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As formigas democratas

Animais nos ensinam as maneiras de construir a vida em comum

 

Ana Miranda – escritora, atriz, ilustradora e poeta

 

Li, dia destes, um poema de Alexander Pope que nos convoca a buscarmos na natureza bruta o nosso entendimento do mundo; devemos aprender a edificar com as abelhas, a lavrar com as toupeiras, a tecer com o musgo, a navegar com o náutilo. Com os animais devemos aprender as maneiras de construir a vida em comum. E imitar as subterrâneas cidades, olhar o governo das raças miúdas: a abelha monarquista, a formiga democrata. “Sábias leis sustentam seus estados tão imutáveis como as dos destinos”.

São democráticas as formigas, no mais belo sentido dessa palavra. No mais desejável estado de existência social. Ninguém manda em ninguém, o poder é de todas, nenhuma dá ordens e todas sabem o que fazer. E fazem. Todas se ajudam. Trabalham pelo bem comum. Todas sabem o que fazer pelo bem de todas, não importa o sacrifício. Uma formiga carrega uma folha dezenas de vezes maior e mais pesada que seu corpo e, quando parece chegar a um obstáculo intransponível, aparecem outras formigas, com suas mandíbulas de tesoura cortam a folha e a distribuem, depois cortam ainda mais e cada uma carrega um pedaço. Já vi! E vi, também, formigas fazerem uma ponte de graveto, para as outras passarem. Incrível! Tenho perdido meu tempo a observar formigas. Mas aprendo.

 

São os insetos mais evoluídos, com olhos capazes de detectar os mais tênues movimentos. Fazem gigantescas construções, megalópoles. O maior formigueiro do mundo ficava na ilha de Hokaido, no Japão, e abrigava, em seus três quilômetros quadrados, trezentos milhões de operárias e oitenta mil rainhas. Mas na Europa descobriram uma colônia tão grande que chega a seis mil quilômetros, vai de Portugal à Itália, habitada por bilhões de indivíduos.

Formigas trabalham dia e noite, têm várias funções como coletar alimentos, ser babás de larvas e pupas, lamber, manipular. Implacáveis estrategistas militares, defendem as colônias, mesmo as formigas cegas são exímias em táticas de defesa. Agricultoras, produzem o próprio alimento, dizem que elas inventaram a agricultura. Abrem dutos como magníficas engenheiras, traçam urbanismos com perfeição espacial, levam detritos para câmaras isoladas, organizam estoques de comida com zelo para não faltar. Enfermeiras dedicadas, cuidam da prole em cooperativa. Fazem uma racional divisão do trabalho. Todas dependem umas das outras. Uma formiga, sozinha, não é nada. Não sobrevive. Como nós, humanos.

No Dia do Trabalho me vêm à lembrança pessoas que tecem a trama social que me permite viver e de quem dependo, sem as quais eu não poderia sobreviver. Meus garis que levam o lixo duas vezes por semana, minha amiga que faz a faxina enquanto eu posso escrever, o jovem que cuida comigo do jardim, a amiga que vem cozinhar vez ou outra, o carpinteiro que fez esta mesa onde trabalho, os wizzkids que inventaram e construíram este computador, o eletricista que instalou energia na casa, o agricultor que plantou estas batatas, o sapateiro que fez minha sandália, a costureira que trabalha na fábrica que fez o meu vestido… um teia percorre a Terra unindo todos os seres humanos, como as formigas.

 

PARA SABER MAIS:

(Ana Eugênia de Carvalho, bióloga do Instituto Biológico de São Paulo, Emília Zoppa, pesquisadora do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e Terezinha Della Lucia, professora do Departamento o Departamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa).

 

HIERARQUIA SOCIAL DAS FORMIGAS

Membros do grupo se dividem em castas com funções definidas

RAINHAS – Maiores e aladas, dão origem ao ninho e são as únicas reprodutoras.

MACHOS – Nascem de ovos não fertilizados e servem apenas para o acasalamento.

OPERÁRIAS GENERALISTAS – Cuidam dos ovos, da rainha e do ninho.

JARDINEIRAS – Cuidam do jardim de fungos

ESCAVADORAS – Responsáveis por trazer comida para dentro do ninho.

SOLDADOS – Diferenciam-se pela cabeça avantajada e defendem a colônia.

 

 

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Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

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Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

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VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

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No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
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METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

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Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE O PRADOS”.
Para continuar no mote dos vagalumes ou pirilampos tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
Quando a cachoeira desce nos barrancos
Faz a várzea inteira se encolher de espanto
Lenha na fogueira, luz de pirilampos
Cinzas de saudades voam pelos campos.
Lindo demais! É a arte de vagalumear.
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Reportagens

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