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Soluções inovadoras impulsionam a transição energética da indústria brasileira

Biomassa e resíduos da agropecuária têm papel fundamental para diminuir a participação de combustíveis fósseis no setor de transportes

 

Um dos líderes mundiais na produção agropecuária, o Brasil tem grande potencial para ampliar o uso de biomassa e resíduos do campo como fontes produtoras de energia limpa e renovável. A biomassa de cana representou 15,4% da oferta interna de energia no Brasil em 2022. É a maior parcela entre as fontes renováveis de energia que compõem a atual matriz nacional, conforme indica o quadro abaixo. A informação é do Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional 2023, da Empresa Nacional de Energia, ligada ao Ministério de Minas e Energias (MME) – disponível on-line aqui,

O entendimento e a aplicação do conceito de circularidade é um dos pilares para se alcançar maior eficácia no processo de transição energética. A ideia básica é diminuir ao máximo a produção de resíduos que, em uma situação ideal, chegaria a zero, ou seja, não geraria lixo ou qualquer material a ser descartado.

No setor agropecuário, a produção do etanol de cana-de-açúcar é um dos exemplos em que esse ideal é quase atingido devido ao alto índice de aproveitamento da biomassa de cana. Originalmente, produz-se etanol e os restos que ficam no campo após a colheita, a palha da cana, em vez de ser descartada, é aproveitada para gerar dois subprodutos comercializáveis: bioinsumos e biocombustíveis de segunda geração O biogás obtido desses resíduos atende, por exemplo, à demanda do setor de transportes por matérias-primas renováveis que diminuam a pegada de carbono do setor automobilístico. E os bioinsumos servem de fertilizantes naturais que incrementam a produtividade da própria cana e de outras culturas agrícolas.

No Brasil, esse é um potencial subaproveitado já que apenas 17% da capacidade instalada no setor sucroenergético está em operação. Para efeitos comparativos, no setor petrolífero, o índice de aproveitamento é quase pleno (97%). “Temos cerca de 60 indústrias que podem produzir 14,6 bilhões de litros de etanol por ano. Mas nossa estimativa é que, até o final de 2023, consigamos produza menos da metade desse montante”, lamenta Donizete Tokarski, diretor-Superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabrio). “Precisamos diminuir essa ociosidade para que possamos dar toda a contribuição que está ao nosso alcance nesse processo de transição energética”, destaca.

Para Donizete, a Embrapa tem um papel fundamental como parceira na superação desse e de outros entraves que o segmento ainda enfrenta. Em suas palavras, “por ser uma empresa de excelência reconhecida mundialmente e instituição vinculada ao Estado, a Embrapa tem total capacidade e legitimidade para atuar em favor de políticas públicas necessárias para ampliar a participação do agro brasileiro nesse processo”.

Outras culturas com potencial para produção de biomassa

Além da cana, outras culturas agrícolas, como o milho, a soja e a canola fornecem biomassa como matéria-prima para o etanol e, potencialmente, para a produção de combustíveis verdes. Nos EUA, por exemplo, prevalece o etanol de milho como alternativa aos fósseis. No Brasil, assim como o etanol de cana, substratos de outras culturas agrícolas podem compor a mistura de combustíveis fósseis como elemento redutor da quantidade de gases poluidores emitidos quando usamos gasolina e diesel.

Diminuir a ociosidade da capacidade instalada do segmento sucroenergético por meio da ampliação dos percentuais de etanol permitidos na composição dessa mistura é uma das demandas do setor. Atualmente, o mínimo exigido é 17% e o máximo permitido é 27,5%. E há, neste momento, uma janela de oportunidade para conciliar o atendimento a essa demanda com a necessidade de aceleração do processo de transição energética: o Projeto de Lei Combustível do Futuro que foi apresentado pelo governo federal e está em tramitação no Congresso Nacional. Entre outras medidas, o PL propõe um aumento desses limites para 22% e 30%, respectivamente.

E não é só a cultura da cana que tem um potencial subaproveitado quando se trata da produção de combustíveis verdes a partir de biorenováveis. Restos vegetais agrícolas e rejeitos da criação animal já são usados para a produção de biogás e biometano.

Recorrendo novamente ao paralelo com a indústria de fósseis, reproduz-se na cadeia extratora de biomassa e na obtenção de substratos orgânicos o que já se observa na do petróleo. Dessa matéria-prima original a indústria produz plásticos e combustíveis líquidos e ainda aproveita o gás natural resultante do processo original de extração do óleo. A intervenção logística é necessária apenas para canalizá-lo e assim gerar energia. Nada é desperdiçado, como lembra Amanda Duarte Gondim, coordenadora da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis de Aviação (RBQAV).

“Seguindo esse exemplo, temos também que beneficiar a biomassa ao máximo para ter maior índice de aproveitamento e maior valor agregado”, aponta, ao explicar porque a circularidade é fator essencial para que opções conhecidas tornem-se viáveis do ponto de vista econômico. “O aproveitamento de resíduos ajuda a fechar a conta ao baratear os custos de produção”, explica, em fala complementar à do representante do setor sucroenergético. “Somos favoráveis ao diesel verde e ao bioquerosene. Mas são alternativas que custam quase o dobro do biocombustível. Ainda que o melhor seja o diesel verde, ele sai pelo dobro do preço do etanol de cana”, informa Donizete.

O papel da agropecuária no mercado de biorenováveis

Mais um motivo para que a pesquisa agropecuária siga com suas investigações e descobertas. “Vai haver potencialmente uma competição por matéria-prima de origem biorenovável. E se não conseguirmos diversificar seguiremos restritos e sempre dependentes das mesmas culturas agrícolas”, assinala Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia. E biomassa há de sobra no Brasil. Mas ao pensar nas demandas industriais, a logística é um fator de grande peso.

Pensando na instalação de novas biorrefinarias, por exemplo, é possível planejar para que estejam próximas a regiões produtoras da biomassa adotada industrialmente. Como lembra Alonso, produzir e consumir no mesmo lugar é uma das maneiras de se diminuir custos. “Nem sempre teremos matérias-primas nos locais em que as demandas surgem. Mas os esforços da pesquisa agropecuária se voltam para conhecer e aproveitar ao máximo a diversidade de espécies vegetais do Brasil, considerando, por um lado, a ocorrência natural de algumas delas em determinadas regiões, e, de outro, seus níveis de adaptabilidade a diferentes territórios”, assegura o chefe da Embrapa Agroenergia.

Retomando a ideia de circularidade, a Geo Biogás & Carbon, tornou-se, ela mesma, exemplo aplicado do conceito ao aliar o potencial do setor agropecuário com a geração de gás eficiente. Unidades da empresa usam os subprodutos resultantes da produção do etanol para gerar tanto a energia consumida em suas instalações quanto os biocombustíveis que abastecem seus veículos. “Resíduos da produção de etanol, geram, como subprodutos, biometano e biogás. O biogás é aproveitado para a geração de energia elétrica. E o biometano, para o biocombustível veicular”, detalha Alysson Oliveira, Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa. E, conforme destacou, em casos assim, o campo ganha duas vezes: por um lado, diminui os custos de produção ao comercializar subprodutos a partir de resíduos que seriam descartados.

Por outro lado, incrementa a produtividade da lavoura ao usar restos culturais e resíduos da pecuária para gerar biofertilizantes. “Temos experimentos que comprovam esse incremento de produtividade na lavoura da cana a partir do uso da própria palha residual, fechando perfeitamente o ciclo de sustentabilidade”, informa.

Como mostra o quadro do BNE reproduzido no início desta reportagem, que apresenta a Repartição da Oferta Interna de Energia (OIE) no Brasil em 2022, petróleo e derivados têm a maior participação no mercado interno entre as fontes não renováveis (37,5%).

Transição energética

Hoje, com a contribuição da pesquisa agropecuária, o País tem um modelo bem-sucedido que pode ser replicado para acelerar a transição energética no segmento de combustíveis. Como vimos, o setor sucroenergético é um exemplo consolidado de cadeia produtiva sustentável, eficiente e eficaz para fornecer biomassa como matéria-prima alternativa às derivadas do petróleo. Um caminho acertado para atender a demanda presente e futura do setor de transportes leves. Mas quando observamos o setor de transporte, para a aviação e navegação marítima, que demandam os chamados combustíveis verdes, a realidade é bem mais desafiadora.

Navios e aviões demandam grandes quantidades de combustível líquido. E os combustíveis verdes, como hidrogênio, amônia ou querosene são criados a partir de moléculas que precisam ser liberadas em grandes quantidades para possibilitar uma produção em larga escala. Além disso, diferente de carros de passeios, aeronaves e grandes embarcações têm uma vida útil bem mais longa, de 20 a 25 anos. Assim, está dado que a substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis no transporte de grande porte se dará em ritmo bem mais lento.

Além disso, há outros fatores que tornam a transição energética nesses segmentos mais complexa. É o que explica a coordenadora da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis de Aviação (RBQAV), Amanda Duarte Gondim.

“A adoção de bioquerosene para promover a descarbonização desses setores é mais desafiadora porque são indústrias que demandam grandes volumes de um combustível líquido de alta capacidade energética”. Isso envolve questões logísticas, de transporte, armazenamento.  E, para a pesquisa agropecuária, segundo Amanda, “o desafio tecnológico é, a partir de uma matéria-prima renovável e sustentável, obter biocombustíveis de alto poder energético”.

Já se sabe que o setor agropecuário tem soluções comprovadamente eficientes, como o biogás composto de metano e CO2 gerado a partir de resíduos do campo. “Esse biogás, ao passar por um processo específico, torna-se um gás de síntese que libera moléculas de metano e de CO2“, explica Alysson Oliveira,. “E a liberação é em grande quantidade, em volume suficiente para produzirmos hidrogênio e metanol verdes”, atesta.

Em geral, a produção de biocombustíveis de alto poder energético, como os necessários para aviões e navios, utiliza processos termoquímicos.  “Mas a Embrapa tem uma grande expertise na parte biológica, com trabalhos de fotocatálise e de eletroquímica para a transformação de biomassa em combustíveis verdes”, destaca Amanda Gondim. “Ainda está em desenvolvimento, mas precisamos impulsionar essas áreas para que lá na frente tenhamos uma gama maior e bem diversa de opções”, recomenda. E, por isso, acredita ser essencial haver total apoio à Embrapa em seu trabalho de descobrir mais e melhores fontes de biomassa entre as culturas agrícolas para prover as demandas da indústria por biocombustíveis.

Embora no Brasil ainda existam lacunas, principalmente, em termos de regulamentação e efetividade de normativos, para Alysson Oliveira, “é possível fazer agora escolhas de baixo nível de carbono, pois se trata de um mercado extremamente desenvolvido”. Entre dados de um estudo de 2019 ele cita a seguinte estimativa: a produção potencial de biogás no Brasil, somente a partir de bioresíduos agropecuários, seria suficiente para substituir até 40% da energia elétrica consumida anualmente no país. “E isso considerando apenas resíduos do setor sucroenergético, de agroindústrias e de saneamento. Ou seja, sem competição com as culturas agrícolas fornecedoras de biomassa”.

 

Brasil tem grande potencial na produção de combustível sustentável

É com base em estimativas como essa que o gerente de PD&I da Geo Biogás & Carbon acredita que o Brasil pode ser um grande provedor de combustível sustentável de aviação para o mundo, contribuindo para superar parte das dificuldades que esse setor enfrenta na busca pela descarbonização. Resíduos da agropecuária são comprovadamente fontes renováveis eficientes para a produção de biogás, como comprovado pelo modelo praticado na empresa onde atua. E são recursos de que o Brasil dispõe em grande quantidade, situação privilegiada e equiparável a de poucos países do mundo.

O Brasil é uma incontestável potência agropecuária mundial. E, como bem lembra o Diretor-Presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), Evandro Gussi, “a agricultura é o único setor produtivo que além de sequestrar carbono tem capacidade de gerar soluções para evitar aumento das emissões”. Mais de 12 milhões de produtores estão vinculados à UNICA por meio de 32 associações que a compõem. Juntos, são responsáveis pela produção anual de 57 milhões de toneladas de cana no Brasil. Segundo dados apresentados por Evandro, 40% deste montante estão nas mãos de produtores e 60% na de usinas.

“O desenvolvimento, pela pesquisa, de variedades de cana com melhores teores para a produção de etanol de segunda geração é muito importante para o nosso segmento”, fez questão de destacar. “E o Brasil pode conquistar fatias do mercado internacional ao internacionalizar esse know how científico”, opina.

Painel debate potencial de descarbonização de biocombustíveis

As falas, opiniões, dados e perspectivas dos especialistas e representantes de diferentes segmentos da cadeia produtiva agro energética no Brasil foram apresentados no painel Transição energética e potencial de descarbonização dos biocombustíveis, realizado no dia 25/10,  como parte da programação do VII Encontro de Pesquisa e Inovação da Embrapa Agroenergia (VII EnPI). O evento presencial aconteceu em Brasília (DF) ao longo de três dias. É organizado pela Unidade da Embrapa criada exatamente para estabelecer uma ponte para viabilizar o fluxo constante entre a pesquisa agropecuária e a indústria de produção de energia renovável em suas diferentes vertentes.

Entre as soluções resultantes das pesquisas da Embrapa Agroenergia estão exatamente biocombustíveis e bioprodutos, além de modelos para o processamento e beneficiamento de matérias-primas de origem animal e vegetal.

Na carteira de projetos da Unidade, 35% são desenvolvidos em parceria com setor produtivo”, destacou Bruno Galvêas Laviola, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, mediador do painel Tecnologias da Embrapa, realizado na mesma tarde do dia 25/11. Inovações tecnológicas desenvolvidas pela empresa com trajetórias mercadológicas bem-sucedidas foram o fio condutor das falas dos palestrantes desse tema.

Juliana Escobar
Superintendência de Comunicação (Sucom)

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Fim de semana com música, teatro e algumas atrações gratuitas

Diversificada, programação inclui até um festival de flores, com palestras e estandes

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Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

 

O primeiro fim de semana do último mês do ano tem um pouco de tudo: flores, samba, cinema, teatro, música e arte circense. Tudo incentivado pelas secretarias de Turismo (Setur) e de Cultura e Economia Criativa (Secec), com eventos gratuitos para todas as idades. Confira, abaixo, a programação.

Festivais e feiras

Festflor Brasil apresenta diversos exemplares de plantas ornamentais, em programação que também inclui palestras | Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

O maior evento de flores e plantas ornamentais do Distrito Federal já começou e vai até este domingo (3), na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), das 11h às 19h. A oitava edição do FestFlor Brasil tem programação gratuita e conta com palestras e oficinas sobre floricultura, além de estandes para expor e comercializar plantas das mais variadas espécies.

O festival é organizado pela Sempre Eventos em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), a Setur, a Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), a Ceasa-DF e a Embrapa.

Outra atração deste fim de semana é a quinta edição do Festival Haynna e os Verdes, na Casa Akotirene, em Ceilândia Norte. Com entrada franca, o evento musical começa às 16h deste sábado (2), reunindo artistas do DF e do Brasil, como Maria Paula Andrade, DJ Kalectra, Mic Dias, Prethaís, Ane Êoketu, Haynna e os Verdes, Negra Eve, Lu Ferreira, Dj Lunary, Dark Style, Talíz, Marlene Souza Lima e Flor Furacão.

Já para quem aprecia a arte impressa, o Motim ocupará o Museu Nacional da República sábado e domingo, das 11h às 19h. O evento, gratuito, é uma feira colaborativa de talentos, com exposição de diversos artistas locais.

Samba e arte circense

Samba da Tia Zélia leva ritmos animados à praça central do Espaço Cultural Renato Russo | Foto: Divulgação

Como neste fim de semana é comemorado o Dia do Samba (2 de dezembro), o ritmo também compõe as atrações da agenda. No domingo, o Samba da Tia Zélia celebrará a data na praça central do Espaço Cultural Renato Russo, das 15h às 19h, em evento gratuito.

Samba da Tia Zélia virou o evento queridinho do público desde seu nascimento, em 2022. Diversos artistas reconhecidos passaram a frequentar a tenda da Vila Planalto, como os músicos do 7 na Roda, Goiabada Cascão, Samba na Comunidade, Teresa Lopes, Carol Nogueira, Cris Pereira e Litieh, entre outros.

Também neste sábado, o IFB Campus Gama será ocupado pela arte circense, com espetáculo Além das Palavras, às 19h, com entrada franca. O show é criado e estrelado pelo Intervenções de Circo Social, um grupo de educadoras que utiliza o circo como ferramenta para o desenvolvimento humano e social.

O coletivo utiliza as técnicas circenses, integrando-as com um projeto pedagógico inspirado na educação popular de Paulo Freire e trabalhando habilidades como malabares, equilíbrio, pirâmides humanas e acrobacias, além de abordar questões como melhora da autoestima, autossuperação, comunicação não violenta, coletividade e colaboração.

Cinema

Durante este fim de semana, o Cine Brasília exibirá, em parceria com a Embaixada da Rússia, uma sessão única do filme Khitrova, o Signo dos Quatro. A história se passa em Moscou, no ano de 1902, e segue o renomado diretor de teatro Konstantin Stanislavsky em sua busca por inspiração para uma nova peça. Com a ajuda de um especialista nas periferias da cidade, ele mergulha no lendário bairro dos bandidos, Khitrovka, para investigar o assassinato de um misterioso morador.

Clássico das chanchadas, ‘Carnaval Atlântida’ está em carta no Cine Brasília, em mostra gratuita | Foto: Divulgação

Ainda no Cine Brasília, segue em cartaz a mostra A Cinemateca é Brasileira. O projeto conta com a exibição dos filmes Carnaval Atlântida (1952), À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), São Paulo: A Sinfonia da Metrópole (1929), Bacurau (2019), Cabra Marcado para Morrer (1984), Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Limite (1931), O Bandido da Luz Vermelha (1968), Central do Brasil (1998) e Dona Flor e Seus Dois Maridos (1979). Todas as sessões da mostra são gratuitas.

Além disso, a animação Trolls 3 – Juntos Novamente continua em cartaz no Cine Brasília. As sessões contam com com recursos de acessibilidade de libras, legendas e audiodescrição por meio do aplicativo Mobi LOAD. Para acessar a programação completa e assistir aos trailers, basta entrar no site do Cine Brasília.

Teatro

Sábado e domingo, o coletivo Casa Moringa estreia a brincadeira-espetáculo Tawá Tingá: o Rio, a Cidade e a Onça. Protagonizada por mulheres, a peça reconta a história do povoamento de Taguatinga e da construção de Brasília, demarcando o protagonismo feminino nas culturas populares.

‘Tawá Tingá: o Rio, a Cidade e a Onça’ evoca seres da floresta para contar a história do povoamento de Taguatinga | Foto: Divulgação/Cied Pereira

Na apresentação, 18 mulheres retomam a amarração de fios da história que foram cortados na formação do Distrito Federal. Elas reocupam o território ancestral de Tawá Tingá (barro branco, na língua tupi), com um mutirão de reflorestamento do imaginário e de limpeza das águas profundas do rio da memória. Na travessia, vida e morte se encontram para celebrar o nascimento de um povo e de uma brincadeira, sob a proteção da guardiã da floresta, a onça Yayá.

As duas sessões de estreia serão apresentadas na Ocupação Cultural Mercado Sul Vive, em Taguatinga, com interpretação em Libras e audiodescrição. No sábado, a peça começa às 20h; no domingo, às 17h. A entrada é franca, com classificação indicativa livre.

 

 

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Cine Brasília tem sessão exclusiva para série sobre Juscelino Kubitschek

Cinema mais tradicional da capital exibirá terceiro capítulo da obra ‘JK, o Reinventor do Brasil’, produzida pela TV Cultura

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Nesta terça (28), o Cine Brasília exibe, com exclusividade, o terceiro capítulo da minissérie documental JK, o Reinventor do Brasil. Produzida pela TV Cultura, a obra narra, de forma acessível e em ritmo de podcast, a história do ex-presidente Juscelino Kubitschek, desde o dia do nascimento até o momento da morte trágica e jamais esclarecida.

A série documental mostra momentos importantes da vida e da carreira política de Juscelino Kubitschek, uma referência histórica de Brasília e do Brasil | Fotos: Divulgação

“Queremos que as novas gerações conheçam a figura do ex-presidente e seu legado para o país”Fábio Chateaubriand Borba, autor da minissérie e diretor-executivo da TV Cultura

Com linguagem diferenciada e didática, a série conta, no total, com quatro episódios de 50 minutos cada. O primeiro retrata a infância de Juscelino em Diamantina (MG) e vai até a eleição ao Governo de Minas Gerais. O segundo episódio, por sua vez, narra a eleição de JK para a Presidência da República e os desafios que ele precisou enfrentar até tomar posse – inclusive o de aprovar a transferência da capital federal, que era o Rio de Janeiro (RJ), para Brasília.

Já o terceiro episódio, exibido com exclusividade no Cine Brasília, relata essencialmente a construção da nova capital. “A série tem como objetivo mostrar a história de um personagem brasileiro da importância de Juscelino; queremos que as novas gerações conheçam a figura do ex-presidente e seu legado para o país”, explica o autor da minissérie e diretor-executivo da TV Cultura, Fábio Chateaubriand Borba.

Nova abordagem

O quarto e último capítulo aborda desde a cassação de JK até a morte em um acidente automobilístico, na Rodovia Presidente Dutra. “Juscelino foi o brasileiro médio, que vem do interior com dificuldades financeiras, perde o pai cedo e é criado pela mãe, uma professora que lutou bastante pelos filhos”, pontua Fábio Borba. “É essa epopeia que queremos levar para os jovens, com abordagens modernas, muita tecnologia e música”.

JK (de terno) entre os célebres compositores mineiros Lô Borges, Fernando Brant, Márcio Borges e Milton Nascimento: trilha sonora do documentário também é diferenciada

O diretor classifica como única a oportunidade de poder exibir a obra no Cine Brasília: “É uma felicidade muito grande poder trazer essa série para Brasília. A forma como abordamos essa jovem cidade quebra paradigmas e estereótipos que muita gente tem da nossa capital. Poder lançar nossa série nessa obra arquitetônica de Oscar Niemeyer dá importância ao nosso trabalho”.

JK, o Reinventor do Brasil é uma produção voltada para todas as faixas etárias. A série documental configura o maior trabalho iconográfico já feito sobre a vida do ex-presidente, tendo sido produzida a várias mãos, com o apoio de dezenas de instituições de arquivo público nacionais e até internacionais.

A obra completa conta com mais de 50 mil fotografias, 80 horas de vídeos captados e mais de mil horas de edição. Outro diferencial é a trilha sonora,  com canções que marcaram as várias fases da vida de Juscelino.

Serviço

JK, o Reinventor do Brasil

→ Terça-feira (28), às 20h, no Cine Brasília – Entrequadra Sul 106/107, Asa Sul
→ Classificação indicativa livre. Entrada: presença deve ser confirmada por meio deste link.

 

Victor Fuzeira, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

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A CASA DOS ANIMAIS

Mesmo com os avanços científicos conquistados, o ser humano tem ainda muito a aprender com a natureza.

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É maravilhoso estudar o comportamento de cada animal, seja ele mamífero, peixe ou pássaro, em relação à sua casa. Cada espécie tem sua característica, tem sua habilidade e tem, sobretudo, um padrão de arquitetura às vezes complexa, às vezes simples, mas sempre criando técnicas e usos de materiais que lhes permite edificar suas moradias ao abrigo das mais severas condições climáticas. Alguns animais preferem viver em delicados e confortáveis casulos de pelo, paina, lã ou musgo e outros buscam cavidades em árvores, rochas ou solo e, até mesmo, labirintos com formas diversas e adaptadas para chuva, vento, calor ou frio.

 

O Pássaro Pavilhão macho faz grandes cabanas com

galhos de árvores, com uma característica interessante:

enfeita seus lares com flores, bagas e outros arranjos para

atrair as fêmeas.

 

 

O Pássaro Pavilhão macho tem olhos azuis e habilidades de arquiteto e decorador. É um pássaro sedutor. O pássaro pavilhão (bowerbird em

inglês) diversifica os rituais de namoro e exalta a natureza.

 

 

Mesmo com os avanços científicos conquistados, o ser humano tem ainda muito a aprender com a natureza. É verdade que alguns animais se contentam em achar refúgios pouco confortáveis ou seguros como tocas e troncos secos, mas existem outros que constroem casas perfeitamente adaptadas a seu peculiar estilo de vida e às necessidades de sobrevivência. Para falar e explicar essa diversidade de moradias na natureza, conversamos como o arquiteto-da-paisagem Carlos Fernando de Moura Delphim.

 

CARLOS FERNANDO DE MOURA DELPHIM –  ENTREVISTA

 

 

Arquiteto e paisagista formado pela UFMG, Carlos Fernando é técnico do Iphan e membro da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco. Moura Delphim trabalha com projetos e planejamento para manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, histórico, natural, paleontológico e arqueológico. É discípulo de Burle Marx e foi o paisagista favorito do mestre Oscar Niemeyer. Moura Delphim é autor de várias publicações, entre elas JARDINS DO BRASIL.

 

 

Folha do Meio – É incrível o comportamento dos animais em relação às suas casas!

Carlos Fernando – De fato, é incrível e muito interessante. É justamente o comportamento construtivo de muitos animais que dá origem às mais curiosas formas de arquitetura, com construções muitas vezes escultóricas. Isto decorre de atividades adotadas por diferentes espécies que se utilizam dos recursos provenientes dos distintos ambientes nos quais habitam.

 

FMA – Tem animal que ganha sua casa da natureza e outros têm que construí-las, não é?

Carlos Fernando – Esse comportamento difere do surgimento espontâneo de abrigos como as conchas dos moluscos que crescem juntamente com o organismo dessas espécies. Alguns caracóis possuem conchas tão bonitas que sua captura para comercialização os coloca em risco de extinção, como o caracol de deslumbrante coloração de Cuba (Polymicta picta) do qual não existe nenhuma concha igual à outra. Já a arquitetura animal difere por não ocorrer espontaneamente. É consequência do trabalho do animal que não é apenas o arquiteto, mas também o mestre de obra e operário, atividades sem as quais não poderia fruir as vantagens de seu engenho.

 

FMA – Os humanos buscaram, de alguma forma, o ‘know-how’ com os animais para construírem suas casas?

Carlos Fernando – De certa forma, sim. Mas é evidente que a racionalidade e o conhecimento levaram o ser humano ao aperfeiçoamento e a uma sofisticação maior. A arquitetura bioclimática é, muitas vezes, inspirada em padrões da arquitetura animal. O fato é que alguns animais produzem estruturas extremamente complexas, com formas aparentemente mais racionais do que algumas soluções arquitetônicas humanas, como é o caso das abelhas da espécie Apis melifera, cujas edificações apresentam soluções tão ou mais lógicas do que as humanas. Os favos das colmeias são estruturas extremamente leves, compostas de uma sequência de compartimentos ocos e de forma perfeitamente hexagonal. As formigas, cupins, vespas e ninhos de aves são ou podem ser uma fonte de inspiração.

 

 

O fato é que alguns animais produzem estruturas extremamente complexas, com formas aparentemente mais racionais do que algumas soluções arquitetônicas humanas, como é o caso das abelhas da espécie Apis melifera, cujas edificações apresentam soluções tão ou mais lógicas do que as humanas.

 

 

FMA – Há casos em que os animais foram mais eficazes?

Carlos Fernando – Interessante, mas há um exemplo fantástico. Nenhuma obra humana pode ser comparada pela leveza, pela perfeição, despojamento e pela capacidade de cumprir suas funções com tanta eficiência como a casa da aranha. A teia de aranha serve não apenas de abrigo como também para capturar as presas nas quais são depositados os ovos que irão alimentar as pequenas aranhas recém-nascidas. Essas construções levíssimas, quase imateriais, cuja empreitada segue uma disposição rigorosa com cada passo de construção dependendo do anterior, resistem à ventania e chuvas. Sua criação segue em ordem rigorosa, não havendo nenhuma arquitetura humana que possa a ela se comparar. É residência, armadilha, despensa ou depósito de alimento, tudo da forma mais etérea e despojada possível.

 

 

Exemplo da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro permite que seus moradores, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos. (foto: José Raul Valério)

 

 

FMA – E existem outras tecnologias animais que o ser humano ainda não conseguiu copiar?

Carlos Fernando – Existem sim. Veja o caso da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro ou um termiteiro permite que seus moradores, os cupins, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos. Nos meios rurais há um costume de se cavar um cupinzeiro para em seu interior se construir fornos com a finalidade de assar alimentos. Quando não se retiram os cupins, o forno continua a crescer, mesmo sendo usado, o que se pode observar em um museu rural existente em Goiânia. Se a arquitetura erudita se utilizasse deste exemplo, mais conhecido pelas técnicas vernaculares, muito se economizaria em refrigeração doméstica. Muito também contribuiria para reduzir o aquecimento global que é acelerado pelo uso de condicionadores de ar.

 

 

 

 

 

Existem tecnologia que o ser humano poderiam copiar. É o caso da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro ou um termiteiro permite que seus moradores, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos.

 

 

FMA – E o que mais o surpreende nestes casos?

Carlos Fernando – Muitas coisas me surpreendem. Veja, por exemplo, como é surpreendente que, sem possuir ou manejar qualquer forma de ferramenta, sem ser dotados de habilidade como são as mãos, os animais bem adaptados a seu habitat puderam aprender ou criar técnicas e usos de materiais de construção. Isto lhes permitiu edificar suas moradias ao abrigo das mais severas condições climáticas. Muitas espécies, quando não dispõem de cavidades naturais das quais se aproveitem, constroem ninhos furando troncos, escavando o solo ou mesmo rochas, como é o caso de mamíferos como a toupeira e o texugo. Alguns insetos e pássaros criam labirintos de peças rigorosamente idênticas entre si, como ocorre com as admiráveis obras das abelhas e dos cupins.

 

FMA – Há outros exemplos?

Carlos Fernando – Sim. Há animais que optam por uma arquitetura que edifica o vazio das cavidades por eles esculpidas. Outros criam obras fazendo maciços com tecidos de fibras e galhos emaranhados como o guache, as cegonhas, águias e abutres. Outros preferem viver em delicados e confortáveis casulos de pelo, paina, lã ou musgo, de forma quase esféricas, como certos beija-flores.

 

FMA – O ser humano busca reciclar suas matérias primas para a construção. E os animais?

Carlos Fernando – Esta é outra característica interessante e muito curiosa em ver como certos animais reciclam também materiais e construções alheias. Aves, como a coruja, se instalam em buracos escavados nas casas de outras espécies, como os cupinzeiros.

 

FMA – Na verdade o sistema de construção pode ser bem diferente…

Carlos Fernando – É, cada um se baseia em um diferente sistema construtivo e na disponibilidade de materiais que encontram em seus habitats. Os ninhos das aves são construídos das formas mais engenhosas e intricadas. Enquanto o pica-pau e o martim-pescador escavam os troncos, o joão-de-barro, um hábil construtor, constrói um domo em barro com uma planta-baixa de desenho simples, mas com funções complexas. Uma forma espiralada na qual uma pequena abertura dá acesso ao túnel curvo que conduz à câmara central.

 

FMA – Enfim, os animais são mais engenheiros ou mais arquitetos?

Carlos Fernando – É verdade, alguns animais, mais do que arquitetos, são habilidosos engenheiros ao definir tipos de estruturas, suas formas e funções. Os castores são arquitetos e engenheiros construtores de barragens altamente resistentes. Constroem represas para conter as águas, utilizando-se de seus dentes de roedor e juntando galhos e troncos nas margens dos rios, com efeitos mais positivos menos danosos do que muitas barragens humanas em concreto armado.

 

As formas de arquitetura variam de animal para animal porque as funções referem-se à necessidade de abrigo e defesa, de acordo com o ecossistema. Sobretudo contra os predadores e contra as tempestades. E cada construtor tem suas necessidades e suas habilidades.

 

 

FMA – Por que pássaros da mesma ordem, do mesmo tamanho variam tanto o tipo de seus ninhos?

Carlos Fernando – É porque a arquitetura é forma, função e técnica. As formas de arquitetura variam de animal para animal porque as funções referem-se à necessidade de abrigo e defesa, de acordo com o ecossistema. Sobretudo contra os predadores e contra as tempestades. E cada construtor tem suas necessidades, suas habilidades e busca a melhor forma de proteger os ovos e filhotes. Protegem-se contra flutuações climáticas e mudanças ambientais, regulando temperatura, nível de umidade, danos mecânicos, troca de gases e ventilação. As técnicas dependem das funções e dos materiais, que variam tanto quanto as formas e funções, incluindo materiais naturais como barro, argila, areia, pedras, galhos, palha e fibras. Suas casas não obstruem a comunicação entre o interior e o exterior, permitindo-lhes observar tudo o que acontece à sua volta. Estudos mais acurados e uma observação mais atenta da vida e do comportamento dos pássaros e de outros animais, podem contribuir com novas e valiosas técnicas para o enriquecimento da arquitetura contemporânea. Integrar o projeto arquitetônico à simplicidade e despojamento das formas sustentáveis animais, pode ser uma alternativa à complexidade das construções modernas.

 

 

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