Reportagens
Manejo sustentável e a participação de comunidades serão as principais estratégias para conservação da biodiversidade em 2 milhões de hectares de floresta
A gestão comunitária e o manejo de pirarucu, castanha e copaíba fortalecem a proteção de 6 terras indígenas e são caminhos para o combate à crise climática

Com as experiências de manejo sustentável de pirarucu, castanha, copaíba e de implementação de Sistemas Agroflorestais, os povos Apurinã, Deni do Xeruã, Jamamadi e Paumari do Tapauá estão tendo sucesso em conservar um cinturão de mais de dois milhões de hectares de floresta em seis terras indígenas no sul e sudeste do Amazonas. A atividade está contribuindo para evitar invasões, ordenar o uso dos recursos naturais, por meio de acordos coletivos, e gerar renda para as comunidades.
Essas iniciativas são as principais estratégias do projeto Raízes do Purus, realizado pela Operação Amazônia Nativa – OPAN desde 2013, com patrocínio da Petrobras, nesta terceira fase do projeto, que começou em agosto de 2021. A ideia é que, por meio do manejo sustentável, estes povos continuem fortalecendo a sua organização coletiva e os seus sistemas de vigilância comunitários. Desde o início do projeto, esse tipo de ação contribui para valorizar os modos de vida das comunidades e para recuperar a biodiversidade em seus territórios, após longo período de escassez causado pela exploração predatória e ilegal. Em 2019, dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicavam que 99% dos seis territórios estavam conservados.
A Amazônia é peça-chave na mitigação da crise climática. Os povos indígenas, cujos modos de vida tradicionais mantêm a floresta em pé, se tornaram atores centrais no debate sobre as estratégias para desacelerar o aquecimento global. Para que seus territórios continuem regulando o clima e o regime de chuvas, eles precisam estar protegidos e as iniciativas de manejo e comercialização sustentável de produtos da sociobiodiversidade despontam como aliadas da vigilância e da conservação da fauna e da flora .
Volta da fartura
Ricas em peixes, quelônios e caças, as três terras indígenas Paumari, no rio Tapauá, tornaram-se alvo da pesca predatória, para o abastecimento de grandes centros urbanos. O pirarucu e outras espécies importantes para a segurança e cultura alimentar do povo estavam desaparecendo. Diante da ameaça à qualidade de vida, os Paumari decidiram implementar o manejo sustentável do pirarucu, em um trabalhoso processo de capacitação e mobilização das comunidades. O primeiro passo foi estruturar um sistema de vigilância que, hoje, envolve as famílias em escalas semanais, e está incorporado no cotidiano das comunidades.
Com os territórios bem vigiados e monitorados, os indígenas conseguiram conter a pesca predatória e aumentaram exponencialmente os estoques de pirarucu e de outras espécies de peixes e caças. Para se ter uma ideia, em 12 anos de manejo, a população de pirarucu aumentou 631%, aponta o monitoramento realizado em 16 lagos.
Os Paumari ficaram cinco anos sem pescar nos lagos destinados ao manejo, até que a população de pirarucu se recuperasse. Desde 2013, realizam, anualmente, a pesca de uma cota sustentável, autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além do mercado regional, o pirarucu é vendido em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, por meio da marca Gosto da Amazônia, criada pelo Coletivo do Pirarucu, do qual a AIPA e a OPAN fazem parte.
Seguindo bons exemplos
A experiência dos Paumari recebeu, em 2015, o Prêmio Nacional da Biodiversidade, e reconhecida como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil, tornando-se referência de cadeia produtiva em territórios indígenas. Os Deni do Xeruã seguiram o mesmo modelo do manejo paumari. Eles incorporaram essa estratégia para a proteção e conservação da biodiversidade da terra indígena Deni, localizada na bacia do rio Juruá, a partir da elaboração de seu Plano de Gestão Ambiental e Territorial, finalizado no ano de 2011.
Ao longo de décadas, a extração do látex da seringa, a exploração madeireira e o comércio ilegal de peles de animais, permeou a vida deste povo, em relações econômicas desiguais e predatórias. Com a homologação de sua terra, em 2004, os Deni empenharam-se em ações de vigilância para combater a exploração ilegal dos recursos naturais e a presença de não indígenas em seu território. O povo adotou o manejo do pirarucu como ferramenta de proteção territorial, e contou com ajuda dos Paumari para estruturar a atividade em uma série de intercâmbios e atividades formativas. “A partir do manejo, os Deni começaram a se especializar na vigilância para proteger melhor o território”, explicou Leonardo Kurihara, coordenador do Raízes do Purus.
Os Deni também vêm se aprimorando no manejo da semente de andiroba, em parceria com a Associação do Povo Deni do rio Xeruã (Aspodex) em arranjos que conseguem comercializar os produtos a preços melhores do que os praticados no mercado regional, incrementando a renda gerada pelo manejo.
Plantio diverso, terra fértil
A terra indígena Caititu, onde vivem os Apurinã, sofre os impactos da proximidade com um centro urbano. O extremo norte do território está localizado a apenas um quilômetro e meio do centro de Lábrea, e tem grande concentração de aldeias, o que resultou em alta densidade demográfica e perda da biodiversidade. Com a subsistência ameaçada, os Apurinã encontraram nos Sistemas Agroflorestais (SAFs) a solução para recuperar a produtividade dos plantios, e reduzir a dependência dos alimentos da cidade. Durante a primeira edição do Raízes do Purus, entre 2013 e 2015, os Apurinã participaram de capacitações e intercâmbios quando aprenderam técnicas da agroecologia, que, somadas ao conhecimento tradicional do povo, foram aplicadas na implementação de quatro unidades pilotos de SAFs, em um trabalho que envolveu diversas aldeias em mutirões.
Em pouco mais de um ano, os canteiros agroflorestais, formados pelo plantio consorciado de diferentes espécies importantes para os Apurinã, já estavam produzindo. Os bons resultados inspiraram outras aldeias a replicar espontaneamente as técnicas em mais 15 unidades de sistemas agroflorestais.
“O indígena pensa em fartura, em lugar rico de caça, de peixe, de fruta, é o que o indígena procurava para morar. Os SAFs nos dão essa fartura”, explicou Marcelino Apurinã, cacique da aldeia Novo Paraíso, uma das primeiras a iniciar os plantios consorciados que, ao todo, recuperaram 13.365 hectares de áreas e produzem alimentos de qualidade para as famílias. “Temos na nossa aldeia fruta, comida natural. Não precisamos comprar fora”, ressaltou Maria dos Anjos, conselheira local da aldeia Novo Paraíso.
O projeto também apoia os Apurinã no manejo e na comercialização da castanha-do-Brasil, iniciativa que toca em questões históricas ligadas à dependência do povo a modelos patronais. “Os Apurinã conquistaram mais autonomia e eficiência na manutenção dos castanhais e na geração de renda para as famílias, sendo uma das principais referência de quebra de paradigmas comerciais e de melhoria na qualidade da produção na região”, explica Kurihara.
Produtividade sustentável
Especialistas na extração do óleo de copaíba, que tem muita relevância comercial devido às suas propriedades anti-inflamatórias, os Jamamadi da terra indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti tinham muito interesse em desenvolver a atividade como alternativa econômica sustentável. Essa foi uma das demandas apresentadas pelo povo em seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), elaborado durante a primeira edição do Raízes do Purus, e publicado em edição bilíngue (jamamadi e português). No documento, os Jamamadi apresentam como vivem e como querem continuar vivendo, tendo em vista a preocupação em garantir os recursos naturais e culturais para as futuras gerações. E o manejo de óleos vegetais vem se mostrando uma estratégia eficaz para fortalecer a vigilância do território, conservar a biodiversidade e gerar renda para as comunidades. Com apoio do projeto, os Jamamadi aprimoraram suas técnicas de manejo do óleo de copaíba, aumentando a produtividade por meio de práticas sustentáveis que valorizam ainda mais o produto no mercado regional.
Próximos Passos
Em sua terceira fase, que irá até 2024, o Projeto Raízes do Purus iniciará uma aproximação com os povos Banawa e Kanamari do Xeruã, que vêm demandando apoio na gestão de seus territórios, e serão envolvidos em intercâmbios e trocas de experiências com iniciativas de manejo sustentável dos povos indígenas vizinhos. Outra novidade é o apoio ao manejo do açaí na terra indígena Caititu. O projeto continuará fortalecendo as iniciativas de manejo sustentável já em andamento, por meio da assessoria técnica nas diferentes etapas das atividades, do apoio à vigilância dos territórios, e da busca por mercados que valorizem e remunerem de forma justa as comunidades não só pelos produtos de qualidade que oferecem, mas também pela proteção da floresta, e a garantia da continuidade de serviços ecossistêmicos fundamentais para o futuro da humanidade.
Sobre o Raízes do Purus
O projeto Raízes do Purus é uma iniciativa da OPAN, com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, que visa a contribuir para a conservação da biodiversidade no sudoeste e sul do Amazonas, fortalecendo iniciativas de gestão e o uso sustentável dos recursos naturais das terras indígenas Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, Caititu, Paumari do Lago Manissuã, Paumari do Lago Paricá, Paumari do Cuniuá e Banawa, na bacia do rio Purus, e Deni e Kanamari, no rio Juruá.
Sobre a OPAN
A OPAN foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Nos últimos anos, suas equipes vêm trabalhando em parceria com povos indígenas no Amazonas e em Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas para a garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e no fortalecimento das culturas indígenas.
Reportagens
GDF abre mão da cobrança de preço público para fortalecer setor produtivo
Medida atende feiras, quiosques, trailers, bancas de jornais, ambulantes e food trucks e vale para período entre abril e dezembro de 2022

Ian Ferraz, da Agência Brasília I Edição: Débora Cronemberger
Mais de 5,3 mil micro e pequenos empresários vão ser beneficiados com a remissão do preço cobrado pela ocupação ou uso da área pública no Distrito Federal. Adotada durante a pandemia de covid-19, a medida volta a valer com a assinatura do governador Ibaneis Rocha nesta segunda-feira (29), abrindo mão de R$ 8,5 milhões em receita para o período indicado.

A remissão do preço público é um gesto de apoio aos trabalhadores do setor produtivo e busca impulsionar a economia e minimizar os impactos negativos da pós-pandemia, uma vez que estes trabalhadores foram afetados economicamente, inclusive com o fechamento desses espaços durante a pandemia. Em sua fala, o governador agradeceu o público presente no Palácio do Buriti, formado majoritariamente por feirantes.
“Não é segredo para ninguém o quanto sou apaixonado pelas feiras, visito quase todas elas, amo comer nas feiras, adoro fazer minhas compras, e nessas visitas escutamos as demandas dos feirantes. Vamos continuar investindo para que a vida de vocês melhore cada vez mais”, disse o governador Ibaneis Rocha diante de um Palácio do Buriti lotado de profissionais do setor.
A medida atende principalmente feirantes e quiosqueiros, mas também donos de trailers, bancas de jornais e revistas, ambulantes, food trucks, assim como os ocupantes de boxes e quiosques instalados em galerias, shoppings populares, terminais rodoviários e metroviários. No geral, são empresas familiares ou microempreendedores individuais com pequeno capital de giro para manter suas atividades econômicas, o que reforça a ação do governo.
Apoio às feiras
O trabalho pelas feiras reúne números que comprovam a importância que o governo dá a esse segmento. O GDF está investindo cerca de R$ 30 milhões na reforma desses espaços e vai destinar R$ 20 milhões na construção de novas feiras.
Desde 2019, o GDF concedeu mais de duas mil autorizações de uso de espaços, o que corresponde a 20% de regularização de todas as ocupações constantes no DF. Nesse período, também foram catalogados 1,2 mil boxes. Uma atuação que colabora no fortalecimento das feiras.
“Esse é um trabalho feito a várias mãos e nasceu nas visitas que o governador faz às feiras, que são os lugares que ele mais gosta. A justiça está sendo feita mais uma vez a esses profissionais”, detalhou o secretário de Governo, José Humberto Pires de Araújo.
Agradecimento
Presidente do Sindicato dos Feirantes (SindiFeira), Francisco Valdenir Machado comemorou o decreto em virtude do momento econômico ainda instável para os profissionais. “Agradeço a sensibilidade de fazer essa remissão em um momento de dificuldade que ainda passamos nas feiras do DF”, pontuou.
Já o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido da Costa Freire, exaltou o benefício concedido ao setor. “É um governador que sabe ajudar e entender os problemas de quem gera emprego. Durante a pandemia, o senhor esteve ao lado do setor produtivo. As feiras ficaram fechadas durante um bom tempo e todos que deixaram de pagar as taxas não podiam voltar a trabalhar, e agora essa medida vem ajudar esses profissionais”, elogiou.
Reportagens
Socióloga vê relação entre ataques a escolas e violências do cotidiano
Para Valéria Oliveira, é preciso dar voz a vítimas de microviolências

A solução de conflitos “menos graves” no ambiente escolar é medida que pode contribuir para evitar futuros ataques violentos. A avaliação é da socióloga Valéria Cristina de Oliveira, pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ela, é preciso dar voz aos alunos que são vítimas de microviolências no cotidiano, sejam elas praticadas por profissionais adultos ou por colegas.
“Mesmo que não seja um evento de violência grave hoje, ele pode se desdobrar no futuro em outro de violência grave em decorrência do silenciamento”, disse nessa segunda-feira (29), durante debate com transmissão online que reuniu pesquisadores da UFMG de diferentes áreas. Eles apresentaram dados de variados estudos e fizeram uma discussão sobre o tema “Por uma cultura da paz: combate à violência na educação e à desinformação”.
Segundo um dos levantamentos mencionados, divulgado na semana passada pela organização não governamental Instituto Sou da Paz, ocorreram no país 24 ataques a escolas nos últimos 22 anos. Mais da metade desses episódios, no entanto, estão concentrados nos últimos quatro anos. Na maioria deles, os agressores são alunos ou ex-alunos com média de idade de 16 anos.
Um dos casos que tiveram forte repercussão neste ano ocorreu em março, quando uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, em São Paulo. O crime foi cometido por um de seus alunos, de 13 anos. Nos últimos anos, episódios similares que geraram grande comoção no país também foram promovidos por estudantes ou ex-estudantes, como os registrados em Aracruz (ES) no ano passado e em Suzano (SP) em 2019.
Um estudo recente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) traçou o perfil mais frequente entre os autores dos ataques: homens jovens brancos, geralmente com baixa autoestima e sem popularidade na escola. Também foi observado que muitos deles tinham indícios de transtornos mentais não diagnosticados ou sem o devido acompanhamento. São quadros que podem se desenvolver ou se agravar pela dificuldade de relacionamento nas escolas, o que pode ocorrer, por exemplo, com os que são alvos de bullying.
Valéria integra o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) e o Núcleo de Pesquisas em Desigualdades Escolares (Nupede), dois grupos científicos da UFMG que fazem investigações sobre o assunto. “O acúmulo de pequenas violências repercute em dificuldades na convivência. A deterioração do tecido social pode ser a consequência negativa de vários eventos menos graves”, reitera.
Segundo um estudo desenvolvido pelo Crisp em 2012, em escolas estaduais de todas as regiões de Minas Gerais, 48% dos estudantes adolescentes declaravam ter sido vítimas de bullying, 20% de ter sofrido agressão física e 40% de ter sido roubado ou furtado nos últimos 12 meses. Além disso, mais de 30% disseram ter sido alvo de violência verbal de colegas ou professores.
Não são raros os casos envolvendo essas agressões com emprego de arma de fogo e com mais vítimas, em que ocorreram outras situações menos graves anteriormente, pouco administradas ou sem que houvesse alguma administração dos conflitos. “Isso ocorre, entre outras coisas, porque não tivemos a oportunidade de ouvir e escutar os principais alvos dessas pequenas agressões. O perfil desses agressores tende a convergir para alguém que tenha inserção social limitada na escola, que tenha sido vítima de bullying, que sofra exclusão de alguma natureza”, diz Valéria.
Soluções
No fim do ano passado, 11 pesquisadores de universidades de diversos estados do país elaboraram um documento propondo estratégias concretas para a ação governamental. Coordenado pelo professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, eles ressaltaram que os casos deviam ser classificados como extremismo de direita, pois a maioria deles envolve cooptação de adolescentes por grupos neonazistas que se apoiam na ideia de supremacia branca e masculina e os estimulam a realizar os ataques. A presença de símbolos associados a ideologias de extrema-direita tem sido recorrente nesses episódios violentos.
De acordo com o documento, esses grupos disseminam um discurso que valoriza o preconceito, a discriminação, o uso de força e de armas de fogo, encorajando direta e indiretamente atos agressivos e violentos. “É necessário compreender que o processo de cooptação pela extrema-direita se dá por meio de interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto com frequência ao conteúdo extremista difundido em aplicativos de mensagens, jogos, fóruns de discussão e redes sociais”, registram os pesquisadores. Segundo eles, medidas só serão eficazes se considerarem esse cenário.
Em uma busca pela palavra “escola” no site da Câmara dos Deputados, Valéria encontrou 312 projetos de lei apresentados em 2023. Chamou a atenção o grande volume de propostas que datam do dia 5 de abril, quando um ataque a uma creche em Blumenau (SC) resultou na morte de quatro crianças. A legenda com mais proposições é o Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro. Em seguida aparecem o União Brasil e o Progressistas (PP), que compuseram a base de apoio durante o governo do ex-presidente.
“Nem todos esses projetos estão ligados à questão da violência nas escolas, mas a coincidência entre o pico de apresentações e a data do ataque nos mostra que esses eventos foram extremamente relevantes para que houvesse um movimento político justamente daqueles grupos que têm sido apontados como associados a discursos que estimulam comportamentos violentos. E a maior parte dos projetos de lei sugere intervenções no campo da segurança. Há muitas propostas de uso de detectores de metais, implantação de câmeras, presença de policiais no espaço escolar. São estratégias de intervenção que não são necessariamente eficazes”, diz a pesquisadora da UFMG.
Soluções dessa natureza vêm sendo criticadas por diversos especialistas, que observam que o aumento do aparato de segurança nas escolas não resolveu o problema nos Estados Unidos, onde os episódios acontecem há mais tempo e com mais frequência. Valéria cita estudos em que fatores como violências prévias, rejeição pelos pares e clima escolar negativo são associados aos casos. “Ter mais dispositivos de segurança pública não contornam isso”, diz.
Entre suas sugestões para enfrentar o atual cenário está a construção de canais de comunicação para escuta e acolhimento das vítimas de conflitos escolares, maior foco no aprendizado de todos e não na punição disciplinar, atenção aos princípios de equidade e de justiça e desenvolvimento de políticas de saúde e assistência para atendimento integral da comunidade e promoção da saúde mental. Ela também defende maior restrição no acesso a armas de fogo e investigação de denúncias da atuação de grupos que estimulam a violência nas redes sociais.
Valéria afirma que é preciso criar novos mecanismos para registrar os casos de conflitos e de violência nas escolas, que permitam ampliar o monitoramento e a discussão de soluções, já que apenas os episódios mais graves aparecem nos registros policiais. Em um mapeamento das ocorrências registradas pela Guarda Municipal de Belo Horizonte em 2015, os eventos mais frequentes em escolas municipais foram dano ao patrimônio, vias de fato e ameaças.
Desinformação
Durante o debate, a pesquisadora Geane Carvalho Alzamora, vinculada ao Departamento de Comunicação da UFMG, observou que a circulação da desinformação e dos discursos de ódio precisam ser enfrentados com um letramento midiático. Segundo ela, pesquisas com jovens já revelaram a dificuldade de muitos em conseguir diferenciar um texto com informações verdadeiras de outro com fake news.
“Não basta desmentir. Não se combate desinformação com verdade. Se combate desinformação com educação”, diz ela. Geane avalia, porém, que as instituições de ensino precisam de uma estratégia para lidar com esse desafio. “Não é uma questão de educar as pessoas para usar os meios. Precisamos entender o que os jovens estão fazendo com os meios. A escola hoje passa alheia a esse problema”.
O professor da Faculdade de Direito da UFMG, Fernando Jayme, defendeu o tratamento dos conflitos escolares por uma perspectiva de justiça restaurativa. Ele avaliou que o sistema punitivo é falho e que é preciso apostar no diálogo e na mediação dentro das instituições de ensino.
“Isso passa pelo reempoderamento das escolas. A violência e a desinformação vêm deixando a escola muito vulnerável. A escola é um ambiente que acolhe a diversidade e é um território de interações humanas tensionadas pelas diferentes individualidades. Os conflitos representam janelas de oportunidades para ressignificar relações, transformando-as, restaurando-as, reparando-as”.
Edição: Graça Adjuto
Reportagens
Mauro Pires é o novo presidente do ICMBio
Presidente tomou posse no Parque Nacional de Brasília


Mauro Pires assume como presidente do ICMBio – Foto: Rebeca Hoefler
Nesta quinta-feira (25), Mauro Pires toma posse como presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A cerimônia ocorreu no Parque Nacional de Brasília e contou com a presença de centenas de autoridades brasileiras e internacionais. Com numerosa plateia, foi uma posse pública, marcada pela responsabilidade com o meio ambiente e com o avanço da pauta ambiental.
O presidente foi escolhido por meio de um Comitê de Busca criado em fevereiro, que avaliou 18 candidaturas e finalizou com uma lista tríplice. O processo marcou o retorno da escolha para a presidência da autarquia pautada pelo critério técnico e comprometimento com a sociobiodiversidade.
O primeiro presidente escolhido por meio desse modelo foi Rômulo Mello, que teve uma vida dedicada à gestão das unidades de conservação e deixou legado na instituição. Durante a cerimônia, o saudoso Rômulo Mello foi homenageado pelo ICMBio. A família de Mello recebeu uma placa de homenagem personalizada, entregue pela colaboradora Nilza Junqueira, que trabalhou por boa parte de sua trajetória com o ex-presidente.
Família de Rômulo Mello recebe homenagem (Fernando Tatagiba)
A mesa principal do evento foi composta pela Ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva; o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, João Paulo Capobianco; o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho; o presidente da Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema), Cleberson Zavaski e a secretária-executiva da Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros Marinhos (Confrem), Ana Paula Santos.
Em seu discurso, Mauro Pires enfatizou as unidades de conservação como espaços privilegiados de imaginação, inovação e resposta a múltiplos desafios. “O nosso desafio e prioridade dessa gestão é aproximar as unidades de conservação da sociedade. Democratizar o acesso, garantir a titularidade de territórios de povos e comunidades tradicionais, promover a participação e o controle social, voltar a ter a cooperação com a sociedade civil, com as universidades e com a comunidade internacional”, disse.
Em adição, o presidente reforçou o compromisso com enfrentar o desmatamento nas unidades de conservação, recuperar o espaço das reservas extrativistas como asseguradoras da vida e harmonizar direitos. Outros pontos importantes na fala de Pires estão relacionados ao respeito à ciência e ao legado do seringueiro e ativista político que dá nome ao Instituto. “Para nós, é motivo de orgulho e de grande desafio honrar o nome de Chico Mendes”, finalizou.
Nova equipe de gestão é composta por integralmente por servidores da Carreira (Rebeca Hoefler)
No evento, também foi anunciado o quadro de diretores do ICMBio, de composição majoritariamente feminina e totalmente composta por servidores de carreira. Para a chefia de gabinete, será Carla Lessa; na Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação (DIMAN), será Iara Vasco; na Diretoria de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em Unidades de Conservação (DISAT), será Kátia Torres; na Diretoria de Planejamento, Administração e Logística (DIPLAN), estará à frente Flávia Oliveira; na Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (DIBIO), ocupará o cargo Marcelo Marcelino, que foi presidente até a nomeação de Pires.
O presidente
Mauro Pires tem graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e mestrado em Sociologia com dissertação sobre políticas de ocupação agrícola no Cerrado e meio ambiente. É servidor público federal, de carreira especialista em meio ambiente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade desde 2009.
Em sua atuação no Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, trabalhou como diretor do Departamento de Extrativismo, diretor do Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento (DPCD), diretor de programa da Secretaria Executiva e foi chefe de gabinete da Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Desde o início do ano, atuava como secretário adjunto do Ministério.
Veja fotos da posse aqui e aqui
Comunicação ICMBio
comunicacao@icmbio.gov.br
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