Gente do Meio

Catarina e Evandro: viver na roça dá certo

Silvestre Gorgulho

Enquanto os visitantes, os amigos e os visitantes que se tornaram amigos vêm e vão curtindo o domingo ensolarado na fazenda Vagafogo, Catarina Schiffer e Evandro Ayer, proprietários desse santuário de vida silvestre no município de Pirenópolis, dão duro desde a manhã até à noite. É um corre-corre para atender a média de 100 pessoas que aparecem todos os fins de semana para passear na trilha interpretativa “Mãe da Floresta”, se refrescar nas águas do córrego Vagafogo, admirar as fotos dos livros que mostram as belezas da natureza, saborear as delícias produzidas na fazenda ou simplesmente tomar um cafezinho e bater papo com o atencioso casal.

A vida de Catarina nos fins de semana é na cozinha, preparando as refeições para o pessoal da casa e oferecendo um conselho aqui e outro lá para aqueles que buscam a sua disponibilidade e compreensão. Durante a semana ela já cuidou da manutenção de casa, paiol, curral e centro de visitantes, providenciando o abastecimento que depende das coisas da cidade, onde vai trabalhar todas as tardes.

Evandro passa a semana trabalhando na produção da fazenda e transformando o leite e as frutas em finas iguarias com ajuda do filho Uirá. Aos sábados e domingos, eles recepcionam as pessoas que chegam, mostrando-lhes o santuário e servindo o brunch – um misto de café da manhã e almoço preparado com os produtos da fazenda. A fartura é um escândalo: são oito tipos de geléia, doce de leite, granola, mel, salada e sucos de frutas, chá, leite, queijos, requeijões, coalhada, pães, panetone, biscoitos, waflles, tortas, omelete e lagarto frio.

Foram seis mil visitas registradas no ano passado, fora as que não assinaram o livro de presença e aquelas que não assinam mais porque estão sempre voltando. Esse eterno retorno é uma das maiores gratificações para a dedicação do casal. Não há nada que eles mais gostem do que esse constante fazer amigos, prazer esse que garante a qualidade dos produtos e serviços e faz do santuário Vagafogo um modelo de unidade de conservação auto-sustentável, com escoamento de toda a produção.

Vocação mineira encontra talento goiano
Ao fim de mais um fim de semana corrido, exaustos, porém, relaxados porque tudo correu bem, Catarina e Evandro escolhem suas poltronas preferidas e conversam sobre seu projeto de vida.

Não, eles não podiam imaginar que dariam tão certo e chamariam tanta atenção, a ponto de receber ilustres visitantes d’além mar e freqüentar constantemente a mídia nacional. Afinal, quando chegaram em Pirenópolis, nos idos de 74, eram conhecidos como hippies. Vinham de uma vivência em comunidades alternativas européias e, ao comprar a fazenda Vagafogo, a seis quilômetros da cidade, Evandro tinha em mente a roça tradicional – arroz, feijão e milho. Queria viver disso e logo viu que não dava certo. Experimentou pipoca, gergelim e azuki, mas a terra não correspondeu. Foi então que descobriu o talento da região – as frutas. Natural de Minas, ganhou um tacho de cobre da família e algumas receitas de conservas. Logo a seguir, vieram as receitas de doce de leite e queijos.

O filho Uirá nasceu em 75, a filha Maíra em 76. Enquanto Evandro estruturava a fazenda, construindo e experimentando diversas culturas, Catarina foi morar em Brasília com as crianças. Evandro ia para a capital nos fins de semana, vender plantas ornamentais na feira hippie.

Catarina voltou para Pirenópolis em 82. Ao buscar os papéis de seu fundo de garantia em Brasília, uma amiga do Iphan, a instituição onde trabalhava, pediu que ela trouxesse um queijinho da fazenda.

Levou cinco queijos e algumas rapaduras. Vendeu tudo e ainda faltou para atender aos pedidos.

Estava aberto o roteiro que o casal passou a fazer durante anos, vendendo em Brasília os produtos que Evandro preparava na fazenda. Além das conservas e laticínios, havia ainda os pães, doces e panetones. Na época, já hospedavam amigos na fazenda, e foram esses mesmos amigos que os acolheram em Brasília para efetuar as vendas.

Se continuassem nessa vida, não iriam tão longe, comenta Evandro. Era muito estressante viver na estrada e depender da capital. Não foi para isso que eles escolheram morar na roça.

Em 1990 procuraram a Funatura, organização não governamental ligada ao meio ambiente e sediada em Brasília, que estava disposta a consolidar santuários de vida silvestre em propriedades particulares, visando a conservação e a auto-sustentação de áreas nobres. Dos 23 hectares da Vagafogo, 50% se converteram em reserva. Em 92, estavam prontos o plano de manejo da fazenda, com classificação das espécies vegetais, e o centro de visitantes. O apoio e o patrocínio vieram da Fundação Boticário e do Fundo Mundial para a Natureza – WWF.

Desde então, as visitas só fizeram aumentar. De março a junho e de agosto a novembro, os visitantes vêm do Centro-Oeste, principalmente de Brasília e de Goiânia. Em julho, dezembro, janeiro e fevereiro, vem gente de todo o país. Foi desafiado e vencido o mito de que viver no mato, com uma produção artesanal , em harmonia com a natureza, não dá sustento para ninguém. Evandro e Catarina podem se dar ao luxo hoje de viajar pelo mundo, como gostavam de fazer na juventude. Só que agora, não precisam mais pedir carona.

Receita do sucesso? Nascer sob o signo de Capricórnio e gostar de trabalhar ajuda, mas não resolve. O segredo, como ensina Evandro, é estabelecer uma relação amorosa com a terra, dando a ela tudo o que se tem e recebendo em troca o que ela pode dar.

Por acreditar na terra, respeitar a natureza e viver bem em harmonia com o meio ambiente, o casal Catarina e Evandro é Gente do Meio e, por isso, recebe, com toda a justiça, a homenagem da equipe da Folha do Meio Ambiente.

 

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Liderança Sustentável na Era Digital: Perfis Inspiradores de Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez

Explorando as Jornadas Pessoais e Impactos Globais das Maiores Influenciadoras de Sustentabilidade Online

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Nos dias atuais, em que a conscientização ambiental se tornou uma prioridade para a humanidade, a presença de influenciadores desempenha um papel crucial na disseminação de práticas e estilos de vida sustentáveis. Entre esses líderes de opinião, três figuras se destacam de maneira excepcional por seu compromisso inabalável com a sustentabilidade: Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez. Em uma entrevista exclusiva concedida à revista Quem, no âmbito do projeto “Um Só Planeta”, essas influenciadoras compartilharam suas histórias pessoais e revelaram como se interessaram pelo tema e o aplicam em seu dia a dia.

Cristal Muniz: A Defensora Apaixonada da Vida Verde

Cristal Muniz, uma defensora apaixonada da vida verde e fundadora do movimento “Vida Sustentável para Todos”, revelou à Quem como sua infância no interior a despertou para a importância da preservação ambiental. “Crescer em um ambiente rural me ensinou a valorizar os recursos naturais e a entender a interdependência entre o homem e a natureza”, compartilhou Cristal. Sua jornada para se tornar uma influenciadora de sustentabilidade começou com pequenos passos em direção a uma vida mais ecoconsciente. Por meio de suas plataformas de mídia social, ela inspira milhões de seguidores a adotar práticas diárias que promovam um estilo de vida sustentável, desde o consumo consciente até a reciclagem e o apoio a iniciativas locais de preservação ambiental.

Marcela Rodrigues: A Visionária das Cidades Verdes do Futuro

Marcela Rodrigues, uma visionária no campo da urbanização sustentável e cofundadora da ONG “Cidades Verdes do Futuro”, revelou em sua entrevista como sua formação em arquitetura a impulsionou a explorar soluções criativas para tornar as cidades mais amigas do meio ambiente. “A arquitetura oferece uma oportunidade ímpar de repensar a maneira como construímos nossas comunidades, considerando os impactos ambientais a longo prazo”, compartilhou Marcela. Sua missão é promover a criação de espaços urbanos que sejam ecologicamente responsáveis, energeticamente eficientes e socialmente inclusivos. Por meio de campanhas educacionais e projetos de reurbanização, ela espera catalisar uma mudança positiva nas cidades do mundo todo, abrindo caminho para um futuro mais sustentável.

Fe Cortez: A Defensora Incansável da Moda Ética e Sustentável

Fe Cortez, uma defensora incansável da moda ética e sustentável e criadora da plataforma “Moda Consciente”, revelou como sua paixão pela moda a levou a questionar as práticas insustentáveis da indústria. “A moda tem um impacto enorme no meio ambiente e nas comunidades produtoras em todo o mundo. Precisamos repensar radicalmente a maneira como consumimos e produzimos roupas”, afirmou Fe. Ela usa sua plataforma online para educar os consumidores sobre as práticas de produção sustentável e promover marcas que priorizam a transparência e a ética em toda a cadeia de suprimentos. Seu objetivo é criar uma consciência coletiva em torno da importância de optar por opções de moda responsáveis, que não comprometam o bem-estar humano e ambiental.

Essas três influenciadoras exemplares, Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez, estão moldando o cenário da sustentabilidade digital e inspirando uma nova geração de defensores do meio ambiente. Seus esforços coletivos são um lembrete poderoso de que a preservação do nosso planeta é responsabilidade de todos, e cada ação individual pode contribuir para um futuro mais sustentável e próspero para as gerações vindouras.

 

 

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ADEUS, ORLANDO BRITO

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O céu de Brasília amanheceu lindo, azul e com muita luz.
Mas nossos corações acordaram tristes, meio sem rumo e repassando um filme de saudades ao relembrar a figura serena, solidária, tranquila, genial e amiga de Orlando Brito.
Que você vá em paz, amigo Britinho.
Seu legado, sua história e seu rico acervo fotográfico e editorial sobre a História recente do Brasil e de Brasília está eternizado.
Nossa mesa dos almoços das sextas-feiras, que já teve um vazio imenso com a despedida do arquiteto Carlos Magalhães da Silveira, em junho do ano passado, agora sofre um outro esvaziamento pela passagem de Orlando Brito.
Num espaço de semana, o fotojornalismo brasileiro fica mais pobre, meio sem graça e nossos olhares reclamam as imagens fantásticas que brotavam das lentes Orlando Brito e Dida Sampaio.
Muito triste!
Orlando deixou livros, causos e histórias. Seu mais recente livro é CORPO E ALMA. Deixou ainda: PERFIL DO PODER (1982), SENHORAS E SENHORES (1992), PODER, GLÓRIA E SOLIDÃO (2002) e ILUMINADA CAPITAL (2003).
Adeus, Orlando Brito. Siga em paz!
FOTO:
Da direita para a esquerda:
Orlando Brito, Paulo Castelo Branco, Silvestre Gorgulho, Lucas Antunes, Cláudio Gontijo, Carlos Magalhães da Silveira, Denise Rothemburg, Reginaldo Oscar de Castro e Austen Branco. Fora da foto, porque chegou mais tarde, a secretária Helvia Paranaguá.
Pode ser uma imagem de 6 pessoas, pessoas sentadas e ao ar livre
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O LEGADO DE ELISEU ALVES

COMPLETA 91 ANOS EM 2022

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Eliseu Roberto de Andrade Alves, que nesta segunda-feira, 27 de dezembro, completa 91 anos, é daqueles brasileiros que tem uma obra muito mais conhecida do que a si próprio.
Sua obra mais conhecida é ter participado da criação da EMBRAPA, onde realizou o sonho de qualquer instituição de pesquisa: mandar para as melhores universidades do mundo 2.500 jovens agrônomos, economistas rurais e veterinários recém formados aqui no Brasil e trazê-los de volta com títulos de Mestrado e P.h.D.
Mas Eliseu Alves deixa outros legados: ele criou o conceito do distrito de irrigação, pelo qual os projetos públicos passaram a ser administrados pelos irrigantes. Como presidente da Codevasf (Governo José Sarney) concebeu e implantou o programa de produção e exportação de frutas em Petrolina/Juazeiro e negociou empréstimos no exterior que permitiram uma expansão de mais de um milhão de hectares de área irrigada.
FRASES DO ELISEU ALVES
– “A Ciência liberta o homem da ignorância, da pobreza, da doença e da dor”.
– “Cercear o progresso do conhecimento é um erro lamentável, além de pouco prático: sempre haverá algum país onde a liberdade do cientista é respeitada, e esse país vai pular à frente dos demais na produção de riqueza e do bem estar de seu povo”.
– “O país que não investe em Ciência, condena seu povo a sobreviver com o suor de seu rosto. A Ciência democratiza e a tecnologia liberta”.
– “A Revolução Verde brasileira na década de setenta sustenta hoje o crescimento econômico do Brasil e coloca o País na rota dos grandes exportadores mundiais de grãos”.
– “Fazer ciência é apenas mais uma maneira de exercitar a fé. Nunca vi na ciência qualquer possibilidade de negação da fé. Entendo que investigar os fenômenos físicos e sociais nada mais é que conhecer e revelar os mistérios do fazer de Deus”.
Dr ELISEU ALVES, seus 91 anos devem ser celebrados com alegria, orgulho e como uma benção para o Brasil.
Abraço,
Silvestre Gorgulho
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