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ESTRATÉGIA PARA A NATUREZA
O MANEJO INTEGRADO DO FOGO

Técnicos do Ibama, profissionais do Corpo de Bombeiros e patrulhas de combate aos incêndios florestais sabem muito bem: o manejo integrado do fogo é uma importante estratégia ambiental para evitar as queimadas.
Para o ex-Secretário Nacional de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente e professor do departamento de Ecologia da Universidade de Brasília, Bráulio Ferreira de Souza Dias, o fogo não é apenas destruição, pois este elemento pode também significar vida. “Há diferenças entre queimadas controladas e incêndios. O importante é saber investir em políticas de manejo do fogo para proteger o meio ambiente e prevenir desastres como os já ocorridos no Pantanal e na Chapada dos Veadeiros”.
Professor Bráulio Ferreira de Souza Dias: “O impacto do fogo depende da época de ano, da sua frequência, extensão, intensidade e velocidade (tempo de residência) e das condições ambientais (temperatura, velocidade do vento e fenologia das plantas e dos animais).
DIFERENÇA ENTRE INCÊNDIOS E QUEIMADAS
Bráulio Dias: Incêndio é um fogo descontrolado, de origem natural – raios, ou antrópica [ação do ser humano], que destrói um patrimônio natural (floresta e outras formas de vegetação) ou construído. Queimada é um fogo de origem antrópica intencional com o objetivo de reduzir a biomassa vegetal: para preparar área para cultivo agrícola ou renovação de pasto, para eliminar restos de cultura agrícola, ou para controlar a biomassa combustível em vegetação natural para reduzir os riscos de um incêndio florestal de grandes proporções, ou para restaurar a dinâmica ecológica de ecossistemas campestres ou savânicos onde o fogo é um agente ecológico presente na história e evolução destes ecossistemas.
CONTRIBUIÇÃO DAS QUEIMADAS
Bráulio Dias: As queimadas podem ser benéficas ou maléficas ao meio ambiente, dependendo das condições onde ocorrem. O Brasil possui uma grande diversidade de ecossistemas e vegetações nativas, mas podemos agrupá-las em dois grandes grupos em relação ao fogo: de um lado, aqueles ecossistemas e vegetações que evoluíram com a presença do fogo em climas com estação de seca pronunciada onde o fogo pode ter um efeito benéfico na dinâmica e renovação da vegetação favorecendo, por exemplo, as floradas e a dispersão das sementes e a oferta de rebrotas nutritivas para a fauna, e cuja flora e fauna possuem adaptações para resistir e responder ao fogo, ex: casca suberosa das árvores, estruturas subterrâneas bem desenvolvidas, com raízes tuberosas, troncos subterrâneos e gemas protegidas do fogo. E de outro lado, os ecossistemas e vegetações que evoluíram em regiões de clima úmido ao longo do ano todo onde o fogo é um elemento estranho e cuja flora e fauna não possuem adaptações para resistir e responder ao fogo – nestes ecossistemas o fogo é sempre um fator de destruição ambiental. Outra coisa: o impacto do fogo depende da época de ano, da sua frequência, extensão, intensidade e velocidade (tempo de residência) e das condições ambientais (temperatura, velocidade do vento e fenologia das plantas e dos animais).
COMUNIDADES TRADICIONAIS
Bráulio Dias – As comunidades tradicionais, os povos indígenas e os agricultores e pecuaristas tradicionais desenvolveram estratégias adaptativas de uso do fogo controlado que propiciam benefícios para estas comunidades sem causar grandes incêndios. São experiências que devem ser melhor documentadas e resgatadas. Na Austrália, por exemplo, o governo faz pagamento por serviço ambiental para estimular as populações aborígines a retomar as tradições de queima controlada em pequenas áreas ao longo do ano desta forma aumentando a heterogeneidade das paisagens e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa com a redução dos grandes incêndios.
MANEJO INTEGRADO DO FOGO
Bráulio Dias: O manejo integrado do fogo é uma estratégia de gestão ambiental, adaptada a cada condição local, que visa reduzir as condições para a ocorrência de grandes incêndios florestais, restaurar o papel ecológico do fogo nos ecossistemas e vegetações que evoluíram com o fogo (aceitando os incêndios naturais provocados por raios, dentro de limites, e promovendo queimadas prescritas controladas em ecossistemas e vegetações adaptadas ao fogo para reduzir o acúmulo de biomassa vegetal seca e para promover maior heterogeneidade espacial das paisagens.
COMO FUNDIONA NOS BIOMAS
Bráulio Dias: O manejo integrado do fogo deve atuar nos ecossistemas úmidos para a prevenção de incêndios florestais orientando e controlando o uso do fogo nas práticas agrícolas. Também promovendo a construção de aceiros para evitar a propagação do fogo e para facilitar o controle do fogo onde necessário. Já nos ecossistemas adaptados ao fogo, deve promover o uso de queimadas prescritas e controladas onde as condições ecológicas assim permitirem e deve promover a proteção dos ecossistemas e habitats vulneráveis ao fogo nas paisagens campestres e savânicas (como por exemplo as veredas, as matas ribeirinhas e os campos rupestres).





Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma
O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.
A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.
“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.
Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.
“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.
Chuvas
Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.
“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.
Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.
Edição: Heloisa Cristaldo
EBC



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