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O sequestro de CO2 nos cafezais
Os créditos de carbono criam uma nova moeda verde e lembram ao mundo que o café de Minas Gerais é um produto de carbono neutro

Eustaquio Augusto dos Santos
O café entrou no Brasil colonial pelas artimanhas de um sargento namorador, que trouxe das Guianas as preciosas sementes contrabandeadas para as terras do Pará. E aqui floresceu, virou o ouro verde, símbolo do país, fez fortunas e criou uma cultura social pelo “café à mesa”.
Sempre foi solução para a sempre combalida economia brasileira.
E agora pode ser solução novamente, com novos produtos e negócios provenientes da atividade cafeeira.
Nestes tempos de sérias preocupações pela emissão de gases de efeito estufa, os cafezais mineiros, os maiores do mundo, respiram fundo e entram no poderoso negócio dos créditos de carbono.
Descobrimos, nós mineiros, que o café é um produto limpo, uma agricultura que sequestra e estoca muito mais carbono do que emite (combustíveis para tratores e equipamentos e eletricidade) para a produção dos preciosos grãos.
O pé de café é uma árvore perene, tem vida longa. Estudos recentes provam que cada hectare plantado com 4 mil pés de café, a média nacional, sequestra (tira da atmosfera) e estoca em seus troncos 10,38 toneladas de CO2. Sim, 10 toneladas, imagine, em cada hectare. E sem contar os 10 por cento sobre o tamanho da propriedade das matas legais obrigatórias.
MG: 12.456.000 TONELADAS DE CO2
Minas Gerais, o maior produtor de café do mundo, tem cerca de 1.200.000 hectares plantados em 463 municípios com 4 bilhões e 800 milhões de árvores de café e sequestra a estupenda cifra de 12.456.000 toneladas de CO2.
É menos do que as plantas da floresta amazônica? Claro, são árvores mais baixas, de troncos mais finos, mas que produziram, na safra 2019/2020, 33,5 milhões de sacas somente em Minas. E geraram milhões de dólares de divisas.
O movimento para a nova revolução cafeeira está em monetizar os créditos de carbono das florestas de cafés do Estado, em “papel verde”. Está provado que a atividade cafeeira sequestra muito mais do que emite para produzir o café. Numa relação débito/crédito, estes créditos se transformam no papel verde, aliás já existente no mundo, mas atualmente pouco utilizados em países como Brasil, Índia e China por problemas variados.
Minas Gerais tem 130 mil produtores de café que geram uma cadeia de 3 milhões de empregos. Monetizados, estes “papéis verdes”, não confundir com o dólar, podem ser utilizados para compensação de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) de empresas como indústrias, comércio, cooperativas, como incentivos ou descontos. O mercado decide como utilizar.
E Minas Gerais sai na frente ao oferecer ao mundo o Café de Carbono Neutro, uma chancela de saúde, economia e publicitária que poucos produtos agrícolas podem oferecer, como a soja, por exemplo, uma planta rasteira que sequestra pouquíssimo CO2 e emite uma enormidade para produzir.
ROBIN HOOD MINEIRO
E este movimento se inicia em Minas porque temos uma lei estadual chamada Robin Hood que trata do ICMS Ecológico. Com o acréscimo de um ou dois artigos, as florestas de cafezais podem ser inseridas na lei e o ICMS beneficiar os municípios produtores de café.
O movimento de produtores e pessoal do mercado está se mexendo para debates com as federações de agricultores, deputados e prefeitos. Quem sabe algumas boas conversas virtuais em mesas de cafezinho e quitutes mineiros todos nós possamos nos entender?
(*) Eustaquio Augusto dos Santos é jornalista e cafeicultor. eustaquiosa@gmail.com





Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma
O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.
A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.
“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.
Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.
“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.
Chuvas
Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.
“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.
Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.
Edição: Heloisa Cristaldo
EBC



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