Gente do Meio

Afonso Figueiredo – Andarilho das trilhas desconhecidas

Silvestre Gorgulho

“Parece absurdo que em meio a grande efervescência do movimento pela preservação da natureza, do aumento do número de entidades ambientalistas e em plena discussão mundial sobre a questão do meio ambiente e do desenvolvimento, alguém apresente uma pesquisa, em nível de Mestrado, com o seguinte título: O Meio Ambiente Prejudicou a Gente…“.

É com essa perplexidade inquieta e autocrítica, sempre alicerçada na transparência de intenções que o educador; químico e ambientalista Luiz Afonso Vaz de Figueiredo dá início à sua tese, que se propõe fazer um trabalho de pesquisa-ação para remediar o discurso e oferecer alternativas que melhorem a qualidade de vida da população do Alto Vale do Ribeira, em são Paulo. Ainda este ano, Afonso, como gosta de ser chamado, pretende defender sua pesquisa, na Faculdade de Educação da Unicamp. Como poucos, sabe impregnar o espírito acadêmico com polêmica e sensibilização. Daqueles que segue a risca a intuição, Afonso registra as “mensagens” de sua voz interior nas linhas de uma poesia delicada, mas de sentido intenso, que quer tocar as pessoas no que elas têm de mais transformador: “Flui um rio manso dentro de teu interior que libera a imaginação e extasia o observador atento”.

A peregrinação desse mineiro de 35 anos pela estrada que leva o ser humano a entender o meio em que vive e com ele estabelecer uma relação de respeito e cooperação, começou em 1980. De lá para cá, Afonso não parou de ampliar seu espaço de atuação e reflexão.

Foi sócio-fundador da S.0.S. Mata Atlântica, criou o Grupo de Estudos Ambientais da Serra do Mar, Gesmar; coordenou eventos e deu palestras em incontáveis seminários e congressos das áreas de educação e meio ambiente. Afonso também participou da criação da Rede de Educação Ambiental de São Paulo e coordena um projeto ambicioso na Sociedade Brasileira de Espeleologia: está preparando um livro que vai resgatar mais de três séculos de atividades em cavernas de todo o país. Na SBE ainda desenvolve trabalhos de Educação Ambiental com populações tradicionais e manejo turísticos de cavernas. E, tem mais. Hoje ele é o coordenador de um curso pioneiro de Educação Ambiental, na pós graduação da Fundação Santo André, na região do ABC paulista, onde desenvolve inúmeras técnicas alternativas para a formação de profissionais da área de educação e toca, com voluntários, o programa de monitoramento da qualidade ambiental da represa Billings.

“Ao longo de minha experiência profissional tenho percebido uma grande confusão causada pelo uso excessivo dessa denominação: Educação Ambiental”, diz Afonso. “Em nome dessa tal Educação Ambiental tem-se cometido várias atrocidades pedagógicas, distanciando a discussão de algumas questões básicas: que concepção de educação se está falando e se está propondo? Em que contexto esse processo educativo ocorre?”, provoca.
Para ele, o que se observa nesse cenário é um discurso que caminha bastante truncado e, muitas vezes, de forma incorreta. “A adjetivação ambiental acrescida ao termo educação, acaba apenas mascarando um processo bastante complexo, levando a não se repensar a educação e os seus métodos como um todo”, afirma.

A nova Constituição brasileira, no título VIII capítulo VI – Do Meio Ambiente coloca como incumbência do poder público “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Afonso não se contém: “A Constituição Federal não acena nenhum caminho para viabilizar ou assegurar o que está proposto nesse item, deixando margem para inúmeras controvérsias e simplismos, tais como a criação de mais uma matéria no currículo escolar”.

Afonso ainda chama atenção para outro aspecto. “Na maioria das vezes que se propõe um projeto de Educaçao Ambiental para as comunidades próximas às áreas de preservação, ou qualquer outra área sujeita a esses projetos, a proposta aparece como um “remédio”, que se deve dar a essas comunidades de forma a “curar” o distanciamento delas com o seu meio ambiente. Essa postura, bastante comum, é guiada por uma visão centralizadora, que confere ao técnico ou pesquisador o poder de ser o dono da verdade. E, o pior é que esse tipo de atitude tem se multiplicado nos meios onde estes projetos estão sendo elaborados”, desabafa.

Por suas propostas de trabalho construído em comunidade, em todo o seu suor e cansaço, sempre vinculando a educação popular às questões ambientais, sem perder de vista os altos e baixos da atividade de pesquisa, dos conflitos entre o excesso do poder de possuir um saber dominante e a sua negação completa, procurando daí tirar um meio termo que fortaleça a ação coletiva, Luiz Afonso Vaz de Figueiredo é Gente do Meio e recebe, com toda a justiça, a homenagem da equipe da Folha do Meio Ambiente.

 

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Liderança Sustentável na Era Digital: Perfis Inspiradores de Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez

Explorando as Jornadas Pessoais e Impactos Globais das Maiores Influenciadoras de Sustentabilidade Online

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Nos dias atuais, em que a conscientização ambiental se tornou uma prioridade para a humanidade, a presença de influenciadores desempenha um papel crucial na disseminação de práticas e estilos de vida sustentáveis. Entre esses líderes de opinião, três figuras se destacam de maneira excepcional por seu compromisso inabalável com a sustentabilidade: Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez. Em uma entrevista exclusiva concedida à revista Quem, no âmbito do projeto “Um Só Planeta”, essas influenciadoras compartilharam suas histórias pessoais e revelaram como se interessaram pelo tema e o aplicam em seu dia a dia.

Cristal Muniz: A Defensora Apaixonada da Vida Verde

Cristal Muniz, uma defensora apaixonada da vida verde e fundadora do movimento “Vida Sustentável para Todos”, revelou à Quem como sua infância no interior a despertou para a importância da preservação ambiental. “Crescer em um ambiente rural me ensinou a valorizar os recursos naturais e a entender a interdependência entre o homem e a natureza”, compartilhou Cristal. Sua jornada para se tornar uma influenciadora de sustentabilidade começou com pequenos passos em direção a uma vida mais ecoconsciente. Por meio de suas plataformas de mídia social, ela inspira milhões de seguidores a adotar práticas diárias que promovam um estilo de vida sustentável, desde o consumo consciente até a reciclagem e o apoio a iniciativas locais de preservação ambiental.

Marcela Rodrigues: A Visionária das Cidades Verdes do Futuro

Marcela Rodrigues, uma visionária no campo da urbanização sustentável e cofundadora da ONG “Cidades Verdes do Futuro”, revelou em sua entrevista como sua formação em arquitetura a impulsionou a explorar soluções criativas para tornar as cidades mais amigas do meio ambiente. “A arquitetura oferece uma oportunidade ímpar de repensar a maneira como construímos nossas comunidades, considerando os impactos ambientais a longo prazo”, compartilhou Marcela. Sua missão é promover a criação de espaços urbanos que sejam ecologicamente responsáveis, energeticamente eficientes e socialmente inclusivos. Por meio de campanhas educacionais e projetos de reurbanização, ela espera catalisar uma mudança positiva nas cidades do mundo todo, abrindo caminho para um futuro mais sustentável.

Fe Cortez: A Defensora Incansável da Moda Ética e Sustentável

Fe Cortez, uma defensora incansável da moda ética e sustentável e criadora da plataforma “Moda Consciente”, revelou como sua paixão pela moda a levou a questionar as práticas insustentáveis da indústria. “A moda tem um impacto enorme no meio ambiente e nas comunidades produtoras em todo o mundo. Precisamos repensar radicalmente a maneira como consumimos e produzimos roupas”, afirmou Fe. Ela usa sua plataforma online para educar os consumidores sobre as práticas de produção sustentável e promover marcas que priorizam a transparência e a ética em toda a cadeia de suprimentos. Seu objetivo é criar uma consciência coletiva em torno da importância de optar por opções de moda responsáveis, que não comprometam o bem-estar humano e ambiental.

Essas três influenciadoras exemplares, Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez, estão moldando o cenário da sustentabilidade digital e inspirando uma nova geração de defensores do meio ambiente. Seus esforços coletivos são um lembrete poderoso de que a preservação do nosso planeta é responsabilidade de todos, e cada ação individual pode contribuir para um futuro mais sustentável e próspero para as gerações vindouras.

 

 

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ADEUS, ORLANDO BRITO

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O céu de Brasília amanheceu lindo, azul e com muita luz.
Mas nossos corações acordaram tristes, meio sem rumo e repassando um filme de saudades ao relembrar a figura serena, solidária, tranquila, genial e amiga de Orlando Brito.
Que você vá em paz, amigo Britinho.
Seu legado, sua história e seu rico acervo fotográfico e editorial sobre a História recente do Brasil e de Brasília está eternizado.
Nossa mesa dos almoços das sextas-feiras, que já teve um vazio imenso com a despedida do arquiteto Carlos Magalhães da Silveira, em junho do ano passado, agora sofre um outro esvaziamento pela passagem de Orlando Brito.
Num espaço de semana, o fotojornalismo brasileiro fica mais pobre, meio sem graça e nossos olhares reclamam as imagens fantásticas que brotavam das lentes Orlando Brito e Dida Sampaio.
Muito triste!
Orlando deixou livros, causos e histórias. Seu mais recente livro é CORPO E ALMA. Deixou ainda: PERFIL DO PODER (1982), SENHORAS E SENHORES (1992), PODER, GLÓRIA E SOLIDÃO (2002) e ILUMINADA CAPITAL (2003).
Adeus, Orlando Brito. Siga em paz!
FOTO:
Da direita para a esquerda:
Orlando Brito, Paulo Castelo Branco, Silvestre Gorgulho, Lucas Antunes, Cláudio Gontijo, Carlos Magalhães da Silveira, Denise Rothemburg, Reginaldo Oscar de Castro e Austen Branco. Fora da foto, porque chegou mais tarde, a secretária Helvia Paranaguá.
Pode ser uma imagem de 6 pessoas, pessoas sentadas e ao ar livre
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O LEGADO DE ELISEU ALVES

COMPLETA 91 ANOS EM 2022

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Eliseu Roberto de Andrade Alves, que nesta segunda-feira, 27 de dezembro, completa 91 anos, é daqueles brasileiros que tem uma obra muito mais conhecida do que a si próprio.
Sua obra mais conhecida é ter participado da criação da EMBRAPA, onde realizou o sonho de qualquer instituição de pesquisa: mandar para as melhores universidades do mundo 2.500 jovens agrônomos, economistas rurais e veterinários recém formados aqui no Brasil e trazê-los de volta com títulos de Mestrado e P.h.D.
Mas Eliseu Alves deixa outros legados: ele criou o conceito do distrito de irrigação, pelo qual os projetos públicos passaram a ser administrados pelos irrigantes. Como presidente da Codevasf (Governo José Sarney) concebeu e implantou o programa de produção e exportação de frutas em Petrolina/Juazeiro e negociou empréstimos no exterior que permitiram uma expansão de mais de um milhão de hectares de área irrigada.
FRASES DO ELISEU ALVES
– “A Ciência liberta o homem da ignorância, da pobreza, da doença e da dor”.
– “Cercear o progresso do conhecimento é um erro lamentável, além de pouco prático: sempre haverá algum país onde a liberdade do cientista é respeitada, e esse país vai pular à frente dos demais na produção de riqueza e do bem estar de seu povo”.
– “O país que não investe em Ciência, condena seu povo a sobreviver com o suor de seu rosto. A Ciência democratiza e a tecnologia liberta”.
– “A Revolução Verde brasileira na década de setenta sustenta hoje o crescimento econômico do Brasil e coloca o País na rota dos grandes exportadores mundiais de grãos”.
– “Fazer ciência é apenas mais uma maneira de exercitar a fé. Nunca vi na ciência qualquer possibilidade de negação da fé. Entendo que investigar os fenômenos físicos e sociais nada mais é que conhecer e revelar os mistérios do fazer de Deus”.
Dr ELISEU ALVES, seus 91 anos devem ser celebrados com alegria, orgulho e como uma benção para o Brasil.
Abraço,
Silvestre Gorgulho
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