Janela da Corte

AUGUSTO GUIMARÃES FILHO

guimaraes.jpg

Augusto
Guimarães Filho, 85 anos, foi braço
direito de Lúcio Costa para todos os
trabalhos de urbanismo, desde 1940. Os pioneiros
de Brasília o conhecem e admiram. Os
técnicos do governo, engenheiros e
arquitetos também o conhecem e admiram.
Mas a nova geração, a grande
parte da população do Distrito
Federal, talvez, não tenha nem ouvido
falar em Augusto Guimarães Filho. Mas
quem, afinal, é o dr. Augusto Guimarães?
Eu o conheci pelo próprio Lúcio
Costa. Foi em 1996, quando entrevistei o nosso
urbanista maior. O único nome que o
criador de Brasília falou, espontaneamente,
e fez questão de homenagear foi o de
Augusto Guimarães Filho. Sabem por
quê? Porque o engenheiro Augusto Guimarães
foi seu fiel e verdadeiro anjo da guarda.
E muito especialmente durante a construção
de Brasília.

Augusto Guimarães Filho foi chefe da
Divisão de Urbanismo da Novacap, por
indicação de Lúcio Costa.
Foi ele quem desenvolveu o Plano Piloto, definiu
para que lado Brasília ficaria em relação
à nascente do sol e bateu o martelo
da Estaca Zero, a famosa cruz formada pelos
Eixos Monumental e Rodoviário, ponto
de partida dos trabalhos para construção
de Brasília. E nesse trabalho ele ficou
até 1968. Ele tem dois filhos: o economista
Eduardo Augusto Guimarães e o engenheiro
Luis Fernando Guimarães.

Lúcio Costa foi seu grande mestre.
Trabalhando com ele, aprendeu o ofício
de arquiteto. Participou de muitos projetos
de Lúcio Costa, inclusive o do Parque
Guinle, um conjunto de três prédios
residenciais, no Rio, tombado pelo IPHAN.
Brasília acaba de fazer 42 anos e ainda
hoje Augusto Guimarães Filho lembra
a beleza, o significado e a força do
projeto que nasceu do gesto primário
de quem assinala o lugar ou dele toma posse:
o sinal da Cruz formado pelos dois eixos.
Reclama pela não construção
de Galerias de Pedestres junto ao Metrô
e pela não conclusão da plataforma
de concreto no Setor Bancário Sul,
"uma obra que não sei até
quanto vai ficar inacabada".

"Não há como esquecer a
primeira e grande lição que
recebi de Juscelino Kubitschek" lembra
ele: "Guimarães, faça o
melhor. Faça sempre o melhor".


De vez em quando, Augusto Guimarães
Filho vem a Brasília, pois continua
ativo nos seus 85 anos. "Acompanho a
História de hoje e estou lendo a História
dos séculos passados no que diz respeito
à mudança da Capital. E estou
escrevendo alguma coisa sobre a saga da construção
de Brasília", diz. Como ele continua
atento ao recado de JK, com certeza, deve
estar escrevendo o melhor.

1 – Qual o argumento
mais burro que o senhor ouviu contra a construção
de Brasília?


Muitos afirmavam que Brasília seria
uma cidade natimorta ou, pelo menos, uma pequena
cidade habitada por desterrados. Por duas
razões: primeiro porque o Planalto
Central era inóspito, perdido no tempo
e no espaço; e, segundo, porque ninguém
queria abandonar as oportunidades oferecidas
pelas cidades existentes para lançar-se
à aventura de viver num lugar longínquo.
Eles não adivinhavam que os problemas
da nova capital estariam exatamente no oposto.
Ao invés dos 500 mil habitantes, número
já impossível para eles, hoje
a população passou dos 2 milhões,
atestando o vigor da região.

2 – Qual a grande lembrança
dos tempos da construção?


Guardo a lembrança do orgulho e da
alegria de estar participando da tarefa de
erguer uma cidade. E que cidade! Sempre tive
a clara noção do privilégio
que me foi dado por Lúcio Costa. Não
posso deixar de me referir à emoção
de ver as colunas do Palácio da Alvorada
surgindo do chão poeirento. Ver a terraplanagem
da Praça dos 3 Poderes, depois de ter
desenhado cada uma de suas curvas de nível.
Desenhado dentro das condições
que tínhamos naquela época.

3 – Brasília
é hoje Patrimônio da Humanidade.
E tudo isso se deve a uma santíssima
trindade: JK, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Uma frase para cada um.


Preferiria que a referência fosse aos
3 Mosqueteiros, por que todos sabem que eram
4 e, assim, poderia incluir Israel Pinheiro.
Brasília não seria o que é,
nem teria sido feita ao tempo que foi, sem
a sua corajosa e firme direção.
Um grande chefe. Sobre JK não direi
uma frase, apenas repetirei o que ouvi dele,
quando o procurei, certa vez, para lhe pedir
uma orientação: "Guimarães,
faça o melhor. Faça sempre o
melhor".

Lúcio Costa e Niemeyer. Em lugar de
duas frases, duas datas: 1936, Lúcio
Costa é convidado para fazer o projeto
do edifício sede do então Ministério
da Educação e Saúde Pública,
no Rio. Aceita o convite, estende-o a um pequeno
grupo de arquitetos, dentre os quais, Oscar
Niemeyer. Foi o marco inicial da Arquitetura
Brasileira Contemporânea. Decorridos
21 anos, 1957, Lúcio Costa e Oscar
Niemeyer, novamente juntos, fazem o projeto
não de um prédio, mas de uma
cidade inteira. Brasília, consagração
do movimento renovador da arquitetura mundial.

4 – O que Brasília
tem que nenhuma outra cidade do mundo tem?


Dentre as várias características,
destaco uma, não só pelo seu
valor próprio, como também por
sabê-la ameaçada, no momento.
Refiro-me às Superquadras e ao agenciamento
delas ao longo do Eixo Rodoviário.
Talvez seja essa a maior contribuição
de Lúcio Costa ao urbanismo contemporâneo.
Não estou fazendo comparação
com os demais elementos da cidade. Os outros
elementos são específicos de
uma capital, enquanto a Superquadra é
uma solução válida para
qualquer cidade. É uma proposta de
morar bem.

5 – Brasília
está feita. Tem quem goste, a maioria,
e tem quem não goste. 42 anos depois,há
algo a ser refeito? Tem algo a mudar?


Faria algumas correções dos
desvios de rota, acontecidos ao longo da existência
da Capital, tendo como carta de navegação
o Relatório do Plano Piloto. Durante
meu trabalho, adquiri o bom hábito
de consultá-lo sempre.

Há algum tempo tive a prova de sua
atualidade. Juntamente com Maria Elisa Costa
e Sérgio Porto, ao examinarmos o traçado
do Metrô na área residencial
de Brasília, percebemos o conflito
com a implantação urbana e propusemos
o traçado que veio a ser adotado. Nesta
compatibilização, o novo meio
de transporte foi largamente beneficiado.
Basta dizer que as duas linhas foram reduzidas
a uma única e que o difícil
acesso dos trens à estação
central passou a ser feito sem as dificuldades
técnicas que estavam enfrentando. Bastou
confirmar o Eixo Rodoviário como tronco
principal do transporte urbano.

6 – E foram feitas
novas propostas?


Olha, o Plano Piloto oferece possibilidades
que devem ser exploradas e não podem
ser negligenciadas. Com base nele, fizemos
sim algumas propostas.

Para a área central: entregamos ao
GDF um estudo abrangente a partir do estado
em que se encontra a área. Para o Eixo
Rodoviário: ao propor o novo traçado
do Metrô, propusemos passagens de pedestre,
galerias de pedestres, compatíveis
com o tombamento de Brasília, junto
às estações do Metrô,
ao longo do Eixo. Elas ligam os lados Leste
e Oeste da área residencial. São
passagens seguras, cuja necessidade antecede
à construção do Metrô,
mas que, com ele, passou a ser absolutamente
indispensáveis. Não se pode
conceber uma estação de Metrô,
com travessia em nível de uma via expressa,
de tráfego de alta velocidade, como
é o Eixão. Espero que as passagens
de pedestre, com suas lojas e comodidades
urbanas, sejam inauguradas junto com o Metrô.
Agora um dado importante: acresce, ainda,
que as passagens de pedestres viriam ao encontro
de um anseio de expansão do comércio
local, sem comprometer áreas que não
têm vocação para esta
atividade.

7 – Como o senhor vê
as invasões do Comércio nas
Entrequadras?


Numa cidade planejada, os espaços vazios,
quando não tem um fim claramente determinado,
tem a finalidade de permanecerem como estão.
E é desta maneira que se compõe
o quadro urbano. Não estão esperando
que alguém lhes confira outra finalidade.
Se aberto um precedente, será difícil
conter a invasão das áreas não
construídas. Nunca é demais
lembrar que Brasília está tombada
e o tombamento contempla a permanência
das áreas como foram planejadas.

8 – Como o senhor vê
a proibição do Senado de se
fazer festas a em frente ao Congresso?


Aplaudo a atitude do Senado. Brasília,
Capital da República e Monumento da
Humanidade, tem espaços simbólicos
que devem apresentar-se, sempre, a qualquer
momento, com dignidade, com compostura. Aliás,
a observância desta condição
deve estar convenientemente regulamentada
e sujeita à fiscalização
de um órgão público específico.
Isto porque pode ocorrer que o ocupante do
Monumento não possua a sensibilidade
ou a autoridade do Senado. Quando falo em
Monumento, incluo o seu entorno, que dele
faz parte, e merece os mesmos cuidados.

9 – Mais do que nunca
o brasiliense se divide em cabeça,
tronco e rodas. E hoje vivendo um engarrafamento
infernal. Dá para repensar o trânsito
de Brasília?


O brasiliense composto de cabeça, tronco
e roda continua sendo uma minoria. A maioria
é composta de cabeça, tronco
e pernas, visto que precisa delas em vários
momentos de sua vida. Eles são irremediavelmente
pedestres. Entendo ser necessário repensar
o trânsito, repensando o Sistema Viário,
como constituído por dois sub-sistemas
complementares, o Sistema de Tráfego
de Veículos e o Sistema Viário
de Pedestres. Talvez devesse falar em três
sub-sistemas, acrescentando o Sistema de Estacionamento.
Pensados em conjunto é possível
minimizar os conflitos.

10 – Uma curiosidade:
como se marcou o ponto inicial de construção.
A estaca zero, a cruz?


Brasília foi concebida com dois eixos:
o Rodoviário e o Monumental. Hoje,
na era do computador, seria fácil fazer
o projeto da cidade, com suas retas, curvas
e cotas altimétricas. Mas há
42 anos, foi tudo feito na ponta do lápis.
Mas garanto que o computador não daria
maior precisão aos elementos do projeto.
A Estaca Zero resultou de um exame cuidadoso
e demorado nas plantas disponíveis
de maneira a permitir o traçado com
menor impacto na topografia do Plano.

11 – Dê o nome
dos cinco brasileiros que o senhor mais admira.


Não é fácil. Mas qualquer
que seja a lista que eu fizer, começará
sempre pelo nome de Lúcio Costa.

12 – Fale um pouco
das coisas que o senhor anda pesquisando e
escrevendo?


Estou relendo a memória descritiva
que é o Relatório do Plano do
doutor Lúcio Costa. Em cada releitura
fico encantado com a descrição.
Não tem uma só palavra sobrando.
Não tem nenhuma palavra de graça.
Cada sinal, cada letra do doutor Lúcio
na memória descritiva tem seu significado,
tem o seu valor. É a sabedoria do mestre.
Gosto de lembrar que um texto ou um livro
vão bem quando começam bem.
E o Plano do doutor Lúcio começou
antológicamente bem. Veja que fantástico:
– Nasceu do gesto primário de quem
assinala o lugar ou dele toma posse: dois
eixos cruzando-se em ângulo reto, ou
seja, o próprio sinal da Cruz. Brasília
e sua descrição não podiam
começar melhor!

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Janela da Corte

ARLETE SAMPAIO

Publicado

em

Artele

Por nascimento, ela é baiana de Itajiba;
Por educação secundária,
ela é mineira de Belo Horizonte; Pela
universidade e pela política, ela é
brasiliense da gema. Arlete Sampaio, vice-governadora
do DF, médica-sanitarista, uma das
fundadoras da CUT-DF, com profunda militância
sindical, mora em Brasília há
26 anos. Duas coisas me chamaram atenção
na conversa com a vice-governadora e no acompanhamento
diário que faço do Governo petista.
Primeiro: Arlete veio da ala mais radical
do partido, uma trotskista de carteirinha,
e hoje é o equilíbrio do partido
e do Governo Cristóvam. Segundo: neste
caleidoscópio de críticas a
membros do governo petista, neste emaranhado
de brigas e disputas, a vice-governadora –
queiram ou não – é inatacável.
Da linha trotskista de ontem ela virou o ponto
de unidade de hoje. É por isso que
vale a pena saber um pouco mais desta mulher
que, no difícil cargo de vice, é
– por assim dizer – uma unanimidade de seriedade
e coerência. Uma médica que está
sempre pronta a colocar mercúrio-cromo
nas feridas abertas por companheiros do partido
e do governo. Arlete Sampaio abriu a Janela
da Corte deste domingo e mostrou que tanto
a baianice como a mineirice ficaram lá
para trás. Agora a vice é uma
candanga legítima que não está
disposta a entregar, de graça, o espaço
e o respeito que conquistou.

1 – O que mais a incomoda
na política?

A predominância dos projetos individuais
sobre os projetos coletivos.

2 – Ser governo lhe
agrada?

Sim, no sentido de poder realizar os nossos
ideais.

3 – Em três anos
de governo do PT, no difícil papel
de vice-governadora, quais foram os três
momentos mais gratificantes?

A participação nas plenárias
do Orçamento Participativo. As inaugurações
de obras que mudam para melhor a qualidade
de vida da população. A visualização
do crescimento da consciência-cidadã,
como no programa Paz no Trânsito.

4 – E quais foram os
três momentos mais amargos?

As injustas críticas feitas ao GDF,
principalmente no primeiro ano. As incompreensões
mútuas entre o GDF e o Movimento Sindical.
As críticas amargas feitas por companheiros
que participaram do Governo.

5 – Há algum
desconforto em ser vice?

Vice, como se diz, é vice. Há
um certo desconforto por nem sempre poder
imprimir um estilo próprio de trabalho.

6 – O Lula não
queria sair candidato à Presidência.
E saiu. A senhora não gostaria de ser
novamente vice. Vai ser?

Tudo depende da discussão que estamos
fazendo no âmbito interno do PT e depois
com os Partidos da Frente. Se for necessário,
repito a dose.

7 – Como médica-sanitarista,
a saúde pública brasileira tem
jeito?

Claro que tem. Depende apenas de vontade política
e de profundo compromisso com o povo.

8 – Onde a senhora mais
se realizou: coordenando os programas de saúde
pública do DF, na direção
no PT-DF ou no cargo de vice-governadora?

Pela amplitude das ações das
quais tenho participado é, sem dúvida,
mais gratificante ser vice-governadora.

9 – Como vice-governadora
a senhora coordena as Administrações
Regionais e órgãos do GDF; implantou
o Programa Integrado de Combate ao Uso e Abuso
de Drogas no DF; coordena o Orçamento
Participativo; e coordena as bancadas petistas
na Câmara Distrital e Federal. Governar
é mais fácil do que se pensava?

Primeiro, uma correção: não
coordeno as bancadas. Quem coordena é
o Governador. E, neste ano, o melhor trabalho
realizado foi no planejamento político-financeiro
do governo e na coordenação
na área de habitação.
Agora vamos à resposta: é sempre
fácil fazer qualquer coisa, quando
fazemos com boas intenções,
com clareza do que queremos e com firmeza
de posições.

10 – Se o Governo petista
começasse hoje e fazendo um replay
do que passou: qual o principal erro que a
senhora tentaria evitar?

Cometemos alguns erros. Talvez o maior tenha
sido em não divulgar, com dados e fatos,
a situação caótica em
que encontramos o Distrito Federal.

11 – Sinceramente, qual
o grande mérito do Governo Cristóvam
Buarque?

Ser democrático, popular e honesto.

12 – Delfin Neto disse
que Lula será mais uma vez sparring
eleitoral. Isso tem sentido?

Claro que não. Ele sabe bem das incertezas
do momento político brasileiro e sabe
que Lula tem boas chances eleitorais e pode
bem nocautear FHC.

13 – Como a senhora
vê a saída de Luiza Erundina
e Vitor Buaiz do PT: Uma Questão de
acomodação.

foram tarde. O PT tem regra para ser cumprida.
Grande perda. Estavam no ninho errado.
Embora seja uma perda, o PT tem regras para
serem cumpridas.

14 – Dê o nome
de três brasileiros vivos que a senhora
mais admira.

Luiz Inácio Lula da Silva, pela inteligência
excepcional; Chico Buarque de Holanda, pela
sensibilidade quase feminina; e Fernanda Montenegro,
que aliás é minha xará,
por seu talento.

15 – Qual destas três
máximas está mais próxima
da verdade:

· Exatamente no momento em que você
pensa que vai conseguir juntar duas extremidades,
alguém as muda de lugar.
· Nunca ande por caminhos já
traçados. No máximo eles vão
levar a lugares onde outros já estiveram.
· Atrás de um grande homem tem
sempre uma grande mulher.
Nenhuma delas faz minha cabeça.

16 – O PT tem que mudar
para crescer ou tem que crescer para mudar
ou tem que continuar como está?

Nenhuma das formulações expressam
as necessidades do PT, mas poderia admitir
que “tem que crescer para mudar”,
na medida em que crescendo expressaria melhor
o sentimento da nossa população.

17 – O Partido aceitará
contribuição da iniciativa privada
para a próxima campanha eleitoral?

No último encontro, o partido decidiu
aprovar as contribuições de
Pessoas Jurídicas, mas dentro da mais
absoluta transparência.

21/12/1997
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Janela da Corte

PAULO CASTELO BRANCO

Publicado

em

Castelo Branco

PAULO CASTELO BRANCO é um advogado brasiliense, com jeito “boa praça” dos cariocas e nascido em Parnaíba, Piauí.

É autor de “Brasília 2.030”, um ensaio que mostra o caminho de destruição que Brasília vai percorrer até que alcance o momento da ressurreição. Está preparando seu segundo livro: “A Morte de JK”, pela Editora Diadorim, do Rio, onde, numa mistura de realidade e ficção, dá uma visão ampla à respeito dos mistérios que envolvem a morte de Juscelino, numa trama baseada no exame do processo que apurou a possível eliminação de JK em atentado. Casado com Vera, pai de quatro filhos, tem dois netos, PCB leva a vida advogando, escrevendo artigos e, como presidente da Comissão de Ética da OAB-DF, procurando defender os interesses dos cidadãos e de Brasília. Quando o assunto é o Distrito Federal – seus políticos e seus problemas – a conversa com Paulo Castelo Branco não tem fim e suas posições, sempre corretas, são defendidas com o rigor dos honestos. Para falar sobre Brasília, os brasilienses, pena de morte, Governo e a justiça brasileira, Paulo Castelo Branco abre hoje a “Janela da Corte” e, data vênia, não deixa de reclamar dos governantes que ainda não perceberam que dirigem uma obra de arte, que por si só bastaria para transformar o turismo da Capital na nossa grande indústria.

1 – Duas coisas que mais o incomodam em Brasília.
Primeiro a falta de interesse na preservação do Plano Piloto e, segundo, a sobra de interesse de alguns em explorar de todas as formas a nossa Capital.

2 – De 1 a 10, dê sua nota para essas personalidades:
Fernando Henrique – 7, como o prof. Gianotti que o conhece há 45 anos Cristovam Buarque – 5, pela Bolsa Escola, que esgotou a imaginação do PT Itamar Franco – 10, por ter assumido o Governo num momento crítico, de forma democrática e encaminhado a restruturação econômica com implantação
do Real e fazendo FHC seu sucessor.
Lula – 5, pelo passado de lutas.
Paulo Maluf – 5, pelas lutas do futuro, se tiver.
Senador Lauro Campos – 4, pelo brilhantismo da escolha de seu suplente.
Senador Arruda – 6, pelo seu desempenho político.
Senador Valmir Campelo – 5, por sua quase eleição para governador.
Joaquim Roriz – 7, por sua visão social aplicada inadequadamente no DF.
Arlete Sampaio – 4, por ser vice.
Luiz Estevão – 6, por seu desempenho político.
Wigberto Tartuce – 4, por suas composições.
Chico Vigilante – 3, por ser um dos Chicos.

3 – Como morador da Península dos Ministros: a ciclovia do Lago Sul veio para o bem ou para o mal.
Para o bem. O acesso às margens do Lago está consolidado e não se discute.

4 – Três nomes que sabem honrar o nome de Brasília?
O arquiteto Carlos Magalhães, o ex-governador José Aparecido de Oliveira e Ernesto Silva.

5 – A OAB tem, entre outras finalidades, o dever de defender a Constituição. Na próxima eleição da OAB, as chapas também não deveriam ter 20% de mulheres advogadas como nas eleições para cargos eletivos?
Sim. A participação das mulheres é crescente e, no futuro, espero que seja garantido os 20% para os homens.

6 – Caiu a qualidade de vida de Brasília. É resultado de um nivelamento por baixo ou uma tendência do País?
É resultado de uma política que busca tornar Brasília uma cidade como as outras. Brasília é Patrimônio da Humanidade e sua qualidade de vida está diretamente ligada à preservação do Plano Piloto.

7 – Bolsa Escola, Projeto Orla e DF Verde. O PT está sabendo administrar Brasília?
Não! Só se salva a Bolsa Escola.
O Projeto Orla é sonho e o DF Verde amarelou..

8 – Você fechou com a Editora Diadorim, do Rio, um livro sobre a morte de JK, que será lançado agora em março. Como “Brasília 2.030”, esse livro será mais ficção ou pretende provar, pela ciência de Deus e dos homens, quem eliminou Juscelino?
O livro é realidade e ficção.
No Brasília 2.030, a ficção está em transformação para a realidade. No “Morte de JK”, o real, como dizia Golbery, “ainda deverá demorar um pouco”.

9 – Sem autonomia econômica, sede dos 3 Poderes e do Corpo Diplomático, é correto que Brasília tenha autonomia política?
No final da Ditadura todos achávamos que a autonomia política era fundamental.
Hoje sou a favor da diminuição do DF de acordo com o projeto de emenda constitucional do senador Francisco Escórcio.

10 – A Justiça é a mesma para os pobres e para os ricos?
A lei é para pobres e ricos. A distribuição da Justiça nem sempre satisfaz a todos.

11 – A pena de morte é uma solução para o aumento da criminalidade ou uma reparação aos parentes das vítimas?
A pena de morte não é solução para nada. É a lei mais estúpida em qualquer país e coloca no mesmo nível a sociedade e o criminoso. Devemos exigir o cumprimento total das penas para os crimes hediondos e buscar a aplicação de penas alternativas cumuladas com elevadas sanções pecuniárias.

12 – A OAB se mete em tudo, o advogado pode exercer quase todas as profissões, hoje até para abrir uma firma se precisa de advogado. Esse é o País dos advogados?
A OAB é a entidade representativa dos advogados, legitimada constitucionalmente para assegurar o respeito à lei e aos direitos dos cidadãos, sendo essencial à administração da Justiça.
O país não é somente dos advogados, é de todos os diplomados, principalmente, da grande maioria não diplomada.

13 – Qual o pecado capital de Brasília?
Ser pequena demais para se sustentar economicamente e grande demais para ser mantida pela União, em prejuízo de outras unidades da Federação.

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Janela da Corte

“PACOTÃO”

Publicado

em

 

Charles "Chuck" Pretto selected to serve as District Governor 2022-23 | District 5340

Ele é muito mais estranho do que a vitória
de Antônio Carlos Magalhães no
Senado. Mais misterioso do que o veto do governador
Cristóvam Buarque à Fazenda
Santa Prisca. Muito mais esquisito do que
o Secretário de Turismo, Rodrigo Enrollemberg.
Mais temeroso do que o próprio Michel
Temer. E muitíssimo mais arredio a
entrevistas do que o deputado José
Genoíno. Todos os anos, no Carnaval,
um estranho, inusitado, misterioso e arredio
personagem aparece fugaz nas crônicas
de jornais, tevês e rádios de
Brasília. Jornalistas do mundo inteiro
fazem de tudo para conseguir dele um único
depoimento, uma única frase que seja.
E nada. Para os repórteres mais novos,
isso pode até valer uma promoção.
Para os experientes, quem sabe, um Prêmio
Esso. Quem for de Carnaval, já matou
a charada. Estamos falando, é claro,
de Charles Pretto, o ditador perpétuo
e vitalício da “Sociedade Armorial
Patafísica Rusticana – O Pacotão”,
o mais famoso e irreverente Bloco Carnavalesco
de Brasília, melhor dizendo, do Brasil.
O Pacotão comemora, este ano, 20 anos
de Carnaval, sempre na contramão da
avenida e da história, consolando os
fracos e reprimidos e aterrorizando os poderosos
de plantão…sejam eles os carrancudos
generais da falecida ditadura militar, príncipes
de carteirinha da sociologia ou os barbudos,
carecas e barrigudos petistas dos governos
democráticos e populares.
Recém chegado de Miami, onde deixou
seu cunhado vistoriando a reforma de seu barraco
em West Palm Beach, Charles Pretto concordou
em falar. Depois de mil subterfúgios,
concedeu essa entrevista inédita. Primeira
e única, garante ele. Evoluindo na
boquinha da garrafa, com revelações
destampadas sobre o poder, o PT, o FHC, o
prazer e, é claro, sobre Brasília
e o Pacotão, Charles Pretto não
está nem um pouquinho preocupado em
segurar o tcham. Abre a Janela da Corte deste
domingo de Carnaval e coloca seu tcham de
fora. Um horror!

1) O que o incomoda
mais:

Em Brasília: as gambiarras do Governo
do PT e o Principado do Palácio da
Alvorada.
No Governo do PT: a liderança do senador
José Roberto Arruda.
Na ARUC: a concorrência que fazem ao
meu Bloco
No Carnaval: o de sempre, a falta de quorum
do Congresso.

2) Qual foi a melhor
marcha do Pacotão?

Sem dúvida nenhuma, o Aiatolá,
de 1979. Aliás, ela não foi
apenas a melhor. Foi a única. Até
hoje o povo só sabe cantar “Ga-gá,
ga-gá, Geisel/ Você nos atolou
/E o Figueiredo também vai atolar/
Aiatolá, Aiatolá, venha nos
salvar / Que esse governo já ficou
gagá/ Ga-gá, ga-gá, Geisel…”

3) Três carnavalescos
de Brasília que sabem acontecer na
Sapucaí?

Antigamente era o Haroldo Meira, que foi Administrador
de Brasília, não gostava do
Carnaval da cidade e fugia na véspera
para desfilar na Mangueira. Hoje é
o Moa, que vai desfilar na ARUC no domingo,
pega um avião depois do desfile e na
segunda-feira desfila na Portela. Pena que
ele não queira mais saber do Pacotão.
O terceiro maior carnavalesco parece que este
ano vai dar o cano: Itamar Franco, o rei da
Sapucaí, porta-estandarte do Fusca
e topete de honra do Grêmio Recreativo
Unidos do Pão-de-Queijo.

4) A reeleição
foi um “pacotão”?

Ixe! Não passou de um “pacotinho”.
O príncipe Fernando II ainda tem muito
que aprender comigo. Pra que reeleição,
professor? Por que ele não faz como
eu, que sempre me declarei ditador perpétuo
e vitalício do meu Bloco? É
verdade que eu não tinha o Serjão
pra atrapalhar, nem o Maluf pra ajudar…
Tem nada não, um dia ele aprende. Se
o Toninho Perdura não lhe der a receita,
é só me procurar. Afinal de
contas, depois de quarta-feira, eu entro no
PLV (Plano de Licença Voluntária),
e vou gastar minha grana em Miami, num barraco
com privada de ouro que eu aluguei ao lado
da mansão do outro Fernando, o Primeiro.
Terei muito tempo livre.

5) Cristovão
rima com Estevão? Isso dá samba
ou atravessa na avenida?

Dá um sambão rasgado, com direito
a socos e caneladas. Dinheiro pra gravar o
CD não vai faltar. É só
pedir pra Odebrecht ou sacar a fundo perdido
nas sobras da “Operação
Uruguai”. Dá também frevo,
maracatu, salsa, merengue, bolero e samba-canção.
Quem sabe o mestre Jamelão não
topa gravar? O risco é que, com tanta
baixaria, vão acabar reinventando a
“dança da bundinha”…

6) E o que você
faz quando o Pacotão está de
recesso?

Bem, não consegui arrancar do “Duque
de Águas Claras”- Grão-Senhor
do Governo Democrático e Popular do
DF – um DAS compatível com as minhas
qualidades de estadista. Assim, não
me resta outra alternativa senão apelar
ao “Barão da Santa Prisca”
para conseguir uma boquinha como prefeito
biônico da “OKlândia”,
a nova cidade que vai nascer ali, desinteressadamente.
OK, deputado?

7) É verdade
que este ano você vai distribuir frango,
a âncora do Real, na concentração
do Pacotão?

Injustiça. Será frango com iogurte,
a mais nova receita do cardápio do
chef Malan. Será minha contribuição
para a estabilidade da moeda. Assim, quem
sabe, acabam com os estoques de frango e iogurte,
que ninguém agüenta mais, e eles
resolvem baixar o quilo do filé mignon
e o preço do passe do Ronaldinho.

8) O que você
acha do Joãozinho Trinta ter trocado
o Carnaval do Rio pelo de Brasília?

Uma questão de oportunidade. Pelo visto
ele descolou alguma boquinha com o “Duque
de Águas Claras”. O perigo é
ele aprender a fazer Carnaval com o pessoal
da ARUC, enlouquecer de vez e querer comprar
a Mocidade Independente do Gama. Ou então
ter um filho com a Marilena Chauí e
se candidatar a Secretário de Cultura
do Governo Democrático e Popular. Já
pensou!

9) Qual a virtude capital
do Pacotão?

Não ter capital. Infelizmente…Se
tivesse, quem sabe, meu cunhado poderia terminar
o meu barraco em West Palm Beach!

10) Qual o pecado capital
de Brasília?

Ter um pacotão em cada Palácio
e uns pacotinhos em cada gabinete. Infelizmente…

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