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No reino das samaúmas

Ban Ki-moom: “Se a previsão mais forte do IPCC se tornar realidade, grande parte da selva amazônica vai virar savana”.

 


Silvestre Gorgulho, de Brasília


Ela é majestosa, frondejante e reina absoluta na Amazônia. Um reino cobiçado. Além da avidez pela madeira, bela e imponente, ela é possuidora de propriedades medicinais. Sua seiva é empregada na cura da conjuntivite. Agora em novembro, uma belíssima samaúma (Ceiba pentandra) acolheu e emprestou sua sombra ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, à governadora Ana Júlia, do Pará, e à ministra Marina Silva, do Meio Ambiente. Segredou-lhes, com certeza, um recado: salve-nos! A floresta amazônica corre perigo. Da mesma forma que o reinado dos Astecas, dos Maias, dos Tupis-guaranis e dos Incas sucumbiu diante da cobiça, da força e da tecnologia dos homens ditos civilizados, o reinado das samaúmas, das castanheiras e dos mognos parece ter dias contados diante das motosseras, tratores e queimadas. Ban Ki-moom, depois da visita oficial ao Brasil, fez na ONU o encerramento da 27ª Conferência Plenária do IPCC, dia 17. Aproveitou para mandar um recado ao mundo todo em defesa da Amazônia.



Quem reinava naquele pedaço era a rainha da floresta. Sim, uma belíssima samaúma (Ceiba pentandra) emprestou sua sombra para acolher a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, enquanto era reforçado um compromisso solene: todos pela defesa da Amazônia. O compromisso ocorreu dia 13 de novembro, quando a ministra e Ban Ki-moom, em visita oficial ao Brasil, participaram com a governadora Ana Júlia de uma visita à ilha Combu, em Belém do Pará. A ilha abriga mil famílias que vivem do extrativismo sustentável. Antes da visita à ilha, a ministra e o Secretário-geral estiveram no Museu Paraense Emílio Goeldi, instituição fundada em 1866 para desenvolver estudos e pesquisas sobre a floresta amazônica.


Fotos: Jefferson Rudy


À sombra de uma samaúna, a governadora do Pará, Ana Júlia, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, e Ban Ki-moom,  Secretário-geral da ONU, fizeram juras em defesa da Amazônia.


 


 


 


 


Samaúmas: um reino cobiçado


Ban Ki-moom,  Secretário-geral da ONU, faz juras na defesa da Amazônia


Para Marina Silva, a visita do secretário-geral da ONU ao Brasil e à Amazônia tem importância histórica. “O povo brasileiro, em especial os povos da amazônia, reconhecem a grande contribuição política que o senhor está dando”, disse a ministra. Depois de agradecer as ações do governo brasileiro, Ki-moon afirmou: “como secretário das Nações Unidas, eu posso assegurar o nosso forte comprometimento de trabalhar com os brasileiros”.
Além das comitivas da ministra e do secretário-geral, participaram da visita a governadora do Pará e representantes de comunidades de povos tradicionais da Amazônia. Atanagildo Matos, do Conselho Nacional de Seringueiros, e Marcos Apurinã, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab), também ressaltaram a importância do apoio do Secretário-geral da ONU na defesa da Floresta Amazônica.


Guardiões da floresta
Para Ban Ki-moon , os índios e ribeirinhos são os pioneiros na preservação da floresta. Ki-moon revelou, ainda, que na conversa que teve com o presidente Lula, em Brasília, ele ficou profundamente feliz em saber que o chefe do Estado brasileiro tem um compromisso em não usar essas terras (da Amazônia) para a produção de alimentos.
À sombra da samaúma, Marina Silva aproveitou para lembrar as três propostas feitas ao Secretário-geral na reunião de trabalho realizada na véspera:
1) Criação de um regime internacional de acesso que assegure o pagamento às comunidades tradicionais pelo uso dos componentes da biodiversidade;
2) Incentivos aos países que combatem o desmatamento e evitam emissões de CO2;
3) Apoio à agenda de governança ambiental para criar mecanismos de transferência de tecnologias e recursos, a fim de unir os conhecimentos científicos e das populações tradicionais.


Antes de visitar a Amazônia, o secretário-geral Ban Ki-moon, fez questão de frisar que estava impressionado com os esforços do governo brasileiro na produção de energia renovável e que o mundo ainda não entendeu os esforços do Brasil na produção de bioenergia. “O Brasil, efetivamente, é um gigante verde discreto que lidera a produção de energia renovável e é uma das poucas nações que fazem bioenergia em larga escala”, disse Ki-moon, logo após visitar a Usina Santa Adélia, em Jaboticabal (SP).


Questões ambientais
O secretário-geral da ONU relatou ainda a preocupação com o avanço da cana sobre áreas de lavouras de grãos, bem como a utilização de milho para a produção de etanol, no caso dos Estados Unidos. “É preciso que haja um grande debate para discutir a questão da segurança alimentar e os biocombustíveis”, afirmou.
O presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, considerou que a visita de Ki-moon serviu para que o setor produtivo pudesse mostrar os esforços em relação às questões ambientais e alimentares. “É uma visão muito mais positiva do que o último relatório da ONU, que fazia várias críticas em relação às questões alimentares”, afirmou Jank.
Sobre a polêmica decisão dos Estados Unidos em não aderir ao  Protocolo de Kyoto, mas na assinatura de um possível protocolo mundial climático em Bali, Ki-moon deu a entender que as conversas, na última Assembléia Geral da ONU, em setembro, podem ter influenciado na posição dos EUA. Para Ki-moon “o mundo reconheceu a importância de todos juntarem os esforços e todos vão aceitar, pois o aquecimento global não respeita fronteiras e nem países desenvolvidos ou em desenvolvimento”.


Lição amazônica
Dia 17 denovembro, durante o encerramento da 27a Conferência Plenária do Painel Intergovernamental da ONU (IPCC), Ban Ki-moon mostrou que aprendeu a lição: “Na Amazônia, vi como a floresta ‘pulmão da Terra’ está sendo sufocada”. “Não devemos perder tempo em buscar os culpados. As nações pobres precisam de ajuda. A mudança climática pode fazer os países em desenvolvimento retrocederem para o poço da pobreza e desfazer muitos dos progressos”, enfatizou Ban Ki-moon.

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Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

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Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

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VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

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No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
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METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

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Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE O PRADOS”.
Para continuar no mote dos vagalumes ou pirilampos tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
Quando a cachoeira desce nos barrancos
Faz a várzea inteira se encolher de espanto
Lenha na fogueira, luz de pirilampos
Cinzas de saudades voam pelos campos.
Lindo demais! É a arte de vagalumear.
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SRTV Sul, Quadra 701, Bloco A, Sala 719
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Brasília/DF
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