Artigos
As tartaruguinhas do Delta
A preservação onde a biodiversidade é grande, mas maior ainda é o fluxo de pessoas.

O ninho aberto pelo biólogo Manoel Neto tinha precisamente 161 ovos. 18 ovos não eclodiram, 18 tartaruguinhas estavam natimortas e 127 filhotinhos se lançaram no mar.
A beleza e imponência das tartarugas do Delta do Parnaíba.
A conscientização e a preservação ambiental dependem muito de voluntários, sobretudo em lugares onde a biodiversidade é rica e há um fluxo muito grande de público, seja das comunidades ou de turistas. Justamente por esses motivos, nasceu em 2006, o projeto Tartarugas do Delta. A fundadora do projeto, Werlane Mendes de Santana Magalhães, uma parnaibana legítima, formada e Mestre em Biologia, explica que em 2010 o projeto Tartarugas do Delta foi contemplado na seleção pública do Programa Petrobras Ambiental e recebeu patrocínio para ampliação das ações dos trabalhos de monitoramento de praia, educação ambiental e envolvimento comunitário. Em 2012, o projeto foi transformado em pessoa jurídica e passou a ser reconhecido como INSTITUTO TARTARUGAS DO DELTA. Em 2013 o Instituto participou na seleção pública do Programa Petrobras Socioambiental, e foi contemplado no edital com o patrocínio da Petrobras, para execução do projeto Biodiversidade Marinha do Delta – BIOMADE em parceria com o SESC Piauí, projeto TAMAR e ICMbio. Como resultado importante foram marcadas as primeiras fêmeas de tartarugas marinhas no litoral piauiense e identificadas áreas prioritárias para conservação de tartarugas marinhas, boto-cinza, cavalo-marinho. Em 2016 a tartaruga marinha foi reconhecida com Patrimônio Natural dos municípios de Parnaíba e Luís Correia e reconhecida como Patrimônio do Estado juntamente com cavalo-marinho e peixe-boi.
Tão logo deixam o ninho, as tartaruguinhas correm em direção ao mar.
WERLANNE MAGALHÃES – ENTREVISTA
Werlanne Mendes de Santana Magalhães é natural de Parnaíba, Mestre em Biologia e fundadora da ONG Instituto Tartarugas do Delta, criado em 2006.
Folha do Meio – Quando começou o projeto?
Werlanne Magalhães – Iniciamos as ações de conservação no litoral do Piauí ainda em 2006, quando tivemos os primeiros diálogos com três instituições: o IBAMA a APA Delta do Parnaíba e o projeto TAMAR. Foi um período de levantamento de dados e treinamento. Posteriormente, o grupo foi fortalecendo suas ações e participando de editais públicos para aquisição de recurso financeiro para desenvolver as atividades de campo como monitoramento de praia, pesquisa e educação ambiental. É importante lembrar que o litoral do Piauí, está inserido dentro de uma unidade de conservação ambiental federal, conhecida como APA Delta do Parnaíba. Todos sabem que em uma unidade de conservação sustentável é permitida a realização de atividades econômicas, porém ainda existem muitos conflitos sobre este uso.
Folha do Meio – Quais dificuldades encontradas?
Werlanne – Quando o trabalho foi iniciado não existiam muitas informações, apenas relatos de comunitários, registro fotográficos aleatórios.
Foi quando iniciamos trabalhos sistemáticos para entender a importância desse território como área de desova de tartarugas marinhas, até então, desconhecida para academia e pela sociedade civil.
Nos primeiros anos tivemos resistência da comunidade, havia roubo de ovos, predação de ninhos, resistência de algumas pessoas do turismo, achando que onde tem tartarugas marinha o desenvolvimento não chega, porque não pode construir, não pode ter atividade humana, pois atrapalha o comportamento de desova. E com o passar do tempo, esses esclarecimentos foram melhorando o relacionamento com os atores desse território.
Hoje uma das principais ameaças são veículos na praia, principalmente carro de passeio UTV’s, quadriciclos (pilotados por crianças e adolescentes) e alguns moradores locais. E, mesmo com plano de manejo da APA Delta do Parnaíba aprovado e portaria municipal vigente, ainda estamos precisando fortalecer ações de fechamento de acessos para minimizar a entrada de veículos nas praias de desova. Essa medida vem sendo discutida com a prefeitura de Luís Correia.
Folha do Meio – Qual a participação das comunidades na proteção dos ninhos e na identificação das posturas das tartarugas?
Werlanne – Uma das estratégias educativa utilizada pelo Instituto Tartarugas do Delta para convidar as pessoas para participar das ações do projeto, foi identificar cada ninho com bandeiras, além das estacas utilizada para sinalização dos ninhos. Esse procedimento, fez com que as pessoas percebessem o ninho e despertassem interesse em conhecer mais sobre o assunto. O conhecimento leva à conscientização e proteção. Aí os próprios moradores passaram a comunicar quando identificavam rastros na praia, filhotes perdidos na área ou até mesmo tartarugas desorientadas.
Folha do Meio – Percorrendo as praias encontrei muito lixo…
Werlanne – É verdade. Mas temos entendimento que o assunto “lixo” não se trata de um problema local ou pontual, estamos falando de um problema cultura. Infelizmente, em todas as praias do Brasil tem muito lixo, inclusive trazido pela maré duas vezes ao dia! Falta políticas públicas para o gerenciamento dos resíduos sólidos, reduzir os lixões a céu aberto, incentivar coleta seletiva. O lixo processado de forma inadequado nas comunidades de todo o Delta, vão seguir para os rios, mar e terminam nas praias.
Folha do Meio – Como vocês fazem a conscientização das comunidades, dos turistas e das pousadas?
Werlanne – Realizamos ações educativas com as escolas públicas e privadas das cidades de Parnaíba, Luís Correia, Ilha Grande, Cajueiro e demais localidades que nos procuram. Sempre estamos agendando este tipo de encontro durante o ano. Durante a pandemia demos uma parada, mas sempre estamos trabalhando na limpeza das praias, fazendo oficinas para despertar a reutilização de matérias recicláveis e palestras. Inclusive as ações educativas são realizadas em parceria com institucional do SESC Piauí, por meio do projeto Ecomuseu.
Folha do Meio – Quantos ninhos e filhotinhos nos três últimos anos?
Werlanne – A temporada de desova no litoral do Piauí inicia em janeiro e termina quando nascem os últimos filhotes, geralmente em agosto ou setembro. Nesta temporada de 2021, nós identificamos e protegemos 135 ninhos. Veja o quadro abaixo:
Temporada de desova | N° de ninhos | N° de filhotes |
2019 | 156 | 13.877 |
2020 | 169 | 11.669 |
2021 | 135 | 11.000 (em andamento) |
Folha do Meio – E as próximas temporadas?
Werlanne – A temporada em 2021 ainda não foi concluída, porém devido a falta de recurso financeiro, não será possível dar continuidade aos trabalhos de monitoramento de praia e conservação das tartarugas marinhas no litoral piauiense e região do Delta do Parnaíba.
Suzana Lopes marca a tartaruga fêmea com uma placa metálica. No ritmo da natureza, se não tiver nenhum problema, esta fêmea deverá retornar daqui a 2 ou 3 anos, na mesma praia, para desovar.
Placa de identificação da tartaruga que será monitorada em sua próxima postura daqui a dois anos.

Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma
O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.
A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.
“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.
Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.
“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.
Chuvas
Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.
“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.
Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.
Edição: Heloisa Cristaldo
EBC



Artigos
METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

-
Artigos4 meses ago
DIARIO DE BORDO E MINHA FORÇA AO REI PELÉ
-
Artigos4 meses ago
Orquestra Sinfônica de Brasília apresenta último concerto didático de 2022
-
Reportagens3 semanas ago
Instituto do Câncer reforça campanha contra o HPV e câncer do colo do útero
-
Reportagens4 meses ago
Escolas técnicas de Santa Maria e Paranoá abrem as portas em 2023
-
Artigos4 meses ago
Inovação verde
-
Artigos4 meses ago
Brasil, falta de Neymar e resultado das urnas
-
Reportagens4 meses ago
Princípios ESG aliados ao marketing beneficiam empresas
-
Reportagens4 meses ago
Visibilidade fora do campo: saiba mais sobre as profissões que ganham destaque durante a Copa do Mundo