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Enfim, o espetáculo do crescimento

De como homem destruiu e construiu a prosperidade


Silvestre Gorgulho


O espetáculo do crescimento aconteceu… e ainda no ano de 2003. Longe dos olhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Antônio Palocci. Onde? Bem nos confins da Amazônia. Foi lá que o Brasil deu um respeitável salto de mais de 200%. Aliás, muito mais de 200% se forem computados, além dos frios dígitos numéricos, os valores agregados e periféricos contidos na melhoria da renda, na saúde, na educação, no resgate da cultura, nas condições de trabalho, no astral positivo e na perspectiva de vida. Aí, creia amigo leitor, o espetáculo do crescimento foi um absurdo! Podemos dizer assim, algo imensurável. Talvez, maior do que exuberância e os mistérios contidos na própria Amazônia.


E onde está este espetáculo do crescimento? Está literalmente ao norte do estado do Amazonas e ao sul de Roraima, ao lado da rodovia BR 174, que liga Manaus a Boa Vista. À margem esquerda do rio Negro, nas bacias do rios Jauaperi e Camanaú e de seus afluentes os rios Alalaú, Curiaú, Pardo e Santo Antônio do Abonari, vive um povo que, em menos de 20 anos, saiu do inferno para encontrar a paz. Esse é o território kinja itxiri onde vive a tribo Waimiri Atroari.


Antes do contato com os brancos, um povo guerreiro e forte. Depois dos primeiros contatos com os brancos, uma tribo perseguida, subnutrida e massacrada.


De exímios caçadores, estes índios viraram caça. Uma presa fácil de mineradores e madeireiros. Seus cânticos e cerimônias na floresta deram lugar aos lamentos e pedidos de socorro. Em 1987, a tribo tinha sido reduzida a cerca de 300 índios. Todos doentes, famintos e perambulando pela estrada. Entregues à própria sorte.


Parecia um Brasil com a cara de 1.500, ano do Descobrimento, quando os primeiros habitantes desta Terra de Vera Cruz foram sendo contactados, se tornando vítimas das ardilosas ações do homem branco. Antes livres na floresta como tantas outras tribos brasileiras, os Waimiri Atroari também estavam sendo acuados e destruídos.


Deixa fazer um parênteses para conceituar bem o que significa ser um país desenvolvido em relação à natureza. Neste ponto, gostaria de focar três conceitos lembrados pelo indianista Eduardo Almeida, em entrevista à Folha do Meio Ambiente, e que traduzem muito bem o que é desenvolvimento e subdesenvolvimento de uma nação:


Primeiro: O Brasil precisa acabar com essa conversa de que índio atrapalha o desenvolvimento, sob pena de nos igualarmos àquele ´apartheismo` comum na África.


Segundo: Demarcar e respeitar terra e cultura indígenas é uma postura de desenvolvimento.


Terceiro: Os índios também devem produzir um excedente para que possam vender e não precisem implorar ajuda. Eles não querem só a subsistência.


Fechado o parênteses, foi com este ponto de vista que entrou em jogo um outro indianista chamado Porfírio Carvalho. Em 1986 ele visitou os Waimiri Atroari e saiu arrasado com o que viu: doenças, suicídios, fome e abandono. De milhares de índios, restavam apenas uns 300. O fim de um povo estava próximo. Não! Não podia ser assim. O mesmo homem branco que teve a capacidade e tinha armas para destruir uma cultura, também deveria ter, pela solidariedade, armas e capacidade para reerguê-la. E Porfírio foi atrás de armas e capacidade para agir. Conseguiu. Primeiro ganhou a confiança dos caciques. Depois lutou para ter mais parceiros nessa jornada. E terceiro saiu a campo num projeto de resgate que deveria levar mais de uma década. Foram 15 anos de luta, incompreensões e até perseguições para poder virar um jogo perdido. Conseguida a aliança com a Eletronorte, construtora da Usina de Balbina em terras dos Waimiri Atroari, Porfírio pode celebrar agora no final de 2003, o ressurgimento de um povo. Saudáveis, alegres e novamente senhores de si, os Waimiri Atroari acabam de celebrar o nascimento do milésimo indiozinho. Dia 7 de dezembro, Iwaraky – que nasceu dia 26 de setembro – foi apresentado à sua tribo, de acordo com o ritual marybá. Uma festa como se fosse “batizado” nos costumes do homem branco.


A solidariedade venceu. O homem branco que destruiu, teve a capacidade de reconstruir e de promover, em plena floresta amazônica, o grande espetáculo do crescimento.

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Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

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Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

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VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

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No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
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METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

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Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE O PRADOS”.
Para continuar no mote dos vagalumes ou pirilampos tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
Quando a cachoeira desce nos barrancos
Faz a várzea inteira se encolher de espanto
Lenha na fogueira, luz de pirilampos
Cinzas de saudades voam pelos campos.
Lindo demais! É a arte de vagalumear.
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