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REGINALDO OSCAR DE CASTRO,

O ADEUS A UM PIONEIRO QUE FEZ A DIFERENÇA.

 

BRASÍLIA PERDEU HOJE um de seus pioneiros mais atuantes e que deixa um legado na gestão pública, na política e nos meios jurídicos. Mais um amigo que parte. Fazia parte de nossa sexta-feira, em almoço de confraria. Ainda ressoa na minha mente a última frase que ouvi dele, num dos últimos almoços que Reginaldo Castro compareceu:
““A Ordem (OAB) não pode se ligar ao Ministério Público, não pode se ligar à magistratura, não pode se ligar a partidos políticos. Ela tem um papel perfeitamente definido pelo seu estatuto, que deve ser respeitado com todo o vigor”.
Para falar de Reginaldo, deixo aqui uma entrevista rápida que fiz em minha coluna PRIMEIRA MÃO, no Jornal de Brasília, em 1996 – sempre aos domingos que se chamava JANELA DA CORTE.
Vale a pena lembrar e conferir. Era no governo Cristovam Buarque.
JANELA DA CORTE
Jornal de Brasília
Silvestre Gorgulho
O advogado REGINALDO OSCAR DE CASTRO bem que podia estar no livro de recordes. Em uma única causa conseguiu defender seu cliente – hoje um desembargador – e, ao mesmo tempo, provocar uma renovação nos quadros do Tribunal de Justiça do DF, com a saída de cinco desembargadores. Esse goiano, de Anápolis, que está em Brasília desde 1961, é assim: educado, cavalheiro, amigo, mas tem uma coisa, não leva desaforo para casa de jeito nenhum. Formou-se pela UnB, em 67, e já foi chefe dos serviços jurídicos de diversas estatais. É membro do Instituto dos Advogados Brasileiros, do Conselho Seccional da OAB e, atualmente, é Secretário-Geral do Conselho Federal da OAB. Reginaldo Oscar de Castro, que é vice-presidente da União Internacional dos Advogados, acompanha o projeto da Reforma do Judiciário e abre a JANELA DA CORTE para dar vários recados importantes.
1 – O que mais o incomoda no dia a dia de Brasília?
Reginaldo Oscar de Castro – É justamente a tristeza de ver a Cidade Céu caminhar a passos largos na direção do caos em que se encontram as megalópoles brasileiras, onde a violência, decorrente da incapacidade do setor público, tem sacrificado impiedosamente a cidadania.
2 – Duas coisas que mais o incomodam no Governo Cristovam.
O que falta é um projeto que una e mobilize a maioria dos cidadãos de Brasília. Falta criatividade para pensar esse projeto. O tempo passou e Brasília foi desfigurada. Cabe aos governantes captar o sentimento das ruas, o que deseja o cidadão e identificar o projeto, ou projetos, que atendam necessidades do Plano Piloto e das satélites a um só tempo. A raiz desses projetos está assentada na cidadania e na qualidade de vida.
3 – Um recado para o Governador Cristovam.
Acredite na sua capacidade de realizar um grande governo para os brasilienses e não apenas para as elites de seu partido. O respeito aos princípios do partido não podem restringir a amplitude da liberdade de administrar que lhe foi conferida pelas urnas.
4 – Quais foram o pior e o melhor Governador de Brasília?
O pior governo do DF foi o que inventou a ocupação desordenada das periferias de suas cidades, com o comprometimento do futuro da capital da República da qual nós, brasilienses, somos meros depositários. O melhor, sem computar o atual governo que somente poderá ser avaliado no fim do mandato, foi o de Elmo Serejo Farias que criou o Parque da Cidade, realizou obras no sistema viário urbano e suburbano que até hoje sustentam confortavelmente o trânsito de Brasília e cidades satélites, concluiu a Barragem do Rio Descoberto que abastece de água Brasília.
5 – Um nome que sabe fazer Brasília ser respeitada?
Lucio Costa
6- A OAB se manifesta sobre todos os assuntos da vida brasileira como guardiã dos direitos do cidadão. Não deveria a OAB ser fiscalizadora, também, do cumprimento dos deveres do cidadão?
A OAB tem, entre outras, a finalidade de defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social, lutar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas. Portanto, cabe-lhe manifestar-se sempre que sua esfera de atuação institucional for afetada, para exigir que o Estado cumpra a obrigação que lhe é imposta pela ordem jurídica. No Estado democrático de direito, o cidadão responde pelo descumprimento de seus deveres legais perante as autoridades públicas competentes. A OAB não tem, e nem deveria ter, poder de fiscalização de atos individuais, pois, caso viesse a exercer indevidamente tal atribuição, estaria em confronto com a ordem jurídica que lhe cumpre defender.
7 – O que você acha da ideia da OAB participar da escolha dos Secretários de Segurança de Justiça dos Estados?
A OAB, para preservar sua liberdade e autonomia, distancia-se dos assuntos político-partidários e não participa da escolha de titulares de cargos públicos. Por isso, não sou favorável à ideia de sua interferência na escolha de Secretários de Estado, muito menos de Segurança Pública, setor da administração onde geralmente se concentram as mais relevantes ofensas aos direitos humanos que devem merecer enérgica e imediata reação da Ordem.
8 – A pena de morte é uma solução para o aumento da criminalidade ou uma reparação aos parentes das vítimas?
A criminalidade não é desestimulada pela gravidade das penas. Se assim fosse ela estaria em permanente declínio nos países que adotam a pena de morte. Basta examinar as estatísticas dos Estados Unidos para constatarmos que lá também se reclama, como aqui, da violência. O que realmente atua contra a criminalidade é a infalibilidade da punição, ou seja, o criminoso ter a certeza de que será punido. Para que tenhamos êxito nessa luta, é indispensável construir um Poder Judiciário que possa responder a tempo e a hora a demanda por justiça da expressiva maioria não violenta do povo brasileiro.
9 – A OAB admite a reeleição de seu presidente. Você é a favor da reeleição do presidente FHC, mudando as regras durante o seu próprio mandato?
A reeleição de mandatários políticos é legítima desde que respeitados os princípios democráticos e sem abuso de poder econômico ou administrativo. Penso que o candidato à reeleição, se tiver o apoio da maioria dos eleitores que o julgam positivamente, merecerá a renovação de seu mandato. Se deve ou não ser admitida a reeleição dos atuais mandatários, estou entre os que defendem a convocação de um plebiscito.
10 – Na próxima eleição da OAB as chapas não deveriam ter 20% de mulheres advogadas como já se faz nas eleições para os cargos eletivos?
As advogadas não sofrem qualquer discriminação em nossa entidade. Uma das Diretoras do Conselho Federal é uma advogada gaúcha que, sem necessidade de receber proteção, conquistou a posição que ocupa. Temos também Presidentes de Seccionais e várias conselheiras federais e seccionais, que repudiam valentemente qualquer tratamento diferenciado.
11 – A qualidade de vida de Brasília tem piorado. É a nivelação por baixo ou uma tendência do País?
A degradação da qualidade de vida em Brasília não é privilégio nosso. Salvo algumas exceções, todo o país assiste impotente a queda acentuada do poder aquisitivo da classe média e o crescimento proporcional das faixas de população menos favorecida. Penso que é o resultado da histórica e cruel concentração de renda em mãos de poucos que, insensíveis, continuam a defender privilégios que o estado brasileiro privatizado sempre lhes proporcionou.
12 – O DF é a sede dos 3 Poderes, é anfitrião do Presidente e do Corpo Diplomático e não tem autonomia financeira. A eleição de Brasília veio na hora certa?
Brasília é fruto do esforço conjunto de toda a população brasileira. Seus habitantes têm o dever de preservá-la como fiéis depositários desse fabuloso investimento público. O cumprimento desse dever cívico, será ainda mais difícil se os políticos, em benefício de projetos pessoais, abandonarem o ideal que presidiu a concepção de Brasília. Os dividendos que recebemos das duas primeiras eleições estão nas periferias. Basta sobrevoar o DF para ver que o nosso dever de preservá-la está seriamente comprometido. Não há democracia sem eleições, mas o eleito não pode usar seu mandato contra os interesses da coletividade.
13 – A Justiça é a mesma para os pobres e para os ricos?
Eu diria que a Justiça é, de fato, a mesma para os pobres e para os ricos. Para ambos é ruim. O Poder Judiciário que a distribui, como afirma o Presidente do STF, está falido.
14 – Você foi o consultor jurídico da Campanha de FHC para Presidente. Os tucanos têm mesmo bico pesado, vôo curto e rabo de pavão? Ou é tudo inveja da oposição?
Deve ser inveja da oposição. Os tucanos são, na verdade, muito discretos e, por isso, leves demais politicamente. Se não fossem teriam ocupado espaços no atual Governo de maior relevância e, certamente, poderiam contribuir ainda mais para os projetos em andamento no Congresso Nacional.
15 – Qual o pecado capital de Brasília?
A distância do mar.
Fotos:
Nosso almoço se sexta-feira. Reginaldo Oscar de Castro à esquerda, de camisa vermelha, ao lado da Denise Rothemburg.
Ainda na foto: Austen Branco, Reginaldo, Denise Rothenburg, Carlos Magalhães da Silveira, Cláudio Claudio Gontijo, Lucas Antunes, silvestre Gorgulho, Paulo Castelo Branco e o fotógrafo Orlando Brito. Três que fazem falta na nossa mesa e muito na vida brasileira. Saudades do Reginaldo, Carlos Magalhães e Orlando Brito.

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Fim de semana com música, teatro e algumas atrações gratuitas

Diversificada, programação inclui até um festival de flores, com palestras e estandes

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Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

 

O primeiro fim de semana do último mês do ano tem um pouco de tudo: flores, samba, cinema, teatro, música e arte circense. Tudo incentivado pelas secretarias de Turismo (Setur) e de Cultura e Economia Criativa (Secec), com eventos gratuitos para todas as idades. Confira, abaixo, a programação.

Festivais e feiras

Festflor Brasil apresenta diversos exemplares de plantas ornamentais, em programação que também inclui palestras | Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

O maior evento de flores e plantas ornamentais do Distrito Federal já começou e vai até este domingo (3), na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), das 11h às 19h. A oitava edição do FestFlor Brasil tem programação gratuita e conta com palestras e oficinas sobre floricultura, além de estandes para expor e comercializar plantas das mais variadas espécies.

O festival é organizado pela Sempre Eventos em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), a Setur, a Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), a Ceasa-DF e a Embrapa.

Outra atração deste fim de semana é a quinta edição do Festival Haynna e os Verdes, na Casa Akotirene, em Ceilândia Norte. Com entrada franca, o evento musical começa às 16h deste sábado (2), reunindo artistas do DF e do Brasil, como Maria Paula Andrade, DJ Kalectra, Mic Dias, Prethaís, Ane Êoketu, Haynna e os Verdes, Negra Eve, Lu Ferreira, Dj Lunary, Dark Style, Talíz, Marlene Souza Lima e Flor Furacão.

Já para quem aprecia a arte impressa, o Motim ocupará o Museu Nacional da República sábado e domingo, das 11h às 19h. O evento, gratuito, é uma feira colaborativa de talentos, com exposição de diversos artistas locais.

Samba e arte circense

Samba da Tia Zélia leva ritmos animados à praça central do Espaço Cultural Renato Russo | Foto: Divulgação

Como neste fim de semana é comemorado o Dia do Samba (2 de dezembro), o ritmo também compõe as atrações da agenda. No domingo, o Samba da Tia Zélia celebrará a data na praça central do Espaço Cultural Renato Russo, das 15h às 19h, em evento gratuito.

Samba da Tia Zélia virou o evento queridinho do público desde seu nascimento, em 2022. Diversos artistas reconhecidos passaram a frequentar a tenda da Vila Planalto, como os músicos do 7 na Roda, Goiabada Cascão, Samba na Comunidade, Teresa Lopes, Carol Nogueira, Cris Pereira e Litieh, entre outros.

Também neste sábado, o IFB Campus Gama será ocupado pela arte circense, com espetáculo Além das Palavras, às 19h, com entrada franca. O show é criado e estrelado pelo Intervenções de Circo Social, um grupo de educadoras que utiliza o circo como ferramenta para o desenvolvimento humano e social.

O coletivo utiliza as técnicas circenses, integrando-as com um projeto pedagógico inspirado na educação popular de Paulo Freire e trabalhando habilidades como malabares, equilíbrio, pirâmides humanas e acrobacias, além de abordar questões como melhora da autoestima, autossuperação, comunicação não violenta, coletividade e colaboração.

Cinema

Durante este fim de semana, o Cine Brasília exibirá, em parceria com a Embaixada da Rússia, uma sessão única do filme Khitrova, o Signo dos Quatro. A história se passa em Moscou, no ano de 1902, e segue o renomado diretor de teatro Konstantin Stanislavsky em sua busca por inspiração para uma nova peça. Com a ajuda de um especialista nas periferias da cidade, ele mergulha no lendário bairro dos bandidos, Khitrovka, para investigar o assassinato de um misterioso morador.

Clássico das chanchadas, ‘Carnaval Atlântida’ está em carta no Cine Brasília, em mostra gratuita | Foto: Divulgação

Ainda no Cine Brasília, segue em cartaz a mostra A Cinemateca é Brasileira. O projeto conta com a exibição dos filmes Carnaval Atlântida (1952), À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), São Paulo: A Sinfonia da Metrópole (1929), Bacurau (2019), Cabra Marcado para Morrer (1984), Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Limite (1931), O Bandido da Luz Vermelha (1968), Central do Brasil (1998) e Dona Flor e Seus Dois Maridos (1979). Todas as sessões da mostra são gratuitas.

Além disso, a animação Trolls 3 – Juntos Novamente continua em cartaz no Cine Brasília. As sessões contam com com recursos de acessibilidade de libras, legendas e audiodescrição por meio do aplicativo Mobi LOAD. Para acessar a programação completa e assistir aos trailers, basta entrar no site do Cine Brasília.

Teatro

Sábado e domingo, o coletivo Casa Moringa estreia a brincadeira-espetáculo Tawá Tingá: o Rio, a Cidade e a Onça. Protagonizada por mulheres, a peça reconta a história do povoamento de Taguatinga e da construção de Brasília, demarcando o protagonismo feminino nas culturas populares.

‘Tawá Tingá: o Rio, a Cidade e a Onça’ evoca seres da floresta para contar a história do povoamento de Taguatinga | Foto: Divulgação/Cied Pereira

Na apresentação, 18 mulheres retomam a amarração de fios da história que foram cortados na formação do Distrito Federal. Elas reocupam o território ancestral de Tawá Tingá (barro branco, na língua tupi), com um mutirão de reflorestamento do imaginário e de limpeza das águas profundas do rio da memória. Na travessia, vida e morte se encontram para celebrar o nascimento de um povo e de uma brincadeira, sob a proteção da guardiã da floresta, a onça Yayá.

As duas sessões de estreia serão apresentadas na Ocupação Cultural Mercado Sul Vive, em Taguatinga, com interpretação em Libras e audiodescrição. No sábado, a peça começa às 20h; no domingo, às 17h. A entrada é franca, com classificação indicativa livre.

 

 

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Cine Brasília tem sessão exclusiva para série sobre Juscelino Kubitschek

Cinema mais tradicional da capital exibirá terceiro capítulo da obra ‘JK, o Reinventor do Brasil’, produzida pela TV Cultura

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Nesta terça (28), o Cine Brasília exibe, com exclusividade, o terceiro capítulo da minissérie documental JK, o Reinventor do Brasil. Produzida pela TV Cultura, a obra narra, de forma acessível e em ritmo de podcast, a história do ex-presidente Juscelino Kubitschek, desde o dia do nascimento até o momento da morte trágica e jamais esclarecida.

A série documental mostra momentos importantes da vida e da carreira política de Juscelino Kubitschek, uma referência histórica de Brasília e do Brasil | Fotos: Divulgação

“Queremos que as novas gerações conheçam a figura do ex-presidente e seu legado para o país”Fábio Chateaubriand Borba, autor da minissérie e diretor-executivo da TV Cultura

Com linguagem diferenciada e didática, a série conta, no total, com quatro episódios de 50 minutos cada. O primeiro retrata a infância de Juscelino em Diamantina (MG) e vai até a eleição ao Governo de Minas Gerais. O segundo episódio, por sua vez, narra a eleição de JK para a Presidência da República e os desafios que ele precisou enfrentar até tomar posse – inclusive o de aprovar a transferência da capital federal, que era o Rio de Janeiro (RJ), para Brasília.

Já o terceiro episódio, exibido com exclusividade no Cine Brasília, relata essencialmente a construção da nova capital. “A série tem como objetivo mostrar a história de um personagem brasileiro da importância de Juscelino; queremos que as novas gerações conheçam a figura do ex-presidente e seu legado para o país”, explica o autor da minissérie e diretor-executivo da TV Cultura, Fábio Chateaubriand Borba.

Nova abordagem

O quarto e último capítulo aborda desde a cassação de JK até a morte em um acidente automobilístico, na Rodovia Presidente Dutra. “Juscelino foi o brasileiro médio, que vem do interior com dificuldades financeiras, perde o pai cedo e é criado pela mãe, uma professora que lutou bastante pelos filhos”, pontua Fábio Borba. “É essa epopeia que queremos levar para os jovens, com abordagens modernas, muita tecnologia e música”.

JK (de terno) entre os célebres compositores mineiros Lô Borges, Fernando Brant, Márcio Borges e Milton Nascimento: trilha sonora do documentário também é diferenciada

O diretor classifica como única a oportunidade de poder exibir a obra no Cine Brasília: “É uma felicidade muito grande poder trazer essa série para Brasília. A forma como abordamos essa jovem cidade quebra paradigmas e estereótipos que muita gente tem da nossa capital. Poder lançar nossa série nessa obra arquitetônica de Oscar Niemeyer dá importância ao nosso trabalho”.

JK, o Reinventor do Brasil é uma produção voltada para todas as faixas etárias. A série documental configura o maior trabalho iconográfico já feito sobre a vida do ex-presidente, tendo sido produzida a várias mãos, com o apoio de dezenas de instituições de arquivo público nacionais e até internacionais.

A obra completa conta com mais de 50 mil fotografias, 80 horas de vídeos captados e mais de mil horas de edição. Outro diferencial é a trilha sonora,  com canções que marcaram as várias fases da vida de Juscelino.

Serviço

JK, o Reinventor do Brasil

→ Terça-feira (28), às 20h, no Cine Brasília – Entrequadra Sul 106/107, Asa Sul
→ Classificação indicativa livre. Entrada: presença deve ser confirmada por meio deste link.

 

Victor Fuzeira, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

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A CASA DOS ANIMAIS

Mesmo com os avanços científicos conquistados, o ser humano tem ainda muito a aprender com a natureza.

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É maravilhoso estudar o comportamento de cada animal, seja ele mamífero, peixe ou pássaro, em relação à sua casa. Cada espécie tem sua característica, tem sua habilidade e tem, sobretudo, um padrão de arquitetura às vezes complexa, às vezes simples, mas sempre criando técnicas e usos de materiais que lhes permite edificar suas moradias ao abrigo das mais severas condições climáticas. Alguns animais preferem viver em delicados e confortáveis casulos de pelo, paina, lã ou musgo e outros buscam cavidades em árvores, rochas ou solo e, até mesmo, labirintos com formas diversas e adaptadas para chuva, vento, calor ou frio.

 

O Pássaro Pavilhão macho faz grandes cabanas com

galhos de árvores, com uma característica interessante:

enfeita seus lares com flores, bagas e outros arranjos para

atrair as fêmeas.

 

 

O Pássaro Pavilhão macho tem olhos azuis e habilidades de arquiteto e decorador. É um pássaro sedutor. O pássaro pavilhão (bowerbird em

inglês) diversifica os rituais de namoro e exalta a natureza.

 

 

Mesmo com os avanços científicos conquistados, o ser humano tem ainda muito a aprender com a natureza. É verdade que alguns animais se contentam em achar refúgios pouco confortáveis ou seguros como tocas e troncos secos, mas existem outros que constroem casas perfeitamente adaptadas a seu peculiar estilo de vida e às necessidades de sobrevivência. Para falar e explicar essa diversidade de moradias na natureza, conversamos como o arquiteto-da-paisagem Carlos Fernando de Moura Delphim.

 

CARLOS FERNANDO DE MOURA DELPHIM –  ENTREVISTA

 

 

Arquiteto e paisagista formado pela UFMG, Carlos Fernando é técnico do Iphan e membro da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco. Moura Delphim trabalha com projetos e planejamento para manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, histórico, natural, paleontológico e arqueológico. É discípulo de Burle Marx e foi o paisagista favorito do mestre Oscar Niemeyer. Moura Delphim é autor de várias publicações, entre elas JARDINS DO BRASIL.

 

 

Folha do Meio – É incrível o comportamento dos animais em relação às suas casas!

Carlos Fernando – De fato, é incrível e muito interessante. É justamente o comportamento construtivo de muitos animais que dá origem às mais curiosas formas de arquitetura, com construções muitas vezes escultóricas. Isto decorre de atividades adotadas por diferentes espécies que se utilizam dos recursos provenientes dos distintos ambientes nos quais habitam.

 

FMA – Tem animal que ganha sua casa da natureza e outros têm que construí-las, não é?

Carlos Fernando – Esse comportamento difere do surgimento espontâneo de abrigos como as conchas dos moluscos que crescem juntamente com o organismo dessas espécies. Alguns caracóis possuem conchas tão bonitas que sua captura para comercialização os coloca em risco de extinção, como o caracol de deslumbrante coloração de Cuba (Polymicta picta) do qual não existe nenhuma concha igual à outra. Já a arquitetura animal difere por não ocorrer espontaneamente. É consequência do trabalho do animal que não é apenas o arquiteto, mas também o mestre de obra e operário, atividades sem as quais não poderia fruir as vantagens de seu engenho.

 

FMA – Os humanos buscaram, de alguma forma, o ‘know-how’ com os animais para construírem suas casas?

Carlos Fernando – De certa forma, sim. Mas é evidente que a racionalidade e o conhecimento levaram o ser humano ao aperfeiçoamento e a uma sofisticação maior. A arquitetura bioclimática é, muitas vezes, inspirada em padrões da arquitetura animal. O fato é que alguns animais produzem estruturas extremamente complexas, com formas aparentemente mais racionais do que algumas soluções arquitetônicas humanas, como é o caso das abelhas da espécie Apis melifera, cujas edificações apresentam soluções tão ou mais lógicas do que as humanas. Os favos das colmeias são estruturas extremamente leves, compostas de uma sequência de compartimentos ocos e de forma perfeitamente hexagonal. As formigas, cupins, vespas e ninhos de aves são ou podem ser uma fonte de inspiração.

 

 

O fato é que alguns animais produzem estruturas extremamente complexas, com formas aparentemente mais racionais do que algumas soluções arquitetônicas humanas, como é o caso das abelhas da espécie Apis melifera, cujas edificações apresentam soluções tão ou mais lógicas do que as humanas.

 

 

FMA – Há casos em que os animais foram mais eficazes?

Carlos Fernando – Interessante, mas há um exemplo fantástico. Nenhuma obra humana pode ser comparada pela leveza, pela perfeição, despojamento e pela capacidade de cumprir suas funções com tanta eficiência como a casa da aranha. A teia de aranha serve não apenas de abrigo como também para capturar as presas nas quais são depositados os ovos que irão alimentar as pequenas aranhas recém-nascidas. Essas construções levíssimas, quase imateriais, cuja empreitada segue uma disposição rigorosa com cada passo de construção dependendo do anterior, resistem à ventania e chuvas. Sua criação segue em ordem rigorosa, não havendo nenhuma arquitetura humana que possa a ela se comparar. É residência, armadilha, despensa ou depósito de alimento, tudo da forma mais etérea e despojada possível.

 

 

Exemplo da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro permite que seus moradores, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos. (foto: José Raul Valério)

 

 

FMA – E existem outras tecnologias animais que o ser humano ainda não conseguiu copiar?

Carlos Fernando – Existem sim. Veja o caso da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro ou um termiteiro permite que seus moradores, os cupins, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos. Nos meios rurais há um costume de se cavar um cupinzeiro para em seu interior se construir fornos com a finalidade de assar alimentos. Quando não se retiram os cupins, o forno continua a crescer, mesmo sendo usado, o que se pode observar em um museu rural existente em Goiânia. Se a arquitetura erudita se utilizasse deste exemplo, mais conhecido pelas técnicas vernaculares, muito se economizaria em refrigeração doméstica. Muito também contribuiria para reduzir o aquecimento global que é acelerado pelo uso de condicionadores de ar.

 

 

 

 

 

Existem tecnologia que o ser humano poderiam copiar. É o caso da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro ou um termiteiro permite que seus moradores, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos.

 

 

FMA – E o que mais o surpreende nestes casos?

Carlos Fernando – Muitas coisas me surpreendem. Veja, por exemplo, como é surpreendente que, sem possuir ou manejar qualquer forma de ferramenta, sem ser dotados de habilidade como são as mãos, os animais bem adaptados a seu habitat puderam aprender ou criar técnicas e usos de materiais de construção. Isto lhes permitiu edificar suas moradias ao abrigo das mais severas condições climáticas. Muitas espécies, quando não dispõem de cavidades naturais das quais se aproveitem, constroem ninhos furando troncos, escavando o solo ou mesmo rochas, como é o caso de mamíferos como a toupeira e o texugo. Alguns insetos e pássaros criam labirintos de peças rigorosamente idênticas entre si, como ocorre com as admiráveis obras das abelhas e dos cupins.

 

FMA – Há outros exemplos?

Carlos Fernando – Sim. Há animais que optam por uma arquitetura que edifica o vazio das cavidades por eles esculpidas. Outros criam obras fazendo maciços com tecidos de fibras e galhos emaranhados como o guache, as cegonhas, águias e abutres. Outros preferem viver em delicados e confortáveis casulos de pelo, paina, lã ou musgo, de forma quase esféricas, como certos beija-flores.

 

FMA – O ser humano busca reciclar suas matérias primas para a construção. E os animais?

Carlos Fernando – Esta é outra característica interessante e muito curiosa em ver como certos animais reciclam também materiais e construções alheias. Aves, como a coruja, se instalam em buracos escavados nas casas de outras espécies, como os cupinzeiros.

 

FMA – Na verdade o sistema de construção pode ser bem diferente…

Carlos Fernando – É, cada um se baseia em um diferente sistema construtivo e na disponibilidade de materiais que encontram em seus habitats. Os ninhos das aves são construídos das formas mais engenhosas e intricadas. Enquanto o pica-pau e o martim-pescador escavam os troncos, o joão-de-barro, um hábil construtor, constrói um domo em barro com uma planta-baixa de desenho simples, mas com funções complexas. Uma forma espiralada na qual uma pequena abertura dá acesso ao túnel curvo que conduz à câmara central.

 

FMA – Enfim, os animais são mais engenheiros ou mais arquitetos?

Carlos Fernando – É verdade, alguns animais, mais do que arquitetos, são habilidosos engenheiros ao definir tipos de estruturas, suas formas e funções. Os castores são arquitetos e engenheiros construtores de barragens altamente resistentes. Constroem represas para conter as águas, utilizando-se de seus dentes de roedor e juntando galhos e troncos nas margens dos rios, com efeitos mais positivos menos danosos do que muitas barragens humanas em concreto armado.

 

As formas de arquitetura variam de animal para animal porque as funções referem-se à necessidade de abrigo e defesa, de acordo com o ecossistema. Sobretudo contra os predadores e contra as tempestades. E cada construtor tem suas necessidades e suas habilidades.

 

 

FMA – Por que pássaros da mesma ordem, do mesmo tamanho variam tanto o tipo de seus ninhos?

Carlos Fernando – É porque a arquitetura é forma, função e técnica. As formas de arquitetura variam de animal para animal porque as funções referem-se à necessidade de abrigo e defesa, de acordo com o ecossistema. Sobretudo contra os predadores e contra as tempestades. E cada construtor tem suas necessidades, suas habilidades e busca a melhor forma de proteger os ovos e filhotes. Protegem-se contra flutuações climáticas e mudanças ambientais, regulando temperatura, nível de umidade, danos mecânicos, troca de gases e ventilação. As técnicas dependem das funções e dos materiais, que variam tanto quanto as formas e funções, incluindo materiais naturais como barro, argila, areia, pedras, galhos, palha e fibras. Suas casas não obstruem a comunicação entre o interior e o exterior, permitindo-lhes observar tudo o que acontece à sua volta. Estudos mais acurados e uma observação mais atenta da vida e do comportamento dos pássaros e de outros animais, podem contribuir com novas e valiosas técnicas para o enriquecimento da arquitetura contemporânea. Integrar o projeto arquitetônico à simplicidade e despojamento das formas sustentáveis animais, pode ser uma alternativa à complexidade das construções modernas.

 

 

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