Artigos

CRIANÇAS E A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Dicas para incentivar as crianças a ter cuidado com o meio ambiente.

 

 

Com olhares atentos, as crianças da Creche Tio Markel, no bairro Novo Horizonte, zona norte de Macapá, apreenderam a preservar o meio ambiente reutilizando lixo e transformando-os em produtos úteis e criativos.

 

Para a professora Nelcilene Santos, 27 anos, quando a criança concebe desde cedo o hábito de jogar o lixo na lixeira, ela se conscientiza e leva isso para a vida toda. São ações que ajudam a conservar os ambientes limpos.

 

É tempo de cuidar do meio ambiente. E este cuidado pode proporcionar lições valiosas para crianças e adolescentes, como a generosidade, a paciência e a compreensão.

Isso porque o exercício de preservação incentiva a percepção do ambiente em que as crianças estão inseridas, evidenciando o papel delas dentro do ecossistema. Dessa forma, cuidar do meio ambiente é cuidar do nosso futuro. Incentivar a consciência ambiental do seu filho ou de seus alunos faz parte do esforço de proteção do Planeta. Para isso, pequenas atividades na rotina de casa podem ajudar.

 

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Vale aqui um histórico sobre a educação ambiental. O debate em torno da educação ambiental teve início na década de 1960, quando diversos países relataram as consequências das interações humanas na flora e na fauna mundial. A primeira vez que o termo foi mencionado aconteceu em 1965, na Inglaterra, durante a Conferência em Educação da Universidade Keele, que abordou a importância de repensar as ações humanas no meio ambiente.

No Brasil, durante a Conferência Rio-92, em junho de 1992, foi elaborado um documento denominado “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”. Nele, determinou-se que a educação ambiental deve desenvolver uma consciência ética sobre todas as formas de vida e a interação com os seres humanos.

 

A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Diante desse histórico, pode-se perceber que cuidar do meio ambiente envolve muito mais do que apenas olhar a natureza: é preciso participar dela. A consciência ambiental é a capacidade do ser humano de se enxergar como parte da natureza. Tal percepção proporciona experiência e apropriação do espaço e, consequentemente, um autoconhecimento..

Dessa forma, quando bem desenvolvida, essa consciência faz com que a pessoa perceba-se como integrante do ecossistema, desempenhando funções essenciais para a sobrevivência e manutenção da flora e fauna.

Incentivar essa habilidade nas crianças, portanto, é essencial para proporcionar um futuro em que a interação humana com o meio ambiente seja menos prejudicial. Quando as crianças compreendem os reflexos de algumas atitudes, como o desperdício de água e a poluição, podem ser promotores de novos hábitos e mudanças sociais.

 

EXERCÍCIOS PARA CUIDAR

DO MEIO AMBIENTE

Algumas atividades – que podem ser praticadas diariamente dentro de casa ou na escola – para incentivar nas crianças os hábitos saudáveis de preservação ambiental.

 

 

Fazer hortas é uma maneira de exercitar na criança a troca com a natureza e as plantas e, também, a paciência.

 

  1. CONFECCIONE BRINQUEDOS RECICLADOS

Uma maneira divertida de estimular o cuidado com o meio ambiente é incentivar a criatividade das crianças confeccionando brinquedos a partir de materiais recicláveis.

É possível utilizar alguns tecidos e algodão para fazer bonecos, por exemplo, o caderno antigo pode ser usado para fazer barcos e chapéus. Rolo de papel higiênico e garrafas pet podem virar carros e robôs e assim por diante.

  1. TROQUE DE ROUPAS E BRINQUEDOS

Outra dica importante está ligada ao consumo. Ao invés de adquirir um novo brinquedo ou uma nova roupinha, que tal promover a troca entre os amigos e familiares? Assim, você pode despertar o sentimento de partilha e generosidade na criança, ao incentivar a doação dos brinquedos que não usa mais, por exemplo. Hoje já se sabe, por exemplo, que a indústria têxtil é uma das mais poluentes do mundo, assim como a do petróleo.

  1. NÃO DESPERDICE ÁGUA

Você pode fazer pequenas campanhas e brincadeiras para incentivar a diminuição no tempo de banho do seu filho ou em outras atividades que demandam quantidades expressivas de água. Uma dica é criar uma dinâmica para mostrar ao pequeno a importância de ensaboar-se com o chuveiro desligado, por exemplo.

Outra ação é alertar sobre deixar a torneira aberta por muito tempo. Lembre-se de que o seu exemplo é o maior aprendizado que a criança pode ter. Não adianta sugerir que ela tome um banho mais rápido se você não costuma fazer o mesmo.

  1. INCENTIVE A CRIAÇÃO DE HORTAS

Fazer hortas em áreas públicas, nas escolas ou em garrafas PET é uma maneira de exercitar na criança a troca com a natureza e as plantas e, também, a paciência. Isso sem contar, é claro, que é uma atividade ao ar livre totalmente saudável. Dê uma mudinha para o seu filho e incentive-o por aguar e cuidar da planta durante todo o processo de crescimento. Aproveite para aprofundar essa percepção, falando também sobre a importância de plantar árvores e de preservar as áreas verdes da sua cidade.

  1. NÃO DESPERDICE ALIMENTOS

Um dos grandes problemas de sustentabilidade, atualmente, é o desperdício de alimentos. Nesse sentido, pode ser interessante introduzir na rotina do pequeno algumas atividades culinárias. Além de desenvolver novas habilidades, a criança também aprende a inserir no dia a dia hábitos de consumo que ajudam a cuidar do meio ambiente.

Você pode, por exemplo, preparar refeições especiais com alimentos que não estão sendo consumidos ou estão próximos da validade. Você também pode unir a família para preparar pratos deliciosos com partes de frutas e legumes que iriam para o lixo, como tortas de casca de banana, bolinhos de sobras de legumes e assim por diante.

  1. SEPARE OS RESÍDUOS

Os materiais podem ou não ser reciclados, dependendo da sua natureza. Por essa razão, é sempre importante separar o lixo orgânico e o lixo seco na hora do descarte. Para despertar essa consciência no pequeno, vale pedir a ajuda em atividades rotineiras de separação.

Aproveite para explicar o processo de reciclagem e o motivo pelo qual é preciso separar materiais como plástico e papel. Uma dica é fazer pequenas lixeiras em casa com cores diferentes para a separação correta dos resíduos.

  1. INCENTIVE O CUIDADO COM OS ANIMAIS

Essa é, sem dúvidas, uma das atividades preferidas dos pequenos. Se você tem a oportunidade de adotar um pet, aproveite para incentivar o cuidado com os outros seres vivos e com a natureza de maneira geral.

Neste caso, você pode conferir ao pequeno algumas responsabilidades, como a de alimentar o animal. Se não houver a possibilidade de ter um pet, há outros ambientes que você pode levar o seu filho, como zoológicos e fazendas para a observação da vida selvagem. Nesses lugares, é possível explicar a importância dos animais para o equilíbrio do ecossistema e, também, por que alguns deles não se pode ter em casa!

  1. CONFIRA PROGRAMAÇÕES INFANTIS

Por fim, vale trazer para as crianças desenhos infantis, filmes, documentários e outras programações adequadas para a idade que tratam dessa temática. Sem dúvidas, o entretenimento é uma boa forma de construir o imaginário e, ao mesmo tempo, fixar assuntos importantes.

Em algumas cidades, também é possível encontrar oficinas gratuitas e outros eventos que auxiliam na educação ambiental de maneira lúdica e apropriada para a idade das crianças. Por isso, não deixe de conferir as programações disponíveis.

A educação ambiental tem sido pauta nos últimos anos. Afinal, cada vez mais, se percebe a necessidade de um esforço conjunto para reduzir os impactos ambientais e preservar a própria existência humana, que é parte da natureza.

 

 

Artigos

Fim de semana com música, teatro e algumas atrações gratuitas

Diversificada, programação inclui até um festival de flores, com palestras e estandes

Publicado

em

 

Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

 

O primeiro fim de semana do último mês do ano tem um pouco de tudo: flores, samba, cinema, teatro, música e arte circense. Tudo incentivado pelas secretarias de Turismo (Setur) e de Cultura e Economia Criativa (Secec), com eventos gratuitos para todas as idades. Confira, abaixo, a programação.

Festivais e feiras

Festflor Brasil apresenta diversos exemplares de plantas ornamentais, em programação que também inclui palestras | Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

O maior evento de flores e plantas ornamentais do Distrito Federal já começou e vai até este domingo (3), na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), das 11h às 19h. A oitava edição do FestFlor Brasil tem programação gratuita e conta com palestras e oficinas sobre floricultura, além de estandes para expor e comercializar plantas das mais variadas espécies.

O festival é organizado pela Sempre Eventos em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), a Setur, a Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), a Ceasa-DF e a Embrapa.

Outra atração deste fim de semana é a quinta edição do Festival Haynna e os Verdes, na Casa Akotirene, em Ceilândia Norte. Com entrada franca, o evento musical começa às 16h deste sábado (2), reunindo artistas do DF e do Brasil, como Maria Paula Andrade, DJ Kalectra, Mic Dias, Prethaís, Ane Êoketu, Haynna e os Verdes, Negra Eve, Lu Ferreira, Dj Lunary, Dark Style, Talíz, Marlene Souza Lima e Flor Furacão.

Já para quem aprecia a arte impressa, o Motim ocupará o Museu Nacional da República sábado e domingo, das 11h às 19h. O evento, gratuito, é uma feira colaborativa de talentos, com exposição de diversos artistas locais.

Samba e arte circense

Samba da Tia Zélia leva ritmos animados à praça central do Espaço Cultural Renato Russo | Foto: Divulgação

Como neste fim de semana é comemorado o Dia do Samba (2 de dezembro), o ritmo também compõe as atrações da agenda. No domingo, o Samba da Tia Zélia celebrará a data na praça central do Espaço Cultural Renato Russo, das 15h às 19h, em evento gratuito.

Samba da Tia Zélia virou o evento queridinho do público desde seu nascimento, em 2022. Diversos artistas reconhecidos passaram a frequentar a tenda da Vila Planalto, como os músicos do 7 na Roda, Goiabada Cascão, Samba na Comunidade, Teresa Lopes, Carol Nogueira, Cris Pereira e Litieh, entre outros.

Também neste sábado, o IFB Campus Gama será ocupado pela arte circense, com espetáculo Além das Palavras, às 19h, com entrada franca. O show é criado e estrelado pelo Intervenções de Circo Social, um grupo de educadoras que utiliza o circo como ferramenta para o desenvolvimento humano e social.

O coletivo utiliza as técnicas circenses, integrando-as com um projeto pedagógico inspirado na educação popular de Paulo Freire e trabalhando habilidades como malabares, equilíbrio, pirâmides humanas e acrobacias, além de abordar questões como melhora da autoestima, autossuperação, comunicação não violenta, coletividade e colaboração.

Cinema

Durante este fim de semana, o Cine Brasília exibirá, em parceria com a Embaixada da Rússia, uma sessão única do filme Khitrova, o Signo dos Quatro. A história se passa em Moscou, no ano de 1902, e segue o renomado diretor de teatro Konstantin Stanislavsky em sua busca por inspiração para uma nova peça. Com a ajuda de um especialista nas periferias da cidade, ele mergulha no lendário bairro dos bandidos, Khitrovka, para investigar o assassinato de um misterioso morador.

Clássico das chanchadas, ‘Carnaval Atlântida’ está em carta no Cine Brasília, em mostra gratuita | Foto: Divulgação

Ainda no Cine Brasília, segue em cartaz a mostra A Cinemateca é Brasileira. O projeto conta com a exibição dos filmes Carnaval Atlântida (1952), À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), São Paulo: A Sinfonia da Metrópole (1929), Bacurau (2019), Cabra Marcado para Morrer (1984), Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Limite (1931), O Bandido da Luz Vermelha (1968), Central do Brasil (1998) e Dona Flor e Seus Dois Maridos (1979). Todas as sessões da mostra são gratuitas.

Além disso, a animação Trolls 3 – Juntos Novamente continua em cartaz no Cine Brasília. As sessões contam com com recursos de acessibilidade de libras, legendas e audiodescrição por meio do aplicativo Mobi LOAD. Para acessar a programação completa e assistir aos trailers, basta entrar no site do Cine Brasília.

Teatro

Sábado e domingo, o coletivo Casa Moringa estreia a brincadeira-espetáculo Tawá Tingá: o Rio, a Cidade e a Onça. Protagonizada por mulheres, a peça reconta a história do povoamento de Taguatinga e da construção de Brasília, demarcando o protagonismo feminino nas culturas populares.

‘Tawá Tingá: o Rio, a Cidade e a Onça’ evoca seres da floresta para contar a história do povoamento de Taguatinga | Foto: Divulgação/Cied Pereira

Na apresentação, 18 mulheres retomam a amarração de fios da história que foram cortados na formação do Distrito Federal. Elas reocupam o território ancestral de Tawá Tingá (barro branco, na língua tupi), com um mutirão de reflorestamento do imaginário e de limpeza das águas profundas do rio da memória. Na travessia, vida e morte se encontram para celebrar o nascimento de um povo e de uma brincadeira, sob a proteção da guardiã da floresta, a onça Yayá.

As duas sessões de estreia serão apresentadas na Ocupação Cultural Mercado Sul Vive, em Taguatinga, com interpretação em Libras e audiodescrição. No sábado, a peça começa às 20h; no domingo, às 17h. A entrada é franca, com classificação indicativa livre.

 

 

Continue Lendo

Artigos

Cine Brasília tem sessão exclusiva para série sobre Juscelino Kubitschek

Cinema mais tradicional da capital exibirá terceiro capítulo da obra ‘JK, o Reinventor do Brasil’, produzida pela TV Cultura

Publicado

em

 

Nesta terça (28), o Cine Brasília exibe, com exclusividade, o terceiro capítulo da minissérie documental JK, o Reinventor do Brasil. Produzida pela TV Cultura, a obra narra, de forma acessível e em ritmo de podcast, a história do ex-presidente Juscelino Kubitschek, desde o dia do nascimento até o momento da morte trágica e jamais esclarecida.

A série documental mostra momentos importantes da vida e da carreira política de Juscelino Kubitschek, uma referência histórica de Brasília e do Brasil | Fotos: Divulgação

“Queremos que as novas gerações conheçam a figura do ex-presidente e seu legado para o país”Fábio Chateaubriand Borba, autor da minissérie e diretor-executivo da TV Cultura

Com linguagem diferenciada e didática, a série conta, no total, com quatro episódios de 50 minutos cada. O primeiro retrata a infância de Juscelino em Diamantina (MG) e vai até a eleição ao Governo de Minas Gerais. O segundo episódio, por sua vez, narra a eleição de JK para a Presidência da República e os desafios que ele precisou enfrentar até tomar posse – inclusive o de aprovar a transferência da capital federal, que era o Rio de Janeiro (RJ), para Brasília.

Já o terceiro episódio, exibido com exclusividade no Cine Brasília, relata essencialmente a construção da nova capital. “A série tem como objetivo mostrar a história de um personagem brasileiro da importância de Juscelino; queremos que as novas gerações conheçam a figura do ex-presidente e seu legado para o país”, explica o autor da minissérie e diretor-executivo da TV Cultura, Fábio Chateaubriand Borba.

Nova abordagem

O quarto e último capítulo aborda desde a cassação de JK até a morte em um acidente automobilístico, na Rodovia Presidente Dutra. “Juscelino foi o brasileiro médio, que vem do interior com dificuldades financeiras, perde o pai cedo e é criado pela mãe, uma professora que lutou bastante pelos filhos”, pontua Fábio Borba. “É essa epopeia que queremos levar para os jovens, com abordagens modernas, muita tecnologia e música”.

JK (de terno) entre os célebres compositores mineiros Lô Borges, Fernando Brant, Márcio Borges e Milton Nascimento: trilha sonora do documentário também é diferenciada

O diretor classifica como única a oportunidade de poder exibir a obra no Cine Brasília: “É uma felicidade muito grande poder trazer essa série para Brasília. A forma como abordamos essa jovem cidade quebra paradigmas e estereótipos que muita gente tem da nossa capital. Poder lançar nossa série nessa obra arquitetônica de Oscar Niemeyer dá importância ao nosso trabalho”.

JK, o Reinventor do Brasil é uma produção voltada para todas as faixas etárias. A série documental configura o maior trabalho iconográfico já feito sobre a vida do ex-presidente, tendo sido produzida a várias mãos, com o apoio de dezenas de instituições de arquivo público nacionais e até internacionais.

A obra completa conta com mais de 50 mil fotografias, 80 horas de vídeos captados e mais de mil horas de edição. Outro diferencial é a trilha sonora,  com canções que marcaram as várias fases da vida de Juscelino.

Serviço

JK, o Reinventor do Brasil

→ Terça-feira (28), às 20h, no Cine Brasília – Entrequadra Sul 106/107, Asa Sul
→ Classificação indicativa livre. Entrada: presença deve ser confirmada por meio deste link.

 

Victor Fuzeira, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

Continue Lendo

Artigos

A CASA DOS ANIMAIS

Mesmo com os avanços científicos conquistados, o ser humano tem ainda muito a aprender com a natureza.

Publicado

em

 

 

É maravilhoso estudar o comportamento de cada animal, seja ele mamífero, peixe ou pássaro, em relação à sua casa. Cada espécie tem sua característica, tem sua habilidade e tem, sobretudo, um padrão de arquitetura às vezes complexa, às vezes simples, mas sempre criando técnicas e usos de materiais que lhes permite edificar suas moradias ao abrigo das mais severas condições climáticas. Alguns animais preferem viver em delicados e confortáveis casulos de pelo, paina, lã ou musgo e outros buscam cavidades em árvores, rochas ou solo e, até mesmo, labirintos com formas diversas e adaptadas para chuva, vento, calor ou frio.

 

O Pássaro Pavilhão macho faz grandes cabanas com

galhos de árvores, com uma característica interessante:

enfeita seus lares com flores, bagas e outros arranjos para

atrair as fêmeas.

 

 

O Pássaro Pavilhão macho tem olhos azuis e habilidades de arquiteto e decorador. É um pássaro sedutor. O pássaro pavilhão (bowerbird em

inglês) diversifica os rituais de namoro e exalta a natureza.

 

 

Mesmo com os avanços científicos conquistados, o ser humano tem ainda muito a aprender com a natureza. É verdade que alguns animais se contentam em achar refúgios pouco confortáveis ou seguros como tocas e troncos secos, mas existem outros que constroem casas perfeitamente adaptadas a seu peculiar estilo de vida e às necessidades de sobrevivência. Para falar e explicar essa diversidade de moradias na natureza, conversamos como o arquiteto-da-paisagem Carlos Fernando de Moura Delphim.

 

CARLOS FERNANDO DE MOURA DELPHIM –  ENTREVISTA

 

 

Arquiteto e paisagista formado pela UFMG, Carlos Fernando é técnico do Iphan e membro da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco. Moura Delphim trabalha com projetos e planejamento para manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, histórico, natural, paleontológico e arqueológico. É discípulo de Burle Marx e foi o paisagista favorito do mestre Oscar Niemeyer. Moura Delphim é autor de várias publicações, entre elas JARDINS DO BRASIL.

 

 

Folha do Meio – É incrível o comportamento dos animais em relação às suas casas!

Carlos Fernando – De fato, é incrível e muito interessante. É justamente o comportamento construtivo de muitos animais que dá origem às mais curiosas formas de arquitetura, com construções muitas vezes escultóricas. Isto decorre de atividades adotadas por diferentes espécies que se utilizam dos recursos provenientes dos distintos ambientes nos quais habitam.

 

FMA – Tem animal que ganha sua casa da natureza e outros têm que construí-las, não é?

Carlos Fernando – Esse comportamento difere do surgimento espontâneo de abrigos como as conchas dos moluscos que crescem juntamente com o organismo dessas espécies. Alguns caracóis possuem conchas tão bonitas que sua captura para comercialização os coloca em risco de extinção, como o caracol de deslumbrante coloração de Cuba (Polymicta picta) do qual não existe nenhuma concha igual à outra. Já a arquitetura animal difere por não ocorrer espontaneamente. É consequência do trabalho do animal que não é apenas o arquiteto, mas também o mestre de obra e operário, atividades sem as quais não poderia fruir as vantagens de seu engenho.

 

FMA – Os humanos buscaram, de alguma forma, o ‘know-how’ com os animais para construírem suas casas?

Carlos Fernando – De certa forma, sim. Mas é evidente que a racionalidade e o conhecimento levaram o ser humano ao aperfeiçoamento e a uma sofisticação maior. A arquitetura bioclimática é, muitas vezes, inspirada em padrões da arquitetura animal. O fato é que alguns animais produzem estruturas extremamente complexas, com formas aparentemente mais racionais do que algumas soluções arquitetônicas humanas, como é o caso das abelhas da espécie Apis melifera, cujas edificações apresentam soluções tão ou mais lógicas do que as humanas. Os favos das colmeias são estruturas extremamente leves, compostas de uma sequência de compartimentos ocos e de forma perfeitamente hexagonal. As formigas, cupins, vespas e ninhos de aves são ou podem ser uma fonte de inspiração.

 

 

O fato é que alguns animais produzem estruturas extremamente complexas, com formas aparentemente mais racionais do que algumas soluções arquitetônicas humanas, como é o caso das abelhas da espécie Apis melifera, cujas edificações apresentam soluções tão ou mais lógicas do que as humanas.

 

 

FMA – Há casos em que os animais foram mais eficazes?

Carlos Fernando – Interessante, mas há um exemplo fantástico. Nenhuma obra humana pode ser comparada pela leveza, pela perfeição, despojamento e pela capacidade de cumprir suas funções com tanta eficiência como a casa da aranha. A teia de aranha serve não apenas de abrigo como também para capturar as presas nas quais são depositados os ovos que irão alimentar as pequenas aranhas recém-nascidas. Essas construções levíssimas, quase imateriais, cuja empreitada segue uma disposição rigorosa com cada passo de construção dependendo do anterior, resistem à ventania e chuvas. Sua criação segue em ordem rigorosa, não havendo nenhuma arquitetura humana que possa a ela se comparar. É residência, armadilha, despensa ou depósito de alimento, tudo da forma mais etérea e despojada possível.

 

 

Exemplo da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro permite que seus moradores, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos. (foto: José Raul Valério)

 

 

FMA – E existem outras tecnologias animais que o ser humano ainda não conseguiu copiar?

Carlos Fernando – Existem sim. Veja o caso da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro ou um termiteiro permite que seus moradores, os cupins, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos. Nos meios rurais há um costume de se cavar um cupinzeiro para em seu interior se construir fornos com a finalidade de assar alimentos. Quando não se retiram os cupins, o forno continua a crescer, mesmo sendo usado, o que se pode observar em um museu rural existente em Goiânia. Se a arquitetura erudita se utilizasse deste exemplo, mais conhecido pelas técnicas vernaculares, muito se economizaria em refrigeração doméstica. Muito também contribuiria para reduzir o aquecimento global que é acelerado pelo uso de condicionadores de ar.

 

 

 

 

 

Existem tecnologia que o ser humano poderiam copiar. É o caso da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro ou um termiteiro permite que seus moradores, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos.

 

 

FMA – E o que mais o surpreende nestes casos?

Carlos Fernando – Muitas coisas me surpreendem. Veja, por exemplo, como é surpreendente que, sem possuir ou manejar qualquer forma de ferramenta, sem ser dotados de habilidade como são as mãos, os animais bem adaptados a seu habitat puderam aprender ou criar técnicas e usos de materiais de construção. Isto lhes permitiu edificar suas moradias ao abrigo das mais severas condições climáticas. Muitas espécies, quando não dispõem de cavidades naturais das quais se aproveitem, constroem ninhos furando troncos, escavando o solo ou mesmo rochas, como é o caso de mamíferos como a toupeira e o texugo. Alguns insetos e pássaros criam labirintos de peças rigorosamente idênticas entre si, como ocorre com as admiráveis obras das abelhas e dos cupins.

 

FMA – Há outros exemplos?

Carlos Fernando – Sim. Há animais que optam por uma arquitetura que edifica o vazio das cavidades por eles esculpidas. Outros criam obras fazendo maciços com tecidos de fibras e galhos emaranhados como o guache, as cegonhas, águias e abutres. Outros preferem viver em delicados e confortáveis casulos de pelo, paina, lã ou musgo, de forma quase esféricas, como certos beija-flores.

 

FMA – O ser humano busca reciclar suas matérias primas para a construção. E os animais?

Carlos Fernando – Esta é outra característica interessante e muito curiosa em ver como certos animais reciclam também materiais e construções alheias. Aves, como a coruja, se instalam em buracos escavados nas casas de outras espécies, como os cupinzeiros.

 

FMA – Na verdade o sistema de construção pode ser bem diferente…

Carlos Fernando – É, cada um se baseia em um diferente sistema construtivo e na disponibilidade de materiais que encontram em seus habitats. Os ninhos das aves são construídos das formas mais engenhosas e intricadas. Enquanto o pica-pau e o martim-pescador escavam os troncos, o joão-de-barro, um hábil construtor, constrói um domo em barro com uma planta-baixa de desenho simples, mas com funções complexas. Uma forma espiralada na qual uma pequena abertura dá acesso ao túnel curvo que conduz à câmara central.

 

FMA – Enfim, os animais são mais engenheiros ou mais arquitetos?

Carlos Fernando – É verdade, alguns animais, mais do que arquitetos, são habilidosos engenheiros ao definir tipos de estruturas, suas formas e funções. Os castores são arquitetos e engenheiros construtores de barragens altamente resistentes. Constroem represas para conter as águas, utilizando-se de seus dentes de roedor e juntando galhos e troncos nas margens dos rios, com efeitos mais positivos menos danosos do que muitas barragens humanas em concreto armado.

 

As formas de arquitetura variam de animal para animal porque as funções referem-se à necessidade de abrigo e defesa, de acordo com o ecossistema. Sobretudo contra os predadores e contra as tempestades. E cada construtor tem suas necessidades e suas habilidades.

 

 

FMA – Por que pássaros da mesma ordem, do mesmo tamanho variam tanto o tipo de seus ninhos?

Carlos Fernando – É porque a arquitetura é forma, função e técnica. As formas de arquitetura variam de animal para animal porque as funções referem-se à necessidade de abrigo e defesa, de acordo com o ecossistema. Sobretudo contra os predadores e contra as tempestades. E cada construtor tem suas necessidades, suas habilidades e busca a melhor forma de proteger os ovos e filhotes. Protegem-se contra flutuações climáticas e mudanças ambientais, regulando temperatura, nível de umidade, danos mecânicos, troca de gases e ventilação. As técnicas dependem das funções e dos materiais, que variam tanto quanto as formas e funções, incluindo materiais naturais como barro, argila, areia, pedras, galhos, palha e fibras. Suas casas não obstruem a comunicação entre o interior e o exterior, permitindo-lhes observar tudo o que acontece à sua volta. Estudos mais acurados e uma observação mais atenta da vida e do comportamento dos pássaros e de outros animais, podem contribuir com novas e valiosas técnicas para o enriquecimento da arquitetura contemporânea. Integrar o projeto arquitetônico à simplicidade e despojamento das formas sustentáveis animais, pode ser uma alternativa à complexidade das construções modernas.

 

 

Continue Lendo

Reportagens

SRTV Sul, Quadra 701, Bloco A, Sala 719
Edifício Centro Empresarial Brasília
Brasília/DF
rodrigogorgulho@hotmail.com
(61) 98442-1010