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SABIÁ ALBINA
Sabiá albina tem problema de relacionamento

De como uma sabiá tornou-se “patinho feio” do terreiro
Silvestre Gorgulho
O caso é raro e triste. Rejeitada pelos machos da mesma espécie, uma sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) é discriminada por ser parcialmente albina, ou seja, por ter uma alteração genética que afeta sua pigmentação. Como nas plantas, é justamente ser albina que dá à sabiá uma característica mais do que especial e a coloca no rol de uma ave rara e exótica. Mesmo lembrando a história do Patinho Feio, quando um filhote de cisne nasceu no ninho de uma pata e, por ser diferente, foi rejeitado, a situação da sabiá albina é mais grave. O cisne pode depois voltar aos seus, enquanto a sabiá pertence à mesma espécie e não tem como buscar “sua turma”. A rejeição parte dos próprios machos de sua espécie.
Dalgas Frisch acompanhou o comportamento da sabiá albina. O jovem sabiá abre o bico de forma ameaçadora quando a sabiá albina tenta aproximação
Ela é uma legítima ave nacional, ou seja, uma sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris). O sabiá tornou-se Ave Nacional em 1997, por decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o ornitólogo Johan Dalgas Frisch, descobridor da aparência estranha da sabiá albina, o problema está na pigmentação das asas, no dorso e na barriga. “Ela não tem a cor alaranjada na barriga e suas asas não são formadas por penas que misturam tons cinzas e marrons”, explica Dalgas. “Aí, continua ele, o que acontece? Em vez dos machos cantarem para ela, pois no universo das aves os machos é que devem impressionar as fêmeas com o canto ou com cores, os jovens da espécie a estão rejeitando. Eles abrem o bico de forma ameaçadora toda vez que ela, solitária, tenta uma aproximação”.
Johan Dalgas Frisch, 79, é pesquisador, escritor e um dos maiores ornitólogos brasileiros. Presidente da Associação de Preservação da Vida Selvagem, Dalgas viu pela primeira vez a sabiá albina, em novembro do ano passado, quando caminhava pelos parques de São Paulo. “Me assustei quando vi a sabiá albina. Me assustei por ser uma raridade. Aí passei a acompanhar o comportamento desta ave em relação à sua espécie. Veio então a segunda novidade. A rejeição dos machos”.
O fato já correu o mundo. O jornal norte-americano Nature Society News destacou a notícia: “Um pássaro muito raro, semi-albino, vive nos jardins de São Paulo.”
O cuidado do ornitólogo Johan Dalgas Frisch foi mais longe. Durante seu caminhar, ele faz questão deixar minhocas, bananas, mamão e abacate para a sabiá albina. “É uma forma de amenizar a situação dela”, explica Dalgas. “Não quero que nada lhe falte. Afinal, os machos não querem saber dela, e por isso não deve ter um grande amor.”
Glossário
ALBINISMO – O albinismo pode ocorrer no reino animal e vegetal. Consiste numa alteração genética que ocorre nos seres vivos, afetando-lhes a pigmentação. Na Zoologia, a anomalia se caracteriza pela ausência total ou parcial do pigmento da pele, dos pêlos e do olho (a melanina). E na botânica consiste na diminuição ou ausência total do caroteno, substância que dá cor à clorofila. O albinismo parcial produz manchas alvas em fundo verde, e corresponde à chamada variegação. Neste caso, o vegetal torna-se ornamental graças à beleza que adquire.
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Em Brasília, mulheres indígenas celebram diversidade cultural e marcham por lutas comuns
Na III Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, representantes de todos os biomas do Brasil celebram sua diversidade, denunciam violência de gênero e dizem não ao Marco Temporal.

Marcha das Mulheres Indígenas de 2023, em Brasília — Foto: Amanda Magnani
O som de cantos e dos maracás ecoa de todos os lados do acampamento à medida que grupos de mulheres dos mais diferentes cantos do Brasil se aproximam da tenda principal na concentração para a III Marcha Nacional de Mulheres Indígenas. São 8h00 e o sol seco de Brasília parece realçar as cores dos mais variados trajes tradicionais.
A marcha, que foi do Complexo Cultural da Funarte, onde estavam acampadas, até o Congresso, a cerca de 5km de distância, reuniu mais de 5 mil mulheres. Ela aconteceu no último dia de um evento que, ao longo de três dias, foi marcado por celebrações e denúncias.
Sob o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”, indígenas de diferentes partes do Brasil tiveram a oportunidade de dar voz às demandas específicas vividas pelos povos de seus biomas.
Para o povo Kiriri, da Caatinga, a cerca de 300 km de Salvador, um dos maiores problemas é a seca e a consequente falta de segurança alimentar. “Nossa região é muito seca, e as mudanças climáticas aumentam o impacto na insegurança alimentar”, diz Fabiana Kiriri.
Ela conta que o trabalho coletivo na comunidade e a reserva de alimentos vêm como uma forma de tentar contornar o problema. Mas uma colheita suficiente depende de muitos elementos, que vão da quantidade de chuvas à presença de pragas.
“O que realmente precisamos é de um olhar especial do governo, que proponha projetos para ajudar as comunidades a terem autonomia”, defende.
Já para o povo Kaingang do Pampa, no Rio Grande do Sul, as demandas passam principalmente pelos enfrentamentos com o agronegócio e pelos arrendamentos de áreas dentro das terras indígenas, que acabam levando monoculturas e agrotóxicos para dentro a terra.
“Nós precisamos dar visibilidade às nossas lutas e sensibilizar a nossa comunidade, para que possamos encontrar estratégias para atender as demandas dos nossos territórios”, diz Priscila Gore Emílio, psicóloga do povo Kaingang.
Enquanto isso, em Santa Catarina, os Xokleng são protagonistas no debate sobre o Marco Temporal. “Nossa região foi tradicionalmente ocupada pelos povos indígenas e o nosso território já foi muito maior. Hoje, vivemos em uma área muito reduzida, mas continuamos vivendo muitas tensões e conflitos”, diz Txulunh Gakran.
Contudo, embora povos dos diferentes biomas tenham suas demandas específicas, são muitas as lutas comuns às mulheres indígenas do Brasil como um todo. Grande parte delas gira ao redor da garantia do direito ao território e ao fim da violência de gênero.



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Castanheira-da-amazônia mostra eficiência na recuperação de solos degradados
Os estudos estão sendo realizados em cultivos de castanheiras implantados em áreas que antes eram pastagens degradadas no estado do Amazonas

Pesquisas da Embrapa em plantios de castanheira-da-amazônia (Bertholletia excelsa) indicam que a espécie é eficiente para a recuperação de solos degradados em áreas nas quais a floresta foi retirada. Trata-se de um resultado bastante promissor para a recomposição florestal desse bioma, onde existem atualmente mais de 5 milhões de hectares de solos que precisam ser restaurados. Outra vantagem observada é que as castanheiras são capazes de produzir por mais de 40 anos com pouco ou quase nenhum aporte de nutrientes. Além de contribuir para a preservação, esses cultivos podem ajudar a gerar renda e emprego para os povos da floresta, com a geração de serviços ambientais.
Os estudos estão sendo realizados em cultivos de castanheiras implantados em áreas que antes eram pastagens degradadas no estado do Amazonas. “A capacidade de crescimento demonstrada pela castanheira comprova que ela tem uma estratégia fisiológica totalmente adaptada a esses tipos de solos”, afirma o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) Roberval Lima, que realiza estudos silviculturais com essa espécie.
O embasamento para uso da castanheira na recuperação de áreas degradadas ganha ainda mais força com estudos sobre emissão de gases a partir do solo, processo também chamado de respiração do solo, e que consiste em um conjunto de fenômenos bioquímicos, envolvendo temperatura, umidade, nutrientes e níveis de oxigênio, influenciados por fatores naturais e ações humanas. As pesquisas compararam a capacidade de respiração do solo e a emissão de gases em diferentes ecossistemas, conforme os modos de uso da terra no bioma.
Uma das conclusões é que os plantios de castanheiras apresentam níveis de melhoria na qualidade do solo que mostram tendência de recuperação das características químicas, físicas e presença de microrganismos.
Segundo o pesquisador, os solos em plantios de castanheiras apresentam qualidade 50% superior à de áreas de pastagem degradadas. Foram realizados estudos comparando o fluxo de gases a partir do solo em ecossistema de floresta natural, em pós-floresta (após a corte da floresta) e em cultivos como os plantios de castanheira. “Os resultados apontam que, sob os plantios de castanheiras, o solo está se recuperando com uma tendência massiva próxima a de uma floresta natural”, destaca.
Foto acima: Siglia Souza
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Síglia Souza (MTb 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental
Contatos para a imprensa
amazonia-ocidental.imprensa@embrapa.br
Telefone: (92) 3303-7852
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