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Cientista da Embrapa é laureada com Prêmio Mundial da Alimentação, reconhecido como “Nobel” da agricultura

 

Por sua relevante contribuição ao desenvolvimento de insumos biológicos para a agricultura, a cientista brasileira Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja, é a laureada da edição de 2025 do Prêmio Mundial de Alimentação – World Food Prize (WFP) -, reconhecido como o “Nobel” da agricultura. O anúncio de sua nomeação ocorreu na noite desta terça-feira (13) na sede da Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos, criada pelo Nobel da Paz Norman Borlaug, pai da revolução verde. A solenidade de entrega da homenagem será realizada em 23 de outubro, em Des Moines (EUA).

O prêmio reconhece anualmente as personalidades que contribuem para o aprimoramento da qualidade e da disponibilidade de alimentos no mundo e também é conhecido como o “Nobel” da agricultura e alimentação, uma vez que essa categoria não é contemplada nas categorias oficiais do Nobel.

“Estou imensamente feliz, ainda não consigo acreditar, é uma grande honra, um reconhecimento mundial. Acredito que minha principal contribuição para mitigar a fome no mundo tenha sido minha persistência de que a produção de alimentos é essencial, mas deve ser feita com sustentabilidade. Foi uma vida dedicada à busca por altos rendimentos, mas via uso de biológicos, substituindo parcial ou totalmente os fertilizantes químicos. Com essa premiação, existe também o reconhecimento do empenho da pesquisa brasileira rumo a uma agricultura cada vez mais sustentável, favorecendo nossa imagem no exterior”, explica Mariangela Hungria.

Para a pesquisadora, por muitos anos, o conceito predominante era o de produzir alimentos para acabar com a fome no mundo, no entanto, seu trabalho sempre esteve pautado na produção de alimentos de forma sustentável. “Hoje, percebo uma crescente demanda global por maior produção e qualidade de alimentos, mas com sustentabilidade — reduzindo a poluição do solo e da água e diminuindo as emissões de gases de efeito estufa”, ressalta. “Minha abordagem busca ‘produzir mais com menos’ — menos insumos, menos água, menos terra, menos esforço humano e menor impacto ambiental”, sempre rumo a uma agricultura regenerativa, reforça.

Solenidade WFP 2025

A governadora do estado de Iowa, Kim Reynolds, celebrou a homenagem. “A trajetória da Dr.ª Hungria mostra que ela é uma cientista de grande perseverança e visão – caraterísticas que partilha com o Dr. Norman Borlaug, fundador do Prêmio Mundial da Alimentação e pai da Revolução Verde”, afirmou a Governadora Reynolds. “Como cientista pioneira e mãe, a Dra. Hungria também serve como um exemplo inspirador para mulheres pesquisadoras que buscam encarnar ambos os papéis. As suas descobertas e desenvolvimentos contribuíram para levar o Brasil a tornar-se um celeiro mundial. O Prêmio reconhece aqueles cuja coragem e inovação transformam o nosso mundo”, destaca.

O presidente do Comitê de Seleção dos indicados ao Prêmio, Dr. Gebisa Ejeta ressaltou que “A Dr.ª Hungria foi escolhida pelas suas extraordinárias realizações científicas na fixação biológica que transformaram a sustentabilidade da agricultura na América do Sul. “O seu brilhante trabalho científico e a sua visão empenhada no avanço da produção agrícola sustentável para alimentar a humanidade com o uso criterioso de fertilizantes químicos e insumos biológicos deram-lhe reconhecimento global, tanto no país como no estrangeiro.”

O chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, comemorou a indicação da pesquisadora ao prêmio. “É uma grande honra contar com uma das maiores cientistas da área agrícola do mundo compondo a equipe de pesquisa da Embrapa Soja. Posso dizer que é um privilégio para a Embrapa Soja ter a Mariangela atuando ativamente em prol da ciência agrícola, e mais, trazendo soluções para desafios complexos da sojicultura e resultados práticos que realmente impactam a vida dos produtores. Por isso, esse reconhecimento do WFP, que é equivalente ao Prêmio Nobel da Agricultura, vem coroar a trajetória de excelência na pesquisa agropecuária que ela faz. Seu trabalho é um orgulho para a Embrapa e para todo o Brasil”, comemora.

A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, também celebrou a conquista. “Considero esta uma homenagem dupla — e profundamente significativa. Primeiro, à nossa colega pesquisadora, uma mulher que dedicou sua trajetória à ciência, acreditando no poder dos microrganismos para transformar a agricultura em uma atividade mais produtiva, competitiva e sustentável. Segundo, à nossa empresa, que em seus 52 anos sempre investiu e acreditou nesses ideais. Como primeira mulher a presidir esta instituição, sinto-me especialmente tocada por esta homenagem, que valoriza não apenas a excelência científica nacional, mas também o protagonismo feminino na construção de um país mais inovador e justo”, afirma.

Uma vida dedicada à microbiologia

Mariangela está sendo reconhecida por sua trajetória de mais de 40 anos dedicados ao desenvolvimento de tecnologias em microbiologia do solo, o que vem permitindo aos produtores rurais a obtenção de altos rendimentos com menores custos e mitigação de impactos ambientais.  A ênfase das suas pesquisas tem sido no aumento da produção e na qualidade de alimentos por meio da substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos portadores de propriedades como fixação biológica de nitrogênio (FBN), síntese de fitormônios e solubilização de fosfatos e rochas potássicas.

O uso da inoculação na soja com bactérias fixadoras de nitrogênio (Bradyrhizobium), que pode ser ainda mais benéfico se associado à coinoculação com a bactéria Azospirilum brasiliense. Somente em 2024, por exemplo, esta tecnologia propiciou uma economia estimada de 25 bilhões de dólares, ao dispensar o uso de adubos nitrogenados. A pesquisadora estima esse valor considerando a área de soja, a produção de soja, o valor do fertilizante (ureia) que seria necessário para essa produção, e a eficiência de uso do fertilizante nitrogenado. Além deste benefício, Mariangela explica que essa tecnologia evitou, em 2024, a emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalentes por ano para a atmosfera. Hoje, a inoculação da soja é adotada anualmente em aproximadamente 85% da área total cultivada de soja, hoje cerca de 40 milhões de hectares — representando a maior taxa de adoção de inoculação do mundo.

Associado aos trabalhos com soja, a pesquisadora também coordena pesquisas que culminaram com o lançamento de outras tecnologias: autorização/recomendação de bactérias (rizóbios) e coinoculação para a cultura do feijoeiro, Azospirillum brasiliense para as culturas do milho e do trigo e de pastagens com braquiárias.  Ainda em relação às gramíneas, em 2021, a equipe da pesquisadora lançou uma tecnologia que permite a redução de 25% na fertilização nitrogenada de cobertura em milho por meio da inoculação com A. brasilense, gerando benefícios econômicos significativos para os agricultores e impactos ambientais positivos para o país.

Sobre o prêmio

O Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize) foi idealizado por Norman E. Borlaug – vencedor do Prêmio Nobel da Paz, em 1970, por seu trabalho na agricultura global – para homenagear as contribuições para o incremento no suprimento mundial de alimentos. É um reconhecimento internacional àqueles que trabalham para aprimorar a qualidade, a quantidade ou a disponibilidade de alimentos no mundo.

Concedido anualmente, o WFP foi criado, em 1986, com o patrocínio da General Foods Corporation. O laureado recebe US$ 500 mil e uma escultura projetada pelo artista e designer Saul Bass. Três brasileiros já foram agraciados com o prêmio WFP. Em 2006, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli dividiram o prêmio com o colega estadunidense A. Colin McClung, pelo trabalho no desenvolvimento da agricultura na região do cerrado. Em 2011, dois ex-presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e John Kufuor, de Gana, foram os escolhidos por sua atuação no combate à fome como chefes de governo.

Trajetória

Mariangela Hungria possui graduação em Engenharia Agronômica (Esalq/USP), mestrado em Solos e Nutrição de Plantas (Esalq/USP), doutorado em Ciência do Solo (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. É pesquisadora da Embrapa desde 1982, inicialmente na Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ) e, desde 1991, na Embrapa Soja (Londrina, PR).

A cientista é comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Brasileira de Ciência Agronômica e da Academia Mundial de Ciências. É professora e orientadora da pós-graduação em Microbiologia e em Biotecnologia na Universidade Estadual de Londrina. Mariangela atua também na Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e na Sociedade Brasileira de Microbiologia.

Fez parte do comitê coordenador do projeto N2Africa, financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates para projetos de fixação biológica do nitrogênio na África, é membro do Conselho do Comitê de Nutrição Responsável do International Fertilizer Association e parceira em projetos com praticamente todos os países da América do Sul e Caribe, além de países da Europa, Austrália, EUA e Canadá. Em 2020, Mariangela foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo, de acordo com o estudo da Universidade de Stanford (EUA). Em 2022, a pesquisadora ocupou a primeira posição brasileira, confirmada em 2025, em Fitotecnia e Agronomia (Plant Science and Agronomy), publicado pelo Research.com, um site que oferece dados sobre contribuições científicas em nível mundial.

Já recebeu várias premiações pela sustentabilidade em agricultura, como o Frederico Menezes, Lenovo-Academia Mundial de Ciências, da Frente Parlamentar Agropecuária, da Fundação Bunge. Em 2025, recebeu o Prêmio Mulheres e Ciência, promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com o Ministério das Mulheres, o British Council e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe.

Lebna Landgraf (MTb 2903/PR)
Embrapa Soja

Contatos para a imprensa

Telefone: (43) 3371-6061

 

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Brasil condena ataque de Israel contra o Irã: “violação de soberania”

Itamaraty também alertou para risco de conflito amplo na região

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Lucas Pordeus León – repórter da Agência Brasil

 

O governo brasileiro, por meio de nota publicada nesta sexta-feira (13), condenou os ataques de Israel contra instalações nucleares e fábricas de mísseis do Irã, que mataram altos oficiais militares e cientistas do país persa.

“O governo brasileiro expressa firme condenação e acompanha com forte preocupação a ofensiva aérea israelense lançada na última madrugada contra o Irã, em clara violação à soberania desse país e ao direito internacional”, diz nota do Ministério das Relações Exteriores.

O Itamaraty acrescentou que os ataques ameaçam mergulhar toda a região em um conflito de ampla dimensão, “com elevado risco para a paz, a segurança e a economia mundial. O Brasil insta todas as partes envolvidas ao exercício da máxima contenção e exorta ao fim imediato das hostilidades”.

O chefe supremo da República do Irã, o Aiatolá Ali Khamenei, prometeu nesta sexta-feira (13) responder aos ataques de Israel. Segundo as autoridades israelenses, o Irã já retaliou o país com ataque de drones, mas Teerã nega.

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Entenda

Israel atacou o Irã alegando que o país está construindo bombas atômicas, que poderiam ser usadas contra Tel-Aviv. O Irã nega e sustenta que usa tecnologia atômica apenas para fins pacíficos, como a produção de energia.

O Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), mas a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) teria apresentado objeções aos compromissos de Teerã com a organização.

A autoridade nuclear do Irã nega que tenha violado compromissos com a AIEA e diz que a Agência realiza uma campanha “politicamente motivada” e guiada por Grã-Bretanha, França, Alemanha e Estados Unidos (EUA), sob influência de Israel.

Já Israel é um dos poucos países do mundo que não assinou o TNP. Os Estados Unidos (EUA) vinham pressionando Irã para reduzir o alcance do seu programa nuclear. O presidente Donald Trump elogiou os ataques de Israel contra Teerã e pediu para o país aceitar o acordo sobre a questão nuclear.

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Patrimônio previdenciário do DF chega a R$ 7,5 bilhões em abril

Com boa rentabilidade dos fundos, Iprev-DF registra crescimento de R$ 94 milhões na carteira de investimentos em abril

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Agência Brasília* | Edição: Carolina Caraballo

 

A carteira de investimentos sob gestão do Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal (Iprev-DF) fechou abril com um patrimônio de R$ 7,53 bilhões – R$ 94 milhões a mais que no mês anterior, quando o total era de R$ 7,44 bilhões. O montante inclui R$ 5,96 bilhões em ativos financeiros e R$ 1,57 bilhão em outros ativos, como imóveis e ações do Banco de Brasília (BRB).

Os recursos garantem o pagamento dos benefícios de mais de 76 mil aposentados e pensionistas do DF.

O Fundo Solidário Garantidor (FSG), principal fundo administrado pelo Iprev-DF, teve rentabilidade de 1,40% em abril, acumulando 3,88% no primeiro quadrimestre do ano. O índice superou tanto a meta de 2,86% quanto o IPCA do período (2,48%). Com essa performance, o fundo registrou ganhos nominais de R$ 158,9 milhões e alcançou R$ 4,25 bilhões em investimentos financeiros.

Arte: Iprev-DF

Criado em 2017, o FSG é um fundo de solvência – não tem meta atuarial obrigatória, mas seus resultados, quando superiores à inflação, podem ser utilizados para o pagamento de benefícios. Ele reúne aplicações financeiras, imóveis e ações do BRB.

Já o Fundo Capitalizado teve rentabilidade de 1,22% em abril e acumulou 4,22% no ano, alinhado com a meta de 4,23% e acima do IPCA. Os ganhos nominais foram de R$ 61,3 milhões no quadrimestre, elevando o valor da carteira para R$ 1,63 bilhão.

Arte: Iprev-DF

Esse fundo recebe contribuições dos servidores que ingressaram no serviço público do DF a partir de março de 2019 e cobre benefícios até o teto do INSS.

Completam o portfólio os fundos Financeiro e da Taxa de Administração, que não têm metas atuariais. O Fundo Financeiro, destinado ao pagamento de aposentadorias de servidores que entraram até março de 2019 (e de seus dependentes), fechou abril com R$ 54,4 milhões em caixa. Já a Taxa de Administração somou R$ 22,4 milhões.

Para a diretora-presidente do Iprev-DF, Raquel Galvão, o desempenho reflete o esforço conjunto da equipe para consolidar uma carteira sólida e garantir o pagamento dos benefícios.

 

O diretor de Investimentos do Instituto, Thiago Mendes Rodrigues, avalia que, com o controle da inflação, os resultados devem melhorar ainda mais ao longo do ano. Ele projeta que o Fundo Capitalizado alcance R$ 2 bilhões no segundo semestre de 2025.

*Com informações do Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal (Iprev-DF)

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CLDF derruba veto e passa a valer lei que valoriza ensino de duas disciplinas básicas

Lei do deputado Thiago Manzoni estabelece ainda o ensino de matemática e língua portuguesa como patrimônios do povo do Distrito Federal

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Foto: Carolina Curi/Agência CLDF

 

Foi promulgada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) a derrubada de veto ao PL nº 373/2023 que cria a política distrital de valorização das disciplinas elementares. Simplificando, a Lei 7.693/2025 prioriza e incentiva o ensino de língua portuguesa e de matemática nas escolas públicas do DF.

Para tanto, a norma determina que o poder público desenvolva um plano distrital, com validade de dez anos. Entre outros objetivos, está elevar os índices de avaliação de aprendizado dos alunos, ampliar e aperfeiçoar a infraestrutura escolar para as duas disciplinas e incentivar professores a desenvolverem projetos inovadores.

A proposta foi originalmente apresentada pelo deputado Thiago Manzoni (PL) e, após aprovada pelos deputados distritais, vetada pelo Executivo. A Câmara Legislativa decidiu pela derrubada do veto em votação realizada pelo conjunto dos deputados.

“Essa foi uma grande vitória. Em todas as escolas, o que nós queremos é capacitar os nossos alunos e facilitar a aprendizagem em todas as disciplinas. Para isso, estamos priorizando a língua portuguesa e a matemática. Nossos alunos merecem ser escolarizados de maneira adequada e fazer bom uso da língua portuguesa e da matemática para tudo aquilo que vão precisar na vida”, afirma Manzoni.

A lei também institui maio como o mês de valorização das disciplinas elementares, estimulando que as escolas realizem competições de conhecimento vinculadas a elas. Inclusive, o texto prevê que as escolas podem contar com recursos públicos e de parceiros privados para esses eventos. Estabelece ainda o ensino de matemática e língua portuguesa como patrimônios do povo do Distrito Federal.

O texto da nova lei também determina que o poder público deve instituir um programa de avaliação das disciplinas elementares com participação facultativa dos alunos e focada na avaliação seriada.

As escolas públicas podem até criar monitorias remuneradas concedidas aos alunos e vinculadas às duas disciplinas. Outro tipo de incentivo permitido é a premiação para alunos que alcançarem 95% de presença nas disciplinas durante o ano letivo.

Por fim, permite também a captação de recursos vindo de termos de cooperação destinados ao financiamento das medidas previstas na lei.

Acesse aqui a íntegra da tramitação e o texto da lei.

Francisco Espínola – Agência CLDF

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