Gente do Meio

Fotografia, a arte de educar

 


PIXEL DE LUZ


A fotografia como educação e preservação


 


GUSTAVO PEDRO – A fotografia como educação e preservação


Silvestre Gorgulho



 






Os inocentes olhos deste galo-da-serra (rupicola rupicola) não escondem apenas a inocente arte de fotografar e o prazer de registrar um momento único da natureza. Escondem também uma polêmica. Não são poucos os fotógrafos, profissionais ou amadores, que são convidados a não entrarem num parque ou numa reserva ambiental com suas câmeras  fotográficas. Para não dizer o pior: proibidos! Dez fotógrafos de natureza colocam o tema em debate e dão seus depoimentos em três direções:


1) Como a fotografia pode sensibilizar, educar e preservar?
2) Por que, muitas vezes, são proibidos pelos fiscais de exercerem a sagrada arte de transmitir em pixel de luz uma mensagem de paz e de amor?
3) Qual a missão da nova Associação de
Fotógrafos da Natureza? As respostas estão nesta edição.


Fotógrafos da Natureza? As respostas estão nesta edição.


Fotografia e educação


Afnatura: uma associação dos fotógrafos da natureza
Autoridades e guardas florestais estão discriminando a atividade fotográfica nos parques e unidades de conservação.


Toda fotografia revela uma história que pode ser alegre ou triste. Pode ensinar ou constranger. Toda fotografia leva uma mensagem sem dizer uma única palavra. Para os fotógrafos da natureza, um pingo d?água na asa de uma libélula tem mais valor do que o sol marcando com sua luz o oceano. No detalhe, está a melhor compreensão da vida. Nas comemorações do último Dia Mundial do Meio Ambiente um fato chamou a atenção: a criação da Associação de Fotógrafos de Natureza. A Afnatura, como é conhecida, reúne profissionais e amadores de diferentes gerações na arte de fotografar, como Luis Cláudio Marigo, Marco Terra Nova, Monique Cabral, Zig Koch, Haroldo Palo Jr., Fábio Colombini, Izan Petterle, Roberto Linsker, Lena Trindade, Virgínio Sanches e muitos outros. Dentre eles, está também o fotógrafo e advogado Gustavo Pedro, um dos responsáveis pela mobilização para fazer do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, um Parque Nacional.


To replace this placeholder, please upload the original image (C:\DOCUME~1\SEC~1.CUL\CONFIG~1\Temp\msohtml1\02\clip_image001.gif) on server and insert it in the document.QUEM É GUSTAVO PEDRO


Gustavo Pedro é fotógrafo, advogado especializado em Gestão e Tecnologia Ambiental e educador. Tem forte atuação nas políticas públicas ambientais como diretor do Grupo Ação Ecológica-RJ e como membro do Conselho do Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro. Atua como voluntário na Rede de ONGs da Mata Atlântica, no Conselho Gestor da APA da Babilônia-RJ e como colaborador de diversos veículos especializados em meio ambiente. “Me sinto como Noé, tentando salvar o equilíbrio com a sintonia de cores e luz em registros fotográficos. Tento trazer prazer aos olhos e com isto tocar a alma humana para a melhoria da qualidade ambiental”, costuma dizer. Nesta entrevista, Gustavo Pedro fala da Afnatura e como a fotografia complementa a educação e a preservação.


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AFNATURA: uma associa;áo dos fot[ografos da natureza



Folha do Meio –  Como e quando surgiu a idéia de criação da Associação de Fotógrafos de Natureza?
Gustavo Pedro – A idéia é antiga e já era idealizada por renomados fotógrafos como Haroldo Palo Jr., Zig Koch, LCMarigo, dentre outros precursores da fotografia de natureza. Foi uma situação conjuntural que selou esta união, como o enfrentamento de questões relevantes da atualidade e a necessidade de se criar mecanismos para ter a fotografia como o maior instrumento  para preservação ambiental. Daí a AFNATURA ter nascido no Dia Mundial do Meio Ambiente, em cinco de junho deste ano.


FMA – Quais são os objetivos da Afnatura?
Gustavo Pedro – Uma associação pode capacitar melhor seus associados e também reivindicar de forma mais forte. A comunicação entre os fotógrafos pode melhorar e mobilizar a classe. Pode dar maior agilidade para utilizar a fotografia como instrumento de monitoramento ambiental, educação, fortalecer a identidade cultural brasileira, valorizar a arte, fomentar atividades sustentáveis e muitas outras ações. A própria pesquisa científica e as campanhas institucionais e governamentais que tenham objetivos preservacionistas podem ser mais apoiadas. Não há como identificar paisagens a serem tombadas como patrimônio cultural ou natural sem o apoio da fotografia. Enfim, a fotografia pode formar cidadãos a entender e olhar a natureza de maneira mais respeitosa.


FMA – Que tipo de atividades sustentáveis pretende apoiar a Afnatura?
Gustavo Pedro – A fotografia incentiva a prática sustentável. Ela é uma atividade capaz de transformar o ser humano, torna as pessoas mais sensíveis, permite que as pessoas se aproximem e se identifiquem com a natureza. A fotografia faz da natureza uma extensão de nossa própria casa. E faz da nossa casa, de nosso quintal, de nossa cidade uma extensão da natureza. A fotografia ensina sem dizer uma só palavra. Ela mostra a harmonia, a fragilidade da vida e a responsabilidade em cada uma de nossas ações. Divulgar a beleza, além de promover o respeito e a harmonia, alavanca o turismo, ajuda o Estado a disseminar princípios de educação ambiental com atitudes pró-ativas de interação com a natureza.







A fotografia faz da natureza uma extensão de nossa própria casa. E faz da nossa casa, de nosso quintal, de nossa cidade uma extensão da natureza.  




FMA – O que mais os fotógrafos podem ensinar hoje na era digital?
Gustavo Pedro – É o que eu disse: a fotografia ensina sem pronunciar uma só sílaba. O fotógrafo da natureza ensina a ver um mundo melhor e fazer com que cada cidadão possa participar do registro desta história do dia-a-dia. Com arte e sabedoria. A valorização da fotografia como arte passa pela consciência de que para ser um guardião das belezas naturais suas atitudes precisam corresponder com seus pensamentos. Na era digital, a disseminação da fotografia ficou mais fácil, mais acessível, mais barata e mais eficiente.


FMA – Com um mês de existência, quais são os planos da Afnatura para que tudo isto aconteça?
Gustavo Pedro – Neste caminho continua valendo as virtudes que os fotógrafos de natureza conhecem bem: a paciência e a perseverança diante de tantas dificuldades impostas.  Apreendemos a conviver com ambientes fatigantes, longas caminhadas pelas florestas tropicais, desconforto e muias adversidades. Não é fácil, mas é revelador e aprazível. A maior recompensa está em revelar às pessoas que precisamos nos sacrificar de alguma forma para conseguir mostrar em fotos ao mundo nossos verdadeiros tesouros.


FMA – Por que há tanta falta de compreensão das autoridades e dos guardas com os fotógrafos da natureza?
Gustavo Pedro – Esta é uma boa questão. As autoridades, os guardas florestais precisam entender que não fazemos fotos para usufruir benefícios pecuniários. Não somos mercantilistas. Queremos apenas aumentar a sensibilidade das pessoas para a beleza da vida, de uma flor, de uma borboleta, de uma ave. As autoridades e os guardar precisam ter a consciência desta missão. Sair do enfrentamento ou do achar que estamos “roubando” imagens para usufruir comercialmente. O que precisamos é de apoio. Como narrava Platão, se tem gente vendo sombras nas paredes de cavernas é preciso olhar de onde vem a luz para encontrar a justiça na verdade. O fotógrafo não é um explorador e sim o instrumento para que a natureza possa se revelar exuberante, dadivosa e fundamental à vida.


FMA – Quais são as dificuldades enfrentadas pelos fotógrafos de natureza com as autoridades?
Gustavo Pedro – A dificuldade não é só dos fotógrafos de natureza, é também de montanhistas, dos observadores de aves, dos pesquisadores e tantos outros que muitas vezes precisam praticar suas atividades em parques e Unidades de Conservação. A cada dia, as restrições aumentam. Quando se tem uma justificativa racional, tudo bem. Não somos ignorantes. Entendemos, temos de concordar. Mas quando estas proibições são tentativas de mera arrecadação, sem considerar os efeitos negativos desta medida para sociedade e para o meio ambiente, aí sim, temos que protestar. Nosso objetivo é divulgar e preservar o patrimônio ambiental.



FMA –  Quais os efeitos negativos destas medidas autoritárias?
Gustavo Pedro – São muito maior do que se imagina. Alguns gestores compreendem isto, mas estão amarrados a normas às vezes equivocadas em sua interpretação por regulamentos superiores. Muitos fotógrafos estão preferindo áreas particulares para fotografar. Por que não se pode fotografar o nosso patrimônio público? A irracionalidade chega a tal ponto que já ouvi um professor me contar que ele e seus alunos foram barrados na entrada de um parque onde iam fazer um trabalho de biologia, só porque eles levavam um equipamento fotográfico. 


FMA – Mas qual seria a solução para o problema destas restrições?
Gustavo Pedro – A questão é complexa e merece o esforço de todos os envolvidos. Tem que haver uma solução. A imagem é um bem intangível e somente passa a existir fisicamente quando captada por algum equipamento tecnológico. Agora com a disseminação de equipamentos digitais qualquer pessoa passou a deter este poder. Acreditamos que a atividade fotográfica deveria continuar sendo incentivada, por tudo que dissemos. Se houver um controle, seria para o uso indevido como por exemplo quando a imagem da Unidade de Conservação for associada a um produto ou atividade nociva ao meio ambiente. O controle do acesso só deve ser feito quando a atividade fotográfica se diferenciar dos outros usos permitidos. Exemplo: quando o fotógrafo tiver de interditar um acesso, tiver de usar equipamento que coloque em risco a integridade daquele ecossistema.   No mais, ao interpretar as normas considerar que o fotógrafo não é um explorador da paisagem e sim um aliado pela preservação. Evidente, que se for uma operação ho­llyoodiana para se fazer um anúncio, uma publicidade ou para tirar algum proveito comercial há que ter licença, autorização prévia, etc.


FMA – A fotografia é um produto que explora o recurso natural?
Gustavo Pedro – Não, se considerada que a captação da imagem por si só não gera um produto. A imagem fotografada passa a ser obra intelectual ou artística, protegida pela legislação de direito autoral. A atividade artística não pode ser restringida, basta ler atentamente os princípios fundamentais de nossa Constituição. A fotografia de natureza em nada utiliza recursos naturais limitados.
Não pode ser tratada como atividade exploratória. O que se precisa é valorizar a fotografia e os fotógrafos. Precisa entender a atividade como divulgação de nossa cultura, de nossas paisagens, de nossa diversidade. É uma ação paralela de apoio ao turismo, à educação ambiental e à cultura.


FMA – Quem está a frente da Afnatura?
Gustavo Pedro – Todos os fotógrafos de natureza profissionais e amadores, iniciantes e veteranos estão neste barco. Começamos grandes, com a maioria expressiva dos fotógrafos de natureza em atividade no Brasil. A associação é nova e como tem muita gente trabalhando em locais de difícil acesso, tão lofo eles voltem vão se juntar a nós.


 


Imagens como ferramenta de educação ambiental e preservação: a fragilidade de uma ave, a beleza árida da Caatinga e diversidade da floresta amazônica


Fotos: Gustavo Pedro


 



 



 



 


SUMMARY


AFNATURA – A nature photography association


Authorities and forest rangers are discriminating against photography in parks and conservation units 


Gustavo Pedro is a photographer and lawyer specialized in Environmental Management and Technology and educator. He is engaged as a volunteer to the Atlantic Rainforest NGO network, on the APA Babilônia, RJ, Board and a collaborator on a number of specialized publications on environment.  Gustavo Pedro explains the work of AFNATURA and how photography complements education and preservation.


THE ASSOCIATION – The idea is an old one and was the brainchild of renowned pioneering nature photographers. It was a set of circumstances that sealed this association, such as how to deal with today’s relevant issues and the need to create mechanisms for the use of photography as the greatest instrument for environmental protection.
OBJECTIVES – An association can better enable and prepare its members and give them a stronger voice to make demands. Communications among photographers can improve and organize them. It can help them become more responsive to the use of photography as an instrument to monitor the environment, educate, strengthen Brazilian cultural identity, give value to art, stimulate sustainable ideas and many other actions.  Photography can provide greater support to scientific research itself and institutional and governmental campaigns aimed at preservation.
THE POWER OF PHOTOGRAPHY – Photography encourages sustainable practices. It is an activity that is capable of transforming people, making them more sensitive, enabling them to become passionate about and identify with nature. Photographers make nature an extension of their own homes, and make our homes, our backyards, our city an extension of nature. A photographer can teach without speaking a single word.  The can depict harmony, the fragility of life and the results of every one of our acts.
THE DIGITAL ERA – The photographers’ work can be disseminated more easily in the digital era; it makes it more accessible and more efficient.
VALUES  – Nature photographers understand the virtues of patience and perseverance well in light of so many difficulties imposed. We learn to live in hostile environments, make long treks through tropical forests, endure discomfort and great adversity. It is not easy but it can be awe inspiring and enjoyable. The greatest reward is in demonstrating to people that we need to sacrifice in some way to be able to convey the world our real treasures in our pictures.
LACK OF SUPPORT – The authorities and forest rangers need to understand that we do not take photos to make us rich. We are not tradesmen. We just want to heighten people’s awareness of the beauty in life, of a flower or a bird. The authorities and rangers must be made aware of this mission. They cannot stand in the way or be allowed to think that we are “stealing” images to be used commercially.  All we are looking for is support.
DIFFICULTIES  – Photographers are not the only ones facing these problems, mountain climbers, bird watchers, researchers and many others often need to take part in activities in parks and Conservation Units. The restrictions grow day by day. There is no problem if the rational is justified. We are not ignorant; if we understand we can agree. However, when these prohibitions are merely attempts to collect taxes and fines, without taking the negative effects of this measure on the community and the environment into account, then we must protest. Our purpose is to reveal and preserve our environmental heritage.
NEGATIVE EFFECTS  -Some people in a position of authority understand this but are strapped by regulations that have been misinterpreted by other higher prevailing regulations. This has become so irrational that a professor told me that he and his students were barred from entering a park to conduct some work in biology only because they were carrying photographic equipment. 
THE SOLUTION – This is a complex issue and deserves the efforts of all those involved. There must be a solution. An image is an intangible asset and can only exist physically when it has been captured by technological equipment. With the widespread use of digital equipment anyone can hold this power.
THE PRODUCT – Capturing an image in and of itself does not result in a product. A photographed image, however, becomes an intellectual or artistic property protected by copyright law. Art cannot be restricted; just take a close look at the basic tenets of our Constitutions. A nature photographer does not use any of the restricted natural resources. It cannot be treated as exploratory activity. An appreciation of the photographer and photographs is what is needed.  Photography must be understood as a revelation of our culture, our scenery, our diversity. It is an activity that runs parallel to tourism, environmental education and culture.


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ADEUS, ORLANDO BRITO

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O céu de Brasília amanheceu lindo, azul e com muita luz.
Mas nossos corações acordaram tristes, meio sem rumo e repassando um filme de saudades ao relembrar a figura serena, solidária, tranquila, genial e amiga de Orlando Brito.
Que você vá em paz, amigo Britinho.
Seu legado, sua história e seu rico acervo fotográfico e editorial sobre a História recente do Brasil e de Brasília está eternizado.
Nossa mesa dos almoços das sextas-feiras, que já teve um vazio imenso com a despedida do arquiteto Carlos Magalhães da Silveira, em junho do ano passado, agora sofre um outro esvaziamento pela passagem de Orlando Brito.
Num espaço de semana, o fotojornalismo brasileiro fica mais pobre, meio sem graça e nossos olhares reclamam as imagens fantásticas que brotavam das lentes Orlando Brito e Dida Sampaio.
Muito triste!
Orlando deixou livros, causos e histórias. Seu mais recente livro é CORPO E ALMA. Deixou ainda: PERFIL DO PODER (1982), SENHORAS E SENHORES (1992), PODER, GLÓRIA E SOLIDÃO (2002) e ILUMINADA CAPITAL (2003).
Adeus, Orlando Brito. Siga em paz!
FOTO:
Da direita para a esquerda:
Orlando Brito, Paulo Castelo Branco, Silvestre Gorgulho, Lucas Antunes, Cláudio Gontijo, Carlos Magalhães da Silveira, Denise Rothemburg, Reginaldo Oscar de Castro e Austen Branco. Fora da foto, porque chegou mais tarde, a secretária Helvia Paranaguá.
Pode ser uma imagem de 6 pessoas, pessoas sentadas e ao ar livre
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O LEGADO DE ELISEU ALVES

COMPLETA 91 ANOS EM 2022

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Eliseu Roberto de Andrade Alves, que nesta segunda-feira, 27 de dezembro, completa 91 anos, é daqueles brasileiros que tem uma obra muito mais conhecida do que a si próprio.
Sua obra mais conhecida é ter participado da criação da EMBRAPA, onde realizou o sonho de qualquer instituição de pesquisa: mandar para as melhores universidades do mundo 2.500 jovens agrônomos, economistas rurais e veterinários recém formados aqui no Brasil e trazê-los de volta com títulos de Mestrado e P.h.D.
Mas Eliseu Alves deixa outros legados: ele criou o conceito do distrito de irrigação, pelo qual os projetos públicos passaram a ser administrados pelos irrigantes. Como presidente da Codevasf (Governo José Sarney) concebeu e implantou o programa de produção e exportação de frutas em Petrolina/Juazeiro e negociou empréstimos no exterior que permitiram uma expansão de mais de um milhão de hectares de área irrigada.
FRASES DO ELISEU ALVES
– “A Ciência liberta o homem da ignorância, da pobreza, da doença e da dor”.
– “Cercear o progresso do conhecimento é um erro lamentável, além de pouco prático: sempre haverá algum país onde a liberdade do cientista é respeitada, e esse país vai pular à frente dos demais na produção de riqueza e do bem estar de seu povo”.
– “O país que não investe em Ciência, condena seu povo a sobreviver com o suor de seu rosto. A Ciência democratiza e a tecnologia liberta”.
– “A Revolução Verde brasileira na década de setenta sustenta hoje o crescimento econômico do Brasil e coloca o País na rota dos grandes exportadores mundiais de grãos”.
– “Fazer ciência é apenas mais uma maneira de exercitar a fé. Nunca vi na ciência qualquer possibilidade de negação da fé. Entendo que investigar os fenômenos físicos e sociais nada mais é que conhecer e revelar os mistérios do fazer de Deus”.
Dr ELISEU ALVES, seus 91 anos devem ser celebrados com alegria, orgulho e como uma benção para o Brasil.
Abraço,
Silvestre Gorgulho
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CONCERTO DE DESPEDIDA: O ADEUS A THIAGO DE MELLO

O Brasil perdeu uma lenda: THIAGO DE MELLO.

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Eu perdi um amigo e a Cultura brasileira perdeu uma referência.
Hoje me emocionei com a carta do filho do Thiago de Mello que faz uma despedida tão linda, tão emocionante que vale a pena a leitura de netos, filhos, pais e avós.
Mensagem do filho do poeta Thiago Thiago de Mello:
Passei três semanas no Amazonas, viajando sozinho. Se é que é possível dizer que viajei sozinho, pois sempre estive acompanhado de gente que me quer bem, amigos e familiares que encontrei pelo caminho. Gente que amo e que me constitui. Fui com dois propósitos nessa imersão solitária. O primeiro, visitar meu pai. Estar com ele por alguns momentos, já ciente da situação de saúde e cuidados na qual ele se encontrava. Depois, fui com o objetivo de iniciar uma reforma inadiável em nossa casa à beira do rio, em Freguesia do Andirá, no interior do município de Barreirinha, a quase 350 km de Manaus. Um dia de barco pra chegar até lá. A casa me pede zelo já há um tempo e estou há uns meses organizando uma campanha para arrecadar recursos para as obras. Consegui uma parte do dinheiro através da generosidade e da compreensão de muitos amigos e conhecidos, todos amantes da amizade, da poesia, da Amazônia e da obra literária de meu pai. Todos sonhadores como eu, que sabem, como meu pai, que arte e cultura geram evolução individual e progresso social. Embarquei no final de Dezembro para Manaus, sendo acolhido pela minha família amazonense que tanto quero bem. Fui ao apartamento de meu pai e Pollyanna. Ele já estava praticamente sem se levantar. Fui até o quarto. Quando ouviu minha voz, comentou: “voz bonita a do meu filho”. Com a memória dissolvida pelo tempo (do qual não se corre) e pelas neuropatias, perguntou meu nome e se eu tinha filhos. Disse que me chamava Thiago e que tinha duas filhas. Nossas mãos entrelaçadas num carinho suave e ancestral. “Mas então nós temos o mesmo nome”, ele notou. Falei que isso tinha sido invenção dele, pôr meu nome Thiago Thiago de Mello. No que ele, após um certo silêncio, falou baixinho: foi pra ficarmos juntos até mesmo no nome. “Cuida bem das suas filhas”. (Eu me emocionei muito nessa hora porque queria dizer a ele que se sou um bom pai é porque ele foi o melhor formador e educador que eu pude ter). Seguimos nossa conversa cheia de silêncios e respirações. Quis saber o que eu fazia da vida. “Canções e poemas”, não titubeei. Ele fez que sim com a cabeça e repetiu “canções e poemas, isso”. Perguntei se eu estava indo no caminho certo. “Certíssimo”, ele me disse com a voz grave de trovão adormecido. Comentei que estava indo para Barreirinha cuidar da nossa casa, pedi a sua benção (“Deus lhe abençoe”, me beijando a mão) e segui o meu caminho rumo ao rio Andirá, dos Saterês-maués. Fiquei semanas num país submerso, me nutrindo do passado, de banho de cheiro, tucumãs, ovas de curimatã, sombra de castanheira, amizades verdadeiras e caldeiradas de tucunaré e tambaqui. As obras começaram. Retiramos as vigas podres. Os esteios corroídos substituímos por madeira nova. Passamos óleo queimado para afugentar o cupim de terra traiçoeiro. Compramos tinta, cimento, ferro. Vieram os trabalhadores. As telhas chegaram de Parintins, presente de Antonio Beti, cuja doação jamais esquecerei. Recebi tanto em minha jornada pelas águas. Fiz um trabalho firme, aguentando o rojão sob chuva e sol quente. Barreirinha, onde meu umbigo está enterrado, me acolheu como sempre. Vi a felicidade nos olhos de gente simples, hospitaleira, contadora de histórias. É com meus irmãos e irmãs ribeirinhos que meu espírito se molda e evolui. Na verdade estava, sem saber, me preparando para um adeus após uma longa despedida. Fortaleci minha alma estando naquele lugar, berço meu, que aprendi a amar com meu pai e minha mãe desde que pra lá fui levado aos 6 meses de idade. Voltei pra Manaus e fui ao apartamento ver meu pai. Ele não me respondeu, já completamente dentro do seu próprio mundo, distante daqui. Pedi um violão e, então, comecei a tocar. As lágrimas caíram, eu sentado e ele deitado na cama. Tirei do baú as canções que sempre cantávamos juntos: “Azulão”, “Por que tu te escondes”, “Linda vida”, “Pai velho”, “Quem me levará sou eu”, “Faz escuro, mas eu canto”. Fiquei ali cantando por mais de trinta minutos, a primeira vez em nossas vidas que ele não cantou junto comigo. Foi um concerto de despedida. A nossa despedida tinha que ser com música e poesia, universo no qual sempre nos encontrávamos. Saí dali e fui comer um pacu assado de brasa em sua homenagem. Botei bastante pimenta murupi e tomei um suco de taperebá pra aliviar o peito. No dia seguinte, logo cedo pela manhã, papai atravessou o rio da vida. Morreu dormindo, bravo merecedor. Parece que estava só me esperando para seguir à Casa do Infinito. Sincronicidade astral, projeto dos deuses, dádiva da natureza. Ele foi em paz. Estamos de luto, mas em breve cantaremos com alegria, como ele sempre nos ensinou.”
THIAGO THIAGO.
PS: A casa que o filho esta reformando é um projeto de grande amigo do poeta, o urbanista Lucio Costa.
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