticandidatura”, em novembro de 1974, o MDB alcançou um resultado surpreendente. No voto popular, o partido cresceu extraordinariamente no Senado, na Câmara dos Deputados e na assembleias estaduais, passando a ter poder de veto.

— O crescimento do MDB foi tão significativo que em certos momentos Geisel se viu forçado a pisar no freio da distensão política — lembra o historiador da UFMG.

O deputado Ulysses Guimarães apresenta o primeiro exemplar da Constituição de 1988 (Arquivo do Senado)

Sá Motta diz que as pessoas normalmente se lembram do Ulysses que ajudou a liderar a campanha Diretas Já, em 1983 e 1984, do que conduziu a elaboração da Constituição de 1988 e até do que se candidatou a presidente da República em 1989, mas desconhecem o Ulysses que desafiou os generais há 50 anos, com sua “anticandidatura”.

Na visão do historiador, esta última faceta também deveria ser de conhecimento público, para o bem da democracia:

— A “anticandidatura” é um episódio que precisa ser conhecido e lembrado porque muita gente, levada por mentiras, pensa no período militar com nostalgia e pede a sua volta, como se não tivesse sido uma ditadura. Um dos argumentos que os negacionistas usam hoje e os próprios militares usavam na época é o de que havia eleições periódicas para presidente. Havia mesmo, mas a oposição não tinha chance de vencer. A votação era um jogo de cartas marcadas, e as campanhas eleitorais tinham censura, repressão e prisão de oposicionistas. Isso tudo significa que o Brasil era, sim, uma ditadura, nunca uma democracia.

Fonte: Agência Senado

 

 

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Ação educativa em bares orienta contra direção após consumo de álcool

Com o projeto Rolê Consciente, o Detran promove intervenções artísticas sobre os riscos de beber e dirigir; iniciativa acontece nesta sexta, na Asa Norte

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Agência Brasília* I Edição: Débora Cronemberger

 

Na noite desta sexta-feira (29), acontece mais uma edição do projeto Rolê Consciente do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF). A ação educativa percorre bares e restaurantes levando conscientização ao público para não dirigir, se beber. A ação de hoje ocorre na Asa Norte, de 18h às 21h.

Equipes do Detran percorrem bares e restaurantes para alertar sobre os riscos de dirigir após consumir bebida alcoólica | Foto: Divulgação/Detran

O Rolê Consciente é uma ação que envolve intervenções artísticas com bonecos, MCs do trânsito com suas rimas e, também, um papo sério com a entrega de material educativo e palestras dos professores de trânsito do Detran-DF. Toda a ação é voltada ao tema sobre os efeitos do álcool no organismo, orientações de segurança quanto à utilização de celular ao volante, a importância do respeito à velocidade máxima das vias, faixa de pedestre, respeito aos ciclistas e muito mais.

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, dirigir após o consumo de álcool é infração gravíssima, com multa no valor de R$ 2.934,70 e suspensão do direito de dirigir por um ano. O Rolê Consciente acontece às quintas e sextas-feiras e, a partir de outubro, será aos sábados e domingos também.

*Com informações do Detran

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Parceria visa fortalecer o esporte inclusivo no DF

Secretarias de Esporte e Lazer e da Pessoa com Deficiência vão elaborar ações para ampliar o acesso das pessoas com deficiência à prática esportiva em todas as suas esferas e em todas as faixas etárias

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Agência Brasília* | Edição: Igor Silveira

 

A Secretaria de Esporte e Lazer (SEL-DF) e a Secretaria da Pessoa com Deficiência (SEPD-DF) se uniram para potencializar o paradesporto e esporte inclusivo no DF. As ações serão efetivadas por meio do Programa de Esporte Inclusivo.

A SEL-DF tem trabalhado para fomentar a visibilidade e valorização do paradesporto na cidade. Para isso, a pasta vem realizando eventos com o objetivo de dar celeridade ao acesso das pessoas com deficiência à prática esportiva em todas as suas esferas e em todas as faixas etárias.

As secretarias já trabalhavam de forma conjunta em ações pontuais, com o apoio aos paratletas por meio dos programas Compete Brasília e Bolsa Atleta, além das atividades oferecidas nos Centros Olímpicos e Paralímpicos | Foto: Divulgação/SEL-DF

O secretário Julio Cesar Ribeiro explica que uma das principais prioridades da pasta tem sido criar ações para dar visibilidade ao paradesporto. “A valorização e o investimento no paradesporto são fundamentais para construir uma comunidade mais inclusiva, onde cada cidadão, independentemente de suas habilidades, encontre espaço e oportunidades no universo esportivo do Distrito Federal”, destaca. O esporte é uma ferramenta essencial para a superação de barreiras”, completa Ribeiro.

Para o secretário da Pessoa com Deficiência, Flávio Santos, as duas secretarias poderão estabelecer uma política pública específica e efetiva voltada para atender às pessoas com deficiência nessa área. “As ações já existiam, mas serão ampliadas e melhoradas por meio desse trabalho porque, aí sim, vai ser construído um programa de esporte inclusivo”, afirma.

As pastas já trabalhavam de forma conjunta em ações pontuais, com o apoio aos paratletas por meio dos programas Compete Brasília e Bolsa Atleta, além das atividades oferecidas nos Centros Olímpicos e Paralímpicos. “Eu, como secretário e como atleta, sempre evidenciei a importância do esporte como uma poderosa ferramenta de inclusão”, finaliza Flávio.

Inclusão

Em maio deste ano, o Centro Olímpico e Paralímpico do Gama, recebeu mais de 350 inscrições para o Festival Paralímpico, que, pela primeira vez, ocorreu em Brasília. O evento realizado pela SEL-DF proporcionou aos participantes a inclusão por meio da vivência lúdica nos esportes paralímpicos.

O Campeonato Regional Centro-Oeste de Bocha Paralímpica foi outro marco na capital federal. O evento, que recebeu o apoio inédito da pasta, serviu como etapa classificatória para o Campeonato Brasileiro de Bocha Paralímpica, além de ter proporcionado aos atletas a oportunidade de ter representado suas associações e região em uma competição de nível nacional.

Outro evento que contou com o apoio da pasta foi a etapa regional das Paralimpíadas Escolares, que fomentou a inclusão e o progresso dos jovens atletas com deficiência, reunindo a participação de mais de 900 competidores. Os jogos ocorreram entre os dias 31 de agosto e 1º de setembro.

Outras competições paradesportivas também foram apoiadas pela SEL, como o Brasileiro de Adestramento Paraequestre, Centro-oeste de Handebol de Surdos e o Campeonato Regional de Goalball.

*Com informações da Secretaria de Esporte e Lazer do Distrito Federal (SEL-DF)

 

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Poeta vencedora do Prêmio Jabuti transita do slam à literatura grega

Autora voltou à Estação Guilhermina para lançamento de seu livro

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Foi na praça ao lado da Estação Guilhermina do Metrô, na zona norte paulistana, que Luiza Romão começou a declamar versos em público. Ali, acontece desde 2012, toda última sexta-feira do mês, a batalha de rimas conhecida como Slam da Guilhermina. Agora, dez anos depois desse encontro com a poesia falada, a autora retornou ao espaço para fazer um dos eventos de lançamento de Também Guardamos Pedras Aqui, seu livro que venceu o último Prêmio Jabuti.

“Quase pedir a benção”, resume a poeta sobre os sentimentos sobre esse momento que ela enxerga como o fechamento de um ciclo. “Acho que é bastante significativo, fazer isso bem antes de ganhar o mundo, assim, sabe? Antes de ir pro mundão”, comenta a respeito da turnê que se aproxima nos próximos dias. Até janeiro de 2024, a previsão é que Luiza tenha passado pela França, Argentina, México e Alemanha para divulgar o livro premiado, que já tem prontas traduções para o francês e espanhol.

Formada em artes cênicas, Luiza se aproximou da poesia atraída pelo modelo performático do slam, que começou a frequentar em 2013. As batalhas de rimas foram criadas por Marc Smith, nos Estados Unidos, na década de 1980. As competições, que atualmente acontecem em diversas partes do mundo, começaram, segundo a autora, como uma forma de tornar a leitura de poesia mais atraente nos saraus. “Em geral, em noites de cabaré, quando músico ia se apresentar, todo mundo prestava atenção. Quando ia uma pessoa do stand up, todo mundo prestava atenção. Na hora que o poeta ia declamar, era o momento que geral ia no banheiro, comprar cerveja, acender cigarro”, conta.

A performance da poesia falada, que compõe a cena cultural das periferias paulistanas, acabou atraindo Luiza, que tinha vindo em 2010 para a cidade, para estudar na Universidade de São Paulo. “Não estava no meu horizonte de vida virar poeta. Foi através do encontro com as batalhas de slam, com os microfones abertos, com o movimento saraus, que eu comecei a escrever”, lembra.

Uma estética que se relaciona com as temáticas que atravessam a juventude, especialmente a que vive fora dos bairros mais privilegiados. “Uma poesia muito engajada. Uma poesia que pensa o seu tempo histórico, que é fundamentada na dimensão coletiva da palavra. Toda essa partilha da performance”, enumera sobre as razões que a aproximaram dos versos e das rimas.

Atualmente com 31 anos, Luiza tem quatro livros publicados. O Também Guardamos Pedras Aqui é diretamente inspirado no épico grego Ilíada, de autoria atribuída a Homero, que retrata a conquista de Troia.

Veja os principais trechos da entrevista com a autora:

Vamos começar falando um pouco do livro Também Guardamos Pedras Aqui. Queria entender um pouco por que essa opção pela poesia grega e também o que isso significa na sua trajetória.

Eu sou formada em teatro. Tem algo que, de certa forma, eu discuto no livro, talvez de uma maneira não tão direta, que é essa obsessão nossa pelos gregos, que não diz respeito só a mim, Luiza, mas a nossa sociedade que passou por esse processo brutal de colonização e que ainda hoje continua referenciando de maneira tão intensa nos currículos escolares, nas produções culturais, esse imaginário cânone greco-latino. Então, na faculdade de artes cênicas, por exemplo, eu estudei dois anos de Grécia antiga.

Isso é algo que também se verifica nos cursos de letras e em muitos outros cursos. Você estuda tragédia grega. Você estuda comédia grega. Você estuda poética de Aristóteles, O Banquete do Platão. Uma tradição que é tão distante a nós. E, muitas vezes, a gente acaba não olhando para outras tradições e cosmovisões que estão mais próximas. As diferentes tradições latino-americanas andinas, maias e tudo mais ou as tradições africanas.

Quando eu termino [o curso universitário] eu vou fazer EAD, que a escola de artes dramáticas da USP, eu tenho que retomar essa galera [os gregos]. Eu estava lá, lendo pela segunda vez a mesma tradição, e faltava a Ilíada.

Então, eu estava indo viajar, fazer um mochilão pela Bolívia e pelo Chile. Eu falei: ‘Ah, vou pegar a Ilíada. Por que não? [risos]. É pesado, mas, pelo menos, é um volume só’. Meu irmão, Caetano, tinha uma edição que era leve, de papel bem fininho.

Foi onde eu li e fiquei muito chocada. Eu costumo dizer que o Pedras nasce um pouco desse horror a essa narrativa fundante da tradição ocidental, que é narrativa muito violenta. Eu sabia que era a história de uma guerra, que é como é contada, né? Mas, na verdade, não é a história de uma guerra, é a história de um massacre.

O que diferencia uma guerra de um massacre?

A guerra é quando, minimamente, você tem pé de igualdade. Você tem possibilidades reais dos dois lados ganharem. É algo que vai ser disputado na batalha. E, quando você lê a Ilíada, você vê que os troianos nunca tiveram chance de ganhar, porque os deuses eram gregos. Acho que foi a maior indignação para mim, porque isso eu não sabia antes de ler. Mas você tem o tempo inteiro a batalha acontecendo no campo terreno, entre gregos e troianos, e uma batalha acontecendo no plano divino, digamos assim, no Olimpo. Então, você tem os deuses que são pró-troianos e os deuses que são pró-gregos. E tem um momento que tem uma treta gigante, e Zeus [deus do trovão e líder do panteão grego] fala: ‘ninguém intervém na guerra, nenhum dos deuses’. E aí os troianos passam a ganhar a guerra.

Só que aí tem uma coisa que é muito doida, porque a gente tem essa ideia de perfeição atrelada à divindade, no catolicismo. No panteão dos gregos, na mitologia grega, são deuses que estupram, que têm inveja, que trapaceiam. Hera [esposa de Zeus] faz uma trapaça com Zeus. Ela vai até o fundo do oceano, pega um sonífero e Zeus dorme. Aí, ela e Atena [deusa associada a sabedoria] voltam para a guerra, quebram o pacto.

Os deuses são trapaceiros e Ulisses [herói grego] é trapaceiro também, porque é uma trapaça o que ele faz com cavalo. Não é fair play [jogo justo]. Eu acho que tem essa dimensão do massacre. Além de toda a devastação de um povo, das inúmeras formas de aniquilação, de tortura de subjugação, de estupro, de violência que estão no livro, tem isso de que é impossível esse povo ganhar. [Por orientação de Ulisses, os gregos fingem se retirar do campo de batalha e oferecem um cavalo gigante de madeira como presente aos troianos. Porém, uma parte dos soldados gregos se esconde dentro da escultura para, durante a noite, abrir os portões da cidade e provocar a derrota de Troia.]

No poema Homero, você diz que os gregos “foram capazes de” e traz uma lista, que seria de atrocidades, mas que está coberta por uma tarja preta, de censura, para em seguida dizer que, apesar desses horrores, eles, ao menos devolveram o corpo de Heitor, príncipe de Troia, ao contrário do que se fez, muitas vezes na ditadura militar brasileira. Você quer dizer que vivemos horrores maiores do que os troianos?

Isso tem muito a ver com dimensão quase que performativa da minha leitura. Eu estava lendo nessa viagem e passei pelo local onde Che Guevara [guerrilheiro que participou da revolução cubana] foi assassinado, no interior da Bolívia. Inclusive, tinha uma menina lá [parte do grupo], que era Tânia. Eles estavam tentando articular uma revolução comunista no coração da América Latina. A ideia seria sair do coração da Bolívia e se espalhar pelo continente inteiro. Eles são delatados, passam por uma emboscada e são assassinados.

O Che Guevara morre. A cabeça dele fica exposta em uma dessas vilas e o corpo fica desaparecido, por medo de que o local em que ele estivesse enterrado virasse um mausoléu de peregrinação comunista, um lugar de memória. O corpo dele só é encontrado 30 anos depois. Um dos militares disse que ele estava enterrado numa pista de pouso militar. Hoje você tem um museu do Che Guevara nesse local.

Eu queria aprofundar um pouco o uso desse recurso da censura, que aparece em outras partes do livro.

Eu acho que essa questão da censura ou do apagamento de arquivos é algo que também está muito presente quando a gente fala dessa história, dessa imposição de uma história única, dessa construção de um relato produzido pelo poder. Então, desses arquivos que são censurados, apagados e tudo mais.

Também, de certa forma propõe esse jogo com os leitores, da mesma forma que eu estou tentando reconstituir uma história que é muito apagada, vamos tentar reconstituir juntos. Talvez seja exercício imaginativo nosso também.

Você disse que Ulisses não jogava no fair play [jogo justo]. Tem um texto em que parece que você fala disso, invertendo a condição de herói e vilão, no poema Polifemo [gigante de um olho só que comia pessoas]. “Ninguém te cegou não/ não foi Ulisses/ aquela noite o policial não tinha identificação”

Ulisses, para mim, é um personagem que a gente, enquanto ocidente, vai emular como a inteligência. Primeiro, tudo que a gente sabe das viagens dele [narradas na Odisseia], é ele o que conta. Ou seja, ele pode estar mentindo, ele pode ter inventado tudo. Para mim, é um narrador nada confiável. Principalmente, porque do que a gente sabe, sim, de dados dele, é o personagem que faz o Cavalo de Tróia, que ganha na trapaça.

Então, Polifemo estava lá e, de repente, chegam esses homens, se metem [nos domínios dele] e ainda o cegam. E tem essa que a grande sabedoria do Ulisses é falar: “Eu não sou ninguém”. Então, Polifemo começa a gritar [após ter o olho furado]: “ninguém me cegou”.

Isso também foi uma chave de leitura para o caso do Sergio Silva [fotógrafo que perdeu o olho nas manifestações de 2013] e de vários e várias manifestantes que foram baleados com bala de borracha nos últimos anos, seja no Brasil, seja no Chile, onde a gente teve de fato uma forma sistemática da polícia de dilacerar o globo ocular de muitas pessoas.

E que ninguém cegou essas pessoas. É a mesma situação bastante recorrente quando a gente fala das ações das polícias militares, seja pelo não uso de identificação, seja porque cada vez mais são policiais que estão com balaclava ou com capacete.

Você fala em diversos momentos sobre violência (policial, contra a mulher), que é uma temática muito recorrente nos slams. Como o movimento dos slams atravessa a sua trajetória?

Minha trajetória é completamente atravessada pelo slam. Eu vim do teatro, sou das artes cênicas. Não estava no meu horizonte de vida virar poeta. Foi através do encontro com as batalhas de slam, com os microfones abertos, com o movimento saraus, que eu começo a escrever. Principalmente, por ser uma poesia muito engajada. Uma poesia que pensa o seu tempo histórico, que é fundamentada na dimensão coletiva da palavra. Toda essa partilha da performance é uma forma poética também de encarar esses temas.

slam não dissocia política e poética. É óbvio que é indissociável. Mas tem alguns lugares que se tem ilusões que é possível dissociar disso. Então, eu começo a frequentar em 2013 e continuo, não mais como slammer. Já aposentei as chuteiras faz um tempo. Mas, de vez em quando, fazendo a parte de produção. Fui fazer um mestrado sobre isso.

Em que momento você se aposentou do slam?

Como slammer, é muito normal a gente ter ondas, né? É tipo jogador de futebol, a carreira é curta. A gente vai lá, batalha uma, batalha outra, brinca durante dois ou três anos. É muito normal. Assim, você tem uma renovação da cena muito constante. Então, eu comecei a frequentar em 2013, já tinha tido uma onda antes de mim. Eu sou dessa segunda geração e já estão na sexta geração, agora.

Então, eu fui fazer outras paradas em termos de artista, de criação artística. Mas, ao mesmo tempo, é um lugar que eu gosto muito de estar. Eu continuo frequentando muito nesses últimos anos.

De alguma forma, tentei elaborar bastante a reflexão sobre a cena na dissertação. Acho que é uma forma de agradecer também esses anos todos de trajetória. É um trabalho que é a primeira parte é bastante dedicada a pensar historiografia do slam nos Estados Unidos. Eu traduzi muita coisa que não está disponível em português.

Também analiso quatro poemas da Luz Ribeiro, de Pieta Poeta, do Beto Bellinati e da Ana Roxo. Pensando como que essas questões todas vão para o corpo do poema. Porque, muitas vezes, quando a gente fala de slam, a gente só faz uma abordagem antropológica ou socializante, sendo que a gente está falando de poesia. E eu acho que ler esses poemas também na sua potência estética, o que eles têm de disruptivo, no que eles propõem de linguagem, no que eles contestam em toda uma tradição literária brasileira, isso é muito potente também.

São Paulo SP 29/09/2023 Luiza Romão vencedora do Prêmio Jabuti  2022.  Foto Paulo Pinto/Agência Brasil
São Paulo SP 29/09/2023 Luiza Romão vencedora do Prêmio Jabuti 2022. Foto Paulo Pinto/Agência Brasil – Paulo Pinto/Agência Brasil

 

Edição: Sabrina Craide

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