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BASTA! Bandeira branca! Paz para o homem e o ambiente
A violência ambiental é silenciosa, cruel e mata aos poucos. Mais do que crime comum
Silvestre Gorgulho
Em boa hora a sociedade brasileira vestiu o branco da paz, contra a violência dos assaltos. Mas há outra violência que também precisa de um basta. A violência ambiental. O desinteresse maior da sociedade, a irresponsabilidade da maioria das empresas e a grande omissão do Estado têm desencadeado uma violência ambiental tão ou mais cruel do que a das balas perdidas.
Quer maior violência do que condenar grande parte da população a viver dependente de uma lata d’água, comprada a peso de ouro dos caminhões pipa? Um absurdo que chega ao extremo quando, esse mesmo homem miserável acaba pagando por apenas alguns litros de água muito mais do que a conta de final de mês de uma família que tem água encanada em casa. A falta de água encanada na torneira do barraco de mais de 20% da população brasileira é mais do uma bala perdida. É uma saraivada de balas perdidas.
E a violência ambiental que condena a metade da população brasileira a viver num ambiente insalubre, sem coleta de lixo, sem saneamento adequado? Imagina que em Belém, Pará, apenas 6% da população possui rede de esgoto. Coitado do Rio Guamá e da Baía de Guajará, que margeiam Belém e recebem todo detrito humano da capital. As autoridades sabem que a maioria das internações hospitalares no Brasil são motivadas pela falta de saneamento, esse também um verdadeiro tiroteio perdido.
Mata aos poucos
A crueldade ambiental é silenciosa. Mata muitos, mas aos poucos. Por ser uma mortandade lenta, seus efeitos acabam não causando tanta indignação.
Em junho deste ano, uma menina morreu intoxicada, após ter contato com um produto químico, de cor branca, possivelmente cianureto, encontrado num terreno perto de sua casa, na favela Paraopeba, Duque de Caxias, RJ. As crianças brincavam quando um caminhão da prefeitura local despejou o produto. Outras crianças foram internadas.
Em 1996, a Folha do Meio noticiou um vazamento de 400 litros de ascarel, que é um óleo cancerígeno, na subestação de energia da Estação do Metrô de Irajá/RJ, que colocou em perigo todos moradores da favela Pára-Pedro.
Conhecido popularmente como pó-de-broca, o BHC já provocou dezenas de mortes por câncer na Cidade dos Meninos, no Rio, onde funcionava uma fábrica de BHC do extinto Serviço Nacional de Malária, do Ministério da Saúde. As denúncias hoje vão ainda mais longe: todo o lençol freático da região está contaminado. Aliás, o lençol freático de várias regiões brasileiras está sendo contaminado por chorume de cemitérios, pela “indústria” dos poços artesianos e até pela silenciosa poluição dos esgotos que acabam chegando ao subsolo.
Poluição dos rios
A população brasileira continua assistindo ao triste espetáculo de ver diariamente suas praias, lagoas, rios e parques sendo poluídos. Derramamento de óleo virou rotina.
Como não lembrar da poluição que se abate continuamente sobre a Baía da Guanabara? Sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas? Sobre as Lagoas da Barra da Tijuca e Jacarepaguá?
Como esquecer o triste caso do Césio 137 de Goiânia, onde até os soldados da PM que montaram guarda na Rua 57 foram afetados pela radioatividade e hoje sofrem as conseqüências do câncer?
Como omitir o extermínio sobre a cultura indígena que, nesses 500 anos, fizeram dos primeiros habitantes dessa Terra presa fácil das ardilosas ações do homem branco?
Como não pedir um basta sobre a criminosa ação das madeireiras ou advertir sobre a triste destruição da riquíssima biodiversidade do Cerrado e da Amazônia? Como apagar de nossa memória os incêndios florestais e não implorar por um basta aos caçadores de araras, ararinhas e outros bichos?
A Folha do Meio Ambiente, há 11 anos, vem cumprindo seu papel. Mais do que denunciar, o jornal tem mostrado um caminho a seguir pela educação, conscientização, sempre pedindo um BASTA ao descalabro.
A indignação vai além das bombas ambientais que ainda não foram desativadas. O BASTA é por tantas outras bombas ambientais que, como minas de guerra, continuam sendo construídas, armadas e deixadas aí para explodirem no colo de nossos filhos e netos. Não há como entender o desinteresse da sociedade, a irresponsabilidade de muitas empresas e até a triste omissão dos governos. O fato é que degradando, por necessidade ou por ganância, a violência ambiental vai matando lentamente. Muito mais do que crime. E, pior, sem causar a indignação da morte por uma bala perdida.
Número de mortes por falta de saneamento | |||||||
Todas as idades | até 4 anos | ||||||
Causas | 1996 20 7.543 1.828 455 860 450 11.156 | 1997 29 6.682 866 389 1.031 505 9.502 | 1998 35 8.082 791 396 1.062 78 10.884 | 1996 3 4.895 1.143 1 29 0 6.071 | 1997 5 4.295 418 2 43 0 4.763 | 1998 |
Doenças relacionadas pela água contaminada | ||
Principais doenças | Formas de transmissão | |
| > | Ingestão do agente causador da doença |
| > | A falta de água e a higiene pessoal insuficientes criam condições favoráveis à disseminação. |
| > | O agente causador penetra na pele ou é ingerido. |
| > | Insetos que vivem próximo a fontes de água. |
Doenças relacionadas pela falta de esgoto | ||
Principais doenças | Formas de transmissão | |
| > | Contato pessoal e higiene pessoal e doméstica inadequada |
| > | Contato de pessoal, ingestão e contato com alimentos contaminados e com fontes de águas contaminadas pelas fezes |
| > | Ingestão de alimentos contaminados e contato da pele com o solo |
| > | Ingestão de carne mal cozida de animais infectados |
| > | Contato da pele com água contaminada |
| > | Procriação de insetos em locais contaminados pelas fezes |

Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma
O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.
A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.
“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.
Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.
“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.
Chuvas
Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.
“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.
Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.
Edição: Heloisa Cristaldo
EBC



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