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DEPOIMENTOS DE QUEM ESTUDA E SABE DE CANOAGEM
Marcelo Bosi e Marcus Lopes Gomes – instrutores e atletas de ponta – falam sobre o projeto Canomama e a importância da do esporte para manutenção e recuperação da saúde.

Grupo de mulheres sobreviventes do câncer de mama de Brasília, integrantes de Canomama, num dia de exercícios no Lago Paranoá, com Marcus Lopes Gomes, atleta de ponta e instrutor de canoagem.
MARCELO BOSI – DEPOIMENTO
Marcelo Bosi, empresário, instrutor e atleta de canoagem, 48 anos, fundador da escola Alma Azul Academy, que tem bases de canoagem no Lago Norte e na Katanka, em Brasília, e no Rancho do Kite, na praia cearense do Preá, ao lado de Jericoacoara. Marcelo foi o primeiro instrutor de canoagem da atleta Larissa Lima. Marcelo Bosi é pioneiro na canoagem no Brasil e tem uma história de sucesso no esporte, competindo há duas décadas e conquistando títulos nacionais, sul-americanos e mundiais.
Bosi começou a remar com oito anos de idade, no Lago Paranoá, em Brasília, quando seu pai mudou para uma casa no bairro Lago Norte e comprou um caiaque de turismo. Quando completou o segundo grau, Bosi foi viver em Seattle, Washington, nos Estados Unidos. A região tem uma forte cultura de travessias em caiaque oceânico e Bosi começou a fazer expedições e viu pela primeira vez canoas havaianas, de uma comunidade tradicional, que vivia na região.
Ao retornar ao Brasil, Marcelo Bosi continuou a fazer expedições pelo litoral e também em lagos, foi quando resolveu montar uma empresa de turismo de caiaque e foi incentivado a importar canoas havaianas para Brasília, em 2003, com o propósito de conectar as pessoas com uma atividade lúdica com a água e que é ancestral.
Em 2020, Marcelo Bosi viajou 30 dias na Antártica, dos quais nove de canoa, uma V3, revivendo o mito polínésio do ano 650. Bosi acompanhou a expedição do fotógrafo João Paulo Barbosa, que viajou à Antártica a bordo do veleiro Kotik. Essa história foi contada pela www.folhadomeio.com.br (fevereiro de 2023).
DEPOIMENTO DE BOSI
Sobre a prática da canoagem para mulheres sobreviventes do câncer de mama, Bosi dá o seguinte depoimento à Folha do Meio Ambiente:
“São inúmeros os benefícios da canoagem para qualquer pessoa, tanto físico, como mental. Para as mulheres que tiveram câncer de mama é ainda mais especial, tudo comprovado pelo médico canadense Donald Mckenzie, que fez o estudo com mulheres que remavam o Dragon Boat e confirmou que o exercício evitava novos linfedemas. Além disso, a socialização ajuda muito na autoestima, na troca de informações e de experiências entre elas. Esse médico desmistificou muita coisa, porque alguns médicos diziam que as mulheres não podem nem carregar uma bolsa do lado onde houve tratamento ou cirurgia. Ao contrário, o movimento da remada ajuda na mobilidade do ombro e do braço. O trabalho pioneiro da Larissa Lima foi um grande estímulo para as outras mulheres”.
MARCUS LOPES GOMES – DEPOIMENTO
Marcus Lopes Gomes, em pé, é o criador da unidade em Brasília, que funciona na ASCADE, e o orientador das mulheres do Canomama. (Fotto: Marcia Turcato)
Marcus Lopes Gomes, atleta de ponta, instrutor de canoagem, 35 anos, faz parte da equipe da CPP Extreme desde a sua fundação em 2012, em Vitória (Espírito Santo). Em 2017, criou uma unidade em Brasília, que funciona no Clube Ascade. Na base de Brasília ele conta com o suporte dos sócios Gabriela Speziali, jornalista, responsável pela gestão financeira e operacional da CPP Extreme, e de Tiago Souza, atleta, fotógrafo, mergulhador profissional e responsável pela logística, relações institucionais e conteúdo das redes sociais da base. Gomes é o capitão do time da CPP Extreme e orientador das mulheres da Canomama na canoa polinésia e também no Dragon Boat.
DEPOIMENTO DE MARCUS GOMES
“A canoa é uma atividade que permite atenção plena no movimento e que proporciona um esvaziamento das preocupações mentais. O fato do esporte ser praticado na natureza, de trabalhar a respiração e de combinar movimentos leves e intensos, faz com que a remadora sinta um grande relaxamento e vivencie momentos de contemplação. A canoagem é uma prática completa que trabalha a potência e a estabilização e usa grandes grupos musculares, como o core, abdômen, perna, glúteo e braços. Quem pratica regularmente a canoagem percebe uma melhora no condicionamento físico, na resistência, na força e também na postura. É um esporte que promove contentamento e ajuda a prevenir e a combater sintomas de ansiedade, depressão e estresse. E é essa a experiência positiva que as mulheres da Canomama vivenciam na prática”.
PARA SABER MAIS
@canomama_time
@cppextremebsb
@remadorasrosadobrasil
@almaazulacademy
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A VOLTA DE JEAN DE LÉRY PARA A FRANÇA
O naturalista que entrou de gaiato no navio, veio para o Rio de Janeiro e deixou um relato precioso do Brasil de 1557. Sua volta para a França coincidiu com o fim da colônia francesa no Brasil.

Naturalistas Viajantes – JEAN DE LÉRY (Parte 16)
“Uma vez em terra, caminhei ao longo da Avenida Rio Branco,
onde uma vez existiram as aldeias tupinambás;
no meu bolso havia aquele breviário do antropólogo, Jean de Léry.
Ele chegou ao Rio 378 anos antes, quase no mesmo dia”.
Claude Lévi-Strauss em ‘Tristes Trópicos’, ao chegar ao Rio de Janeiro em 1934.
A volta de Jean de Léry para a França também marca o fim da colônia francesa no Brasil. Após a expulsão dos franceses da Guanabara, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar “heresias protestantes”. Quanto à viagem de volta, Jean de Léry conta em detalhes como, por milagre, se salvou de uma grande tempestade em alto mar.
Lévi-Strauss assim se refere a Léry: “A leitura de Léry me ajuda a escapar de meu século, a retomar contato com o que eu chamaria de ‘sobre-realidade’, não aquele de que falam os surrealistas, mas uma realidade ainda mais real do que aquela que testemunhei. Léry viu coisas que não têm preço, porque era a primeira vez que eram vistas e porque foi a mais de quatrocentos anos”.
O FIM DA COLÔNIA FRANCESA NO BRASIL
Após a expulsão dos franceses da Guanabara, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar “heresias protestantes”. O jornalista e historiador paranaense José Francisco da Rocha Pombo (1857-1933), em sua ‘História do Brasil’ publicada em 1935, recupera parte da história dos religiosos franceses: “Jacques Le Balleur foi poupado, pois era ferreiro. Isto praticamente marcou o fim da colônia francesa, e encerrou a tragédia da Guanabara”.
Em nota de rodapé, explica: “Após conseguir viver escondido, Jacques Le Balleur foi preso pelos portugueses nas cercanias de Bertioga. Ele foi enviado para Salvador, na Bahia, que era a sede do governo colonial, onde foi julgado pelo crime de “invasão” e “heresia”, isso em 1559. Em abril de 1567, foi queimado, sendo auxiliar do carrasco José de Anchieta, para consternação dos católicos”.
A VIAGEM DE VOLTA E SALVOS POR MILAGRE
“Prosseguindo na narração dos extremos perigos de que Deus nos livrou no mar, durante o nosso regresso, contarei um deles, proveniente de uma disputa surgida entre o nosso contramestre e o nosso piloto, em virtude da qual, por despeito, nenhum deles desempenhou desde então os deveres do cargo. A 26 de março, fazendo o piloto o seu quarto, conservou abertas todas as velas sem perceber a aproximação de um furacão que se preparava e que desabou com tal ímpeto que adernou o navio a ponto de mergulharem os cestos de gávea e a ponta dos mastros no mar, atirando à água cabos, gaiolas e todos os objetos que não estavam bem amarrados, pouco faltando para que virássemos completamente. Todavia, cortadas com rapidez as enxárcias e escotas da vela grande, aprumou-se o navio pouco a pouco. Pode-se dizer que só por um milagre nos salvamos, mas nem por isso concordaram os causadores do mal em reconciliar-se, não obstante os rogos de todos; muito ao contrário, apenas passado o perigo engalfinharam-se e com tal fúria se bateram que julgamos se matassem na luta.
‘ESTAMOS PERDIDOS, ESTAMOS PERDIDOS’
Por outro perigo passamos dias depois. Estando o mar calmo, pensaram o carpinteiro e outros marinheiros em aliviar-nos do trabalho de bombear, procurando tapar melhor as fendas por onde entrava a água. Aconteceu que mexendo em um deles para consertá-lo, despregou-se uma peça de madeira de quase um pé quadrado e a água entrou com tal abundância e rapidez que forçou os marinheiros a subirem para o convés abandonando o carpinteiro. E sem sequer contar-nos o fato, berravam: ‘Estamos perdidos, estamos perdidos’.
Diante disso, o capitão, o mestre e o piloto trataram de pôr ao mar a toda a pressa o escaler, mandando também lançar à água os toldos do navio, grande quantidade de pau-brasil e outras mercadorias num valor total de mil francos, decididos a abandonar a embarcação e a salvar-se no bote. Mas temendo o piloto que o grande número de pessoas que tentavam embarcar tornasse a carga excessiva, saltou do bote com um cutelo na mão, ameaçando romper os braços do primeiro que tentasse entrar.
Vendo-nos assim desamparados à mercê das ondas, lembramo-nos do primeiro naufrágio de que Deus nos livrara e, resolvidos a lutar pela vida, empregamos todas as nossas forças em bombear a água a fim de que o navio não afundasse; e tanto trabalhamos que o conseguimos. Nem todos, porém se mostraram corajosos. Os marinheiros, em sua maioria, estavam desatinados e tão temerosos se mostravam da morte que já não se importavam com coisa alguma a não ser em beber à farta. Estou certo de que os rabelesianos, escarnecedores e desprezadores de Deus, que em terra tagarelam sentados à mesa e comentam com motejos os naufrágios e perigos em que se encontram muitas vezes os navegantes, teriam seus gracejos mudados em pavor se nesta situação se encontrassem. E creio também que muitos leitores desta narrativa e dos perigos por que passamos dirão com o provérbio: ‘Muito melhor é plantar couves ou ouvir discorrer do mar e dos selvagens do que tentar tais aventuras’. (…)
O nosso carpinteiro, rapaz animoso, não abandonara o porão como os marinheiros, mas enfiara o seu capote de marujo no buraco, comprimindo-o com os pés para quebrar o impulso da água, a qual, como depois nos disse, por várias vezes o desalojou, tal a sua impetuosidade. Assim nessa posição gritou ele quanto pôde para que os de cima, do convés, lhe levassem roupas, redes de algodão e outras coisas com que pudesse deter o jorro d’água enquanto consertava a peça. Graças a esse esforço fomos salvos”.
PÓLVORA E FOGO
“Como temíamos encontrar piratas nessas paragens, ao sair desse mar de ervas não só assestamos quatro ou cinco peças de artilharia que havia no navio, mas ainda preparamos as necessárias munições para nos defendermos oportunamente. Entretanto, com isso novo perigo tivemos que vencer. Quando o nosso artilheiro secava a pólvora em uma panela de ferro, esqueceu-a ao fogo até tornar-se incandescente e a pólvora se inflamou, correndo a chama de uma à outra extremidade do navio, de forma que inutilizou velas e massame e por pouco não incendiou o breu de que o navio estava untado, queimando-nos todos em pelo mar. Aliás, um grumete e dois marujos foram tão maltratados pelo fogo que um deles morreu poucos dias depois. Por minha parte, se não tivesse rapidamente levado ao rosto o boné de bordo, ter-me-ia queimado seriamente; escapei chamuscando apenas a ponta das orelhas e os cabelos”.
PRÓXIMA EDIÇÃO 376 – JULHO DE 2025 – PARTE 17.
TRÁGICA VOLTA – O erro do piloto em calcular a posição do navio “fez com que em fins de abril já estivéssemos inteiramente desfalcados de todos os víveres; já varríamos o paiol, cubículo caiado e gessado onde se guarda a bolacha nos navios, mas encontrávamos mais vermes e excrementos de ratos do que migalhas de pão. Quando havia, repartíamos às colheradas esse farelo e com ele fazíamos uma papa preta e amarga como fuligem. Os que ainda tinham bugios e
papagaios, a que ensinavam a falar, comeram-nos. E vindo a faltar por completo os víveres, em princípio de maio, dois marinheiros morreram de hidrofobia da fome, sendo sepultados no mar como de praxe”.
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NIÈDE GUIDON, UMA GUERREIRA DO SERTÃO NORDESTINO
E a vida segue seu ciclo. Estava me preparando para ir ao Campo da Esperança para me despedir do amigo Fausto Salim, quando recebo a notícia da passagem de outra amiga: Niède Guidon.




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ADEUS FAUSTO SALIM, AMIGO E GUERREIRO




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