Gente do Meio

TONHÃO ou Antônio Augusto de Almeida

Tonhão do Rio Preto


O Guardião da Vida


O superlativo do nome tem tudo a ver com o superlativo de suas ações ambientais. Tonhão é Antônio Augusto de Almeida, zootecnista formado pela Universidade Federal de Viçosa-MG. Em 1988, aos 27 anos, foi eleito prefeito de São Gonçalo do Rio Preto. Os desafios surgidos durante seu mandato pela preservação do rio Preto devido as atividades criminosas de carvoeiros e garimpeiros despertaram sua atenção. Tonhão sentiu a urgência em proteger toda uma área de relevância ambiental, por abarcar as nascentes mais importantes da Bacia do rio Jequitinhonha. O entusiasmo e a dedicação de um verdadeiro missionário ambiental, a capacidade conciliatória e a convivência desde criança com as pessoas da região viabilizaram sua luta junto ao IEF – Instituto Estadual de Florestas de MG para criar, implantar, ampliar e manter o Parque Estadual do Rio Preto. O respeito de todos pelo Tonhão é apenas conseqüência.


 Antônio Augusto “Tonhão” de Almeida: o prefeito que criou um parque, deixou a política partidária e virou um herói da política ambiental


 


 


Fotos  –  Marcos Vinícius Bortolus


 


A imponência e a beleza da água cristalina da Cachoeira do Crioulo


 


 


 


PARQUE ESTADUAL DO RIO PRETO


O parque está localizado na Serra do Espinhaço, no
município de São Gonçalo do Rio Preto, a 350km de
Belo Horizonte. A origem do município remonta a uma sesmaria pertencente ao Contratador dos Diamantes João Fernandes de Oliveira, famoso por seu romance com Chica da Silva.


Desde o século XVIII, São Gonçalo, conhecida como Rio Preto, era um dos principais produtores de alimentos para os garimpeiros do Arraial do Tijuco (hoje Diamantina) e região. O município emancipou-se de Diamantina em 1962. O nome Felisberto Caldeira, uma homenagem ao contratador de diamantes Felisberto Caldeira Brant, vigorou até meados da década de 1980, quando um plebiscito permitiu que seus habitantes retomassem a antiga denominação. Diante da ameaça do garimpo, uma lei municipal de 1991 transformou o rio Preto em rio de preservação permanente.


Entrevista – Tonhão do rio Preto


Folha do Meio – Tonhão, você sabe que seu depoimento é histórico. É também um registro didático e vai servir de lição para muita gente. Como você se interessou pela questão ambiental?
Tonhão – Olha, sempre me interessei pelos problemas ambientais. Ao assumir a prefeitura de São Gonçalo do Rio Preto, em 1989, fizemos da causa ambiental uma prioridade. Preocupados com a degradação do Rio Preto, uma lei municipal de 1991 o declarou de preservação permanente. Por esta ação, a população do Rio Preto recebeu em 1991 o Prêmio Curupira, da Fundação Biodiversitas.  Mas sua cabeceira ainda permanecia vulnerável às atividades de garimpo e de carvoaria. Apresentamos então ao IEF proposta de reconhecimento de uma área de proteção para as nascentes do rio, que culminou com a criação do Parque Estadual do Rio Preto, em 1994.


FMA – Quais as dificuldades encontradas na administração de uma área preservada em uma região de tradição extrativista não com o garimpo e as carvoarias mas também com as famosas florzinhas sempre-vivas?
Tonhão – No início, não foi fácil… Em região extrativista, falar de preservação é sempre difícil. Tivemos problemas com caçadores, criadores de gado em sistema extensivo na região da Chapada do Couto, garimpeiros, coletores de flora – principalmente a sempre-viva –  e a alta incidência de incêndios florestais. Demolimos 17 fornos de carvão que estavam localizados nas proximidades de onde hoje estão os alojamentos. Aos poucos nossa disposição foi sendo reconhecida e as alternativas foram aparecendo. Não foi fácil, mas valeu a pena o esforço.


 


Vendi um pedaço para o Parque
e fiquei dono de tudo”.  


 DECO, um dos antigos proprietários
e que hoje trabalha no parque
.


 


FMA – Como os proprietários das áreas desapropriadas reagiram à criação do Parque?
Tonhão – Olha, não posso reclamar. Houve uma conscientização pela NE cessidade de se criar o parque. A verdade é que reagiram com confiança e cooperação. Toda esta mobilização, todo este sentimento pode ser resumido pelo depoimento de Deco, um dos antigos proprietários e que hoje é funcionário do Parque: “Vendi um pedaço para o Parque e fiquei dono de tudo”.


FMA – Geralmente a comunidade fica ressabiada com desapropriações. Você conseguiu unanimidade de visitantes, funcionários e da própria comunidade. Qual o segredo?
Tonhão – Para começar nós inicialmente procuramos as lideranças locais e mostramos a eles a importância de preservar uma área tão especial. Uma área única. Sempre procuramos aquelas pessoas de princípios, de boa índole e moralmente respeitadas pela comunidade. Os funcionários do Parque são pessoas da região, testemunhas da degradação e da diminuição dos recursos naturais do Vale do Jequitinhonha. A maioria viu o garimpo retroceder, verificou a destruição que as carvoeiras trouxeram e a diminuição das florestas. Viram o d  desaparecimento de espécies antes abundantes. O Parque aliou a oportunidade de trabalho à necessidade urgente de conservar o que ainda havia. Daí para frente, o espírito conservacionista desses funcionários evoluiu e funcionou como um fermento para a comunidade e para os visitantes.


FMA – Como está a proteção das nascentes dos rios Araçuaí e Jequitinhonha Preto – um dos braços formadores do Jequitinhonha?
 Tonhão -Não está longe não. Já temos projetos elaborados com o levantamento da área. Esta torcendo muito e acho que logo teremos uma boa notícias,  pois deverá ser efetivado.


FMA – Ainda há risco? Quais os riscos que o Parque corre hoje?
Tonhão – Veja como uma árvore em pé ou a preservação de uma nascente e a proteção da flora e fauna são fatos importantes não só ecologicamente ,mas também economicamente. A especulação imobiliária despertada pela valorização que o Parque causou na região acarreta por vezes uma inconseqüente ocupação das terras adquiridas em seu entorno. Mas há outras preocupações e riscos, como: projetos de reflorestamento com eucaliptos em áreas de nascentes; Os incêndios florestais, apesar de ocorrerem com menos freqüência em grande parte por causa de uma equipe atenta de brigadistas, agora mais experientes, também nos deixam tensos no período da seca.
 
FMA – Quais os projetos futuros, qual o seu sonho para o Parque Estadual do Rio Preto?
Tonhão – A gente nunca está satisfeito. Sempre vê mais necessidades e sempre quer aprimorar a gestão de um parque. Estamos tentando ampliar ainda mais a área do Parque do Rio Preto. Queremos também implantar um corredor ecológico que ligará o Parque Estadual do Rio Preto ao Parque Estadual do Itambé. Este corredor, além de salvar uma fauna rica, vai permitir  a proteção das nascentes do Rio Araçuaí, nos municípios de Felício dos Santos, Serra Azul de Minas e Rio Verme­lho. Do Rio Jequiti­nhonha Preto, nos municípios de Diamantina, Serro e Couto de Magalhães de Minas; E do Rio Manso, nos municípios de Couto de Magalhães de Minas e Diamantina.
Outra atividade que não descuidamos é no desenvolvimento do turismo sustentável nas comunidades existentes no entorno do Parque. Além de educar e conscientizar, vai dar renda e salário para toda esta gente que nos ajuda a preservar.


 


Canarinho-da-terra: beleza e um canto singular


 


 


 


 


A formação rochosa no córrego das águas


 


 


 


Lages, pedras, água e mata: receita de encanto


 


 


O Parque


O Parque Estadual do Rio Preto foi criado em 01 de junho de 1994. Administrado pelo IEF-MG, o parque é  é uma importante reserva de diversas espécies de animais e plantas. A história do parque está ligada às lendas e mitos dessa antiga área de mineração. No lugar, segundo relatos, se escondiam escravos fugidos que conheciam bem suas matas e rochas por haverem trabalhado na construção da Estrada Real. Muitos conseguiram se safar das perseguições dos capitães-do-mato e se juntar a quilombos no interior da Bahia. O parque tem um bom plano de manejo e boa estrutura para receber visitantes. Turistas e pesquisadores chegam ao parque para desenvolver trabalhos, promover encontros e até mesmo para fazer ecoturismo. Mais informações:
IEF-BH: (31) 3295.7086  – (31) 3295.7514 em Diamantina: (38) 3531.3919


 


 

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Liderança Sustentável na Era Digital: Perfis Inspiradores de Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez

Explorando as Jornadas Pessoais e Impactos Globais das Maiores Influenciadoras de Sustentabilidade Online

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Nos dias atuais, em que a conscientização ambiental se tornou uma prioridade para a humanidade, a presença de influenciadores desempenha um papel crucial na disseminação de práticas e estilos de vida sustentáveis. Entre esses líderes de opinião, três figuras se destacam de maneira excepcional por seu compromisso inabalável com a sustentabilidade: Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez. Em uma entrevista exclusiva concedida à revista Quem, no âmbito do projeto “Um Só Planeta”, essas influenciadoras compartilharam suas histórias pessoais e revelaram como se interessaram pelo tema e o aplicam em seu dia a dia.

Cristal Muniz: A Defensora Apaixonada da Vida Verde

Cristal Muniz, uma defensora apaixonada da vida verde e fundadora do movimento “Vida Sustentável para Todos”, revelou à Quem como sua infância no interior a despertou para a importância da preservação ambiental. “Crescer em um ambiente rural me ensinou a valorizar os recursos naturais e a entender a interdependência entre o homem e a natureza”, compartilhou Cristal. Sua jornada para se tornar uma influenciadora de sustentabilidade começou com pequenos passos em direção a uma vida mais ecoconsciente. Por meio de suas plataformas de mídia social, ela inspira milhões de seguidores a adotar práticas diárias que promovam um estilo de vida sustentável, desde o consumo consciente até a reciclagem e o apoio a iniciativas locais de preservação ambiental.

Marcela Rodrigues: A Visionária das Cidades Verdes do Futuro

Marcela Rodrigues, uma visionária no campo da urbanização sustentável e cofundadora da ONG “Cidades Verdes do Futuro”, revelou em sua entrevista como sua formação em arquitetura a impulsionou a explorar soluções criativas para tornar as cidades mais amigas do meio ambiente. “A arquitetura oferece uma oportunidade ímpar de repensar a maneira como construímos nossas comunidades, considerando os impactos ambientais a longo prazo”, compartilhou Marcela. Sua missão é promover a criação de espaços urbanos que sejam ecologicamente responsáveis, energeticamente eficientes e socialmente inclusivos. Por meio de campanhas educacionais e projetos de reurbanização, ela espera catalisar uma mudança positiva nas cidades do mundo todo, abrindo caminho para um futuro mais sustentável.

Fe Cortez: A Defensora Incansável da Moda Ética e Sustentável

Fe Cortez, uma defensora incansável da moda ética e sustentável e criadora da plataforma “Moda Consciente”, revelou como sua paixão pela moda a levou a questionar as práticas insustentáveis da indústria. “A moda tem um impacto enorme no meio ambiente e nas comunidades produtoras em todo o mundo. Precisamos repensar radicalmente a maneira como consumimos e produzimos roupas”, afirmou Fe. Ela usa sua plataforma online para educar os consumidores sobre as práticas de produção sustentável e promover marcas que priorizam a transparência e a ética em toda a cadeia de suprimentos. Seu objetivo é criar uma consciência coletiva em torno da importância de optar por opções de moda responsáveis, que não comprometam o bem-estar humano e ambiental.

Essas três influenciadoras exemplares, Cristal Muniz, Marcela Rodrigues e Fe Cortez, estão moldando o cenário da sustentabilidade digital e inspirando uma nova geração de defensores do meio ambiente. Seus esforços coletivos são um lembrete poderoso de que a preservação do nosso planeta é responsabilidade de todos, e cada ação individual pode contribuir para um futuro mais sustentável e próspero para as gerações vindouras.

 

 

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ADEUS, ORLANDO BRITO

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O céu de Brasília amanheceu lindo, azul e com muita luz.
Mas nossos corações acordaram tristes, meio sem rumo e repassando um filme de saudades ao relembrar a figura serena, solidária, tranquila, genial e amiga de Orlando Brito.
Que você vá em paz, amigo Britinho.
Seu legado, sua história e seu rico acervo fotográfico e editorial sobre a História recente do Brasil e de Brasília está eternizado.
Nossa mesa dos almoços das sextas-feiras, que já teve um vazio imenso com a despedida do arquiteto Carlos Magalhães da Silveira, em junho do ano passado, agora sofre um outro esvaziamento pela passagem de Orlando Brito.
Num espaço de semana, o fotojornalismo brasileiro fica mais pobre, meio sem graça e nossos olhares reclamam as imagens fantásticas que brotavam das lentes Orlando Brito e Dida Sampaio.
Muito triste!
Orlando deixou livros, causos e histórias. Seu mais recente livro é CORPO E ALMA. Deixou ainda: PERFIL DO PODER (1982), SENHORAS E SENHORES (1992), PODER, GLÓRIA E SOLIDÃO (2002) e ILUMINADA CAPITAL (2003).
Adeus, Orlando Brito. Siga em paz!
FOTO:
Da direita para a esquerda:
Orlando Brito, Paulo Castelo Branco, Silvestre Gorgulho, Lucas Antunes, Cláudio Gontijo, Carlos Magalhães da Silveira, Denise Rothemburg, Reginaldo Oscar de Castro e Austen Branco. Fora da foto, porque chegou mais tarde, a secretária Helvia Paranaguá.
Pode ser uma imagem de 6 pessoas, pessoas sentadas e ao ar livre
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O LEGADO DE ELISEU ALVES

COMPLETA 91 ANOS EM 2022

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Eliseu Roberto de Andrade Alves, que nesta segunda-feira, 27 de dezembro, completa 91 anos, é daqueles brasileiros que tem uma obra muito mais conhecida do que a si próprio.
Sua obra mais conhecida é ter participado da criação da EMBRAPA, onde realizou o sonho de qualquer instituição de pesquisa: mandar para as melhores universidades do mundo 2.500 jovens agrônomos, economistas rurais e veterinários recém formados aqui no Brasil e trazê-los de volta com títulos de Mestrado e P.h.D.
Mas Eliseu Alves deixa outros legados: ele criou o conceito do distrito de irrigação, pelo qual os projetos públicos passaram a ser administrados pelos irrigantes. Como presidente da Codevasf (Governo José Sarney) concebeu e implantou o programa de produção e exportação de frutas em Petrolina/Juazeiro e negociou empréstimos no exterior que permitiram uma expansão de mais de um milhão de hectares de área irrigada.
FRASES DO ELISEU ALVES
– “A Ciência liberta o homem da ignorância, da pobreza, da doença e da dor”.
– “Cercear o progresso do conhecimento é um erro lamentável, além de pouco prático: sempre haverá algum país onde a liberdade do cientista é respeitada, e esse país vai pular à frente dos demais na produção de riqueza e do bem estar de seu povo”.
– “O país que não investe em Ciência, condena seu povo a sobreviver com o suor de seu rosto. A Ciência democratiza e a tecnologia liberta”.
– “A Revolução Verde brasileira na década de setenta sustenta hoje o crescimento econômico do Brasil e coloca o País na rota dos grandes exportadores mundiais de grãos”.
– “Fazer ciência é apenas mais uma maneira de exercitar a fé. Nunca vi na ciência qualquer possibilidade de negação da fé. Entendo que investigar os fenômenos físicos e sociais nada mais é que conhecer e revelar os mistérios do fazer de Deus”.
Dr ELISEU ALVES, seus 91 anos devem ser celebrados com alegria, orgulho e como uma benção para o Brasil.
Abraço,
Silvestre Gorgulho
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