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VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS
O Parque na lista do Patrimônio Mundial da Unesco

O Parque Nacional Serra da Capivara foi criado em 1979, para preservar vestígios arqueológicos da mais remota presença do homem na América do Sul. Sua demarcação foi concluída em 1990 e o parque é subordinado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Por sua importância, a Unesco o inscreveu na Lista do Patrimônio Mundial em 13 de dezembro de 1991, e também na Lista Indicativa brasileira como patrimônio misto.
A Pedra Furada é um dos fortes símbolos do Parque Nacional da Serra da Capivara. Segundo os pesquisadores, a região já foi habitat de animais gigantes. A megafauna fóssil do parque nacional inclui mais de 30 espécies, das quais as maiores (uma preguiça gigante e um mastodonte) pesavam mais de 5 toneladas. A extinção desses bichos ocorreu há aproximadamente 10 mil anos, no fim do período chamado Pleistoceno, o que corresponde na América do Norte e na Europa ao fim da época glacial. (fotos: Fumdham)
Em 1993, o Parque passou a constar do Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, do Iphan. Na área tombada foram localizados cerca de 400 sítios arqueológicos. A maioria deles contém painéis de pinturas e gravuras rupestres de grande valor estético e arqueológico. A área faz parte de um dos 63 parques nacionais do Brasil e está entre as dez que protege a caatinga, sendo constituída de quase 40% da caatinga protegida no país.
Desenhos rupestres. Acima, o tatu e o caçador. Abaixo: uma parede da caverna com várias imagens. (fotos: Fumdham)
A região abriga, na verdade, dois parques: além do Parque Nacional Serra da Capivara, há também o Parque Nacional Serra das Confusões. Ambas com paisagens e lugares deslumbrantes, que há anos fascina quem chega lá. Ali está uma das maiores densidades de sítios arqueológicos com arte rupestre do mundo, com figuras e desenhos de beleza impressionante e grande qualidade artística. São vários sítios arqueológicos e paleontológicos preservados, que recebem visitas e são motivo de estudos por especialistas. Tudo isso possui uma beleza extraordinária para qualquer turista.
MUSEU DO HOMEM
No centro das pesquisas está a Fundação Museu do Homem Americano, a Fumdham < www.fumdham.org.br > existente desde 1986 e com sede em São Raimundo Nonato, no Sudeste do Piauí.
É uma instituição científica, filantrópica e sem fins lucrativos, e foi criada por uma equipe de pesquisadores que compunham uma cooperação científica binacional, sob a liderança da antropóloga Niéde Guidon.
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BAUNILHA DO CERRADO
Brasília faz curso e oficinas para produção, polinização e beneficiamento gastronômico da especiaria da região.

Sob a coordenação da Gastróloga e pesquisadora de baunilhas brasileiras Cláudia Nasser, o Instituto de Baunilhas Edmond Albius, criado pela produtora de baunilha, Ângela Almeida, da Quinta do Alecrim, realizou no dia 25 de maio um curso prático sobre o cultivo de baunilhas. A atividade aconteceu em Brasília e reuniu agricultores, gastrônomos, comerciantes, empreendedores do ramo da alimentação e curiosos em conhecer de perto essa orquídea tropical de alto valor gastronômico e comercial.
A pesquisadora Cláudia Nasser explica que o curso busca criar uma rede de produtores capacitados, que compreendam o cultivo da baunilha desde a produção de mudas até o produto para comercialização.
A oficina marcou o início de uma série de capacitações que o Instituto oferecerá ao longo do ano, voltadas à produção e valorização das baunilhas brasileiras, com foco em espécies nativas que crescem em regiões do Cerrado.
Segundo a pesquisadora Cláudia Nasser, “o objetivo é criar uma rede de produtores capacitados, que compreendam o cultivo da baunilha desde a produção de mudas até o produto para comercialização, sejam favas in natura, bem como produtos à base de baunilhas como extratos, pastas, pó, mel, azeites etc., por meio da educação, pesquisa e experiências sensoriais”.
Dessa forma, em parceria com produtores, chefs, pesquisadores e comunidades tradicionais, o projeto busca inserir a baunilha nativa no circuito gastronômico e turístico do Brasil.
O Instituto leva o nome de Edmond Albius, jovem que descobriu, aos 12 anos, a técnica de polinização manual da baunilha na Ilha de Reunião (antiga Bourbon), tornando possível seu cultivo em diversas partes do mundo.
PRÓXIMOS CURSOS E OFICINAS
Após o sucesso da primeira oficina, o Instituto de Baunilhas Edmond Albius prepara novas atividades para os próximos meses. O importante, ressalta Cláudia Nasser, é que todas as atividades mesclam conteúdo técnico com vivências sensoriais, respeitando os saberes tradicionais e promovendo o uso sustentável das espécies nativas.
A programação e o conteúdo das próximas oficinas, incluem:
• Curso de Polinização – Técnica essencial para a produção de frutos fora do ‘habitat’ nativo.
• Curso de Beneficiamento da Baunilha – Etapas de cura e secagem, fundamentais para o desenvolvimento do aroma característico.
• Oficina de Análise Sensorial de Baunilhas – Uma experiência olfativa para identificar as notas e qualidades da especiaria.
• Oficinas Gastronômicas com Baunilhas – Aulas práticas onde os participantes aprendem a utilizar diferentes espécies de baunilha em receitas doces e salgadas, drinks e etc.
COMO PARTICIPAR
Os cursos são presenciais e realizados em pequenos grupos, com foco na prática. As inscrições serão divulgadas no perfil oficial da Quinta do Alecrim @quintadoalecrim, @nasserclaudia, e também por meio de parcerias com associações rurais, sindicatos e instituições de ensino do DF e entorno.
O sucesso e a procura pelo curso levou os organizadores a programarem novas oficinas sobre Baunilha do Cerrado.
QUEM FOI EDMOND ALBIUS
A vida de Edmond Albius não foi fácil. Mas ele deixou um legado eterno para a horticultura mundial de baunilha. Em 1841, Edmond Albius (1829-1880) era apenas um garoto de 12 anos, escravizado e sem educação formal. Mas ele conseguiu algo inédito, resolvendo um enigma que intrigava os principais botânicos da época: desenvolveu uma técnica inovadora para polinizar orquídeas baunilha de forma rápida e lucrativa. A verdade é que sem a sua contribuição, a baunilha não teria alcançado a popularidade que tem hoje.
Na década de 1820, os colonos franceses trouxeram cápsulas de baunilha para a ilha Reunião, onde Albius nasceu em 1829, vindas do México. Logo ficou claro que nenhum inseto na região poderia polinizar as orquídeas baunilha, ao contrário do que ocorria no México, onde as abelhas selvagens faziam esse trabalho.
Na década de 1830, o botânico belga Charles Morten desenvolveu uma técnica manual de polinização, mas era demorada e exigia muita mão de obra.
TÉCNICA SIMPLES E EFICAZ
Edmond Albius, aos 12 anos, usou folhas de erva ou pedaços finos de madeira para levantar a tampa da flor e dobrar a parte masculina, permitindo que o pólen entrasse em contato com a parte feminina. Depois, com seu polegar, pressionava levemente, realizando a polinização de forma eficaz. Embora simples, sua técnica revolucionou a indústria, transformando a Ilha Reunião em um dos maiores fornecedores mundiais de baunilha.
As contribuições de Albius para a ciência passaram despercebidas durante sua vida, e ele faleceu na pobreza e no esquecimento. Somente muitos anos após sua morte, que ocorreu em 1880, seu trabalho foi reconhecido e celebrado como um avanço significativo na história da botânica. Até hoje, em Madagascar, a técnica de Albius é utilizada, e o país se destaca como o maior fornecedor de baunilha do mundo.
ILHA DA REUNIÃO
A Ilha da Reunião, uma antiga colônia francesa, que se tornou um departamento ultramarino em 1960, é um pontinho de rocha vulcânica a cerca de 650 quilômetros de Madagascar. Um paraíso natural com enormes cachoeiras e pontos de surfe famosos no mundo todo.
A Ilha da Reunião tem 2.512 km², mas, no centro, o antigo pico vulcânico da Piton des Neiges ultrapassa as nuvens e alcança mais de três mil metros de altitude, criando uma infinidade de microclimas em suas encostas e dividindo a ilha em um lado “úmido” e outro “seco”.
A baunilha do Cerrado, conhecida também como “baunilha banana”, é uma especiaria rara, nativa do bioma Cerrado brasileiro, que se destaca pelo aroma floral e adocicado de sua fava.
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Sobre o Instituto de Baunilhas Edmond Albius
O IBEA foi concebido pela produtora Angela de Almeida e tem como coordenadora a gastróloga e mestre em Turismo, Cláudia Nasser Brumano. O Instituto atua na promoção do cultivo e valorização das baunilhas brasileiras por meio da educação, pesquisa e experiências sensoriais. Em parceria com produtores, chefs, pesquisadores e comunidades tradicionais, o projeto busca inserir a baunilha nativa no circuito gastronômico e turístico do Brasil.
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A VOLTA DE JEAN DE LÉRY PARA A FRANÇA
O naturalista que entrou de gaiato no navio, veio para o Rio de Janeiro e deixou um relato precioso do Brasil de 1557. Sua volta para a França coincidiu com o fim da colônia francesa no Brasil.

Naturalistas Viajantes – JEAN DE LÉRY (Parte 16)
“Uma vez em terra, caminhei ao longo da Avenida Rio Branco,
onde uma vez existiram as aldeias tupinambás;
no meu bolso havia aquele breviário do antropólogo, Jean de Léry.
Ele chegou ao Rio 378 anos antes, quase no mesmo dia”.
Claude Lévi-Strauss em ‘Tristes Trópicos’, ao chegar ao Rio de Janeiro em 1934.
A volta de Jean de Léry para a França também marca o fim da colônia francesa no Brasil. Após a expulsão dos franceses da Guanabara, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar “heresias protestantes”. Quanto à viagem de volta, Jean de Léry conta em detalhes como, por milagre, se salvou de uma grande tempestade em alto mar.
Lévi-Strauss assim se refere a Léry: “A leitura de Léry me ajuda a escapar de meu século, a retomar contato com o que eu chamaria de ‘sobre-realidade’, não aquele de que falam os surrealistas, mas uma realidade ainda mais real do que aquela que testemunhei. Léry viu coisas que não têm preço, porque era a primeira vez que eram vistas e porque foi a mais de quatrocentos anos”.
O FIM DA COLÔNIA FRANCESA NO BRASIL
Após a expulsão dos franceses da Guanabara, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar “heresias protestantes”. O jornalista e historiador paranaense José Francisco da Rocha Pombo (1857-1933), em sua ‘História do Brasil’ publicada em 1935, recupera parte da história dos religiosos franceses: “Jacques Le Balleur foi poupado, pois era ferreiro. Isto praticamente marcou o fim da colônia francesa, e encerrou a tragédia da Guanabara”.
Em nota de rodapé, explica: “Após conseguir viver escondido, Jacques Le Balleur foi preso pelos portugueses nas cercanias de Bertioga. Ele foi enviado para Salvador, na Bahia, que era a sede do governo colonial, onde foi julgado pelo crime de “invasão” e “heresia”, isso em 1559. Em abril de 1567, foi queimado, sendo auxiliar do carrasco José de Anchieta, para consternação dos católicos”.
A VIAGEM DE VOLTA E SALVOS POR MILAGRE
“Prosseguindo na narração dos extremos perigos de que Deus nos livrou no mar, durante o nosso regresso, contarei um deles, proveniente de uma disputa surgida entre o nosso contramestre e o nosso piloto, em virtude da qual, por despeito, nenhum deles desempenhou desde então os deveres do cargo. A 26 de março, fazendo o piloto o seu quarto, conservou abertas todas as velas sem perceber a aproximação de um furacão que se preparava e que desabou com tal ímpeto que adernou o navio a ponto de mergulharem os cestos de gávea e a ponta dos mastros no mar, atirando à água cabos, gaiolas e todos os objetos que não estavam bem amarrados, pouco faltando para que virássemos completamente. Todavia, cortadas com rapidez as enxárcias e escotas da vela grande, aprumou-se o navio pouco a pouco. Pode-se dizer que só por um milagre nos salvamos, mas nem por isso concordaram os causadores do mal em reconciliar-se, não obstante os rogos de todos; muito ao contrário, apenas passado o perigo engalfinharam-se e com tal fúria se bateram que julgamos se matassem na luta.
‘ESTAMOS PERDIDOS, ESTAMOS PERDIDOS’
Por outro perigo passamos dias depois. Estando o mar calmo, pensaram o carpinteiro e outros marinheiros em aliviar-nos do trabalho de bombear, procurando tapar melhor as fendas por onde entrava a água. Aconteceu que mexendo em um deles para consertá-lo, despregou-se uma peça de madeira de quase um pé quadrado e a água entrou com tal abundância e rapidez que forçou os marinheiros a subirem para o convés abandonando o carpinteiro. E sem sequer contar-nos o fato, berravam: ‘Estamos perdidos, estamos perdidos’.
Diante disso, o capitão, o mestre e o piloto trataram de pôr ao mar a toda a pressa o escaler, mandando também lançar à água os toldos do navio, grande quantidade de pau-brasil e outras mercadorias num valor total de mil francos, decididos a abandonar a embarcação e a salvar-se no bote. Mas temendo o piloto que o grande número de pessoas que tentavam embarcar tornasse a carga excessiva, saltou do bote com um cutelo na mão, ameaçando romper os braços do primeiro que tentasse entrar.
Vendo-nos assim desamparados à mercê das ondas, lembramo-nos do primeiro naufrágio de que Deus nos livrara e, resolvidos a lutar pela vida, empregamos todas as nossas forças em bombear a água a fim de que o navio não afundasse; e tanto trabalhamos que o conseguimos. Nem todos, porém se mostraram corajosos. Os marinheiros, em sua maioria, estavam desatinados e tão temerosos se mostravam da morte que já não se importavam com coisa alguma a não ser em beber à farta. Estou certo de que os rabelesianos, escarnecedores e desprezadores de Deus, que em terra tagarelam sentados à mesa e comentam com motejos os naufrágios e perigos em que se encontram muitas vezes os navegantes, teriam seus gracejos mudados em pavor se nesta situação se encontrassem. E creio também que muitos leitores desta narrativa e dos perigos por que passamos dirão com o provérbio: ‘Muito melhor é plantar couves ou ouvir discorrer do mar e dos selvagens do que tentar tais aventuras’. (…)
O nosso carpinteiro, rapaz animoso, não abandonara o porão como os marinheiros, mas enfiara o seu capote de marujo no buraco, comprimindo-o com os pés para quebrar o impulso da água, a qual, como depois nos disse, por várias vezes o desalojou, tal a sua impetuosidade. Assim nessa posição gritou ele quanto pôde para que os de cima, do convés, lhe levassem roupas, redes de algodão e outras coisas com que pudesse deter o jorro d’água enquanto consertava a peça. Graças a esse esforço fomos salvos”.
PÓLVORA E FOGO
“Como temíamos encontrar piratas nessas paragens, ao sair desse mar de ervas não só assestamos quatro ou cinco peças de artilharia que havia no navio, mas ainda preparamos as necessárias munições para nos defendermos oportunamente. Entretanto, com isso novo perigo tivemos que vencer. Quando o nosso artilheiro secava a pólvora em uma panela de ferro, esqueceu-a ao fogo até tornar-se incandescente e a pólvora se inflamou, correndo a chama de uma à outra extremidade do navio, de forma que inutilizou velas e massame e por pouco não incendiou o breu de que o navio estava untado, queimando-nos todos em pelo mar. Aliás, um grumete e dois marujos foram tão maltratados pelo fogo que um deles morreu poucos dias depois. Por minha parte, se não tivesse rapidamente levado ao rosto o boné de bordo, ter-me-ia queimado seriamente; escapei chamuscando apenas a ponta das orelhas e os cabelos”.
PRÓXIMA EDIÇÃO 376 – JULHO DE 2025 – PARTE 17.
TRÁGICA VOLTA – O erro do piloto em calcular a posição do navio “fez com que em fins de abril já estivéssemos inteiramente desfalcados de todos os víveres; já varríamos o paiol, cubículo caiado e gessado onde se guarda a bolacha nos navios, mas encontrávamos mais vermes e excrementos de ratos do que migalhas de pão. Quando havia, repartíamos às colheradas esse farelo e com ele fazíamos uma papa preta e amarga como fuligem. Os que ainda tinham bugios e
papagaios, a que ensinavam a falar, comeram-nos. E vindo a faltar por completo os víveres, em princípio de maio, dois marinheiros morreram de hidrofobia da fome, sendo sepultados no mar como de praxe”.
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NIÈDE GUIDON, UMA GUERREIRA DO SERTÃO NORDESTINO
E a vida segue seu ciclo. Estava me preparando para ir ao Campo da Esperança para me despedir do amigo Fausto Salim, quando recebo a notícia da passagem de outra amiga: Niède Guidon.




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