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Exposição gratuita celebra a arte e os artistas do Planalto Central
Mostra leva para o Museu Nacional da República mais de 400 obras de 158 pintores, escultores e criadores conectados com Brasília

Por Victor Fuzeira, da Agência Brasília | Edição: Carolina Caraballo
Retratar a dimensão estética do surgimento de Brasília e celebrar a diversidade artística da capital são premissas da exposição Brasília, a Arte do Planalto, em cartaz no Museu Nacional da República. Com curadoria de Paulo Herkenhoff e cocuradoria de Sara Seilert, a mostra reúne mais de 400 obras de 158 artistas que, de alguma forma, têm ligação com a cidade e a região do Planalto Central.

A exposição ‘Brasília, a arte do Planalto’ leva a diversidade artística da capital para o Museu Nacional da República em 400 obras de 158 artistas | Fotos: Tony Oliveira/Agência Brasília
A exposição, realizada pela FGV Arte em parceria com o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), teve início no dia 25 de setembro e segue até 24 de novembro. A entrada é franca e livre para todos os públicos.
Segundo a diretora do Museu Nacional da República, Fran Favero, as obras levam o visitante para um passeio que começa na criação da cidade e vai até os movimentos recentes em defesa da democracia e da liberdade, mostrando a importância da capital em diversas esferas, além da política.
“Quando essa exposição veio para Brasília, o curador, Paulo Herkenhoff, teve o cuidado de incluir também a cocuradora Sara Seilert, aqui de Brasília, e de dar uma atenção tanto para acervo do Museu Nacional da República quanto para os artistas daqui do DF. Afinal, é uma exposição sobre Brasília”, explica.

Diretora do Museu Nacional da República, Fran Favero conta que as obras levam o visitante para uma viagem que começa na criação da cidade e vai até os movimentos recentes em defesa da democracia e da liberdade
A cocuradora Sara Seilert, por sua vez, ressalta a pluralidade de técnicas, estilos e identidades presentes na exposição, proporcionando ao espectador uma experiência abrangente que celebra a identidade artística da capital. “A gente decidiu acolher outras linguagens, além de novos artistas, para ampliar essa abordagem de uma possível história da arte brasiliense”, destaca.
“Brasília tem uma produção muito diversa, dispersa e pungente. Aqui, na exposição, a gente vê como essa produção dialoga entre si e até com a academia, porque nós temos obras produzidas por artistas que foram professores, que formaram alunos e alunas, ou artistas que produziram fora do cânone, como autodidatas, mas que também dialogaram com esses artistas”, completa.

A exposição teve início no dia 25 de setembro e segue até 24 de novembro; a entrada é franca e livre para todas as idades
As obras
A exposição destaca artistas contemporâneos, como Christus Nóbrega, em cartaz com a obra Brasília, enfim. Nela, o professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB) propõe uma reflexão sobre a ancestralidade e a identidade, imaginando uma capital utópica e abordando a ideia de como construir um futuro sem esquecer o passado.
Inspirado por um projeto de lei de 2011, que permitiria a afrodescendentes e indígenas alterarem sobrenomes para recuperar suas origens, Nóbrega criou um “cartório de retificação identitária” como parte de sua exposição. Utilizando inteligência artificial, o artista desenvolveu um agente inteligente com uma base de dados de mais de 8 mil sobrenomes africanos e indígenas, permitindo que visitantes participem de uma experiência interativa que lhes possibilita reconstruir seus sobrenomes, resgatando raízes que foram apagadas ao longo da história.
“O objetivo é retratar um Brasil que não tem sobrenomes de duas grandes bases da formação do seu país, tendo que conviver com essa ferida. E também é um momento que a gente tem de colocar um pouco em pauta essa lei e quem sabe movimentá-la novamente, já que está engavetada; seria um benefício de restauração identitária para o país sem precedentes na história”, detalha o docente.
Os visitantes também poderão ver de perto a obra Arco, da artista visual Luciana Paiva. Exposta na mostra, ela aborda a reconfiguração de um objeto cotidiano – uma gaiola – para criar um novo desenho e composição que se relaciona tanto com a cidade de Brasília quanto com o conceito de liberdade.
Segundo a artista, a escultura reflete a ideia de resgate ao espírito de construção e de pertencimento, que marcaram a fundação da capital, além de trazer uma reflexão sobre a relação entre interior e exterior. “É um trabalho que tem um sentido utópico, que está no início da construção da cidade, e que eu acho que precisa ser resgatado pelas pessoas que hoje vivem aqui, pelas pessoas que fizeram parte, fazem parte desse território”.

As peças de autoria de Alice Lara foram inspiradas em uma experiência que a artista teve em um zoológico, onde ela retrata como a humanidade tenta organizar e controlar a natureza
Outra obra em cartaz leva a assinatura de Alice Lara. Intitulada As Ordens do Paraíso, a dupla de pinturas explora a relação entre seres humanos e animais, inspirada por sua vivência no Distrito Federal, onde o contato com a natureza ainda é presente, apesar do avanço natural da urbanização. As peças foram inspiradas em uma experiência que teve em um zoológico, onde ela retrata como a humanidade tenta organizar e controlar a natureza segundo seus próprios padrões.
Em suas palavras, Alice Lara classifica a cena que a inspirou como um “simulacro de natureza”, uma imagem idealizada e artificial de harmonia entre os animais. “Eu estava no zoológico, quando o pai virou para o filho e disse: ‘Olha, filho, como seria maravilhoso se todos os animais vivessem juntos desse jeito. Seria como o paraíso.’ E é isso que a pintura busca retratar – vários animais juntos nesse simulacro de natureza, onde tudo é verdinho, tudo é perfeito e bonito”.
Exposição Brasília, a Arte do Planalto
→ Local: Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, Lote 2)
→ Data: até 24 de novembro, de terça-feira a domingo, das 9h às 18h30
→ Entrada gratuita
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A VOLTA DE JEAN DE LÉRY PARA A FRANÇA
O naturalista que entrou de gaiato no navio, veio para o Rio de Janeiro e deixou um relato precioso do Brasil de 1557. Sua volta para a França coincidiu com o fim da colônia francesa no Brasil.

Naturalistas Viajantes – JEAN DE LÉRY (Parte 16)
“Uma vez em terra, caminhei ao longo da Avenida Rio Branco,
onde uma vez existiram as aldeias tupinambás;
no meu bolso havia aquele breviário do antropólogo, Jean de Léry.
Ele chegou ao Rio 378 anos antes, quase no mesmo dia”.
Claude Lévi-Strauss em ‘Tristes Trópicos’, ao chegar ao Rio de Janeiro em 1934.
A volta de Jean de Léry para a França também marca o fim da colônia francesa no Brasil. Após a expulsão dos franceses da Guanabara, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar “heresias protestantes”. Quanto à viagem de volta, Jean de Léry conta em detalhes como, por milagre, se salvou de uma grande tempestade em alto mar.
Lévi-Strauss assim se refere a Léry: “A leitura de Léry me ajuda a escapar de meu século, a retomar contato com o que eu chamaria de ‘sobre-realidade’, não aquele de que falam os surrealistas, mas uma realidade ainda mais real do que aquela que testemunhei. Léry viu coisas que não têm preço, porque era a primeira vez que eram vistas e porque foi a mais de quatrocentos anos”.
O FIM DA COLÔNIA FRANCESA NO BRASIL
Após a expulsão dos franceses da Guanabara, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar “heresias protestantes”. O jornalista e historiador paranaense José Francisco da Rocha Pombo (1857-1933), em sua ‘História do Brasil’ publicada em 1935, recupera parte da história dos religiosos franceses: “Jacques Le Balleur foi poupado, pois era ferreiro. Isto praticamente marcou o fim da colônia francesa, e encerrou a tragédia da Guanabara”.
Em nota de rodapé, explica: “Após conseguir viver escondido, Jacques Le Balleur foi preso pelos portugueses nas cercanias de Bertioga. Ele foi enviado para Salvador, na Bahia, que era a sede do governo colonial, onde foi julgado pelo crime de “invasão” e “heresia”, isso em 1559. Em abril de 1567, foi queimado, sendo auxiliar do carrasco José de Anchieta, para consternação dos católicos”.
A VIAGEM DE VOLTA E SALVOS POR MILAGRE
“Prosseguindo na narração dos extremos perigos de que Deus nos livrou no mar, durante o nosso regresso, contarei um deles, proveniente de uma disputa surgida entre o nosso contramestre e o nosso piloto, em virtude da qual, por despeito, nenhum deles desempenhou desde então os deveres do cargo. A 26 de março, fazendo o piloto o seu quarto, conservou abertas todas as velas sem perceber a aproximação de um furacão que se preparava e que desabou com tal ímpeto que adernou o navio a ponto de mergulharem os cestos de gávea e a ponta dos mastros no mar, atirando à água cabos, gaiolas e todos os objetos que não estavam bem amarrados, pouco faltando para que virássemos completamente. Todavia, cortadas com rapidez as enxárcias e escotas da vela grande, aprumou-se o navio pouco a pouco. Pode-se dizer que só por um milagre nos salvamos, mas nem por isso concordaram os causadores do mal em reconciliar-se, não obstante os rogos de todos; muito ao contrário, apenas passado o perigo engalfinharam-se e com tal fúria se bateram que julgamos se matassem na luta.
‘ESTAMOS PERDIDOS, ESTAMOS PERDIDOS’
Por outro perigo passamos dias depois. Estando o mar calmo, pensaram o carpinteiro e outros marinheiros em aliviar-nos do trabalho de bombear, procurando tapar melhor as fendas por onde entrava a água. Aconteceu que mexendo em um deles para consertá-lo, despregou-se uma peça de madeira de quase um pé quadrado e a água entrou com tal abundância e rapidez que forçou os marinheiros a subirem para o convés abandonando o carpinteiro. E sem sequer contar-nos o fato, berravam: ‘Estamos perdidos, estamos perdidos’.
Diante disso, o capitão, o mestre e o piloto trataram de pôr ao mar a toda a pressa o escaler, mandando também lançar à água os toldos do navio, grande quantidade de pau-brasil e outras mercadorias num valor total de mil francos, decididos a abandonar a embarcação e a salvar-se no bote. Mas temendo o piloto que o grande número de pessoas que tentavam embarcar tornasse a carga excessiva, saltou do bote com um cutelo na mão, ameaçando romper os braços do primeiro que tentasse entrar.
Vendo-nos assim desamparados à mercê das ondas, lembramo-nos do primeiro naufrágio de que Deus nos livrara e, resolvidos a lutar pela vida, empregamos todas as nossas forças em bombear a água a fim de que o navio não afundasse; e tanto trabalhamos que o conseguimos. Nem todos, porém se mostraram corajosos. Os marinheiros, em sua maioria, estavam desatinados e tão temerosos se mostravam da morte que já não se importavam com coisa alguma a não ser em beber à farta. Estou certo de que os rabelesianos, escarnecedores e desprezadores de Deus, que em terra tagarelam sentados à mesa e comentam com motejos os naufrágios e perigos em que se encontram muitas vezes os navegantes, teriam seus gracejos mudados em pavor se nesta situação se encontrassem. E creio também que muitos leitores desta narrativa e dos perigos por que passamos dirão com o provérbio: ‘Muito melhor é plantar couves ou ouvir discorrer do mar e dos selvagens do que tentar tais aventuras’. (…)
O nosso carpinteiro, rapaz animoso, não abandonara o porão como os marinheiros, mas enfiara o seu capote de marujo no buraco, comprimindo-o com os pés para quebrar o impulso da água, a qual, como depois nos disse, por várias vezes o desalojou, tal a sua impetuosidade. Assim nessa posição gritou ele quanto pôde para que os de cima, do convés, lhe levassem roupas, redes de algodão e outras coisas com que pudesse deter o jorro d’água enquanto consertava a peça. Graças a esse esforço fomos salvos”.
PÓLVORA E FOGO
“Como temíamos encontrar piratas nessas paragens, ao sair desse mar de ervas não só assestamos quatro ou cinco peças de artilharia que havia no navio, mas ainda preparamos as necessárias munições para nos defendermos oportunamente. Entretanto, com isso novo perigo tivemos que vencer. Quando o nosso artilheiro secava a pólvora em uma panela de ferro, esqueceu-a ao fogo até tornar-se incandescente e a pólvora se inflamou, correndo a chama de uma à outra extremidade do navio, de forma que inutilizou velas e massame e por pouco não incendiou o breu de que o navio estava untado, queimando-nos todos em pelo mar. Aliás, um grumete e dois marujos foram tão maltratados pelo fogo que um deles morreu poucos dias depois. Por minha parte, se não tivesse rapidamente levado ao rosto o boné de bordo, ter-me-ia queimado seriamente; escapei chamuscando apenas a ponta das orelhas e os cabelos”.
PRÓXIMA EDIÇÃO 376 – JULHO DE 2025 – PARTE 17.
TRÁGICA VOLTA – O erro do piloto em calcular a posição do navio “fez com que em fins de abril já estivéssemos inteiramente desfalcados de todos os víveres; já varríamos o paiol, cubículo caiado e gessado onde se guarda a bolacha nos navios, mas encontrávamos mais vermes e excrementos de ratos do que migalhas de pão. Quando havia, repartíamos às colheradas esse farelo e com ele fazíamos uma papa preta e amarga como fuligem. Os que ainda tinham bugios e
papagaios, a que ensinavam a falar, comeram-nos. E vindo a faltar por completo os víveres, em princípio de maio, dois marinheiros morreram de hidrofobia da fome, sendo sepultados no mar como de praxe”.
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