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São Francelmo! Rogai por nós!
O ambientalista Francisco Anselmo Barros [Francelmo] se deu sua vida pela vida do Pantanal
Silvestre Gorgulho
A causa preservacionista fez mais um mártir: Francisco Anselmo Barros(foto), 65 anos, presidente da Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul. Mais conhecido como Francelmo, o ambientalista cometeu um suicídio público, premeditado, dia 11 de novembro, durante protesto contra a aprovação de projeto de lei que prevê a instalação de usinas de álcool na Bacia do Paraguai. A imolação aconteceu em pleno Calçadão da Rua Barão do Rio Branco, no centro de Campo Grande. Esse é um gesto de desespero que vai gerar muitas discussões. Segundo adiantou o deputado Onevan de Matos (PDT) presidente da CCJR [Comissão de Constituição, Justiça e Redação] esse projeto não tinha condições de ser aprovado. Motivo: a proposta contraria uma resolução do Conama que suspende a concessão de licenças ambientais para usinas nas bacias hidrográficas sob influência do Pantanal. “Nesse sentido, garantiu o deputado, o assunto – apesar de polêmico – já tinha consenso da Assembléia Legislativa de MS no sentido de ter a proposta rejeitada”.
Presidente da Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul (Fuconams) e coordenador do Fórum em Defesa do Pantanal, Francelmo participava da manifestação contra a instalação de usinas de álcool na BAP, organizada pela Ecoa – Ecologia e Ação, com apoio de artistas e músicos. Quase no fim das apresentações, ele dirigiu-se a uma Kombi, onde pegou dois colchões e os colocou em formato de cruz. Em seguida, despejou dois galões pequenos de gasolina nos colchões, sentou-se e ateou fogo no próprio corpo. Segundo testemunhas que participavam do ato, ninguém fez nada para impedir porque todos achavam que ele estava preparando uma encenação como parte do protesto.
Francisco Anselmo Barros fundou uma das primeiras ONGs brasileiras. Jornalista e editor, Anselmo ocupou cargos no Conselho Municipal de Controle Ambiental, foi membro da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo, da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, diretor executivo da Editora Saber Ltda, diretor executivo da Associação de Fomento e Apoio às Artes e a Cultura em Geral. Era, ainda, filiado ao Fórum Brasileiro de ONGs, à Associação Brasileira de ONGs e participante de inúmeras entidades nacionais e internacionais.
O ambientalista deixou uma carta justificando seu ato. Nela, faz um desabafo sobre a questão ambiental, especialmente sobre a construção de um canal de navegação no rio Paraguai e a construção das usinas. Concluiu sua carta dizendo: “Já que não temos voto para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo.”
Uma luta pela valorização das árvores acuadas pelos outdoors
Com o ambientalista Francelmo não tinha meio termo: antes de dar a própria vida pela causa ambiental, ele lutou muito. São muitas as suas ações em favor do meio ambiente, mas uma delas vale a pena destacar.
No Dia da Árvore, 21 de setembro de 2003, ele fez questão de mandar um recado irônico para o então prefeito de Campo Grande, André Puccinelli. Francelmo fez um protesto importante. Denunciou um crime que aconteceu em Campo Grande, já aconteceu em Brasília (cinco árvores foram envenenadas e depois cortadas na L-2 Sul para proporcionar melhor visualização de um painel eletrônico) e continua acontecendo em muitas cidades brasileiras.
Qual o crime? Tolerância zero para árvores que atrapalham a visão de outdoors nas vias públicas.
Na maioria das vezes, essas árvores são envenenadas e, quando secam, recebem o golpe fatal: a licença da administração para o corte.
Em 2003, no Dia da Árvore, Francelmo fez seu protesto. Como nesta esquina cinco árvores já haviam sido cortadas para melhorar a visão dos outdoors, o ambientalista não teve dúvidas. Fez sua própria placa e se plantou em frente à última árvore condenada, pois já dava mostras da doença.
“DR. ANDRÉ (prefeito André Puccinelli)
Mande cortar esta árvore,
ela está atrapalhando a visão
da placa de propaganda.”
Francelmo
Jorge Gonda vai dirigir a ONG de Francelmo
Em outra carta, ele disse: “Foi difícil tomar essa decisão de sã consciência. A minha vida sempre foi um sacerdócio em defesa da natureza. É a nossa casa e o presente maior de Deus. Se ele deu a vida por nós, eu estou dando a minha vida por ele, defendendo o futuro dos nossos filhos. […] Continuem a luta por mim”.
A entidade será agora dirigida pelo vice-diretor, Jorge Gonda, para quem o gesto do ambientalista não foi impensado. “Será difícil encontrar um homem como Francelmo, dedicado ao meio ambiente mais do que à própria vida. Vou tentar exercer o cargo com a mesma responsabilidade”, disse Gonda, que é engenheiro, foi diretor da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES-MS) e também já exerceu funções como membro de conselhos municipais e estaduais de meio ambiente.

Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma
O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.
A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.
“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.
Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.
“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.
Chuvas
Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.
“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.
Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.
Edição: Heloisa Cristaldo
EBC



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