Artigos
Aves do Cerrado no seu habitat
As verdadeiras jóias da baronesa von Behr
Silvestre Gorgulho
![]() Therese von Behr ainda percorre parques e matas pintando as aves do Cerrado. Muitas vezes tem, como modelo, as fotos de livros dos ornitóologos Helmut Sick, Augusto Ruschi e Johan Dalgas Frisch. Para Therese a vida é assim: luz, natureza, pincéis e ação. Agora espera um patrocinador para o seu livro das aves, onde os textos foram pesquisados pelo ornitólogo Paulo de Tarso Zuquim Antas e pelo seu filho – ecologista e poeta – Nikolaus von Behr |
Therese von Behr é uma baronesa especial. Aliás, riquíssima! Tem 74 anos e mora em Brasília desde 1974. Ela vem de um caminhar distante. Nasceu numa fazenda de trigais dourados, em Vilna, na Lituânia. Seu DNA de nobreza tem uma outra característica marcante: é uma artista das aquarelas. Desde pequena admirava o trabalho de sua mãe, a condessa Anna de Rômer, uma aquarelista de primeira grandeza. Mas a vida não é como se pinta: a Segunda Guerra Mundial deu uma vira-volta, a família abandonou a fazenda de trigais dourados e se mandou para a Alemanha e depois para o Canadá. Lá Therese conheceu Anatol Baron von Behr, um jovem nascido na Estônia, por quem se apaixonou. Mas… sempre tem um mas para quem foge das guerras. Um dia o rapaz lhe trouxe uma notícia triste: “Gostei de você, mas estou me mudando do Canadá. Vou fazer minha vida nas fazendas do eldorado chamado Brasil”. Anatol viajou e acabou em Diamantino, Mato Grosso. Durante dois anos se corresponderam por carta. Therese foi à luta. Contactou, no Canadá, os pais de seu enamorado, recebeu o consentimento de casamento e acertou sua vinda para o Brasil. Pegou um navio em Nova York – apenas ela e sete baús – e desceu em Santos. Ainda bem que a novela teve um final feliz: Anatol a esperava. Moraram na fazenda deles perto de Diamantino até o ano de 1968. Estão desde 1976 em Brasília. Therese von Behr só produziu muito para a natureza: além de seus três filhos (Nicholas, poeta e escritor, Miguel, escritor e biólogo, e Henrique, ilustrador, todos ambientalistas) a baronesa gerou as mais lindas aquarelas para bendizer a beleza da flora e da fauna do Brasil Central.
Do Cerrado captou as mais vivas cores para seus desenhos. Das flores do Centro-Oeste, há quatro anos, brotou o livro “Flora do Planalto Central do Brasil”, com 80 gravuras.
Onde há flor, há árvore. Onde há árvore há fruto e onde há fruto há pássaros. E aí a seqüência foi inevitável. Veio a segunda produção artística de Therese von Behr: as aves do Cerrado. Com um detalhe importante, todas as aves pintadas em seu habitat. Bem assim: o sabiá-laranjeira ao lado da embaúba; o maracanã-de-cara-amarela num pé de buriti, o beija-flor- de-canto no pau santo, o bico-de-lacre na orquídea… São ao todo 65 aquarelas.
Therese é ou não é uma baronesa especial! Especial sim, mas e por que riquíssima? Simples, porque Therese von Behr fez de seus sete baús que trouxe do Canadá um mundo de sonhos e de realidade tropical. Hoje vive entre jóias. E jóias que ela mesma garimpa, lapida e tem o grato prazer de dar a cada brasileiro como um presente dos mais significativos. “As aves são as verdadeiras jóias da natureza”, costuma dizer o ornitólogo Johan Dalgas Frisch. São essas jóias que Therese tem sempre a altura de suas mãos e as usa como bem manda seu coração de nobreza e de artista.
João bobo
Nystalus chacuru
White-eared puffbird
S: Chacurú listado
Está calmamente descansando no galho de uma lobeira
Mede cerca de 18cm e é encontrado em todo o Brasil Central, partes do Nordeste e do Sudeste. Também no Paraguai, Argentina e Bolívia. Canto longo, frequente no pôr-do-sol e no amanhecer. Habita campos, cerrados e até cafezais. Pode ser visto pousado nos fios elétricos. Em Brasília, está em todas as áreas menos alteradas e no Parque Nacional de Brasília, Estação Ecológica das Águas Emendadas e no Jardim Botânico
Tico-tico
Zonotrichia capensis
Rufous-collared sparrow
S.Chingolo comum
No galho de uma quaresmeira
O popular tico-tico é estimado no Brasil de norte a sul. Mede cerca de l5cm e seu canto conquistou a simpatia do povo e, como varia de região a região, a estrofe do canto pode ser interpretada como: “Maria acorda,é dia!” ou “Jesus, meu Deus” (no Nordeste). Nas madrugadas, antes do clarear, pode emitir um canto diferente do que o do dia. Gosta das bordas da mata ciliar, chácaras e locais abertos com vegetação baixa densa.
Beija-flor-de-canto
Colibri serrirostris
White-vented Violetear
Colibri mediano
Busca o néctar das flores de um pau-santo
Mede cerca de 12 cm e ocorre em todo o Brasil ao sul da Amazônia até Argentina, Bolívia e Paraguai. Habita os cerrados no período de chuvas e com a chegada da seca passa a frequentar a borda das matas ciliares. Nesse período destaca-se pelo canto contínuo, durante virtualmente todo o dia. É um chamado alto, curto e agudo, composto por quatro notas, repetidas de forma contínua do clarear ao escurecer. As “orelhas” violeta são mais chamativas sob luz intensa do sol.
Sabiá-laranjeira
Turdus rufiventris
Rufous-belled thrush
Zorzal colorado
No galho de uma embaúba
Ave Nacional por decreto do presidente da República Fernando Henrique Cardoso, o sabiá é um dos pássaros mais conhecidos do Sul e Sudeste brasileiros. Inconfundível pela intensa cor ferrugínea-laranja da barriga.Vive na mata, parques e quintais das casas, inclusive de cidades. É a ave mais cantada no cancioneiro popular brasileiro tantos pelos poetas como pelos compositores.
Asa branca
Columba picazuro
Picazuro pigeon
Picazuró
Pousada calmamente num ipê-roxo
Encontrada do Nordeste ao Rio Grande do Sul, além da Bolívia, Argentina e Paraguai. Mede 34cm. Comum no Campo, Caatinga e Cerrado. Nos últimos 30 anos adaptou-se a ambientes urbanos e colonizou cidades. Cria um filhote por postura e associa-se em bandos, realizando movimentos ainda pouco compreendidos. Além de sementes, gosta muito de comer a flor do ipê e cotiledones recém brotados.
Tesourinha
Tyrannus savana
Fork-tailed flycatcher
Tijereta
Pousada num ipê amarelo
A população do Centro-Oeste é migratória, chegando a partir de julho e desaparecendo em fevereiro, quando vai para o norte da América do Sul. A sua longa cauda é muito característica, bifurcada e razão de seu nome comum.Tamanho de até 40cm. Costuma pousar na vegetação baixa e nas árvores do Cerrado, alimentando-se de insetos em vôo e de pequenos frutos. Adapta-se bem a ambientes urbanizados. Antes da migração, procura os frutos da erva-de-passarinho, fonte principal da energia para o longo vôo em direção ao norte da Amazônia. Faz ninho em formato de chícara rasa.
Pintassilgo
Carduelis magellanicus
Hooded Siskin
Cabecitanegra Comum
Próximo a uma cigana, uma das flores mais típicas do Cerrado
Mede 11cm, sua distribuição é vasta na América do Sul, mas com poucas localidades ou áreas onde é encontrado. No Centro-Oeste, está nas chapadas matogrossenses e passa pelo Pantanal em sua migração desde o sul do continente até locais ainda a serem determinados. Por ter sido muito capturado no Brasil como pássaro de gaiola, sua distribuição atual pode representar a pressão histórica de captura. Vive nas bordas da mata secundária aberta e campos, em especial os que ocorrem sobre as serras. Também aparece, ocasionalmente, em quintais de chácaras. Alimenta-se de grãos e insetos.
Canário-da-terra
Sicalis flaveola
Saffron finch
Jilguero dorado
Num pé de araticum
Lembra o canário do reino. Ocorre no RS, MT, Argentina e Uruguai. Nos campos das partes altas do Distrito Federal ocorre um outro canário, Sicalis citrina, menor e de cores mais apagadas. O Canário-da-terra vive nas áreas campestres, especialmente no interior da caatinga, no Pantanal e no leste de Minas Gerais. Adapta-se às proximidades das residências rurais. Mede l3,5cm. Busca no solo as sementes e insetos para alimentar-se, nidificando em buracos e ocupando ninhos de outras aves, como o joão-de-barro. Nas proximidades do DF, é encontrado ao norte de Formosa, nas partes baixas desde Itiquira até o vão do Paranã.

Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma
O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.
A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.
“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.
Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.
“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.
Chuvas
Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.
“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.
Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.
Edição: Heloisa Cristaldo
EBC



Artigos
METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

-
Artigos4 meses ago
DIARIO DE BORDO E MINHA FORÇA AO REI PELÉ
-
Artigos4 meses ago
Orquestra Sinfônica de Brasília apresenta último concerto didático de 2022
-
Reportagens3 semanas ago
Instituto do Câncer reforça campanha contra o HPV e câncer do colo do útero
-
Artigos4 meses ago
Contra Sérvia, Brasil inicia jornada pelo hexa na Copa do Catar
-
Reportagens4 meses ago
Escolas técnicas de Santa Maria e Paranoá abrem as portas em 2023
-
Artigos4 meses ago
Inovação verde
-
Artigos4 meses ago
Brasil, falta de Neymar e resultado das urnas
-
Reportagens4 meses ago
Princípios ESG aliados ao marketing beneficiam empresas