Janela da Corte
CRISTOVAM BUARQUE
cristovam.jpg
Pernambucano
do Recife, Cristovam Ricardo Cavalcante Buarque
nasceu dia 20 de fevereiro de 1944. Era um
domingo de Carnaval. Talvez esteja aí
o segredo de seu eterno bom humor. Colecionador
de antigüidades (é um apaixonado
pelo estudo de antigas civilizações)
o economista, engenheiro mecânico e
professor Cristovam Buarque chegou a Brasília
em 1979. Trabalhou no Ministério da
Justiça, dirigiu a UnB e aos poucos
foi se apaixonando de novo. Desta vez por
Brasília. Intelectual reconhecido internacionalmente,
com 14 livros publicados, Cristovam enfrentou
sua primeira eleição em 94.
E venceu. Entre seus muitos méritos,
gostaria de destacar um, que nem o Darcy Ribeiro
conseguiu: colocar a UnB no poder. Por tudo
isto, escolhemos Cristovam Buarque para estrear
esse espaço que a coluna trará
todos os domingos. O Governador, que distribuiu
medalhas de ouro e medalhas de lata para sua
equipe, para o Governo FHC e até para
o Congresso, escancarou a JANELA DA CORTE
e mandou ver:
1 – Duas coisas que
mais o incomodam em Brasília.
Primeiro, a irregularidade que foi montada
ao longo de anos, sob a forma de condomínios,
convênios, feiras e transportes irregulares
que, com cuidado, o atual governo tem que
por em ordem, entendendo as necessidades de
cada um que precisa de casa e emprego. Segundo,
o fato de que não descobrimos ainda
como fazer um casamento feliz entre a Brasília
Patrimônio da Humanidade, que exige
de nós proteção, e a
Brasília do crescimento demográfico
e da crise social, que exige mudanças
quase diárias, algumas incompatíveis
com o Patrimônio.
2 – Duas coisas que
mais o incomodam no seu Governo.
A dificuldade de fazer coincidir a responsabilidade
pública, que exige preocupar-se com
todos e com o longo prazo, e a responsabilidade
social, que exige atender às necessidades
imediatas da população.
E a demora entre as decisões e a execução
delas, devido às dificuldades para
compatibilizar os interesses da população
e as decisões tomadas, com as inúmeras
normas que fazem com que qualquer pessoa consiga
uma liminar para impedir qualquer decisão.
3 – Dois motivos de
aplauso e dois motivos de crítica ao
PT.
Palmas: foi o primeiro partido de esquerda
que optou claramente pelos trabalhadores,
rompendo muito antes da queda do Muro de Berlim,
com os esquemas tradicionais dos partidos
comunistas e pelo apego rígido à
democracia interna.
A primeira crítica é pela prisão
ao corporativismo de cada grupo social, especialmente
de sindicatos, em vez de uma visão
global dos interesses comuns da sociedade.
O que dificulta fazer do PT um partido realmente
popular. Outra crítica é o comportamento
tático conservador, em função
de reivindicações de grupos
específicos, em vez de uma ação
estratégica, em função
de reformas comprometidas com uma revolução
nas prioridades e na sociedade.
4 -Quem merece a Medalha
de Ouro e a Medalha de Lata.
Na sua equipe:
OURO para os que criam soluções
criativas e simples e conseguem executá-las,
comprometidas com os interesses populares.
LATA para os que caem no
pessimismo.
Na equipe de
FHC:
OURO para Jatene, Paulo Renato e
Weffort que não perderam os compromissos
sociais.
LATA para os que caíram
na ilusão do neoliberalismo e vêem
o Brasil como uma extensão do mercado
internacional, sem perceberem a grande chance
histórica que têm, sendo governo,
para encontrar propostas alternativas para
resolver os grandes problemas sociais da humanidade,
da qual o Brasil é o melhor retrato.
No Itamaraty:
OURO para os competentes
e comprometidos com a nacionalidade brasileira,
entendida como o conjunto de toda a população
e não apenas a elite.
LATA para os que podem ser
competentes tecnicamente, mas não têm
ousadia e nem compromisso de entenderem que
o papel do Brasil é ousar na formulação
de propostas alternativas ao mundo.
Na Câmara Legislativa do DF:
OURO para os que colocam
os interesses da cidade acima de seus interesses
eleitorais e votam pensando mais nas próximas
gerações do que nas próximas
eleições.
LATA para o deputado que
compra votos e pensa que pode comprar os colegas
parlamentares, as decisões judiciais,
a imprensa e a opinião pública,
com a manipulação de informações
e da ingenuidade de muita gente simples.
No Congresso Nacional:
OURO para a bancada do DF
que, unida, deixou de lado interesses pessoais
e votou, fechada, em uma só proposta
de emenda para o DF.
LATA para os que fazem qualquer
coisa para estarem sempre no lado do Governo.
No Judiciário:
OURO para os que entendem
a diferença entre legitimidade e legalidade
e conseguem fazer o casamento entre as duas.
LATA para alguns juízes
que teimam em ser corporativistas.
Na imprensa:
OURO para os que percebem
a notícia e divulgam a verdade que
conseguem descobrir.
LATA para os que não
conseguem ver as notícias, só
trabalham com pautas pré-determinadas
e com a informação já
pronta com base em sua opinião própria,
antes mesmo de checar o fato.
5 – Um recado curto
e grosso para o cidadão brasiliense.
Ame Brasília, mas entenda que nossa
maioridade exige responsabilidade. É
hora de financiar os custos da cidade e participar
ativamente de seu futuro, evitando, inclusive,
que por interesses menores, como no passado,
Brasília seja mais maltratada.
6 – Qual é a
melhor e a pior coisa da política?
MELHOR: executar um projeto que ajuda
a construir um novo País, e ser reconhecido
por isto.
PIOR: Ter que conviver com
o imediatismo, o corporativismo e a falta
de entendimento e de consciência dos
interesses maiores do conjunto da coletividade.
7 – Três nomes
que, para o senhor, sabem fazer Brasília
ser respeitada lá fora?
Em época de Olimpíadas, os brasilienses
Nelson Piquet, Joaquim Cruz e Carmem de Oliveira.
8 – Na Educação:
um exemplo profissional no Brasil.
Darcy Ribeiro.
Janela da Corte
ARLETE SAMPAIO

Por nascimento, ela é baiana de Itajiba;
Por educação secundária,
ela é mineira de Belo Horizonte; Pela
universidade e pela política, ela é
brasiliense da gema. Arlete Sampaio, vice-governadora
do DF, médica-sanitarista, uma das
fundadoras da CUT-DF, com profunda militância
sindical, mora em Brasília há
26 anos. Duas coisas me chamaram atenção
na conversa com a vice-governadora e no acompanhamento
diário que faço do Governo petista.
Primeiro: Arlete veio da ala mais radical
do partido, uma trotskista de carteirinha,
e hoje é o equilíbrio do partido
e do Governo Cristóvam. Segundo: neste
caleidoscópio de críticas a
membros do governo petista, neste emaranhado
de brigas e disputas, a vice-governadora –
queiram ou não – é inatacável.
Da linha trotskista de ontem ela virou o ponto
de unidade de hoje. É por isso que
vale a pena saber um pouco mais desta mulher
que, no difícil cargo de vice, é
– por assim dizer – uma unanimidade de seriedade
e coerência. Uma médica que está
sempre pronta a colocar mercúrio-cromo
nas feridas abertas por companheiros do partido
e do governo. Arlete Sampaio abriu a Janela
da Corte deste domingo e mostrou que tanto
a baianice como a mineirice ficaram lá
para trás. Agora a vice é uma
candanga legítima que não está
disposta a entregar, de graça, o espaço
e o respeito que conquistou.
1 – O que mais a incomoda
na política?
A predominância dos projetos individuais
sobre os projetos coletivos.
2 – Ser governo lhe
agrada?
Sim, no sentido de poder realizar os nossos
ideais.
3 – Em três anos
de governo do PT, no difícil papel
de vice-governadora, quais foram os três
momentos mais gratificantes?
A participação nas plenárias
do Orçamento Participativo. As inaugurações
de obras que mudam para melhor a qualidade
de vida da população. A visualização
do crescimento da consciência-cidadã,
como no programa Paz no Trânsito.
4 – E quais foram os
três momentos mais amargos?
As injustas críticas feitas ao GDF,
principalmente no primeiro ano. As incompreensões
mútuas entre o GDF e o Movimento Sindical.
As críticas amargas feitas por companheiros
que participaram do Governo.
5 – Há algum
desconforto em ser vice?
Vice, como se diz, é vice. Há
um certo desconforto por nem sempre poder
imprimir um estilo próprio de trabalho.
6 – O Lula não
queria sair candidato à Presidência.
E saiu. A senhora não gostaria de ser
novamente vice. Vai ser?
Tudo depende da discussão que estamos
fazendo no âmbito interno do PT e depois
com os Partidos da Frente. Se for necessário,
repito a dose.
7 – Como médica-sanitarista,
a saúde pública brasileira tem
jeito?
Claro que tem. Depende apenas de vontade política
e de profundo compromisso com o povo.
8 – Onde a senhora mais
se realizou: coordenando os programas de saúde
pública do DF, na direção
no PT-DF ou no cargo de vice-governadora?
Pela amplitude das ações das
quais tenho participado é, sem dúvida,
mais gratificante ser vice-governadora.
9 – Como vice-governadora
a senhora coordena as Administrações
Regionais e órgãos do GDF; implantou
o Programa Integrado de Combate ao Uso e Abuso
de Drogas no DF; coordena o Orçamento
Participativo; e coordena as bancadas petistas
na Câmara Distrital e Federal. Governar
é mais fácil do que se pensava?
Primeiro, uma correção: não
coordeno as bancadas. Quem coordena é
o Governador. E, neste ano, o melhor trabalho
realizado foi no planejamento político-financeiro
do governo e na coordenação
na área de habitação.
Agora vamos à resposta: é sempre
fácil fazer qualquer coisa, quando
fazemos com boas intenções,
com clareza do que queremos e com firmeza
de posições.
10 – Se o Governo petista
começasse hoje e fazendo um replay
do que passou: qual o principal erro que a
senhora tentaria evitar?
Cometemos alguns erros. Talvez o maior tenha
sido em não divulgar, com dados e fatos,
a situação caótica em
que encontramos o Distrito Federal.
11 – Sinceramente, qual
o grande mérito do Governo Cristóvam
Buarque?
Ser democrático, popular e honesto.
12 – Delfin Neto disse
que Lula será mais uma vez sparring
eleitoral. Isso tem sentido?
Claro que não. Ele sabe bem das incertezas
do momento político brasileiro e sabe
que Lula tem boas chances eleitorais e pode
bem nocautear FHC.
13 – Como a senhora
vê a saída de Luiza Erundina
e Vitor Buaiz do PT: Uma Questão de
acomodação. Já
foram tarde. O PT tem regra para ser cumprida.
Grande perda. Estavam no ninho errado.
Embora seja uma perda, o PT tem regras para
serem cumpridas.
14 – Dê o nome
de três brasileiros vivos que a senhora
mais admira.
Luiz Inácio Lula da Silva, pela inteligência
excepcional; Chico Buarque de Holanda, pela
sensibilidade quase feminina; e Fernanda Montenegro,
que aliás é minha xará,
por seu talento.
15 – Qual destas três
máximas está mais próxima
da verdade:
· Exatamente no momento em que você
pensa que vai conseguir juntar duas extremidades,
alguém as muda de lugar.
· Nunca ande por caminhos já
traçados. No máximo eles vão
levar a lugares onde outros já estiveram.
· Atrás de um grande homem tem
sempre uma grande mulher.
Nenhuma delas faz minha cabeça.
16 – O PT tem que mudar
para crescer ou tem que crescer para mudar
ou tem que continuar como está?
Nenhuma das formulações expressam
as necessidades do PT, mas poderia admitir
que “tem que crescer para mudar”,
na medida em que crescendo expressaria melhor
o sentimento da nossa população.
17 – O Partido aceitará
contribuição da iniciativa privada
para a próxima campanha eleitoral?
No último encontro, o partido decidiu
aprovar as contribuições de
Pessoas Jurídicas, mas dentro da mais
absoluta transparência.
Janela da Corte
“PACOTÃO”

Ele é muito mais estranho do que a vitória
de Antônio Carlos Magalhães no
Senado. Mais misterioso do que o veto do governador
Cristóvam Buarque à Fazenda
Santa Prisca. Muito mais esquisito do que
o Secretário de Turismo, Rodrigo Enrollemberg.
Mais temeroso do que o próprio Michel
Temer. E muitíssimo mais arredio a
entrevistas do que o deputado José
Genoíno. Todos os anos, no Carnaval,
um estranho, inusitado, misterioso e arredio
personagem aparece fugaz nas crônicas
de jornais, tevês e rádios de
Brasília. Jornalistas do mundo inteiro
fazem de tudo para conseguir dele um único
depoimento, uma única frase que seja.
E nada. Para os repórteres mais novos,
isso pode até valer uma promoção.
Para os experientes, quem sabe, um Prêmio
Esso. Quem for de Carnaval, já matou
a charada. Estamos falando, é claro,
de Charles Pretto, o ditador perpétuo
e vitalício da “Sociedade Armorial
Patafísica Rusticana – O Pacotão”,
o mais famoso e irreverente Bloco Carnavalesco
de Brasília, melhor dizendo, do Brasil.
O Pacotão comemora, este ano, 20 anos
de Carnaval, sempre na contramão da
avenida e da história, consolando os
fracos e reprimidos e aterrorizando os poderosos
de plantão…sejam eles os carrancudos
generais da falecida ditadura militar, príncipes
de carteirinha da sociologia ou os barbudos,
carecas e barrigudos petistas dos governos
democráticos e populares.
Recém chegado de Miami, onde deixou
seu cunhado vistoriando a reforma de seu barraco
em West Palm Beach, Charles Pretto concordou
em falar. Depois de mil subterfúgios,
concedeu essa entrevista inédita. Primeira
e única, garante ele. Evoluindo na
boquinha da garrafa, com revelações
destampadas sobre o poder, o PT, o FHC, o
prazer e, é claro, sobre Brasília
e o Pacotão, Charles Pretto não
está nem um pouquinho preocupado em
segurar o tcham. Abre a Janela da Corte deste
domingo de Carnaval e coloca seu tcham de
fora. Um horror!
1) O que o incomoda
mais:
Em Brasília: as gambiarras do Governo
do PT e o Principado do Palácio da
Alvorada.
No Governo do PT: a liderança do senador
José Roberto Arruda.
Na ARUC: a concorrência que fazem ao
meu Bloco
No Carnaval: o de sempre, a falta de quorum
do Congresso.
2) Qual foi a melhor
marcha do Pacotão?
Sem dúvida nenhuma, o Aiatolá,
de 1979. Aliás, ela não foi
apenas a melhor. Foi a única. Até
hoje o povo só sabe cantar “Ga-gá,
ga-gá, Geisel/ Você nos atolou
/E o Figueiredo também vai atolar/
Aiatolá, Aiatolá, venha nos
salvar / Que esse governo já ficou
gagá/ Ga-gá, ga-gá, Geisel…”
3) Três carnavalescos
de Brasília que sabem acontecer na
Sapucaí?
Antigamente era o Haroldo Meira, que foi Administrador
de Brasília, não gostava do
Carnaval da cidade e fugia na véspera
para desfilar na Mangueira. Hoje é
o Moa, que vai desfilar na ARUC no domingo,
pega um avião depois do desfile e na
segunda-feira desfila na Portela. Pena que
ele não queira mais saber do Pacotão.
O terceiro maior carnavalesco parece que este
ano vai dar o cano: Itamar Franco, o rei da
Sapucaí, porta-estandarte do Fusca
e topete de honra do Grêmio Recreativo
Unidos do Pão-de-Queijo.
4) A reeleição
foi um “pacotão”?
Ixe! Não passou de um “pacotinho”.
O príncipe Fernando II ainda tem muito
que aprender comigo. Pra que reeleição,
professor? Por que ele não faz como
eu, que sempre me declarei ditador perpétuo
e vitalício do meu Bloco? É
verdade que eu não tinha o Serjão
pra atrapalhar, nem o Maluf pra ajudar…
Tem nada não, um dia ele aprende. Se
o Toninho Perdura não lhe der a receita,
é só me procurar. Afinal de
contas, depois de quarta-feira, eu entro no
PLV (Plano de Licença Voluntária),
e vou gastar minha grana em Miami, num barraco
com privada de ouro que eu aluguei ao lado
da mansão do outro Fernando, o Primeiro.
Terei muito tempo livre.
5) Cristovão
rima com Estevão? Isso dá samba
ou atravessa na avenida?
Dá um sambão rasgado, com direito
a socos e caneladas. Dinheiro pra gravar o
CD não vai faltar. É só
pedir pra Odebrecht ou sacar a fundo perdido
nas sobras da “Operação
Uruguai”. Dá também frevo,
maracatu, salsa, merengue, bolero e samba-canção.
Quem sabe o mestre Jamelão não
topa gravar? O risco é que, com tanta
baixaria, vão acabar reinventando a
“dança da bundinha”…
6) E o que você
faz quando o Pacotão está de
recesso?
Bem, não consegui arrancar do “Duque
de Águas Claras”- Grão-Senhor
do Governo Democrático e Popular do
DF – um DAS compatível com as minhas
qualidades de estadista. Assim, não
me resta outra alternativa senão apelar
ao “Barão da Santa Prisca”
para conseguir uma boquinha como prefeito
biônico da “OKlândia”,
a nova cidade que vai nascer ali, desinteressadamente.
OK, deputado?
7) É verdade
que este ano você vai distribuir frango,
a âncora do Real, na concentração
do Pacotão?
Injustiça. Será frango com iogurte,
a mais nova receita do cardápio do
chef Malan. Será minha contribuição
para a estabilidade da moeda. Assim, quem
sabe, acabam com os estoques de frango e iogurte,
que ninguém agüenta mais, e eles
resolvem baixar o quilo do filé mignon
e o preço do passe do Ronaldinho.
8) O que você
acha do Joãozinho Trinta ter trocado
o Carnaval do Rio pelo de Brasília?
Uma questão de oportunidade. Pelo visto
ele descolou alguma boquinha com o “Duque
de Águas Claras”. O perigo é
ele aprender a fazer Carnaval com o pessoal
da ARUC, enlouquecer de vez e querer comprar
a Mocidade Independente do Gama. Ou então
ter um filho com a Marilena Chauí e
se candidatar a Secretário de Cultura
do Governo Democrático e Popular. Já
pensou!
9) Qual a virtude capital
do Pacotão?
Não ter capital. Infelizmente…Se
tivesse, quem sabe, meu cunhado poderia terminar
o meu barraco em West Palm Beach!
10) Qual o pecado capital
de Brasília?
Ter um pacotão em cada Palácio
e uns pacotinhos em cada gabinete. Infelizmente…
Janela da Corte
OLIVEIRA BASTOS

Foto: Divulgação/Setur
Evandro de OLIVEIRA BASTOS nasceu no Pará, colonizado por franceses, e talvez por essa herança cultural tenha sido o maior crítico literário brasileiro, antes de ser o diretor de jornais importantes de todo o País, inclusive este Jornal de Brasília. Fundou uma enorme escola de Jornalismo, sem cadeiras e sem diplomas. Descobriu, por exemplo, o incrível poeta maranhense da virada do século, Sousândrade, e o revelou aos irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Foi secretário de Oswald de Andrade, Augusto Frederico Schmidt, Anísio Teixeira e Roberto Campos. Conviveu com Governos e Presidentes e está preparando suas memórias num livro sobre Imprensa e o Poder. Aliás, um livro muito esperado por quem a mira a pena ferina de um dos textos mais brilhantes do País. Hoje é a vez de Oliveira Bastos debruçar-se sobre a Janela da Corte.
1 – Duas coisas que mais o incomodam em Brasília.
Em primeiro lugar o clima de secura, acompanhada de frio e ventos. Incrível como a meteorologia e os veículos de comunicação ainda associam “tempo bom” à ausência de chuvas… Outra coisa detestável, pelo ridículo, é a caricatura em que se transformam muitas pessoas que perderam o poder e necessitam mostrar que ainda possuem alguma importância, como se o poder fosse a melhor, ou talvez a única característica de suas personalidades. Drumond dizia: “Como são tristes as coisas (quando) consideradas sem ênfase”.
2 – Duas coisas que mais o incomodam no Governo Cristovam.
Primeiro, não ser Governo. Depois pensarem que o governo é do Cristovam.
3 -Quem precisa cair no Real?
A sociedade brasileira que está custando a entender que um Presidente como Fernando Henrique não acontece em todas eleições.
4 – Para quem vai a Medalha de Ouro e a Medalha de Lata no Governo de Brasília, na equipe de FHC, no Congresso e na Imprensa?
Pensar coisas tão sérias em termos de medalhinhas é ridículo. Depois, corre-se sempre o risco da síndrome de Zagalo que consiste em destinar medalhas de ouro a quem nunca mereceu a de lata.
5 – Um recado para o governador Cristovam Buarque.
Mestre: faça uma reforminha agrária no DF, começando pelas “posses” improdutivas e pelos arrendamentos não cumpridos. Tem muito chão bom de palanque…
6 – Quais foram o pior e o melhor Governador de Brasília?
Brasília sempre foi bem administrada e por dois motivos: sempre teve recursos e sempre foi muito vigiada e até perseguida pela opinião pública nacional. Mas o Roriz, realmente, mudou o metabolismo da cidade, tirando-a da fantasia (“Capital da Esperança”) e fincando-a de vez na pobre realidade de Goiás. Foi o maior de todos os governadores, mas dizem que quer voltar, o que seria um erro trágico. Sua campanha, com os bandidos que ele deixou órfãos, não seria eleitoral mas criminal.
7 – Dois nomes que sabem fazer Brasília ser respeitada lá fora?
Kássia Éller e Joaquim Cruz.
8 – Quem daria um bom governador de Brasília?
O Cristovam.
9 – Quem jamais deveria governar Brasília?
Quem quer muito ser governador. A escolha deveria sempre recair em alguém que não queira. Não é assim que são escolhidos os Papas? Talvez, por eleger os que não querem ser Papa, a Igreja tem 2.000 anos e seus Chefes são infalíveis.
10 – Qual o pecado capital de Brasília?
Não ter estrutura para estimular os pecados veniais, ligados ao ócio com dignidade.
11 – O brasileiro quer revolução ou quer espetáculo?
O velho Rivarol disse que o povo não se interessa por revoluções, mas pelo seu espetáculo. Os Sem Terra parecem confirmar isso. Brasília, como cidade, é uma revolução que precisa de espetáculos. Tudo aqui, com exceção da cidade e do pôr-do-sol, é medíocre. Como a cidade é monumental, a vida transcorre nesse limite perigoso entre o tédio e o deslumbramento. É preciso fazer a cidade chegar ao povo. Até hoje o Lago Paranoá é uma miragem para a maioria dos brasilienses. Pode?!
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