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A MORTE NO ESPELHO DOS PRÉDIOS

Reflexo assassino: só em Nova York são 100 mil aves por ano morrendo em choque com prédios de vidros.

 

O grande problema são os vidros reflexivos. “As aves não veem que é o reflexo de uma árvore. Para elas, é uma árvore. Elas voam na direção dessas ‘árvores’ ou do próprio céu.

 

Brasília não é diferente de Dubai, de Nova York, Pequim ou Paris. Há apenas uma diferença: em Brasília há mais mortes por ter uma diversidade maior de pássaros. Ambientalistas tentam convencer governos e proprietários de edifícios a implementar mudanças que evitem colisões de aves contra vidros. Arquitetos e engenheiros dizem que as soluções podem ser surpreendentemente simples.

 

 

Em Nova York, ainda sem a plena luz ao dia, a voluntária Divya Anantharaman aponta sua lanterna sob os bancos de madeira próximos de um edifício em Wall Street. Neste momento, as ruas de Nova York ainda são domínio exclusivo dos madrugadores. Mas Divya inicia sua missão semanal em busca e resgate das vítimas dos notórios assassinos de pássaros: os arranha-céus de vidro. Quando a luz do dia aparece, os porteiros varrem as calçadas. E, assim, as provas são perdidas.

 

 

GRUPO QUE MONITORA

‘NYC Audubon’, um grupo de conservação urbana que monitora a morte de aves devido a colisões em janelas. Inspeciona cada canto escuro da rota, em vasos de plantas e flores, cuidadosamente para não perder vítimas que possam ser resgatadas’.

É uma ave chamada de “galinhola americana” (American woodcock), ela acredita, um pássaro migratório relativamente comum, de bico longo. Toda primavera, as galinholas voam para Nova York depois de passar os meses frios no Alabama e em outros estados da costa do Golfo do México, no sul dos Estados Unidos. Esta ave está rígida, o que significa que morreu recentemente, diz Anantharaman. “Os olhos ainda estão tão claros. Isso pode ter acontecido há alguns minutos”. Ela bate fotos, reserva um momento solene para fechar as pálpebras do pássaro com o polegar e coloca o cadáver em sua mochila cor-de-rosa.

 

‘Somente nos EUA, número de pássaros vítimas de colisões em janelas passa de 1 bilhão por ano’.

 

NA ROTA DA MIGRAÇÃO DAS AVES

 

 

Todos os anos, entre 90.000 e 230.000 aves caem perto de prédios de Nova York, segundo estimativas da NYC Audubon. A concentração de edifícios iluminados da cidade é um obstáculo perigoso para os viajantes alados, especialmente durante a primavera e o outono, estações de migração.

Nova York está situada em uma rota de migração para a América do Sul, onde muitas aves passam o inverno. Como os pássaros navegam observando as estrelas, a luz artificial da noite os atrai e os desorienta. Acreditando que estão voando em direção à luz das estrelas, as aves desviam a rota e pousam no meio de uma metrópole desconhecida.

O REFLEXO ASSASSINO

“O maior problema é o vidro reflexivo”, diz a bióloga Kaitlyn Parkins, da NYC Audubon. “As aves não veem o reflexo de uma árvore. Para elas, é uma árvore. Elas voam na direção dessas ‘árvores’, podem acelerar muito rapidamente e, muitas vezes, morrem imediatamente”.

Nos Estados Unidos, país onde a maior parte das pesquisas sobre colisões de aves têm sido executadas, os edifícios são responsáveis pela morte de até 1 bilhão de aves por ano, conforme cálculos feitos nos anos 1990 pelo ornitólogo pioneiro no assunto, Daniel Klem. As janelas de vidro, porém, são armadilhas para pássaros em todo o mundo.

“As aves são vulneráveis ao vidro onde quer que haja aves e vidros juntos. Elas não veem essas coisas”, diz Klem, que acrescenta que não são os arranha-céus, mas sim os edifícios baixos e médios que representam as maiores ameaças.

 

 

Klem, que atualmente é professor na Universidade Muhlenberg, na Pensilvânia, considera as colisões em janelas como fundamentais para a conservação das aves: “Como ameaça, eu colocaria a colisão logo após a destruição do habitat. O que é bastante traiçoeiro é que as janelas matam indiscriminadamente. Elas também são as mais adequadas para a população. Não podemos nos dar ao luxo de perder nenhum espécime, muito menos bons reprodutores”.

 

PROBLEMA MUNDIAL

Nos últimos anos, grupos de conservação e cientistas assumiram a causa. Binbin Li lidera um dos dois grupos de monitoramento de colisões em janelas na China. Ela é professora assistente de ciências ambientais na Universidade Duke Kunshan e obteve o doutorado na Duke, nos Estados Unidos, onde conheceu a pesquisadora líder do projeto de colisão de aves.

“Primeiro, pensei que isso era apenas um problema na Duke, ou nos Estados Unidos. Eu não podia imaginar ver aqui na China”, diz. Mas, após seu retorno, ela recebeu relatos de três pássaros mortos no campus em um mês.

Com um grupo de estudantes, ela agora conta aves mortas no campus em Suzhou. Muitas das vítimas, ela observa, são encontradas sob corredores de vidro, a exemplo da galinhola que Anantharaman encontrou em Nova York.

 

 

COLISÃO AINDA POUCO DEBATIDA

Li iniciou uma pesquisa nacional para obter uma ideia mais clara do problema. Três grandes caminhos de migração cortam a China, mas os dados sobre as fatalidades ao longo dessas rotas ainda são limitados. “Percebemos que a colisão de aves não é bem conhecida na China, nem mesmo no meio acadêmico”, diz Li.

 

‘Estudos indicam que colisões podem diminuir se películas forem instaladas, e as luzes, apagadas‘.

 

“BASTA TROCAR O VIDRO E APAGAR AS LUZES”

 

Na Costa Rica, Rose Marie Menacho teve de convencer seus professores a deixá-la investigar colisões de aves como estudante de doutorado, há oito anos. “Eles não sabiam muito sobre esse assunto, não sabiam que era um problema real. Até mesmo eu ficava um pouco tímida quando dizia que estava estudando isso. Ficava um pouco envergonhada porque achava que não era algo tão grande assim”, recorda.

Para entender o tamanho do problema nos trópicos, ela agora trabalha com cerca de 500 voluntários. Alguns armazenam cadáveres de pássaros em seus freezers, outros enviam relatórios e fotos. “Não são apenas espécies migratórias que colidem”, diz Menacho. Seus voluntários recuperaram quetzal-resplandecentes e tucanos de cores vibrantes com bicos extensos e extravagantes. Ambas são espécies locais.

“A colisão mata muitas aves que já têm que lidar com a perda de habitat, mudanças climáticas, pesticidas etc. E é tão fácil de resolver, basta trocar o vidro e apagar as luzes”, diz a bióloga Kaitlyn Parkins, da NYC Audubon.

 

SOLUÇÕES ENCONTRADAS

Com os dados coletados, Parkins e sua equipe estão tentando convencer os proprietários de edifícios a agir. Normalmente, eles não precisam substituir nenhum vidro. Películas especiais podem torná-lo menos reflexivo – e assim economizar energia para aquecimento e resfriamento. As marcas nas janelas podem ajudar as aves a perceber a estrutura. Um exemplo: após uma renovação do Javits Convention Center, os voluntários encontraram cerca de 90% menos aves mortas ao redor do edifício.

Em janeiro, a cidade de Nova York adotou uma legislação para exigir que edifícios públicos desliguem as luzes à noite durante os períodos de migração. Desde o ano passado, os arquitetos também devem usar projetos favoráveis às aves para todos os edifícios novos, como o revestimento ultravioleta sobre vidro, que é visível para as aves, não para humanos.

 

NOVOS REGULAMENTOS

SÃO UM BOM COMEÇO

Na calçada em frente ao Brookfield Place, um enorme escritório e centro comercial na região sul de Manhattan, Rob Coover inspeciona um pequeno pássaro. A luz do dia ainda é escassa, mas ele já procura por aves mortas há meia hora.

Coover olha cuidadosamente atrás das pilhas de cadeiras que os trabalhadores de um café logo distribuirão no terraço. Em duas oportunidades, ele já se contorceu para tirar fotos de um cadáver minúsculo e ainda rígido. Agora, ele novamente tira luvas de borracha e sacos plásticos de sua mochila para recolher e preservar uma vítima.

Certa vez, Coover encontrou 27 aves em apenas uma manhã. Uma parceira voluntária foi manchete internacional quando flagrou 226 aves sem vida ao redor do One World Trade Center em apenas uma hora, em setembro passado.

“É bastante deprimente, todos esses cadáveres”, diz Coover. Às vezes, ele encontra algum sobrevivente e leva o animal ferido para um refúgio de pássaros. Os cadáveres geralmente ficam em seu freezer até que ele tenha tempo de levá-los à sede do grupo de conservação, onde são agrupados e, alguns deles, distribuídos a museus. “Antes da pandemia, eu costumava ir trabalhar após minhas rondas e colocava as aves no freezer do escritório”, afirma. Ninguém nunca as notou, acrescenta.

 

Nos Estados Unidos e no Canadá, os voluntários são ativos em várias comunidades, e a lista de governos locais que sancionam leis para proteger as aves dos edifícios está crescendo. De acordo com a organização sem fins lucrativos American Bird Conservancy (Conservação Americana de Pássaros), a lei nova-iorquina é uma das mais eficazes. Após estudar as colisões de aves durante quase meio século, Daniel Klem mostra-se satisfeito. Ele finalmente vê a crescente conscientização que esperava.

“As mudanças climáticas também são uma questão muito séria, e ninguém está interessado em se desligar disso. Mas é muito complexo, e vai levar um tempo para descobrir as coisas e convencer as pessoas a fazer as coisas de maneira responsável. Colisões de aves é algo que poderíamos resolver amanhã. Não é complexo, só temos que ter vontade” conclui.

 

 

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JUCA CHAVES

APENAS UM DEPOIMENTO

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O compositor, músico, humorista e crítico, Menestrel Maldito, deixa saudades. O Brasil e a Bahia se despedem do carioca Jurandyr Czaczkes Chaves (1938-2023).
Juca Chaves fez muito sucesso com suas modinhas/sátiras durante o governo Juscelino Kubitschek.
Ele é autor de músicas que se tornaram sucesso no Brasil como “A Cúmplice”, “Menina”, “Que Saudade” e “Presidente Bossa Nova”.
Vale lembrar:
1) JK nunca censurou as sátiras de Juca Chaves. Pelo contrário, adorava suas modinhas sempre bem humoradas e criativas. Juca Chaves foi censurado durante governo militar, entre 1964 e 1985. Aí sim, ele foi perseguido, exilado e viveu alguns anos longe do Brasil, entre Portugal e Itália.
2) Em 2011, no lançamento do filme ‘JK NO EXÍLIO’, de Charles Cesconetto, aqui no Museu Nacional de Brasília, a meu convite, o Juca Chaves subiu ao palco com a filha de JK, Maria Estela, e cantou suas modinhas, abrindo com o PRESIDENTE BOSSA NOVA.
3) Nesse dia, Juca Chaves e Maria Estela Kubitschek, abriram a cerimônia com uma forte mensagem a favor da ADOÇÃO, por sinal, uma lei proposta por JK. Evidente lembrando a adoção da própria Maria Estela e das duas filhas de Juca Chaves: Maria Clara e Morena.
A filha de JK, deixou no seu FB a seguinte mensagem:
“A família do “Presidente Bossa Nova” está triste com o falecimento de Juca Chaves. O Menestrel popularizou JK com suas sátiras, sempre criativas e bem humoradas. Juca Chaves “Voou…. Voou pra bem distante…” e “a mineirinha debutante” está triste.
Maria Estela Kubitschek Lopes
Para quem quiser ouvir Juca Chaves cantando “Presidente Bossa Nova”
Fotos: Antes da exibição do filme “JK NO EXÍLIO”, no Museu Nacional de Brasília, Juca Chaves subiu ao palco e cantou várias modinhas, terminando com Presidente Bossa Nova.
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Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

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Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

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VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

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No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
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Reportagens

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