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ARARA-AZUL-DE-LEAR
Batalha de vida ou morte no Raso da Catarina, nas terras de Canudos

As araras-azul-de-lear (Anodorhyncus leari) vivem em um santuário mitológico. Inclui um rio histórico, o Vaza Barris, que banha Canudos descrito em “Os Sertões”, e uma árvore sagrada e protegida por lei, a palmeira licuri. O cenário é o mesmo da andança de beatos, como Antônio Conselheiro, renegados como o cangaceiro Lampião e revolucionários como Carlos Prestes e sua coluna. No Raso da Catarina, no coração da Caatinga baiana, depois de travada uma verdadeira luta de vida e morte para sobrevivência de uma das espécies mais ameaçadas, um mutirão de apoios fez renascer a esperança. E a esperança é azul.
Descrita em 1956, a espécie permaneceu no vácuo do conhecimento científico por mais de um século, quando em 1978, pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro identificaram seu habitat, no Raso da Catarina, uma extensa, inóspita e arenosa região baiana com cerca de 400 km2, onde foram localizados os primeiros exemplares em ambiente natural, que passaram a ser monitorados desde então. O trabalho de proteção e recuperação da espécie, que já dura cerca de 20 anos. Passou por etapas. Em 1986 Judith Heart, em parceria com a Fundação Biodiversitas, iniciou os estudos preliminares sobre a arara em Canudos. Cerca de 10 anos depois, em 1996 o Ibama e a Biodiversitas retomaram ao trabalho de campo. Dois anos depois, a mesma parceria criou o Projeto Arara-Azul-de-Lear.
Em 2001 o Ibama instituiu o programa de conservação da arara-azul-de-lear e instalou uma base de campo em Jeremoabo e duas ao sul em Canudos, conduzida pela Biodiversitas. Também foi criada um Comitê Internacional para proteção da espécie.
PARCERIA DE SUCESSO
A parceria deu certo. Uma verdadeira revolução ambiental, educativa e científica foi se estalando no vale do Vaza Barris. Intensificaram-se as ações de fiscalização, monitoramento e pesquisa. A população da arara, que era 60 indivíduos no início, saltou para 650 em 2006.
A previsão para próxima contagem é que ultrapasse 700 indivíduos. A área de ocorrência hoje ocupa um raio 34.274 km2 e já inclui sete municípios: Jeremoabo, Canudos, Euclides da Cunha, Uauá, Santa Brígida, Paulo Afonso e Campo Formoso, onde apenas dois indivíduos são monitorados. Biólogos que atuam na base de Jeremoabo advertem, entretanto, que os avanços não significam que arara já pode sair da lista vermelha dos animais ameaçados a qualquer momento. Segundo eles, a degradação do habitat tem reduzido a ocorrência do licuri (Syagrus coronata), cujos frutos são o principal alimento. Os bandos chegam a voar a até 30 km por dia para se alimentar. A escassez da palmeira, por sua vez, gerou um novo problema: o ataque das araras aos cultivos de milho dos agricultores de base familiar, provocando prejuízos.
A busca de solução para o problema envolve um rigoroso levantamento dos estragos, o perfil sócio-econômico dos agricultores, e a importância do cereal para a sobrevivência das famílias. Munidos destes dados, o projeto conquistou o apoio da Parrots International e da Fundação Lymington. Estas entidades vêm ressarcindo os prejuízos dos agricultores em caráter emergencial desde 2004, por um período de 10 anos. Os estragos são pagos em sacas de milho. Em 2006, 48 famílias foram cadastradas e ressarcidas em três municípios. Importante é que a arara-azul-de-lear virou o xodó da comunidade.
LICURI: ÁRVORE SAGRADA DA ARARA
Para os biólogos do Projeto, a sobrevivência da arara está intimamente ligada ao licuri, que é endêmica da caatinga. Os frutos são descascados e partidos ao meio pelas araras com uma precisão impressionante para terem acesso à amêndoa interna. “É imprescindível aumentar a disponibilidade de licuri na natureza. Sua proteção e regeneração são vitais para conservação da espécie.
Assim, o cultivo do licuri de forma experimental vem sendo feito desde 1998, com as 600 primeiras mudas plantadas na fazenda Santa Ana, em Jeremoabo. O índice de perda, entretanto, foi muito elevado.
Em 2004, o remanescente foi com a utilização de irrigação e adubação. O resultado foi animador. Um novo campo experimental de dois hectares foi plantado novamente. As perdas giraram em torno de aceitáveis 30%. Recentemente, um outro campo recebeu 250 mudas, além de árvores nativas, numa parceria com a prefeitura e educadores. Apenas 2% morreram. As conquistas têm animado o pessoal.
Os ninhos ficam em buracos nos paredões areníticos de cânions com até 800 metros de altitude.
ÁREAS PROTEGIDAS
Todo a Raso da Catarina é recomendado pelo MMA como área de proteção integral, em função da existência de espécies ameaçadas, alta fragilidade da área, ocorrência endemismo e a pressão antrópica (do homem) sobre o meio ambiente. Cinco unidades de conservação oficiais já estão implantadas no território de influência da arara, sendo a maior concentração de unidades no bioma caatinga.
A Estação Ecológica do Raso da Catarina foi criada em 1982, e tem uma área de 99.772 hectares. É a segunda maior área de preservação da Bahia. A APA Serra Banca foi criada em 2001 pelo governo estadual e tem 67.234 hectares, sendo contínua à estação do Raso, onde se concentra área de dormitório e de reprodução da espécie.
A Estação Biológica de Canudos pertence à Biodiversitas, que adquiriu a área tornando-a oficialmente protegida por lei em 1989, onde mantém duas bases de pesquisas. Já o Parque Estadual de Canudos, foi criado em 1986 e tem 1.321 hectares. Há também na região a área de Relevante Interesse Ecológico de Cocorobó. E duas áreas indígenas, Pankararé e a Tuxá.
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Dia do Turismo, 27 de setembro: Brasília, uma cidade de encanto e diversidade
De janeiro a julho deste ano 3.112.597 visitaram a capital do país, entre transportes aero nacional, internacional, rodoviário e CAT

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Brasília, a capital do Brasil, é um destino que oferece uma rica combinação de beleza, sabor e entretenimento para seus habitantes e visitantes em todas as estações do ano. De janeiro a julho deste ano, o Distrito Federal recebeu um total de 3.112.597 pessoas por meio de diversos meios de transporte, incluindo aéreo nacional, internacional, rodoviário e o Centro de Atendimento ao Turista (CAT). Em 2022, esse número alcançou 5.420.142 turistas. Desde sua inauguração em 1960, Brasília se destaca pela arquitetura moderna e icônica projetada por Oscar Niemeyer.
Entre os principais pontos turísticos visitados ao longo dos anos, destacam-se a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, o Memorial JK, o Pontão do Lago Sul, a Ponte Juscelino Kubitschek, o Museu Nacional da República, o Congresso Nacional, o Parque da Cidade Sarah Kubitschek, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o Santuário São João Bosco, o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada, a Praça dos Três Poderes, o Estádio Mané Garrincha, o Museu do Catetinho, o Jardim Zoológico de Brasília, o Parque Nacional de Brasília – Água Mineral, a Torre de TV, o Planetário de Brasília e o Museu do Catetinho. A Fundação Jardim Zoológico de Brasília, considerada um patrimônio cultural, recebeu sozinha 335.839 visitantes até julho deste ano, enquanto em 2022 recebeu 922.547 pessoas.
O Estádio Mané Garrincha, sob a gestão da Arena BRB, não apenas hospeda jogos de futebol, mas também shows e outras atrações. Em 2023, cerca de 1 milhão de pessoas já passaram pelo Complexo, enquanto no ano anterior foram 1,5 milhão de visitantes.
O Congresso Nacional recebeu 61.246 convidados de janeiro a setembro deste ano, em comparação com 64.330 em 2022. O CCBB Brasília atraiu mais de 1 milhão de visitantes desde o ano passado. O Parque Nacional de Brasília – Água Mineral registrou 198.485 visitantes em 2023. O Museu do Catetinho recebeu 25.772 visitantes este ano, enquanto no ano passado foram 29.244.
Esses números demonstram a atratividade de Brasília como um destino turístico repleto de pontos de interesse e encanto. Ronaldo Martins, coordenador do Programa de Visitação Institucional e de Relacionamento com a Comunidade, destaca que o Palácio do Congresso Nacional é um dos locais mais visitados de Brasília, atraindo turistas de todo o Brasil e do exterior.
Wilson Nobre, superintendente de Educação e Uso Público do Zoológico, enfatiza a importância dos zoológicos como destinos turísticos que encantam visitantes de todo o mundo, proporcionando uma oportunidade única de interagir com animais selvagens majestosos e explorar seus habitats.
Richard Dubois, presidente da Arena BRB, destaca que mais de um milhão de pessoas passaram pelo complexo da Arena em 2023, impulsionando diversos setores da capital, incluindo a rede hoteleira, o turismo e eventos corporativos.
A Secretaria de Turismo do DF trabalha em parceria com representantes do setor para desenvolver ações e projetos que coloquem Brasília no centro do turismo. Entre essas iniciativas estão o desenvolvimento da Lei do Turismo, a regulamentação do espaço para o Motorhome, a implementação do calendário de eventos e o retorno do festival Festa dos Estados. A cidade também está destacando novas tendências do turismo local, como o Enoturismo, o Turismo Rural, o Turismo de Aventura e o Ecoturismo.
Cristiano Araújo, secretário de Turismo, enfatiza a transformação de Brasília em uma cidade vibrante, com diversas opções para atender às expectativas de seus visitantes, desde sua cena gastronômica até a oferta de atividades de lazer e entretenimento.
Neste Dia do Turismo, 27 de setembro, e durante todo o ano, Brasília oferece inúmeras oportunidades para conhecer ou revisitar seus pontos turísticos. Até mesmo os moradores locais, como o professor Anderson José e a secretária Keyla Freitas, encontram motivos para explorar a cidade, seja pelos museus que contam a história da capital ou pelos parques que proporcionam momentos de paz e beleza. Brasília é verdadeiramente um tesouro a ser explorado.
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Em Brasília, mulheres indígenas celebram diversidade cultural e marcham por lutas comuns
Na III Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, representantes de todos os biomas do Brasil celebram sua diversidade, denunciam violência de gênero e dizem não ao Marco Temporal.

Marcha das Mulheres Indígenas de 2023, em Brasília — Foto: Amanda Magnani
O som de cantos e dos maracás ecoa de todos os lados do acampamento à medida que grupos de mulheres dos mais diferentes cantos do Brasil se aproximam da tenda principal na concentração para a III Marcha Nacional de Mulheres Indígenas. São 8h00 e o sol seco de Brasília parece realçar as cores dos mais variados trajes tradicionais.
A marcha, que foi do Complexo Cultural da Funarte, onde estavam acampadas, até o Congresso, a cerca de 5km de distância, reuniu mais de 5 mil mulheres. Ela aconteceu no último dia de um evento que, ao longo de três dias, foi marcado por celebrações e denúncias.
Sob o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”, indígenas de diferentes partes do Brasil tiveram a oportunidade de dar voz às demandas específicas vividas pelos povos de seus biomas.
Para o povo Kiriri, da Caatinga, a cerca de 300 km de Salvador, um dos maiores problemas é a seca e a consequente falta de segurança alimentar. “Nossa região é muito seca, e as mudanças climáticas aumentam o impacto na insegurança alimentar”, diz Fabiana Kiriri.
Ela conta que o trabalho coletivo na comunidade e a reserva de alimentos vêm como uma forma de tentar contornar o problema. Mas uma colheita suficiente depende de muitos elementos, que vão da quantidade de chuvas à presença de pragas.
“O que realmente precisamos é de um olhar especial do governo, que proponha projetos para ajudar as comunidades a terem autonomia”, defende.
Já para o povo Kaingang do Pampa, no Rio Grande do Sul, as demandas passam principalmente pelos enfrentamentos com o agronegócio e pelos arrendamentos de áreas dentro das terras indígenas, que acabam levando monoculturas e agrotóxicos para dentro a terra.
“Nós precisamos dar visibilidade às nossas lutas e sensibilizar a nossa comunidade, para que possamos encontrar estratégias para atender as demandas dos nossos territórios”, diz Priscila Gore Emílio, psicóloga do povo Kaingang.
Enquanto isso, em Santa Catarina, os Xokleng são protagonistas no debate sobre o Marco Temporal. “Nossa região foi tradicionalmente ocupada pelos povos indígenas e o nosso território já foi muito maior. Hoje, vivemos em uma área muito reduzida, mas continuamos vivendo muitas tensões e conflitos”, diz Txulunh Gakran.
Contudo, embora povos dos diferentes biomas tenham suas demandas específicas, são muitas as lutas comuns às mulheres indígenas do Brasil como um todo. Grande parte delas gira ao redor da garantia do direito ao território e ao fim da violência de gênero.



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