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Quarto dia do Festival de Brasília trouxe histórias de afeto e amor

Um dos destaques do evento foi a mostra paralela em homenagem ao cineasta Jorge Bodanzky

 

Lúcio Flávio, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

 

Com uma programação privilegiando a diversidade, o 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tem emocionado e mexido de forma passional com o público. Um dos momentos mais marcantes desta edição foi, na noite de sexta-feira (18), a mostra em homenagem ao veterano Jorge Bodanzky, com quatro antológicos filmes. O último longa exibido no certame paralelo foi o impactante documentário Amazônia, a Nova Minamata?, mais recente trabalho do diretor, que assina filmes clássicos como Iracema, Uma Transa Amazônica (1975) e Utopia Distopia (2020).

Filme de alerta com pegada escancaradamente de denúncia, Amazônia, a Nova Minamata?  traz à tona uma história que poucos conhecem: o drama do povo Munduruku, que luta para conter o avanço do garimpo na região. A narrativa faz uma analogia com o combate a uma doença que afetou milhares de pessoas na cidade japonesa de Minamata, há 50 anos, por conta da contaminação do mercúrio. A urgência do tema é gritante e, infelizmente, se repete.

“É sempre emocionante e uma honra estar neste palco e poder mostrar filmes nesta tela, é indescritível para mim”, disse Bodanzky antes da exibição do filme. “Praticamente é uma projeção inaugural, primeira vez aqui em Brasília, e é um momento que não dá nem para descrever como é importante para mim.”

No debate, realizado logo após a sessão no hall do Cine Brasília, depoimentos de revolta, protesto e indignação se misturavam com palavras de apoio e afago. “As pessoas ainda não entenderam o que estamos passando, estão surdas e cegas”, declarou Alessandra Korap, um das integrantes da aldeia indígena presente à sessão. “Além do mercúrio, outro inimigo do povo Munduruku é a falta de informação e a omissão”, alertou o produtor Nuno Godolphim.

Mostra Brasília

Na Mostra Brasília, certame paralelo dedicado às produções realizadas no DF, houve menção ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC), destacado como importante instrumento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) no incentivo à arte.

Dirigido pela dupla Augusto Borges e Nathalya Brum, o primeiro filme da noite do encontro trouxe uma história sobre personagens periféricos, à margem do sistema -, um clichê social que insiste em perdurar, lamentavelmente. Ácida, profética e inteligente, a comédia Manual da Pós-Verdade, de Thiago Foresti, apresentou um enredo distópico conduzido pelo jornalista Sérgio (Wellington Abreu), em desempenho aplaudido, representando o único personagem lúcido em uma realidade paralela.

“Você tem que sair da realidade”, debocha, no filme, a mãe de Sérgio, que vive um pesadelo orquestrado por um porco-bomba. “A única coisa que quero é buscar a verdade”, contesta o protagonista da trama. “A cultura é a vacina contra a máquina do ódio”, resumiu o diretor durante debate sobre a produção.

Passado e presente, memória e culpa se misturam no drama político O Pastor e o Guerrilheiro, de José Eduardo Belmonte, que volta a dirigir uma ficção em Brasília, cidade que o projetou no cinema, desde A Concepção, de 2005. A trama tem como foco a relação de amizade e cumplicidade na dor entre um pastor e comunista em plena ditadura militar.

Pontuado por fotografia sombria e atuações sóbrias, o longa talvez seja um dos trabalhos mais maduros do cineasta, que não marcou presença por estar gravando no Paraná, mas mandou um bilhete para o público do Festival de Brasília,

“O filme diz muito sobre mim e em questões nas quais eu acredito”, escreveu. “A perseverança na construção de um mundo mais igualitário, a força do diálogo para dirimir conflitos, a necessidade de ouvir e considerar os outros. É um filme que fala muito sobre os temas atuais.”

Mostra Competitiva

Nos três filmes realizados na mostra competitiva do FBCB, há um ponto em comum: o afeto entre os personagens em tramas que valorizam o ser humano e sua relação com o ambiente. Em Capuchinhos, o virtual se confunde com o analógico, compondo um absurdo total em que os atores falam sem parar e aparecem, literalmente, de ponta-cabeça. “Uns meninos que acompanhavam as filmagens fizeram o melhor comentário do que é a nossa produção: ‘Que filme djoidjo!’”, divertiu-se o diretor Victor Laet, arrancando gargalhadas do público.

No drama urbano paraibano Nem o Mar Tem Tanta Água, da diretora cearense e indígena Mayara Valentim, foi mostrada a história de Babi (Laís de Oyá), uma jovem independente e segura de si que ama e vive a vida com a mesma facilidade com que pedala pelas ruas da cidade. “É um filme sobre a possibilidade de afetos não hegemônicos”, destacou Mayara.

A noite competitiva foi encerrada com o longa mineiro Canção ao Longe, de Clarissa Campolina, sobre a rotina de Jimena, uma jovem que busca sua identidade por meio da reconstrução de laços familiares. Nas entrelinhas de sua jornada pela busca do eu, vêm à tona questões universais, como tradição, raça, gênero, família e luta de classe. “Estamos muito felizes de poder exibir o filme nesta tela; sempre é muito emocionante com esse público, com essa sala cheia”, agradeceu a cineasta.

 

 

 

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CLDF celebra Dia Nacional do Surdo com homenagens acessíveis

Foto: Renan Lisboa/ Agência CLDF

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O Dia Nacional do Surdo, comemorado nesta terça-feira (26), foi celebrado antecipadamente hoje em sessão solene na Câmara Legislativa, promovida pelo gabinete do deputado Iolando (MDB). O distrital é autor da Lei 7279/2023, que torna indeterminada a validade dos laudos médicos às pessoas com deficiência, o que as desobriga a apresentarem novos laudos para terem acesso a serviços públicos, benefícios fiscais e assistência social.

O parlamentar enfatizou a importância de garantir acesso à políticas públicas voltadas para a inclusão produtiva e social, como a educação de qualidade, oportunidade de empregos, atendimento de saúde adequada mas, acima de tudo, o respeito.

“A inclusão produtiva é essencial para que os surdos possam contribuir ativamente para a economia e para a sociedade. Precisamos criar ambientes de trabalho acessíveis, promover a capacitação profissional e incentivar a contratação de pessoas surdas”, explicou o Iolando.

O secretário da Pessoa com Deficiência, Flávio Pereira dos Santos, comentou sobre os projetos dentro da Secretaria, como a Central de Interpretação de Libras, que atende a parcela da população surda on-line sobre os serviços do GDF, e as centrais de emprego e do esporte.

“É importante mudar a história da comunidade surda, mas para isso precisamos, principalmente, ouvir essa comunidade. Queremos uma Brasília de todos e para todos”, relatou o secretário.

Igualdade no lazer

Para dar início aos trabalhos da sessão, foi chamado o diretor de acessibilidade comunicacional da Secretaria da Pessoa com Deficiência do DF, Valdemar Carvalho, que fez uma apresentação na Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), com tom satírico sobre os diferentes tipos de deficiência e as problematizações que sofrem, como as promessas de cura.

Também se apresentaram alunos da Escola Bilíngue, Libras e Português Escrito de Taguatinga, com uma interpretação, também em Libras, do conto Cachinhos Dourados. A Companhia de Dança Libras em Cena também fez sua participação com três apresentações ao final da sessão.

Elogiando as apresentações e defendendo que a população surda também deve ter respeitada sua maneira de aproveitar o lazer, o deputado Iolando ressaltou: “É preciso lembrar que a língua de sinais não é apenas uma forma de comunicação, mas também uma expressão cultural rica e diversificada”.

Dentre outros que estiveram no evento, marcaram presença o secretário-executivo da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, Leonardo Reisman; a subsecretária da Secretaria de Educação; professores de Libras da Escola Bilíngue de Brasília, da Universidade de Brasília; e um representante do Ministério da Educação.

Vinícius Vicente (estagiário) – CLDF

 

 

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15 anos da Lei Seca: Brasília está entre capitais com mais motoristas embriagados

Apenas Belo Horizonte (MG) tem maior número de flagrantes. Em 90% dos dias, durante 15 anos, houve pelo menos uma infração no DF, totalizando 36 mil notificações.

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Em 15 anos da Lei Seca, Brasília ficou em segundo lugar em relação às capitais com o maior número de infrações. Foram 36.386 flagrantes registrados.

Brasília só perde para Belo Horizonte. A capital mineira somou 47.561 infrações.

Os dados, divulgados nesta segunda-feira (25), são da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), vinculada ao Ministério dos Transportes. Segundo o levantamento, a capital federal também somou o maior número de dias com registro de motoristas embriagados flagrados ao volante.

Conforme os dados, em 90,2% dos dias compreendidos no período de 15 anos, houve, ao menos, uma notificação na capital federal. Ou seja, em 4.943 dias houve uma infração à Lei Seca no DF, o equivalente a cerca de 13 anos.

Veja o ranking nacional das capitais com maior número de infrações:

  1. Belo Horizonte (MG)
  2. Brasília (DF)
  3. São Paulo (SP)
  4. Rio de Janeiro (RJ)
  5. Porto Velho (RO)
  6. Curitiba (PR)
  7. Rio Branco (AC)
  8. Manaus (AM)
  9. Goiânia (GO)
  10. Cuiabá (MT)
  11. Recife (PE)
  12. Macapá (AP)
  13. Campo Grande (MS)
  14. Porto Alegre (RS)
  15. Boa Vista (RR)
  16. Natal (RN)
  17. São Luiz (MA)
  18. Fortaleza (CE)
  19. Maceió (AL)
  20. Teresina (PI)
  21. João Pessoa (PB)
  22. Salvador (BA)
  23. Florianópolis (SC)
  24. Aracaju (SE)
  25. Belém (PA)
  26. Vitória (ES)
  27. Palmas (TO)
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Ministro Carlos Fávaro pede apoio da Embrapa para fortalecer a imagem da agricultura brasileira

Da esquerda para direita: Selma Beltrão, Carlos Favaro, Silvia Massruhá, Ana Euler e Alderi Araújo

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Em reunião na sede da Empresa em Brasília, ele conversou com gestores das 43 Unidades de pesquisa de todo o Brasil

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou da abertura da segunda reunião de gestores com a nova Diretoria da Embrapa nesta segunda-feira (25/9) na Sede da Empresa, em Brasília, DF. Na oportunidade, ele solicitou aos 43 chefes de Unidades presentes ao evento apoio para enfrentar o maior desafio imposto hoje à agricultura brasileira: a valorização da sua imagem em nível mundial. Segundo o ministro, é fundamental mostrar aos outros países que as práticas adotadas por 80% dos produtores no Brasil são desenvolvidas sob bases sustentáveis e tecnológicas, graças ao aporte científico da Embrapa.

Fávaro destacou que fortalecer a imagem do agro brasileiro é fundamental para aumentar as exportações do País. Nesse sentido, ele apontou ainda como demanda fundamental continuar investindo em ações de PD&I voltadas à rastreabilidade e em métricas que mensurem a emissão de carbono. “O mercado hoje é pautado por exigências que comprovem a origem e a sustentabilidade das nossas entregas”, pontuou.

O ministro citou como exemplo a cadeia produtiva do algodão, que une sustentabilidade, tecnologia e qualidade, garantindo ao Brasil o segundo lugar no ranking de exportação mundial. “A certificação ao longo de toda a cadeia e a qualidade da fibra podem fazer com que o País ultrapasse os Estados Unidos na exportação do produto em nível mundial. É esse modelo que temos que estender às outras cadeias produtivas”, observou Fávaro.

Outro exemplo de sucesso é a carne de frango, mercado no qual o Brasil se destaca como o maior exportador mundial. A sustentabilidade dessa cadeia é o diferencial, como explicou o ministro, lembrando que o País se mantém como segundo maior produtor, utilizando metade da água e da energia utilizadas nos países europeus.

Fávaro destacou ainda que está em negociação com o Vietnam e Israel para aumentar os mercados de exportação para os produtos agrícolas brasileiros. Israel é hoje o maior consumidor de carne de frango do mundo, com 60 kg por habitante/ano.

Os próximos 50 anos

O ministro destacou a relevância da pesquisa agropecuária para o crescimento desse setor ao longo dos últimos 50 anos. Graças à Embrapa e às instituições de pesquisa e ensino, saímos de importador de alimentos na década de 1970 para um dos maiores players do agro mundial. A ciência por trás do agro garantiu um aumento de 580% na produtividade brasileira.

“Nosso desafio para os próximos 50 anos é manter esse alto nível de produção sob bases cada vez mais sustentáveis, com foco em automação e outras tecnologias que levem as soluções com qualidade e rapidez ao setor produtivo”, ressaltou Fávaro.

Outro foco é em tecnologias capazes de transformar áreas degradadas em produtivas. Os sistemas que integram lavoura, pecuária e florestas são estratégias de produção sustentáveis que vêm despertando a atenção de outros países. De acordo com o ministro, a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica, sigla em inglês) quer investir cerca de 1 bilhão de dólares em arranjos produtivos desse tipo na Amazônia.

Bioeconomia e COP

Durante a abertura, os chefes-gerais das Unidades levantaram questões prementes no cenário atual, como a bioecnonomia na Amazônia. Segundo eles, a realização da COP30 na região será uma vitrine para mostrar ao mundo as ações de PD&I da Embrapa em prol da bioeconomia no bioma.

A diretora de Negócios, Ana Euler, destacou as iniciativas da Embrapa voltadas à preparação para o evento, como o Pré-COP e o Café Amazônico, entre outras. O objetivo é discutir eixos estratégicos para o desenvolvimento sustentável, envolvendo cooperação com as demais instituições de pesquisa e ensino que atuam no bioma.

Segundo Euler, de agora até a COP, precisamos mostrar ao mundo a força da ciência na região amazônica.  “Temos 220 tecnologias desenvolvidas para 50 cadeias produtivas”, ressaltou a diretora. Hoje, a Embrapa mantém nove Unidades de pesquisa na Amazônia legal, com 337 pesquisadores, sendo 89% com pós-doutorado.

Outros temas, como PAC, concurso e a sustentabilidade das cadeias do leite e da carne, também foram levantados durante o evento.

Os diretores Clenio Pillon, Selma Beltrão e Alderi Araújo, além de muitos dos chefes de Unidades presentes, agradeceram pela volta do PAC. Segundo Pillon, essa estratégia será fundamental para revitalizar os campos experimentais da Embrapa distribuídos por todo o Território Nacional, inclusive com tecnologias de automação.

A importância do fortalecimento das ações de assistência técnica e extensão rural em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar foi outro ponto debatido.

Fernanda Diniz (MtB 4685/DF)
Superintendência de Comunicação (Sucom)

Contatos para a imprensa

Telefone: (61) 3448-4364

 

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