Artigos

As descobertas, a glória e a ética

A nova nascente do rio São Francisco

Silvestre Gorgulho


Quem faz sua própria trilha deixará sempre seus rastros.  E para fazer a própria trilha são necessários planejamento, oportunidade e coragem. A História está cheia de exemplos: quando Robert Falcon Scott chegou à Antártica, em 17 de janeiro de 1912, ficou frustrado em não ser o primeiro. Lá encontrou a tenda erguida pelo norueguês Roald Amundsen, que já havia chegado ao Pólo Sul um mês antes, em 14 de dezembro de 1911. As glórias ficaram para Amundsen.
Quando os irmãos Wright se fecharam em copas para pesquisar e tentar produzir um objeto voador mais pesado que o ar, tentando patentear sozinhos e em sigilo o projeto do avião, perderam a glória para o gênio festivo de Santos Dumont, que fazia seus experimentos pelos parques públicos de Paris. E, incrível, mas foi Américo Vespúcio quem deu o nome ao Novo Mundo descoberto por Colombo. Também incrível, o mesmo Vespúcio é tido como o descobridor do rio São Francisco, quando, na verdade, o Chefe da Armada que ele integrava era Gonçalo Coelho, que no caso deveria levar as honras e glórias. Assim é a vida…
Guardadas as devidas proporções, coisas semelhantes estão acontecendo nos dias de hoje, tendo como cenário não mais a foz descoberta por Vespúcio, mas sim a nascente do Velho Chico descoberta e redescoberta por muita gente… Ao ser o primeiro a divulgar seu trabalho num “paper técnico na Codevasf” mostrando que a nascente do São Francisco não está na belíssima serra da Canastra, como dizem os livros, mas no Planalto do Araxá, no município de Medeiros, o engenheiro agrônomo Geraldo Gentil Vieira abriu uma polêmica sem precedentes.
Sua glória está calcada na coragem, na oportunidade e no planejamento que ele vem fazendo há três anos. Primeiro, coordenando uma importante expedição que desceu o rio São Francisco da nascente à foz; segundo, fazendo jus à condição de barranqueiro, pois sendo natural de Iguatama – uma das dez cidades das cabeceiras – o próprio Geraldo Gentil fez o projeto para a medição oficial e determinação das nascentes. Venceu o esforço de um técnico que compôs uma equipe de primeira grandeza integrada pelo próprio Gentil, pelo agrimensor Leonaldo Silva de Carvalho, pelo agrônomo Miguel Farinasso, pelo engenheiro Paulo Afonso Silva e pela geógrafa Rosemery José Carlos. Vencerá o bom senso, se todos os organismos oficiais buscarem apenas a verdade e darem, generosamente, a César o que é de César, a Deus o que é de Deus e ao rio Samburá o que é do rio Samburá. Nosso País só será grande quando imperar a ética, quando acabar o obscurantismo que teima em perpetuar pelos corredores do Estado brasileiro e quando tiver um ponto final o jeitinho e o faz de conta.


Aliás, essa história de nova nascente é uma bela lição para marcar a decisão política de se fazer o projeto de revitalização do rio São Francisco. Um rio tem muitas nascentes e todas elas devem ser bem preservadas. O que deve ser enterrado e secar definitivamente são os discursos vazios e as promessas vãs que teimam acontecer nos anos eleitorais.

 



SUMMARY



It is said that one who blazes his own trail always leaves his mark and to blaze one’s own trail one needs planning, opportunity and courage.  History is replete with examples of trailblazers:  when Robert Falcon Scott reached Antarctica on January 17, he was frustrated at finding he was not the first.  He found instead a tent set up by the Norwegian Roald Amundsen, who had arrived at the South Pole a month before, on December 14, 1911. The laurels rested with Amundsen. When the Wright brothers researched and tried to produce a flying machine heavier than air and then tried to patent the aviation project on their own and in secret, they lost glory to the celebrated genius of Santos Dumont, who had conducted experiments in the public parks in Paris. It is incredible but it was Americo Vespucci who gave the name to the New World discovered by Columbus.  It is also unbelievable that the same Vespucci is given credit as the discoverer of the São Francisco River, when in reality the Head of the Armada, was Gonçalo Coelho, and it is he in this case who should have carried the honor and glory.  Well, that’s life…
Similar things happen today, on a different plane; no longer using the background of the falls discovered by Vespucci, but rather the source of Velho Chico which has been discovered and rediscovered by a number of people.   As the first to announce his work in a ” Codevasf technical paper” demonstrating that the source of the São Francisco is not in the beautiful Canastra plains, as reported in the schoolbooks, but rather in the Planalto do Araxá, in the township of Medeiros, the agronomy engineer, Geraldo Gentil Vieira opened up a historic can of worms.  His glory is based on courage, opportunity and planning which he has been conducting for three years.  First, coordinating an important expedition which went down the São Francisco River from the source to the falls; second reaffirming his talents as a true São Francisco river rat or barranqueiro as they are called locally, since he is originally from Iguatama, one of the ten  cities located at the head of the river, Geraldo Gentil himself, drew up the project for the official measurement and determination of the sources of the river.  His efforts and those of a technical team paid off.  A team taken on by Gentil himself including the land surveyor, Leonaldo Silva de Carvalho, the agronomist, Miguel Farinasso, the engineer,  Paulo Afonso Silva and the geographer,  Rosemey José Carlos. Good sense will win out if all official agencies seek only the truth and give generously to Caesar, that which belonged to Caesar and to God and the Samburá River that which belongs to it.  Our Country will only be majestic when ethics prevail and when obscurity which is capable of being perpetuated in the halls of Brazilian government is eradicated and when we put an end to the jeitinho, or underhanded dealings, and fairy tales.  After all, this story about a new river source is a good lesson to set the mark calling for political decision to undertake the São Francisco River revitalization project.  A river that has many sources deserves to have them all preserved.   What should be buried and forgotten permanently are the empty speeches and idle promises which threaten to rear their ugly heads in election years.    (SG)

Continue Lendo
Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos

Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

Publicado

em

 

Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

Continue Lendo

Artigos

VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

Publicado

em

 

No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
Continue Lendo

Artigos

METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

Publicado

em

 

Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE O PRADOS”.
Para continuar no mote dos vagalumes ou pirilampos tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
Quando a cachoeira desce nos barrancos
Faz a várzea inteira se encolher de espanto
Lenha na fogueira, luz de pirilampos
Cinzas de saudades voam pelos campos.
Lindo demais! É a arte de vagalumear.
Continue Lendo

Reportagens

SRTV Sul, Quadra 701, Bloco A, Sala 719
Edifício Centro Empresarial Brasília
Brasília/DF
rodrigogorgulho@hotmail.com
(61) 98442-1010