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LANGSDORFF, A PRIMEIRA VINDA DE LANGSDORFF AO BRASIL.

A PAIXÃO PELA TERRA E A PROMESSA DE VOLTAR

 

Fortaleza de Santa Cruz, na Ilha de Santa Catarina.  Estrategicamente localizada na Ilha de Anhatomirim, Santa Cruz configurava no século XVIII o principal vértice do sistema triangular de defesa da Baía Norte, que protegia a Ilha de Santa Catarina. Abaixo, a Fortaleza Santa Cruz hoje.

 

 

Em 1803, por meio de um amigo, toma conhecimento que o Czar Alexandre I, da poderosa dinastia dos Romanov, deseja investir em uma expedição de circum-navegação a ser realizada pelos navios Nadezhda (Esperança) e Nieva. Ele próprio solicita à Academia de Ciências, como seu membro correspondente, a indicação para ser o ‘Naturalista da Expedição’. Informado de que o naturalista nomeado, o Dr. Tilesius, deveria reunir-se à expedição na Dinamarca, intercepta os navios em Warnermünde e convence o comandante Kruzenstern a aceitá-lo como ictiólogo e mineralogista. Langsdorff é incorporado e embarca no Nadezhda.

A verdadeira missão da expedição russa da qual Langsdorff tomou parte, como médico e ictiólogo, era comercial. A primeira visita e permanência no litoral brasileiro por alguns meses foi circunstancial. Os navios precisavam de reparo e reabastecimento. O mentor da expedição era Nikolay Petrovich Rezanov (1764-1807), misto de diplomata, nobre e aventureiro russo que planejava promover a colonização do Alasca e da Califórnia.

Depois de quase um mês ao mar, em doze de dezembro, a expedição de circum-navegação chega a Cabo Frio, litoral do Rio de Janeiro. Todos a bordo tinham uma só conversa: Brasil, uma abundância em ouro e diamantes, com sua natureza esplêndida e rica em recursos naturais. A tripulação desejava ardentemente visitar a cidade de Rio de Janeiro. O capitão Krusestern, no entanto, avaliou as dificuldades e determinou alterar o curso para Santa Catarina, muito recomendada como lugar de reabastecimento e descanso.

E assim, Georg Heinrich von Langsdorff, com seu bom português aprendido em Lisboa, teve seu primeiro contato com terras brasileiras. Foi paixão à primeira vista. De volta à Rússia, Langsdorff escreveu o livro ‘Voyages and Travels in various parts of the World during the years 1803, 1804, 1805, 1806, and 1807’, nunca traduzido para o português.

 

DEPOIS DE CONHECER SANTA CATARINA,

VOLTAR AO BRASIL ERA QUESTÃO DE HONRA

 

O veleiro russo Nadezhda (Esperança) na viagem de circum-navegação.

 

Voltar ao Brasil era questão de honra. E Langsdorff correu atrás de seu sonho. Se aproximou do Czar Alexandre I, assumiu a nacionalidade russa como Ivanovitch Langsdorff e voltou já com duas estrelas a mais na sua história: recebeu o patrocínio do amigo Czar Alexandre I e o título de Cônsul no Rio de Janeiro.

Começa então a preparar uma viagem tropical de “circum-navegação” pelos rios brasileiros. Contratou documentaristas de primeira grandeza para eternizar em imagens terras, flora, fauna, florestas e habitantes por onde passava. São eles os desenhistas Rugendas, Adrien Taunay e Hercule Florence. Langsdorff. Percorreram mais de 5 mil quilômetros e atravessou o Brasil por suas entranhas. Produziu um riquíssimo acervo em relatórios e desenhos com 368 peças. A Expedição Langsdorff esteve esquecida por quase 150 anos. Resgatada em 1987, revela uma proeza digna de epopeia universal com componentes de alto teor científico, estudos biológicos avançados, pesquisas, análises geográficas, identificação do saber e costumes indígenas, mas também com ingredientes de aventura, intrigas mistérios, traições e romances.

 

O bicentenário da Independência do Brasil e o início das relações bilaterais entre Brasil e Rússia, em 1828 – o Brasil foi o primeiro país da América do Sul a formalizar relações diplomáticas com a Rússia – estão entre os objetivos deste livro. Sim, os mesmos elementos que geraram dúvidas, desafios, mistérios e indagações que levaram Langsdorff a conhecer o Brasil continuam presentes nos dias atuais, 200 anos depois.

 

 

 

 

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PAISAGENS CULTURAIS BRASILEIRAS

Diferença entre paisagem natural e paisagem cultural

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O que é uma paisagem cultural? O consenso entre os paisagistas e ambientalistas é que a paisagem cultural é aquela constituída a partir da interferência humana na natureza. Isso mesmo, a paisagem cultural é formada por elementos naturais e elementos culturais, que são aqueles criados ou transformados mediante a ação antrópica. Há uma diferença entre paisagem cultural e paisagem natural. A paisagem natural é aquela formada por elementos da natureza, os quais sofreram pouca ou nenhuma interferência da ação humana. Já a paisagem cultural pode conter ambas as classes de elementos, ou seja, naturais e criados ou transformados pelo ser humano. Outra diferença entre elas diz respeito ao dinamismo. As eventuais mudanças que acontecem em uma paisagem natural se dão por meio de processos oriundos da própria natureza, seguindo o ritmo do fenômeno. Nas paisagens culturais, quem dita o tempo é a necessidade humana e a sua ação sobre o espaço. Por conta disso, as paisagens culturais são mais dinâmicas que as paisagens naturais e se transformam mais rapidamente do que elas.

 

Nas paisagens culturais são encontradas edificações de vários tipos: casas, prédios, ruas, estradas, avenidas, pontes, túneis e diversas outras formas constituídas pelo trabalho humano. Essa categoria de paisagem foi incluída pela Unesco como uma das utilizadas na listagem de patrimônios mundiais, concedendo o título, até o momento, a 119 locais, quatro deles no Brasil.

Segundo o paisagista e arquiteto Carlos Fernando de Moura Delphim, há vários exemplos de paisagens culturais e cada uma tem seu aspecto e sua característica que pode ser histórico, artístico, geológico, científico, geomorfológico, espeleológico, hidrológico, arqueológico, rural, simbólico e religioso.

Tudo o que é cultural tem como fundamento o natural. E tudo o que é natural somente pode ser percebido e reconhecido pelo homem, por meio do que é cultural.

EXEMPLOS DE CADA TIPO

DE PAISAGEM CULTURAL

HISTÓRICO: o sítio do Descobrimento, as margens plácidas do Ipiranga, o sítio da casa de José de Alencar, em Fortaleza.

O Centro Histórico de Porto Seguro, onde está o Parque Nacional do Descobrimento.

ARTÍSTICO: seria qualquer paisagem retratada desde a chegada dos viajantes europeus no século XIX, como os jardins de Glaziou e de Burle Marx.

O Parque da Quinta da Boa Vista de Auguste Glaziou, o Paisagista do Imperador, está no Bairro Imperial de São Cristóvão-RJ e tem um grande valor paisagístico-histórico.

GEOLÓGICO: os penhascos do Rio de Janeiro, o Vale do Cariri, a Ilha do Bananal, em Goiás, e o deserto do Jalapão, em Tocantins.

O Vale do Cariri está na Chapada do Araripe, na região cearense do Cariri. Ali dá para ver com os próprios olhos o sertão virar mar no seu entorno com as belezas naturais da Chapada do Araripe, sua floresta nacional e com a religiosidade, a fé ao Padre Cicero, com seus museus e seus sítios mitológicos e paleontológicos.

CIENTÍFICO: dentre os muitos sítios de valor geológico e paleontológico, o que me ocorre mais imediatamente é a Pedra do Letreiro, em Souza, Paraíba. Trata-se de um sítio de icnofósseis*(1), com pegadas petrificadas de um dinossauro, o primeiro documento científico do Brasil.

GEOMORFOLÓGICO: as impressionantes formações rochosas com efeitos pareidólicos (2) que são os inselbergs* (3) de Quixadá, no Ceará ou a Pedra do Lagarto e o Frade e a Freira no Espírito Santo ou a Pedra da Boca, na Paraíba.

ESPELEOLÓGICO: são as cavernas tombadas pelo Iphan como as grutas Azul, de N. S. Aparecida, em Bonito (MS), Terra Ronca (GO) e outras. Vale lembrar que a responsabilidade pelo patrimônio espeleológico nacional é atribuição legal conferida exclusivamente ao Ibama, salvo quando protegidas pelo tombamento.

O Parque Estadual de Terra Ronca, abriga a terceira mais extensa caverna do país, a Gruta de São Mateus, com mais de 23km de desenvolvimento e é um dos maiores complexos de cavernas e grutas da América do Sul. São milhares de quilômetros de mata virgem, com cachoeiras, rios, dolinas (um tipo de depressão no solo), trilhas e mais de 250 cavernas, sendo 5 delas abertas à visitação. Entre as grutas e cavernas do parque, estão as 30 maiores do país e a maior delas mede mais de 90 metros de altura.

HIDROLÓGICO: como as Águas Emendadas no Distrito Federal ou o encontro de águas de diferentes cores em rios na Amazônia, ou todo o percurso do Rio São Francisco.

Águas Emendadas são um fenômeno natural raro no mundo todo: afloramento de uma nascente que tem duas vertentes com destinos opostos; água que drena para o norte e para o sul, contribuindo para a formação e unindo as duas maiores bacias hidrográficas.

 

ARQUEOLÓGICO: como São Raimundo Nonato no Piauí, Sete Cidade no Piauí. Aí se registra uma das mais comoventes cenas familiares de um cotidiano perdido há milênios: um pai pré-histórico grava a forma de sua mão colocando-a contra uma parede de pedra e pulverizando todo o redor com um pigmento terroso. Em uma pedra bem mais baixa, vê-se a mesma inscrição, de uma mãozinha infantil, certamente do filho, copiando o que estava sendo feito pelo pai. Mortos há mais de mil anos podem continuar tocando nossos corações com gestos de amor e ternura.

RURAL: como as antigas fazendas de café e cacau que desaparecem para dar lugar aos monocultivos.

SIMBÓLICO: como Sítio de Porongos, onde ocorreu o assalto das tropas imperiais que provocou a mortandade dos lanceiros negros propositalmente separados do restante das tropas e desarmados por Davi Canabarro e que hoje é um monumento ao sonho humano de liberdade.

Sítio Cerro dos Porongos. A) Vista geral do Sítio, conjuntos de pequenos cerros (“coxilhas”). B) Pórtico de acesso e marco em homenagem aos Lanceiros Negros. C) Marco instalado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho em alusão à Guerra dos Farrapos.

RELIGIOSO: como o sítio onde apareceu a padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida e onde se construiu sua Basílica.

Destino obrigatório para quem procura turismo religioso, Aparecida é a cidade que abriga o Santuário Nacional da Nossa Senhora Aparecida – a segunda maior basílica do mundo. Muitas pessoas vão para lá para ver a imagem original da santa resgatada por 3 pescadores no rio Paraíba do Sul em 1717.

GLOSSÁRIO

 

  • ICNOFÓSSEIS – Icnologia é o estudo dos vestígios resultantes das atividades de vegetais e animais nos sedimentos e rochas sedimentares, estando incluídos aqueles que reflitam qualquer tipo de comportamento. Um icnofóssil é o resultado da atividade de um organismo, que pode vir a ser preservado em um sedimento, rocha ou corpo fóssil.

 

(2) PAREIDOLIA descreve um fenômeno psicológico que envolve um vago e aleatório estímulo, em geral uma imagem ou som, sendo percebido como algo distinto e significativo. Exemplos comuns incluem imagens de animais ou faces em nuvens, em janelas de vidro e em mensagens ocultas em músicas executadas do contrário. A palavra vem do grego para – junto de, ao lado de – e eidolon – imagem, figura, forma. A pareidolia é um tipo de ilusão ou percepção equivocada, em que um estímulo vago ou obscuro é percebido como algo claro e distinto. Por exemplo, quando alguém vê o rosto de Jesus nas descolorações de uma rosquinha queimada.

(3) INSELBERGS – O termo vem do alemão, “monte ilha”, é um relevo que se destaca em seu entorno já aplainado, caracterizando-se por ser um relevo residual. São monólitos. No Brasil, é comum Inselbergs graníticos ou granitóides, tendo então uma forma esfeirodal e de alta inclinação, cerca de 40º. É o caso do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Esses relevos são considerados “testemunhos”, pois são os relevos que resistem ao processo de pediplanação e pedogênese.

 

 

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PAISAGEM CULTURAL

O MONÓLITO DO PÃO DE AÇÚCAR

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A CARTA ABERTA EM DEFESA DO ROCHEDO SÍMBOLO CARIOCA

 

CARLOS FERNANDO DE MOURA DELPHIM – ENTREVISTA

 

Arquiteto e paisagista formado pela UFMG, Carlos Fernando é técnico do Iphan e membro da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco. Moura Delphim trabalha com projetos e planejamento para manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, histórico, natural, paleontológico e arqueológico. Admirador e fiel amigo de Burle Marx e o paisagista favorito do Mestre Oscar Niemeyer.

 

Folha do Meio – O Brasil se preocupa com suas paisagens culturais?

Carlos Fernando – Deveria, desde que a portaria 127/2009 do Iphan estabeleceu a chancela da Paisagem Cultural Brasileira. Eu, particularmente, sempre me preocupei com a não existência nos órgãos culturais de uma preocupação com a preservação de paisagens, como os órgãos ambientais demonstraram com a conservação da natureza. Uma preservação conjunta do homem e de um meio natural que, embora significativamente alterado sob o ponto de vista ambiental, ainda m constituem uma unidade com importantes significados ou valores culturais.

 

FMA – O Estado protege o bem natural e esquece o bem cultural?

Carlos Fernando – Mais ou menos isto. Enquanto a legislação ambiental protege as unidades de conservação, as feições mais significativas da relação do homem com o mundo natural ficam totalmente desguarnecidas. Por exemplo, unidades como a floresta Atlântica são protegidas por uma infinidade de leis, enquanto exemplos de relação equilibrada do homem com a natureza, como ocorre nos Pampas, na Caatinga, no Cerrado e na própria Mata Atlântica, não gozam do menor reconhecimento.
Será que não são igualmente dignas de esforços para o reconhecimento de seu valor e de medidas para sua proteção as paisagens rurais como um vinhedo no Sul ou as velhas fazendas de café no Sudeste? Uma fazenda de cacau no sul da Bahia ou engenhos de açúcar no Nordeste com todo o patrimônio tecnológico ainda preservado, será que não devem compor uma paisagem cultural? O governo brasileiro, pelo Iphan, pode e deve cobrir essa lacuna cultural.

 

FMA – Há outros exemplos que correm risco de degradação?

Carlos Fernando – Há sim. Existem muitas outras regiões, onde a marca do homem convive em perfeita harmonia com a natureza, que precisam ser preservadas. A verdade é que os pampas, caatinga, cerrado e a floresta amazônica apresentam incontáveis modelos de convivência harmoniosa e sustentável entre homem e natureza. E estes modelos vêm sendo ameaçados de destruição. O plantio de árvores para produção de celulose e de cana-de-açúcar para combustível transforma a riquíssima biodiversidade em lixo, dejetos, gases poluentes.

 

FMA – Quando nasceram as discussões?

Carlos Fernando – Esta discussão sobre paisagem cultural nasceu após a Convenção para Proteção do Patrimônio Cultural Natural da Unesco, em 1972. A Convenção produziu uma Carta Internacional, exprimindo uma visão dicotômica, senão antagônica, entre cultura e natureza. Mais tarde, ao reconhecer o equívoco, a Unesco passou a adotar apenas uma denominação simplificada para a Convenção, retirando-lhe o Cultural e Natural e passando a considerar a indissociabilidade dos dois conceitos. Porque tudo o que é cultural tem como fundamento o natural. E tudo o que é natural somente pode ser percebido e reconhecido pelo homem, por meio do que é cultural.

 

FMA – Não vem aí mais um embate ambiental entre preservacionistas e desenvolvimentistas?

Carlos Fernando – Ao contrário do tombamento, a paisagem cultural não é uma declaração compulsória. É uma decisão democrática da população. Expressa a vontade que tem cada grupo de proteger os cenários mais valiosos de sua sociedade. Respondendo a pergunta: a declaração de Paisagem Cultural convive com as transformações inerentes ao desenvolvimento econômico e social sustentáveis. Aliás, valoriza a motivação responsável pela preservação do patrimônio.

 

O CASO PÃO DE AÇÚCAR

DO RIO DE JANEIRO

 

Claire Messud nos dá um ensinamento muito pertinente: se a Democracia tem uma utilidade, é a de permitir que a voz do povo seja ouvida e entendida. E que sua vontade respeitada. Não se trata de idealismo, é uma realidade e uma responsabilidade.

 

FMA – E o caso dessas obras envolvendo toda área tombada do rochedo do Pão de Açucar no Rio de Janeiro?

Carlos Fernando – Claire Messud nos dá um ensinamento muito pertinente: se a democracia tem uma utilidade, é a de permitir que a voz do povo seja ouvida e entendida. E que sua vontade respeitada. Não se trata de idealismo, é uma realidade e uma responsabilidade. Não se pode esperar que desportistas radicais olhem o Pão de Açúcar com olhos de adoração, contudo, o patrimônio de um país e do mundo exige limites para seus usos e respeito por seu povo. Há muitas outras opções de locais onde praticar a tirolesa sem afetar fisicamente o rochedo. As formações naturais têm uma capacidade restringida para suportar esportes, sobretudo os radicais. Trata-se de uma proposta absurda, impossível de ser aceita por quem quer que possua o mínimo de bom-senso, muito menos por órgãos cujo compromisso é a defesa do patrimônio cultural e natural.

 

FMA – Quais esses órgãos e o que dizem eles?

Carlos Fernando – São vários órgãos e instituições que merecem respeito como o ICOMOS, que emitiu uma nota de repudio dizendo que a “a intervenção em curso para a instalação de uma tirolesa se configura como uma mutilação deste bem tombado, pela perfuração e cortes na rocha com retirada da matéria que o constitui, podendo vir a causar o aumento de fissuras e o descolamento de lascas do maciço rochoso, alterando sua forma e comprometendo sua resistência e integridade”. Isso tem aval e parecer técnico de especialistas. O ICOMOS Brasil recomenda a imediata interdição da obra, com a anulação das licenças, bem como uma nova apreciação do mérito do Pão de Açúcar e Morro da Urca como bens tombados por seu valor natural e paisagístico. Também a Sociedade Brasileira de Espeleologia, cujo regimento tem como princípio a não omissão perante atos que promovam a degradação social e ambiental, se manifestou. E o fez de forma respeitosa ao rochedo, desfavorável à implantação da tirolesa entre o Pão de Açúcar e o Morro da Urca e da expansão de área construída no Monumento Natural pela empresa Caminho Aéreo do Pão de Açúcar.

 

FMA – Qual é a história do tombamento do Pão de Açucar?

Carlos Fernando – Vale bom saber que os maciços rochosos do Pão e Morro da Urca foram tombados pelo Patrimônio Histórico Artístico Nacional em 1973 e estão, desde 2006, protegidos pela legislação ambiental ao se tornarem Unidade de Conservação Integral ou Monumento Natural do Pão de Açúcar. Os rochedos têm importância fundamental na composição da paisagem cultural do Rio de Janeiro, sido reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial desde 2012. Recentemente o Pão de Açúcar foi reconhecido pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS) como um dos 100 sítios de Patrimônio Geológico de relevância mundial.

Um Patrimônio Geológico da IUGS é um local com elementos geológicos de relevância científica internacional, usado como referência e com contribuição substancial para o desenvolvimento das ciências geológicas através de sua história.

 

 

OS PROTESTOS DA POPULAÇÃO

FMA – Você acha que a comunidade científica, cultural e ambiental internacional pode interferir nesse caso?

Carlos Fernando – Acho sim. Em 28 de outubro de 2022, portanto há um ano, o The International Union of Geological Sciences, em seu sexagésimo aniversário, certificou que o monólito do Pão de Açúcar foi designado e incluído na lista dos primeiros Cem Sítios de Herança Geológica pela Unesco Global Geopark. Agora, os empresários que dele auferem vantagens se incumbem de o lacerar.

 

FMA – Como está a questão hoje: Chegou-se a algum consenso?

Carlos Fernando Carlos Fernando – Fui acompanhando a discussão, estarrecido com a abulia e estase sanguínia que atinge a todos, como um sapo diante da cobra que vai devorá-lo. Assustou-me a omissão, para não dizer o ‘parti-pris’ pelo Iphan com interesses antagônicos às aspirações coletivas. Decidi que, mesmo estando distante do Rio, nada me impede de defender nosso excepcional patrimônio. Pus-me a escrever uma carta aberta à sociedade brasileira com tanta veemência que acabei desfalecendo, levando um tombo e sendo evado a um pronto socorro. Isto retardou o término da Carta. Enviei-a a todos que conheço elo computador, mas acho que ninguém mais lê e-mail. Só quando passei a divulgar pelo What’s App é que meus argumentos foram se multiplicando fractalmente, acabando a chegar às mãos de cidadãos que os aprovaram. A Carta chegou às mãos Justiça Federal que prontamente embargou a obra. O que pareceu inócuo ao órgão responsável pelo Pão de Açúcar, a tal ponto repercutiu mundialmente que o título de Patrimônio Mundial, concedido pela Unesco em 2012, corre o risco de vir a se perder.

Espero também ter o apoio dos seletos leitores da Folha do Meio Ambiente < www.folhadomeio.com.br > nessa luta desigual contra os interesses comunitários, ambientais e culturais básicos. A ganância e os interesses financeiros e econômicos não podem dominar nossa sociedade. 

CRISTO, OLHAI PRÁ ISTO!

 

PÃO DE AÇUCAR visto do Corcovado onde está o símbolo cultural, ambiental e urbanístico do Rio de Janeiro.

 

 

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Cambuís colorem de amarelo a capital federal

As árvores, nativas da Mata Atlântica, florescem anualmente nesta época e estão presentes em quase todas as regiões administrativas do DF

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Agência Brasília* I Edição: Débora Cronemberger

 

As flores dos cambuís transformam a copa da árvore em um jardim encantador, florescendo de setembro a janeiro. Com mais de 250 mil árvores da espécie em flor nesta época do ano, os imponentes cambuís, que podem atingir até 50 metros de altura, adornam nosso cenário. O nome científico, Dubium, reflete sua singularidade, principalmente das sementes que foram trazidas de Minas Gerais. Estão em quase todas as regiões administrativas (RAs) e em vias como o Eixo Rodoviário Sul e Norte, no Canteiro Central da Avenida L4 Sul e no Parque da Cidade.

Os cambuís são árvores nativas da Mata Atlântica e estão presentes em quase todas as regiões administrativas do DF | Foto: Kiko Paes/Novacap

Nos períodos de seca, a árvore costuma ficar completamente sem folhas. Mas muitos a confundem com uma outra espécie: a sibipiruna. O próprio nome científico do cambuí, Peltophorum dubium, mostra como essa árvore é facilmente confundida com outras. Dubium, em latim, significa ambíguo, impreciso. A denominação cambuí vem da língua Tupi-Guarani e significa “árvore de galho fino”.

A suavidade da beleza do cambuí se sobressai até mesmo perto das arquiteturas do DF, como a Procuradoria-Geral da República (PGR). As árvores plantadas próximo à PGR ficam ainda mais chamativas graças ao tratamento dado pela Novacap. Tratoristas são os responsáveis por limpar e aparar o mato em volta do caule delas, deixando ainda mais belo o contraste entre o verde e o dourado, como o da nossa bandeira nacional.

Segundo o diretor do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Raimundo Silva, a intenção é disseminar a beleza que a árvore proporciona para outros cantos do Distrito Federal. O viveiro da Novacap tem 150 mil mudas que serão espalhadas por todas as regiões administrativas.

É, ainda, popularmente conhecida como jabuticabinha em outras regiões do país. Além de proporcionar sombra e ser muito ornamental, é rústica e de rápido crescimento. Por essas razões é muito usada em projetos de paisagismo. A árvore possui raízes bem grandes e cresce rápido. Recomenda-se que sejam plantadas em parques ou grandes áreas, longe de locais que tenham rede elétrica ou águas pluviais, pois a raiz é bastante volumosa.

Parente da goiabeira, jabuticabeira e pitangueira, sua madeira é tão dura que costuma ser utilizada em cabos de martelos e em muitos instrumentos agrícolas. Os frutos maduros podem ser consumidos in natura, mas tradicionalmente são coletados e usados inteiros ou macerados para a produção de licores e garrafadas, pelas comunidades do Nordeste e Sudeste. Os frutos, quando maduros, são atrativos tanto pela sua cor, alaranjada ou vermelha-vinácea, quanto também pelo intenso aroma cítrico e levemente adocicado da polpa carnosa e suculenta.

*Com informações da Novacap

 

 

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