Palestra e Discursos

A fonte jornalística

(Palestra pronunciada pelo jornalista Silvestre Gorgulho durante o encontro INDÚSTRIA E MEIO AMBIENTE para jornalistas especializados em temas ecológicos e ambientais,
na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, em 28 de maio de 2003)

O que é uma fonte
jornalística?
É justamente
onde nasce a informação. Uma
fonte pode ser qualquer pessoa, documento,
livro, organização ou entidade
que produz uma informação e
a repassa ao jornalista para que seja feita
ou para que seja aprimorada uma notícia.

O jornalista tem vários
objetivos ao procurar uma fonte: ele busca
informes seguros para checar uma informação,
busca dados para credenciar seu trabalho e
busca detalhes para qualificar suas matérias.

E tudo isto com uma finalidade
única: atender a demanda de informação
de cada cidadão e da sociedade em geral,
nos mais variados campos da atividade humana.

Não existe uma cadeira
específica na universidade sobre fontes
de informação e muito menos
uma cadeira só para fonte jornalística
em meio ambiente. E não conheço
nenhum manual específico.

O porquê é simples.

A grande virtude para que um
jornalista se torne um bom profissional de
imprensa é o bom senso. Aliás,
não só na atividade jornalística,
mas em qualquer atividade o bom senso deve
estar em primeiro lugar.

O bom senso, acrescido da experiência
e da boa formação são
os elementos seguros para um trabalho de excelência.

Do lado do jornalista: o tema
pode ser meio ambiente, pode ser política,
pode ser economia, pode ser polícia,
pode ser educação ou esporte.
O comportamento profissional e pessoal do
jornalista com sua fonte vai ser igual. Muda
apenas o assunto.

O que vai estar envolvido nesta
relação é a confiança,
a ética, troca de gentilezas, troca
de informação, civilidade, exercício
de poder e tanta coisa mais que só
o discernimento de cada um vai impor os limites.
Não dá para se fazer um manual
de consciência profissional. É
tudo questão de bom senso.

O mesmo se pode dizer em relação
às fontes. O tema também pode
ser qualquer um e o comportamento profissional
e pessoal da fonte com o jornalista vai ser
igual. Muda apenas o assunto.

Jornalistas e fontes têm
suas responsabilidades.

E vale acrescentar um detalhe
que considero muito importante: a responsabilidade
do jornalista é muito maior do que
a da fonte.

Por vários motivos: primeiro,
porque na grande maioria das vezes as fontes
gostam de ficar no anonimato e aí o
jornalista que assina a matéria tem
que bancar a informação. E no
anonimato a fonte pode muito bem puxar a brasa
para seus interesses profissionais ou pessoais.
Pelo menos pode dar uma versão e usar
de meias verdades que vão ajudar a
ela, a seu grupo político, a sua empresa
ou a sua instituição.

A fonte pode estar ressentida
e usar suas informações –
em ON ou em OFF – também apenas
para denegrir ou tirar vantagens (seja
moral ou financeira)
na publicação
da matéria. Veja bem como a situação
é delicada. Mesmo ressentida, às
vezes, é uma informação
de grande interesse da sociedade e sua publicação
é importante. Os exemplos são
muitos, desde ex-mulheres que denunciaram,
por ressentimento, as negociatas dos anões
do orçamento (deputados da Comissão
Mista do Orçamento que aprovaram emendas
e tiraram proveito financeiro das empreiteiras)
o caso PC Farias (governo Fernando
Collor)
até o caso dos fiscais
do Rio de Janeiro (grupo de fiscais liderados
por Silveirinha que chantageou empresas e
depositaram milhões de dólares
na Suíça)
.

Neste caso o jornalista é
detetive e juiz de uma mesma peça.

Por isso, repito, a responsabilidade
do jornalista
– por ser coadjuvante
e protagonista de uma mesma história
– é muito mais importante do
que a responsabilidade da fonte.

E mais: ele não trabalha
só com dados e conceitos, mas com todos
os significados para onde apontam os dados
e os conceitos. Ao decodificar os dados, ao
editar as imagens, o jornalista acaba por
levar o leitor ou o telespectador a pensar
como ele.

Outra coisa: todo mundo sabe
que a informação produzida vai
muito além do primeiro receptor. Dependendo
do veículo, o efeito multiplicador
é fenomenal.

De tudo que li, que tentei lembrar
da minha experiência de 30 anos de jornalismo,
resolvi resumir tudo sobre fonte e jornalista
num DECÁLOGO.
A Bíblia é a Bíblia porque
tem peças como o Decálogo: simples,
didático e direto. Então nesta
linha da simplicidade e da didática,
dei uma de Moisés e escrevi os 10 mandamentos
que devem nortear a relação
entre o jornalista e sua fonte. Acabei gostando
por achá-lo curto e grosso.

Os DEZ MANDAMENTOS
que devem nortear a relação
entre o jornalista e sua fonte

1 – Da responsabilidade
O jornalista é
o grande instrumento para a nobre função
de democratizar a informação.
E a boa informação requer responsabilidade
do profissional de imprensa e da fonte de
informação.

2 – Da reciprocidade
Quanto mais o jornalista
se mostra isento e competente, mais ele ganha
a confiança da fonte; E quanto mais
a fonte se mostra isenta e competente, mais
ela ganha a confiança do jornalista.

3 – Do saber –
Quanto mais complexo for o assunto, mais o
jornalista deve se dedicar ao tema e mais
paciente e didática deve se comportar
sua fonte.

4 – Do bom entendimento
Tanto quanto a fonte
de informação, o jornalista
deve usar linguagem adequada, objetiva e clara.

5 – Do enquadramento
O jornalista e a fonte
de informação devem compreender
as limitações de tempo e de
espaço dos meios de comunicação.

6 – Da humildade
Nem o jornalista em relação
à fonte e nem a fonte em relação
ao jornalista devem assumir atitudes de superioridade
entre si e muito menos em relação
ao leitor e espectador.

7 – Da excelência
O bom profissional de
imprensa e a boa fonte buscam sempre material
de suporte técnico como pesquisas,
clipping, sites e artigos para a construção
de uma reportagem perfeita.

8 – Do diga-me
com quem andas… –
Um
jornalista isento, íntegro e criterioso
terá sempre fontes também isentas,
íntegras e criteriosas.

9 – Da abrangência
A diversidade de opinião
e de fontes assegura a pluralidade da informação
que é fundamental para a qualidade
final da reportagem.

10 – Da Cidadania
O bom profissional de
imprensa e a boa fonte devem seguir e obedecer
sempre as duas linhas mestras que norteiam
toda e qualquer atividade humana: a ética
e a estética de suas ações.

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Prêmio José Aparecido de Oliveira

Discurso de Silvestre Gorgulho, Secretário de Estado da Cultura do DF, durante entrega do Prêmio José Aparecido de Oliveira, no Museu Nacional de Brasília.

Publicado

em

     Depois da odisséia empreendida por José Aparecido de Oliveira na luta pela preservação de Brasília, conquistando da Unesco o título de Patrimônio Cultural da Humanidade para uma cidade de apenas 27 anos, chegamos a um segundo momento: o governador José Roberto Arruda, ainda pela força e história de vida do ex-governador, marca sua posição pela legalidade e pelo respeito ao tombamento conquistado ao instituir o Prêmio José Aparecido de Oliveira.


 O prêmio será oferecido anualmente em reconhecimento àqueles que tenham ações voltadas para o estudo e preservação de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade.


 Eu pessoalmente – e o próprio governador Arruda,  como seus secretários – acompanhamos de perto toda luta e determinação do Zé Aparecido em defender Brasília.


Não foi fácil. Chego a afirmar que esta luta pela preservação custou-lhe o governo de Brasília e a volta para o Ministério da Cultura.


Por quê?


 Aparecido brigou muito, mas não deixou retalhar o solo do DF em loteamentos irregulares. Abriu o Lago para a ciclovia e derrubou muitas cercas-vivas de poderosos para fazer as calçadas –  sim, no Lago Sul não havia calçadas.


E culminou com a defesa máxima do Plano Piloto ao conseguir da Unesco, em 7 de dezembro de 1987, o seu Tombamento como Patrimônio Cultural da Humanidade.


 Interesses foram contrariados. Zé Aparecido era uma muralha contra a indústria das invasões, os puxadinhos, a mudança de gabarito, troca de destinação de área, contra o sétimo pavimento e o retalhamento das terras públicas.


 


Aparecido promoveu as primeiras eleições no Distrito Federal em 1986. Mas não conseguiu segurar a campanha promovida contra ele para liberar a especulação imobiliária. Uma especulação pelo dinheiro fácil e pela politicagem em busca de votos. 21 anos se passaram.


 Coube ao governador José Roberto Arruda dar uma freada de arrumação. Teve a coragem de abrir feridas expostas pela omissão e pelo populismo: implodiu prédios irregulares e abandonados, combateu a ocupação irregular do solo de ricos e pobres, regularizou condomínios, colocou fim no transporte pirata e, agora, dá uma lição eterna: pelo Prêmio José Aparecido de Oliveira valoriza as ações anuais em defesa de Brasília.


 A verdade é que Brasília, como diz Maria Elisa Costa, não é capital nem da Suécia e nem da Finlândia. É capital do Brasil, com todos os nossos problemas de distribuição de renda, de educação, de pobreza e de migração.


E todos estes problemas estão no âmago de uma cidade de apenas 48 anos. São 48 anos de muitos sonhos, de alguns pesadelos, imensas esperanças, mas com uma realidade mais forte em ações positivas do que negativas.


 Se Brasília fosse, ainda, a bucólica aldeia dos anos 60, a pequena cidade dos anos 70 sem semáforos e engarrafamentos, se fosse apenas uma cidade de funcionários públicos, embaixadas e serviços especializados, estaria hoje com os seus 500 mil habitantes programados. Com certeza, seria um oásis dinamarquês na imensidão de tantos Brasis pobres e esquecidos.  


Não! Brasília é Brasil com todos seus problemas, violências, lutas, diversidades, riquezas e pobrezas, alegrias e tristezas. Não são os 500 mil programados, mas 2 milhões e meio a pedir oportunidades. Muitos a pedir moradia e emprego. Alguns pão e água.


 O Prêmio José Aparecido de Oliveira é a oportunidade de uma reflexão: se Brasília significou a interiorização da economia, a ocupação do Centro-Oeste e a produção de mais de 50%  da colheita de alimentos do Brasil, Brasília como metrópole também significou o adensamento como porto seguro e inseguro de brasileiros de todos os cantos.


 Esta é nossa missão: harmonizar o desenvolvimento, a migração e a oportunidade de ocupação com qualidade de vida e bem estar.


 Para terminar, até em homenagem a Oscar Niemeyer que acaba de nos visitar e que hoje completa 101 anos, deixo nas palavras do Mestre a ultima homenagem a Zé Aparecido:


 “Quando soube da morte do Zé Aparecido, passou diante de mim um filme-relâmpago. E me lembrava do Aparecido a declarar, quando tomou posse: – Vou governar com os olhos do Oscar. Durante todo seu governo, mantive o prazer de conhecê-lo melhor. Lembro-se que até meu medo de avião consegui controlar. Vinha a Brasília de 15 em 15 dias para colaborar um pouco.


Um dia, visitando seu sítio em Miguel Pereira, ele me disse: – Oscar, eu tinha vontade de construir uma capela. Um presente para minha filha Maria Cecília. Ali mesmo desenhei a igrejinha, toda branca com um pequena cruz na cobertura. E, para agradá-lo, eu mesmo fiz o altar. Não sei por quê, estudei a iluminação da capelinha de forma que de noite apenas a cruz aparecia sozinha a flutuar entre as árvores do jardim…”


 Pois é, Oscar, dona Leonor, Maria Cecília, Zé Fernando, Virgínia, Fernandinho e todos os premiados…


Pois é, governador Arruda, Dr. Bigonha, Evelise Longhi, Carlos Magalhães, Paulo Castelo Branco e Fernando Andrade…


Pois é, Beto Sales, Elaine Ruas, Rosa Coimbra, Luiz Mendonça e toda equipe da Secretaria de Cultura que com tanto carinho preparou esta celebração… Pois é, Alfredo Gastal, Vincent Defourny, Jurema e todos os amigos aqui presentes…


 Nós aqui estamos como a cruz da Igrejinha Santa Cecília, lá do sítio do Aparecido, em Miguel Pereira.


Estamos sozinhos a flutuar entre as árvores e jardins desta fantástica cidade-parque que só precisa de nós mesmos para ser defendida, preservada e amada.


 

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Palestra e Discursos

Brasília entra para a União das Cidades Capitais Iberoamericanas

(Discurso do Secretário de Comunicação do Distrito Federal, Silvestre Gorgulho, por ocasião do ingresso de Brasília na União das Cidades Capitais Iberoamericanas.)

Publicado

em

Senhores prefeitos de cidades capitais ibero-americanas aqui presentes:


Confiou-me o Excelentíssimo Senhor Governador de Brasília, Deputado José Aparecido de Oliveira, a honrosa missão de representá-lo nesta reunião. Motivos de saúde o afastaram deste encontro com os dirigentes das Capitais Íbero-Americanas membros deste Conselho.


Missão duplamente gratificante: revejo a inesquecível Madrid e tenho o prazer de conhecer algumas personalidades internacionais que fazem parte do cenário político dos dois mundos de línguas latinas, as civilizações semeadas por Portugal e Espanha.


Estive aqui recentemente com o Senhor Governador José Aparecido. Tivemos então a felicidade de conhecer o saudoso Alcaide de Madrid, Don Enrique Tierno Galván, cujo passado constitui uma das melhores páginas da história ao povo espanhol. Dele recolhemos alguns ensinamentos sobre a UCCI e pudemos auferir de sua sabedoria a perspectiva histórica que representa este organismo para as nações a ele agregadas. Quero, nesta oportunidade, prestar, em nome do Governador José Aparecido e do meu País, uma sentida homenagem a esse vulto histórico que foi Tierno Galván, cujo desaparecimento encerrou uma longa vida integralmente dedicada à democracia e à liberdade.


Daquele momento até agora não temos perdido de vista a ação construtiva desempenhada no âmbito dessas duas civilizações pela Union de Ciudades Capitales Iberoamericanas.


E foi com entusiasmo que voltei a conversa com o Senhor Governador José Aparecido sobre a possibilidade de Brasília vir a integrar este importante Colégio. Por algumas razões fundamentais – a primeira delas, recolher desse ilustre Conselho a sabedoria secular que amalgama sua própria razão de ser. Outra ainda mais importante é a oportunidade que se apresenta, no convívio de lideranças tão expressivas, de trocar experiências capazes de melhorar a qualidade de vida de nossos povos irmãos. E essa possibilidade se nos apresenta no exato instante em que o nosso País vive a aurora de um novo tempo, pela reconquista de seu lugar entre as Nações democráticas.


Na realidade, o Brasil dá os primeiros passos para a construção de uma Nova República, sonho de Tancredo Neves, uma espécie de construtor da nova nacionalidade. E é nesse clima de retorno a democracia com o comando firme do Presidente José Sarney que Brasília desempenha um papel fundamental como partícipe do universo das cidades capitais que se convertem em repositório das liberdades. O Brasil está às vésperas de elaborar uma nova Constituição. Em novembro, seus quase sessenta milhões de eleitores elegerão a Assembléia Nacional Constituinte. O direito de cidadania passa a ocupar um espaço ainda mais profundo na consciência do povo. O Presidente José Sarney direciona seu governo para a reconquista dos direitos do cidadão e para o alargamento das conquistas sociais. A cidade tornou-se ainda mais sensível à identidade coletiva. Daí revestir-se de significação especial participar desta Assembléia.


Os movimentos de independência de Portugal enfatizavam a mudança da capital para o interior. No século dezoito, São João Bosco profetizou seu surgimento no planalto central brasileiro. Essa profecia antecipou-se à decisão de José Bonifácio de Andrada e Silva, consolidador da Independência do Brasil, de interiorizar a sede do Governo Nacional. E foi Juscelino Kubitschek quem tomou nas mãos o cumprimento dessa tarefa histórica. O impulso que se seguiu à interiorização da Capital ocorreu simultaneamente aos diversos impactos sofridos pela sociedade brasileira num tempestuoso quadro internacional. Impôs-se, então. Às economias em desenvolvimento, rigorosa dependência econômica. Era o dique oposto às aspirações de soberania dos povos do Terceiro Mundo. Nossas nações Ibero-Americanas, felizmente, souberam arrostar as tormentas do obscurantismo. E a Espanha de hoje é bem um exemplo candente desse esforço em busca da democracia, pela reconquista das liberdades. Nossas cidades conseguem ser humanas sem deixar de ser belas, sem perder o rumo do futuro. Nossas contradições culturais formam a teia maior da moderna civilização que formamos hoje.


Brasília, senhores, é em si mesma um sonho de liberdade: já o retrata a arquitetura mágica de Oscar Niemeyer. O urbanismo de Lúcio Costa é um apelo à libertação. As paisagens urbanas de Burle Max encantam até hoje o mundo com suas revoluções estéticas. A monumentalidade das obras de Bruno Di Giorgio, que embelezam suas praças e pórticos, traz, enfim, um complemento futurístico ã Capital Brasileira. Mas, aos 26 anos, com hum milhão e seiscentos mil habitantes, Brasília vive o drama do gigantismo. Tem de enfrentar agora os problemas vislumbrados para o século vinte e um. Cidade laboratório, mergulhada num inesperado capítulo de obscurantismo, Brasília reencontra os seus quatro construtores, graças a Deus ainda vi vos, convocados pelo Governador José Aparecido para uma nova e indeclinável missão: a de cortar os desvios e devolver a Capital do Terceiro Milênio – corno o mundo a chama hoje – aos balizamentos que nortearam sua criação. Trata-se, na verdade, de recolocar Brasília nos caminhos traçados pelo seu fundador, Juscelino Kubitschek de Oliveira.


Ao transformar em realidade o sonho de Dom Bosco, o Presidente da Esperança, como a Nação ainda hoje o reverencia, teve a visão do futuro: Brasília haveria de ser a eterna primavera dos trópicos pelos tempos afora. E no marco desse esforço de reorientação da cidade, o Governador José Aparecido tem sido fiel aos ideais de Juscelino Kubitschek. E não são poucos os desafios encontrados. Foi preciso remover alguns entulhos do regime militar para que a cidade respirasse outra vez as aspirações do povo. Cidade síntese do Brasil, Brasília tornou-se, nestes novos tempos, um santuário das aspirações de todos os brasileiros. Suas praças públicas estão constantemente tomadas pelas manifestações através das quais o povo leva ao seu governo e ao Congresso Nacional suas bandeiras de luta. E é respirando esse ar de liberdade que Brasília se apresenta diante deste Egrégio Conselho, para dizer que seus quase 26 anos estão cheios de lições a repassar aos povos e plenos desejos de integrar-se à grande família universal as democracias pela via de entidades como esta. É a busca da fraterna convivência com cidades mais antigas e mais sábias. É a certeza de ser uma delas no futuro, partindo da experiência que vive no presente. Nossa cidade apresenta uma experiência muito bem sucedida na associação entre o verde e o equipamento urbano. Nossas quadras residenciais, criação genial da prancheta de Lúcio Costa, corporificam as melhores idéias sobre a cidade-subúrbio. O trânsito flui com facilidade e grandes distâncias são vencidas em poucos minutos.


Não há engarrafamentos. Eis algumas experiências que oferecemos, com justo orgulho, à irmandade das cidades-capitais Ibero-americanas. Contudo, embora seja saudada como um marco da arquitetura e do urbanismo de nosso século, não obstante sua extraordinária beleza plástica e seu arrojo urbanístico, que a tornam, por assim dizer, um cartão postal, nosso turismo é ainda muito incipiente. O transporte de massas, nessa cidade do futuro, figura entre os mais caros, em comparação com outras cidades do mesmo porte no Brasil. Um acelerado e, podemos dizer,desordenado processo de fuga de populações do campo para a cidade, cria-nos problemas, como o déficit habitacional, que requerem soluções a um só tempo criativas e lastreadas na experiência. Eis alguns males para os quais, estamos certos, a troca da conhecimentos com nossas irmãs ibero-americanas apontará caminhos novos e proveitosos.


O Governador José Aparecido de Oliveira, por meu intermédio, agradece a oportunidade destas palavras. E deseja, em nome de Brasília, a todas as cidades co-irmãs aqui representadas a conquista dos sonhos que acalentam seus povos.


Antes de encerrar, quero formular nossos votos de pleno êxito a Don Juan Barranco, em sua nova e dupla missão, como Alcaide de Madrid e presidente da UCCI. Estamos certos e nisso expresso o pensamento do Governador José Aparecido de Oliveira, de que Don Tierno Galván tem um sucessor à altura das ações que desenvolveu.


Sou também portador de um convite que muito honra a todos nós brasileiros: o Senhor Governador José Aparecido oferece Brasília para sede da próxima reunião desta Entidade. É a jovem cidade dos trópicos abrindo suas portas à visita de um sábio Conselho de líderes mundiais.


Aqui ficam nossos agradecimentos e o nosso convite.


Muito Obrigado


Madrid, 24/fevereiro/1986


 

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Palestra e Discursos

Formatura Faculdade Administração

Discurso de Silvestre Gorgulho, Presidente da Sociedade Educacional Santa Marta, na formatura da primeira turma de Administração de Empresas, em São Lourenço-MG.

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em


Amigos,


Ninguém mora num País – mesmo que esse país seja o Brasil.


Ninguém mora num Estado – mesmo que esse estado seja Minas Gerais.


Todos somos cidadãos. Moramos numa cidade.


Digo isto, em primeiro lugar, porque este Centro de Ensino – a Faculdade Santa Marta de Administração e Pedagogia e o Centro Educacional – nasceu do esforço, do trabalho e de grandes sacrifícios de um grupo de sanlourencianos. E seu crescimento e seu sucesso se devem a outros tantos sanlourencianos que se juntaram a nós. Juntos, todos, conseguimos fazer do sonho a realidade que se concretizou neste encontro solene de hoje.


Longe de São Lourenço desde meus 11 anos, quando fui estudar fora, nunca, em tempo algum, deixei minha cidade. Continuo cidadão sanlourenciano. Pelos mundos que passei, estudando ou exercendo minha atividade profissional, sempre tive São Lourenço nos meus objetivos. Ajudei viabilizar esta Faculdade, seu Reconhecimento e o Centro de Ensino de Primeiro e Segundo Grau. Aqui eu nasci, aqui tenho minha família e aqui plantei meus sonhos. São Lourenço é parte de mim. Tenho consciência que, construindo minha cidade, ai sim, estarei construindo meu Estado e engrandecendo o Brasil.


Falamos de sonhos. É bom que continuemos a sonhar juntos.


Vamos imaginar que vai abrir aquela porta ali e entrar o primeiro professor deste País. O primeiro fundador de colégios do Brasil. Vamos abrir esta porta, com todas as reverências, para o Padre José de Anchieta. E aqui no nosso meio, vendo as autoridades deste município, vendo esta nova escola, vendo tantos profissionais do ensino, tantas famílias e vendo estes novos administradores de empresa, o que é que o primeiro Mestre brasileiro iria nos dizer? Talvez nos perguntasse:


– O que é que vocês fizeram da Educação que eu comecei há 400 anos?


– Como é que vocês continuaram nosso trabalho, meu e de meus irmãos jesuítas, o Padre Manoel da Nóbrega e tantos outros?


– Vocês estão honrando nossa memória? Vocês estão cumprindo o dever de educar todos os filhos desta Terra, de não deixar um só sem ler, sem escrever, sem aprender, sem saber?

Padre José de Anchieta viveu há quatro séculos.


Chegou de Portugal em julho de 1553, com 19 anos. Ele nasceu em Tenerife, nas Ilhas Canárias, que então pertenciam a Portugal e hoje pertencem à Espanha. No Brasil, viveu só pela Educação. Morreu em julho de 1597, no Espírito Santo. É até bom lembrar para os nossos professores. No ano que vem fazem exatamente quatro séculos de sua morte.


E o que nos legou Padre Anchieta?


Nos legou a semente da Educação, nos legou os primeiros colégios brasileiros, nos deixou livros e nos deixou – pouca gente sabe – até uma peça de teatro trilingüe – em latim, espanhol e português – dedicada – sabe a quem? Ao nosso padroeiro São Lourenço.
Pois bem, quatrocentos anos depois dele, ainda temos 30 milhões de analfabetos, ou seja, 20% da população com 15 anos, ou mais, segundo o IBGE, não sabem ler nem escrever.


Somente 37% dos jovens brasileiros, entre 12 e 17 anos, estão recebendo educação secundária. No Chile essa percentagem é de 72%. E na Coréia, mais de 90%.


Portanto, na Educação, ainda não merecemos nem medalha de bronze.


Esta é nossa primeira festa. Formatura da primeira turma de nossa Faculdade Santa Marta de Administração.


Como Presidente da Sociedade Mantenedora Santa Marta posso dizer com segurança que estamos fazendo nossa parte neste imenso e insubstituível mutirão nacional que precisa ser a educação e o ensino no Brasil.


Nossa luta aqui é pela medalha de ouro.


Do Paraninfo, José Maria Alves Ribeiro; do Patrono, professor Francisco Pereira da Silva; e do colega Orador, Ubirajara de Castro Motta, vocês vão ouvir as lições deste dia, vão ter a alegria, a emoção e curtir a vitória de terem chegado até aqui.


Queria, com muito orgulho pelo que aqui realizamos e com uma grande satisfação por ver os frutos de tantos anos de trabalho, deixar com cada um de vocês o meu abraço e o abraço especial de minha esposa Regina, de meu irmão João Vitor Gorgulho, vice-presidente da Sociedade Educacional Santa Marta, e de sua esposa Jovelina Cabral Gorgulho.


Não posso deixar de falar de meus pais Amélia e Miguel Gorgulho. Por vários motivos, mas um muito especial. Da mesma forma que meu pai acolheu as crianças de São Lourenço na Casa dos Meninos, foi ele quem primeiro acolheu a nós e a vocês, caros formandos e professores, cedendo seu prédio na rua Olavo Gomes Pinto, onde funcionou os primeiros anos desta Faculdade.


O grande jornalista e escritor inglês Chesterton disse que “a educação é a alma de um povo passando de geração a geração”. Por isso, por trabalhar com a alma e o cérebro, com a vida e com o amanhã, educar é a mais difícil das tarefas. Mas também é a mais gratificante, a mais iluminada e a mais próxima de Deus.


No dia em que deixou a Presidência dos Estados Unidos, perguntaram a Lindon Johnson se aquela tinha sido a tarefa mais difícil de sua vida.


Não, respondeu ele. A mais difícil foi educar minhas filhas.


É justamente por isto, caros formandos, que é tão fácil ver o brilho nos olhos dos mestres de vocês. É a luz de vitória, porque eles sabem que estão, e jamais sairão, de cada um dos diplomas que vocês vão receber. Todos nós aqui já tivemos nossos professores e nos formamos um dia. Os nossos professores entraram na nossa vida e nos nossos corações. E não sairão jamais. Até hoje tenho dentro de mim os primeiros ensinamentos que recebi no antigo Colégio Santa Úrsula, de dona Eunice e dona Maria da Penha Sacramento. Elas fizeram e fazem parte de minha vida.


Aprendi com dona Maria da Penha que educar, ensinar, sempre foi o destino, a missão dos deuses, dos santos e dos grandes líderes da Humanidade.


O que é que Jesus fazia à beira dos mares da Judéia, do Lago de Tiberíades?


– Ensinava.


Como os Apóstolos o chamavam?


– Mestre!


O que é que disse aos Apóstolos quando os mandou mundo a fora?
– Ide e Ensinai…


O que é que eles fizeram para implantar a Igreja dentro do Império Romano?


– Pregaram e ensinaram…


Como é que os gregos criaram a filosofia, a cultura e a civilização ocidental?


– Ensinando…


Sócrates, Platão, Aristóteles foram, sobretudo, professores.


A história, meus amigos, é um catálogo, é uma crônica de professores.


O Brasil nasceu nas aulas de Anchieta, de Manuel da Nóbrega, de Antônio Vieira – professores.


O pai da China foi um professor de sabedorias, Confúcio.


Ghandi libertou a Índia, como professor da Paz.


George Washington, Thomas Jefferson, Lincoln, Benjamim Franklin – os construtores do país mais rico do mundo, os Estados Unidos, foram sobretudo professores de sua gente.


Churchill salvou a Inglaterra ensinando a resistência com “sangue, suor e lágrimas”.


E deixo aqui, com vocês, na abertura desta bela e histórica noite, a lição de uma fábula oriental.


Em um açude, à beira de um rio, viviam três peixes. Passaram por ali pescadores que os viram e foram buscar suas linhas e anzóis.


Um peixe firme, esperto e decidido, tinha estudado bem o açude e aprendeu que ele desembocava no rio. Fugiu e foi viver longe.


O segundo peixe nadava numa boa. Não queria saber de esforço. Demorou a tomar uma decisão. Mas quando os pescadores chegaram, não se desesperou, fingiu de morto, boiou de costas sobre a água e foi cair no rio.


O terceiro peixe não queria saber de nada. Mas quando viu o perigo, passou a dar voltas alucinadamente de um lado para outro, até que foi apanhado.


Eram três: um, decidido, ganhou a vida. Outro, medroso, se safou. E o terceiro, preguiçoso, já era.


Na vida, caros formandos, é preciso saber lançar-se ao rio, mesmo, às vezes, com medo.


A vida vale pelo aprender e o viver.

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