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A PARTICIPAÇÃO INDÍGENA NA COP-30 NO BRASIL

Cacique Marcos Terena, que viaja dia 21 de abril para reunião na ONU, a fim de discutir a participação da comunidade indígena internacional na COP-30, fala sobre o Dia do Índio e sobre a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a ser realizada em Belém do Pará.

 

O índio Mariano Justino Marcos Terena, de filho pródigo em Mato Grosso do Sul, mora em Brasília e tornou-se uma das mais importantes lideranças de seu povo. Sem dúvida, é o líder indígena mais respeitado pela comunidade internacional. O Cacique Marcos Terena é hoje o ponto de equilíbrio entre autoridades brancas e os povos indígenas. Índio, piloto e cacique, Marcos Terena foi fundador da União das Nações Indígenas – UNIND, primeiro movimento político da juventude indígena no Brasil e articulador dos direitos dos Pajés e os Conhecimentos Tradicionais. Além de Coordenador Internacional dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, o cacique Terena também é Guerreiro da Cultura: de 2007 a 2010, foi o Diretor do Museu do Índio, em Brasília. A partir do dia 21 de abril próximo, Marcos Terena vai estar na ONU, em Nova York, para participar de um encontro que vai estudar a participação dos povos indígenas na COP-30, em Belém do Pará, no final do ano.

CACIQUE MARCOS TERENA – ENTREVISTA

 

Marcos Terena, a maior liderança brasileira da causa indígena, fala sobre as comemorações do Dia do Índio e sobre a COP’30.

 

Silvestre Gorgulho – Acompanho seu trabalho e suas ações nacionais e internacionais desde a RIO’92, no Rio de Janeiro. Como nasceu a histórica “Declaração da Kari-Oca”? Haverá nova declaração agora pela COP’30, no Brasil?

Marcos Terena – Pois é, lá se vão 33 anos. Em 1991, a ONU decidiu fazer do Brasil país sede da Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992, no Rio de Janeiro. E graças a uma articulação indígena internacional foi incluída a participação indígena. Em troca, as Nações Unidas acataram a mudança do nome do evento indígena para Conferência Mundial sobre Território, Meio Ambiente e Desenvolvimento, RIO’92. Assim nasceu a histórica “Declaração da Kari-Oca”, cujo texto base começava com a seguinte frase – Caminhamos em direção ao futuro, nos rastros de nossos Antepassados.

 

 

“Caminhamos em direção ao futuro, nos rastros de nossos Antepassados”.

CACIQUE MARCOS TERENA

 

A construção da Aldeia Kari-Oca, antes da RIO’1992. No próximo dia 30 de maio, são 33 anos da Declaração da Aldeia Kari-oca, promulgada durante a Conferência Mundial dos Povos Indígenas sobre Território, Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO’92.

 

Silvestre – E este “caminhamos em direção ao futuro” estará presente em novembro deste ano em Belém, na COP’30?

Terena – Sim, vamos nos reunir no final deste mês na ONU para tratar disso. Entre os dias 21 de abril e 02 de maio deste ano, as Nações Unidas reunirá com mais de dois mil indígenas em sua sede em Nova York para analisar o tema: Implementando a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas nos Estados Membros da ONU e nos sistemas das Nações Unidas, incluindo a identificação de boas práticas e a abordagem dos desafios. Como indígenas brasileiros e organizadores da Kari-Oca – RIO’92 e participantes da construção do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas que coloca o tema indígena num alto nível internacional e da Declaração, lá estaremos para ouvir e opinar sobre o tema.

 

Silvestre – Mas como está o Brasil nisso tudo?

Terena – O Brasil é sempre ouvido e tem voz ativa. Afinal, nosso país é considerado referência no cenário internacional seja pela diversidade étnica, seja pelos biomas existentes e principalmente pela existência de mais de 300 povos indígenas e os níveis de contatos. Também possui uma lei específica para os direitos indígenas, o Estatuto do Índio e artigos como o 231 e 232 dentro da Constituição nacional, que reconhecem essa diversidade e, também, o direito sobre a Terra que historicamente ocupam de norte a sul do Brasil.

É preciso destacar que as aldeias ou comunidades indígenas existentes no Cerrado como os Bororo; os Tukano e Mundurucu, na Amazônia; no Pantanal como os Terena; na Mata Atlântica como os Guarani; na região dos Pampas no Sul como os Xokleng; ou ainda no Semiárido do Nordeste como os Fulni-Ô, todos são atores históricos na luta por direitos básicos como a demarcação de seus territórios e seus recursos minerais e naturais. Terra é vida, é o lema mundial!

 

Silvestre – Como os nativos convenceram o mundo da importância das aldeias para o equilíbrio ambiental e econômico?

Terena – No ano de 1992, durante uma Conferência RIO’92, os Povos Indígenas das quatro direções do vento convenceram o mundo da importância de seus territórios como fonte de equilíbrio ambiental. E, também, capaz de gerar aos nativos uma economia sustentável e com qualidade de vida. O sistema econômico do “time is Money” ou da moeda fácil proliferam, a partir das cidades circunvizinhas, plantaram a ideia de que era preciso modernizar e qualificar as nações indígenas para um encontro com a modernidade, a partir do uso irresponsável da terra e do lucro fácil.

 

Aldeia da tribo Mundurucu, na comunidade de Bragança próxima a Alter do Chão-Pará é um exemplo de trabalho e educação que leva toda aldeia a participar e usufruir do desenvolvimento regional, sob a orientação do cacique Domingos Mundurucu. (foto: Silvestre Gorgulho)

 

Silvestre – Mas hoje há várias comunidades indígenas atualizadas e até modernizando costumes e trabalhos. Como você vê isso?

Terena – É verdade. Os mesmos costumes religiosos, educativos e de novas conquistas vêm se modernizado nos relacionamentos com os povos indígenas. Além do ouro e das madeiras preciosas, o avanço colonialista quer para si os territórios indígenas. A justificativa é que são terras sem donos e ociosas e que o País carece delas para inclusive, enriquecer o mundo sem quaisquer estudos de impactos. No passado, argumentos como esses terminou por gerar mais pobreza. E eles ainda continuam trazendo a destruição dos rastros dos nossos antepassados. Por exemplo, colocar fim às causas das mudanças climáticas do qual os líderes espirituais haviam avisado em 1992 com uma Carta da Terra.

 

Silvestre – Você está satisfeito com o apoio e acolhida da ONU?

Terena – Em 2015, quando fui tratar dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, o então Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, explicou a importância dos diálogos. E foi além: disse das oportunidades como exemplo a ser dado pelos povos indígenas. As palavras dele foram essas: “Este evento é um excelente exemplo de como o esporte pode unir as pessoas e promover a paz, o respeito pelos direitos humanos e as ricas culturas e sabedorias indígenas de todo o mundo”. Então, quando a ONU abre suas portas aos Povos Indígenas do mundo para analisarem a aplicação de uma Declaração Universal a governos e Povos Indígenas, certamente os indígenas do Brasil estão presentes. E importante: às vésperas da maior conferência ambiental da atualidade na forma de Cooperação entre os Países, a COP’30 em novembro próximo.

 

Silvestre – Como você sente a COP’30, em novembro no Brasil?

Terena – Olha, a COP’30 no Brasil ainda não sinalizou como fazer o Brasil grande. Temos tudo para tal, mas não sabemos por onde começar e como assegurar, novamente, o respeito entre as Nações para se tornar líder de um novo processo para o bem comum. Enquanto isso, como disseram os líderes indígenas, os efeitos estão chegando na forma de catástrofes ecológicos. Não existem benefícios unilaterais. A força de um povo e o bem-estar estão baseados nas alianças e no respeito a diversidade ambiental e coletiva das primeiras nações. Talvez a Mãe Terra esteja apenas respondendo às queimadas criminosas no Pantanal, Cerrado e Amazônia.

 

Silvestre – A COP’30 poderá ser um marco divisor diante do desafio de encontrar caminhos para o bem-estar ambiental?

Terena – Acho que sim. Todo diálogo é importante e todas as ações proativas pela natureza são necessárias. Principalmente o uso de novas tecnologias para um desenvolvimento sustentável. Os povos indígenas têm noção ecológica tradicional e espiritual, mas como convencer as grandes indústrias de energia e os sistemas econômicos que não se renova?

 

Silvestre – E sobre o Dia do Índio neste próximo dia 19?

Terena – Não temos notícias alvissareiras de como será o Dia do Índio no Brasil, mas certamente as aldeias se lembrarão das diversas agressões sofridas lá em suas aldeias tradicionais, seja pela falta da demarcação, seja pela falta da presença do Estado e uma política indigenista adequada a diversidade social, econômica e cultural. A agressão e os desmandos não vêm apenas das formas de agressões físicas. As agressões agora vêm também nas formas de mono agriculturas como a expansão da soja, das sementes transgênicas, dos venenos e com ela a destruição ambiental que afeta também as fontes de águas e a diversidade animal. É preciso observar a movimentação dos jurídicos e suas formas mágicas de argumentar a destruição de pessoas em conjunto aparente com o poder legislativo, onde seus representantes são maioria e sem qualquer reconhecimento pelos rastros indígenas que ainda existem desde a chegada do primeiro homem branco.

 

 

Silvestre – Uma mensagem final…

Terena – Vale lembrar a agenda Kari-Oca de 1992: Nós Povos Indígenas avisamos: “continuaremos mantendo nossos direitos inalienáveis a nossas terras, nossos recursos do solo e subsolo, e águas. Afirmamos nossa contínua responsabilidade de passar todos esses direitos as gerações futuras. Estamos unidos pelo ciclo da vida e não podemos ser desalojados de nossas terras e nosso meio ambiente.”

 

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Prêmio Candango de Literatura 2025 abre inscrições em maio

Segunda edição da premiação reforça o papel de Brasília como referência na literatura em língua portuguesa

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O Prêmio Candango de Literatura chega à sua segunda edição em 2025, reafirmando o papel de Brasília como um dos principais polos de produção e difusão literária da lusofonia. Promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF), em parceria com o Instituto Casa de Autores, o prêmio é voltado para escritores, designers e projetos de incentivo à leitura de países de língua portuguesa.

O lançamento oficial da premiação será no dia 9 de maio, na Sala Martins Pena do Teatro Nacional, marcando um momento simbólico para a cena cultural da capital. Já as inscrições estarão abertas de 10 de maio a 25 de junho, período em que autores e criadores poderão submeter suas obras e projetos.

Celebração da literatura em língua portuguesa

Mais do que uma competição, o Prêmio Candango busca fortalecer a integração cultural entre países e regiões que compartilham a língua portuguesa, estimulando a troca de experiências, a valorização das identidades locais e a visibilidade internacional de novas vozes literárias.

“Brasília sempre foi um berço de grandes escritores e projetos culturais. O Prêmio Candango é uma forma de projetar essa força criativa para além das fronteiras do Distrito Federal e do Brasil”, destaca a organização do evento.

Reconhecimento e incentivo

Em sua primeira edição, o prêmio já se destacou pela diversidade de categorias e pela qualidade das obras inscritas, abrangendo diferentes gêneros literários e áreas relacionadas à cadeia do livro. Além de autores e designers, o Candango reconhece iniciativas de promoção da leitura, valorizando quem trabalha para democratizar o acesso à literatura.

Um prêmio que aproxima autores e leitores

Com o sucesso da estreia, a segunda edição promete ampliar o alcance e o impacto do prêmio, reforçando Brasília como um centro de criação, encontro e difusão literária. A expectativa é reunir talentos de todas as regiões do Brasil e de outros países lusófonos, fortalecendo laços culturais e incentivando novas produções.

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WALTER MELLO, O OPERÁRIO DA CULTURA COMPLETA 95 ANOS.

SEU LEGADO A BRASÍLIA É PATRIMÔNIO PARA A ETERNIDADE.

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Brasília já teve uma primeira loja de disco, montada logo após sua inauguração, em 1960.
Brasília já estreou para a Cultura, como um bom baiano estreia para a vida.
O soteropolitano Walter Albuquerque Mello, que completou ontem (5 de novembro) 95 anos e Brasília têm muita coisa em comum. As mais importantes são:
1 – Em agosto de 1960, o baiano Walter Mello, chega em Brasília para trabalhar na primeira loja que vendia discos da nova capital. Costumava dizer: “O baiano não nasce. Estreia. E eu estreei em Brasília”. E assim, em pouco tempo, o Walter Mello iniciou sua trajetória de vida como “Operário da Cultura”.
2 – Promovendo exposições e eventos de música, teatro e cinema, de 1960 a 1970, então Diretor da Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Educação e Cultura, Walter Mello lutou pela criação do Arquivo Público do Distrito Federal, hoje seu maior legado.
3 – Recem criado o arquivo, em 14 de março de 1985, sou testemunha do dia que Walter Mello procurou o governador José Aparecido de Oliveira com um desafio: implementar e agilizar a implantação do Arquivo Público do Distrito Federal. José Aparecido que assumiu o GDF em 9 de maio de 1985, deu força total ao projeto de Walter Mello.
Seu amigo e hoje auditor do Arquivo Publico, Elias Manoel da Silva, lembra que foi Walter Mello que fez alguns tombamentos importantes como: a Igreja São Sebastião de Planaltina, Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, Museu Histórico e Artístico de Planaltina, a Pedra Fundamental de Brasília e até a palmeira Buriti que se encontra diante do Palácio do Governo do Distrito Federal. Quanto a isso comentava: “Renasci e me realizei com Brasília e ter podido participar com um tijolinho na parte da preservação da memória da cidade me faz muito feliz. Aqui encontrei o sentido da vida. Brasília é minha história”.
Continua Elias Manoel da Silva: “Se a alguns coube a construção do corpo urbano e arquitetônico da nova capital federal, a Walter Mello coube a responsabilidade por zelar pela alma cultural de Brasília que se consolidava.”
VIVA OS 95 ANOS BEM VIVIDOS DE WALTER MELLO – O OPERÁRIO DA CULTURA
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WEBINAR 2025 NA ENGENHARIA FLORESTAL

Empreendedorismo e Inovação Tecnológica na Engenharia Florestal trazem sustentabilidade e ganhos expressivos.

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O Programa de Pós-graduação em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná – UFPR, em cooperação com a Faculty of Forestry da University of British Columbia e o Trade Office de Porto Alegre do Consulado do Canadá está programando a realização do Webinar sobre Empreendedorismo e Inovação Tecnológica na Engenharia Florestal. O curso, de forma virtual, será realizado no dia 27/11/2025. Para participar é essencial providenciar a reserva pelo email <seaflorufpr@gmail.com>.

 


O mundo é uma rede e a rede traz uma facilidade tecnológica para se debater e ampliar o conhecimento. Nessa rede, nasceu a Webconferência ou, melhor dizendo, um vídeo que pode ser transmitido ao vivo ou gravado, permitindo interação e até cursos on-line com infinitas possibilidades de audiências. Vem do inglês “web-based seminar”, ou seja, um seminário através da WEB.

O evento internacional deste ano é sobre” Empreendedorismo e Inovação Tecnológica na Engenharia Florestal” será aberto e requer a inscrição de cada participante. No ano passado, o evento tratou sobre os incêndios florestais e as mudanças climáticas. Neste ano, como no passado houve palestrantes brasileiros e canadenses.

 

GANHOS EXPRESSIVOS

Segundo os organizadores do evento, as inovações tecnológicas e o planejamento na engenharia florestal geram ganhos expressivos de eficiência, pois contribuem significativamente para a estabilidade e a sustentabilidade operacional, ambiental e social. Essas tecnologias avançadas nas operações florestais da empresa elevam a gestão e os padrões de cuidado ambiental de várias maneiras:

 

  • Os drones e nanossatélites permitem uma monitorização mais precisa e abrangente das florestas, o que ajuda a detectar problemas de proteção florestal, que tais como sinistros provocados por ventos, pragas ou incêndios florestais, em tempo real. Isso permite uma resposta mais rápida e eficaz para mitigar danos econômicos e ambientais.
  • A automação proporcionada pelos drones e outras tecnologias reduz a necessidade de intervenção humana direta nas operações florestais, maximizando a assertividade operacional e melhorando a eficiência.
  • Com o desenho das linhas de plantio e o uso de piloto automático, o número de manobras feitas pelos tratores é menor, com redução considerável do uso de combustível.
  • O uso de imagens aéreas de alta resolução e modelos em 3D ajuda a identificar áreas críticas de conservação e a tomar decisões informadas sobre o manejo das florestas.
  • A implementação de programas de excelência florestal e controle de qualidade reforça o compromisso da empresa com práticas sustentáveis e o fornecimento de produtos de alta qualidade.
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