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EFEITO DA VISÃO GERAL DO PLANETA
Astronauta que passou 178 dias no espaço revela “grande mentira” que percebeu ao ver a Terra.

EFEITO DA VISÃO GERAL DO PLANETA
3 de maio de 2025
Astronauta que passou 178 dias no espaço revela “grande mentira” que percebeu ao ver a Terra.
Ron Garan experimentou um fenômeno que transforma a maneira como enxergamos nosso Planeta.
A solução para o Planeta está em uma mudança radical de prioridades. Em vez de pensar em “economia, sociedade, planeta”, devemos inverter a ordem: “planeta, sociedade, economia”. A jornada de Ronald John Garan Jr. foi dura. Foram 114 milhões de quilômetros viajando em 2.842 órbitas ao redor da Terra. O astronauta da NASA, Ron Garan, cumpriu uma jornada não apenas sobre números impressionantes. Durante uma dessas viagens, Ron Garan experimentou algo que poucos humanos já vivenciaram: o chamado Overview Effect, um fenômeno que transforma a maneira como enxergamos nosso Planeta.
O Overview Effect — ou “Efeito da Visão Geral” — é um choque de realidade comum entre astronautas. Ao observar a Terra do espaço, eles percebem, de forma visceral, que o planeta é um sistema único, frágil e interconectado. Para Garan, essa experiência foi tão marcante que ele a descreve como um “grande despertar”. Em entrevista ao site Big Think, ele revelou que “certas coisas se tornam inegavelmente claras quando você está lá em cima”.
AS VISÕES DE CARL SAGAN E RON GARAN
Vale lembrar que Ron Garan complementou, ainda com mais detalhes e emoção, a descrição que Carl Sagan fez da foto que a ‘Voyager 1’ tirou da Terra, antes de se perder no espaço. A foto icônica do Planeta no espaço sideral, mostrou a Terra – apenas um pixel na imensidão azul.
Planeta Terra: um pixel no universo. Folha do Meio Ambiente, edição 368, de novembro de 2024.
A icônica foto da NASA, tirada em 14 de fevereiro de 1990, mudou a forma como os humanos veem a Terra. E o fato está na reflexão feita pelo escritor Carl Sagan no seu livro Retrato de Família – “Pálido Ponto Azul”.
É incrível pensar que nesse pixel vivem agora 8 bilhões de pessoas e trilhões de outros seres vivos. E extraordinário, por esse pontinho de luz já se passaram muitas dinastias de reis, rainhas, imperadores e ditadores. Muitas nações foram divididas e anexadas. Muitas guerras, bombas atômicas e tragédias foram e ainda são produzidas pelos seus próprios habitantes, os humanos. Em nome de quê? Em nome de religiões, de ideologias, de ganância, de demarcação de fronteiras, de ouro e de prata. É absurdamente surreal.
Astronauta Ron Garan: “Em vez de pensar em “economia, sociedade, planeta”, devemos inverter a ordem: “planeta, sociedade, economia”.
MAIS DO QUE FOTO.
UMA VISÃO REAL
Agora não era apenas uma foto vista pela lente da “Voyager 1”. Foi uma visão e o sentimento de Ron Garan admirando a Terra de sua janela na Estação Espacial Internacional. O astronauta testemunhou fenômenos naturais de tirar o fôlego: tempestades com relâmpagos que pareciam flashes de paparazzi, auroras boreais dançando como cortinas brilhantes e a atmosfera terrestre, tão fina que “dava para quase tocar com as mãos”. Mas foi a finura dessa camada que o deixou em alerta, refletiu Ron Garan: “Percebi que tudo o que mantém a vida na Terra depende de uma camada frágil, quase como papel”. A atmosfera, com seus poucos quilômetros de espessura, é o que protege todas as formas de vida das condições hostis do espaço.
Para Garan, essa visão evidenciou um paradoxo: enquanto a biosfera é vibrante e cheia de vida, os sistemas humanos tratam o Planeta – sua casa – como um “subsidiário da economia global”. Em outras palavras, priorizamos o crescimento econômico em detrimento dos sistemas naturais que nos sustentam. “Estamos vivendo uma mentira”, afirmou.
DESCONEXÃO HUMANA COM O PLANETA
O astronauta também destacou como problemas como aquecimento global, desmatamento e perda de biodiversidade são tratados como questões isoladas, quando, na verdade, são sintomas de um problema maior: a desconexão humana com o Planeta. “Do espaço, fica claro que não nos vemos como parte de um todo. Enquanto não mudarmos essa mentalidade, continuaremos em crise”, disse.
A solução, segundo Garan, está em uma mudança radical de prioridades. Em vez de pensar em “economia, sociedade, planeta”, devemos inverter a ordem: “planeta, sociedade, economia”. Essa simples troca reflete a necessidade de colocar a saúde do meio ambiente como base para todas as outras decisões. “Só assim evoluiremos de verdade”, argumentou.
Outro ponto crucial é a interdependência. Garan comparou o Overview Effect a “uma lâmpada que se acende” — uma epifania sobre como cada ação humana, por menor que pareça, afeta o equilíbrio global. “Não teremos paz na Terra até reconhecermos que tudo está interligado”, afirmou.
Desde que retornou à Terra, Garan dedica-se a projetos que promovem sustentabilidade e cooperação global. Sua mensagem é clara: precisamos urgentemente repensar nosso lugar no mundo. E você, já parou para imaginar como seria ver a Terra dessa perspectiva?
Enquanto isso não acontece, a visão de Garan nos lembra que cada escolha — do consumo de energia ao uso de recursos — é um passo para preservar (ou destruir) essa “casca” delicada que chamamos de lar.”
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A VOLTA DE JEAN DE LÉRY PARA A FRANÇA
O naturalista que entrou de gaiato no navio, veio para o Rio de Janeiro e deixou um relato precioso do Brasil de 1557. Sua volta para a França coincidiu com o fim da colônia francesa no Brasil.

Naturalistas Viajantes – JEAN DE LÉRY (Parte 16)
“Uma vez em terra, caminhei ao longo da Avenida Rio Branco,
onde uma vez existiram as aldeias tupinambás;
no meu bolso havia aquele breviário do antropólogo, Jean de Léry.
Ele chegou ao Rio 378 anos antes, quase no mesmo dia”.
Claude Lévi-Strauss em ‘Tristes Trópicos’, ao chegar ao Rio de Janeiro em 1934.
A volta de Jean de Léry para a França também marca o fim da colônia francesa no Brasil. Após a expulsão dos franceses da Guanabara, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar “heresias protestantes”. Quanto à viagem de volta, Jean de Léry conta em detalhes como, por milagre, se salvou de uma grande tempestade em alto mar.
Lévi-Strauss assim se refere a Léry: “A leitura de Léry me ajuda a escapar de meu século, a retomar contato com o que eu chamaria de ‘sobre-realidade’, não aquele de que falam os surrealistas, mas uma realidade ainda mais real do que aquela que testemunhei. Léry viu coisas que não têm preço, porque era a primeira vez que eram vistas e porque foi a mais de quatrocentos anos”.
O FIM DA COLÔNIA FRANCESA NO BRASIL
Após a expulsão dos franceses da Guanabara, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar “heresias protestantes”. O jornalista e historiador paranaense José Francisco da Rocha Pombo (1857-1933), em sua ‘História do Brasil’ publicada em 1935, recupera parte da história dos religiosos franceses: “Jacques Le Balleur foi poupado, pois era ferreiro. Isto praticamente marcou o fim da colônia francesa, e encerrou a tragédia da Guanabara”.
Em nota de rodapé, explica: “Após conseguir viver escondido, Jacques Le Balleur foi preso pelos portugueses nas cercanias de Bertioga. Ele foi enviado para Salvador, na Bahia, que era a sede do governo colonial, onde foi julgado pelo crime de “invasão” e “heresia”, isso em 1559. Em abril de 1567, foi queimado, sendo auxiliar do carrasco José de Anchieta, para consternação dos católicos”.
A VIAGEM DE VOLTA E SALVOS POR MILAGRE
“Prosseguindo na narração dos extremos perigos de que Deus nos livrou no mar, durante o nosso regresso, contarei um deles, proveniente de uma disputa surgida entre o nosso contramestre e o nosso piloto, em virtude da qual, por despeito, nenhum deles desempenhou desde então os deveres do cargo. A 26 de março, fazendo o piloto o seu quarto, conservou abertas todas as velas sem perceber a aproximação de um furacão que se preparava e que desabou com tal ímpeto que adernou o navio a ponto de mergulharem os cestos de gávea e a ponta dos mastros no mar, atirando à água cabos, gaiolas e todos os objetos que não estavam bem amarrados, pouco faltando para que virássemos completamente. Todavia, cortadas com rapidez as enxárcias e escotas da vela grande, aprumou-se o navio pouco a pouco. Pode-se dizer que só por um milagre nos salvamos, mas nem por isso concordaram os causadores do mal em reconciliar-se, não obstante os rogos de todos; muito ao contrário, apenas passado o perigo engalfinharam-se e com tal fúria se bateram que julgamos se matassem na luta.
‘ESTAMOS PERDIDOS, ESTAMOS PERDIDOS’
Por outro perigo passamos dias depois. Estando o mar calmo, pensaram o carpinteiro e outros marinheiros em aliviar-nos do trabalho de bombear, procurando tapar melhor as fendas por onde entrava a água. Aconteceu que mexendo em um deles para consertá-lo, despregou-se uma peça de madeira de quase um pé quadrado e a água entrou com tal abundância e rapidez que forçou os marinheiros a subirem para o convés abandonando o carpinteiro. E sem sequer contar-nos o fato, berravam: ‘Estamos perdidos, estamos perdidos’.
Diante disso, o capitão, o mestre e o piloto trataram de pôr ao mar a toda a pressa o escaler, mandando também lançar à água os toldos do navio, grande quantidade de pau-brasil e outras mercadorias num valor total de mil francos, decididos a abandonar a embarcação e a salvar-se no bote. Mas temendo o piloto que o grande número de pessoas que tentavam embarcar tornasse a carga excessiva, saltou do bote com um cutelo na mão, ameaçando romper os braços do primeiro que tentasse entrar.
Vendo-nos assim desamparados à mercê das ondas, lembramo-nos do primeiro naufrágio de que Deus nos livrara e, resolvidos a lutar pela vida, empregamos todas as nossas forças em bombear a água a fim de que o navio não afundasse; e tanto trabalhamos que o conseguimos. Nem todos, porém se mostraram corajosos. Os marinheiros, em sua maioria, estavam desatinados e tão temerosos se mostravam da morte que já não se importavam com coisa alguma a não ser em beber à farta. Estou certo de que os rabelesianos, escarnecedores e desprezadores de Deus, que em terra tagarelam sentados à mesa e comentam com motejos os naufrágios e perigos em que se encontram muitas vezes os navegantes, teriam seus gracejos mudados em pavor se nesta situação se encontrassem. E creio também que muitos leitores desta narrativa e dos perigos por que passamos dirão com o provérbio: ‘Muito melhor é plantar couves ou ouvir discorrer do mar e dos selvagens do que tentar tais aventuras’. (…)
O nosso carpinteiro, rapaz animoso, não abandonara o porão como os marinheiros, mas enfiara o seu capote de marujo no buraco, comprimindo-o com os pés para quebrar o impulso da água, a qual, como depois nos disse, por várias vezes o desalojou, tal a sua impetuosidade. Assim nessa posição gritou ele quanto pôde para que os de cima, do convés, lhe levassem roupas, redes de algodão e outras coisas com que pudesse deter o jorro d’água enquanto consertava a peça. Graças a esse esforço fomos salvos”.
PÓLVORA E FOGO
“Como temíamos encontrar piratas nessas paragens, ao sair desse mar de ervas não só assestamos quatro ou cinco peças de artilharia que havia no navio, mas ainda preparamos as necessárias munições para nos defendermos oportunamente. Entretanto, com isso novo perigo tivemos que vencer. Quando o nosso artilheiro secava a pólvora em uma panela de ferro, esqueceu-a ao fogo até tornar-se incandescente e a pólvora se inflamou, correndo a chama de uma à outra extremidade do navio, de forma que inutilizou velas e massame e por pouco não incendiou o breu de que o navio estava untado, queimando-nos todos em pelo mar. Aliás, um grumete e dois marujos foram tão maltratados pelo fogo que um deles morreu poucos dias depois. Por minha parte, se não tivesse rapidamente levado ao rosto o boné de bordo, ter-me-ia queimado seriamente; escapei chamuscando apenas a ponta das orelhas e os cabelos”.
PRÓXIMA EDIÇÃO 376 – JULHO DE 2025 – PARTE 17.
TRÁGICA VOLTA – O erro do piloto em calcular a posição do navio “fez com que em fins de abril já estivéssemos inteiramente desfalcados de todos os víveres; já varríamos o paiol, cubículo caiado e gessado onde se guarda a bolacha nos navios, mas encontrávamos mais vermes e excrementos de ratos do que migalhas de pão. Quando havia, repartíamos às colheradas esse farelo e com ele fazíamos uma papa preta e amarga como fuligem. Os que ainda tinham bugios e
papagaios, a que ensinavam a falar, comeram-nos. E vindo a faltar por completo os víveres, em princípio de maio, dois marinheiros morreram de hidrofobia da fome, sendo sepultados no mar como de praxe”.
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NIÈDE GUIDON, UMA GUERREIRA DO SERTÃO NORDESTINO
E a vida segue seu ciclo. Estava me preparando para ir ao Campo da Esperança para me despedir do amigo Fausto Salim, quando recebo a notícia da passagem de outra amiga: Niède Guidon.




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ADEUS FAUSTO SALIM, AMIGO E GUERREIRO




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