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Tem mãe prá tudo

Sem mãe esse mundo não teria a menor


Silvestre Gorgulho



Quando eu entrei na escola, comecei a perceber que tinha mãe para tudo. Algumas, além da minha própria mãe, eu até já conhecia: era a Mãe-de-Deus, a Mãe-Natureza e a Mãe-do-Céu. Outras mães eu fui conhecendo com o tempo. À medida que aumentava minha leitura, ouvia músicas e conhecia gente, mais mães me eram apresentadas. Na rua as pessoas falavam sobre a mãe-joana, nas novelas vi a mãe-de-leite, li sobre a mãe-d’água, cantei com a Mãe Menininha, que era uma Mãe-de-Santo, e meus pais falavam que até a professora era uma mãe.
Eram mães para todos os tipos e gostos.


Mais tarde eu li um livro sobre a Amazônia, que falava da mãe-da-mata. Ela era um duende da floresta que protegia a flora e a fauna. Depois alguém me contou uma história sobre a mãe-da-lua, que cantava todas as noites de lua cheia uma melodia bem monótona e esquisita.
E eu ía crescendo e mais mães entravam na minha vida. Tinha até a história da mãe-do-fogo, que quando pegava fogo na floresta havia um tronco seco que guardava o fogo dentro dele por muitos dias. Ainda agora eu li um livro que tinha a mãe-do-sol, um inseto coleóptero, brilhante, da família dos buprestídeos e que são usados como adornos pelos índios.


Bem, se eu for pesquisar a literatura brasileira, aí tem mãe que não acaba mais. Exemplos: a mãe-do-rio, que é o leito do rio até o extremo das margens; a mãe-do-ouro que, segundo as lendas, guarda as minas de ouro; a mãe-da-tora, que é um passarinho da família dos formicarídeos, de coloração preta com uma mancha dorsal branca; e até a mãe-benta, que é um bolo muito gostoso de farinha de trigo, côco e ovos, inventado por uma doceira famosa no tempo do Império que se chamava Benta Maria da Conceição Torres.


Mãe-boa é nome de uma planta da família das vitáceas, que tem uma penca de flores bem pequeninas e dá umas frutinhas como se fossem uvas, com propriedades medicinais.
Tem ainda a mãe solteira, que acaba sendo uma mãe-heroína, pois é mãe e pai ao mesmo tempo. E a mãe-de-família? Essa é a verdadeira matriarca. É a verdadeira mãe de todos. Cuida da família, dos agregados e até dos vizinhos. Quase igual à mãe-grande, mais conhecida por vovó, ou grand-mère para os franceses e grandmother para os que vivem no idioma inglês.


Chegamos ao Ano 2.001 e mais mães continuam entrando na nossa vida. A engenharia genética chegou onde se achava era muito difícil chegar: a mãe-de-aluguel. Nasceu, assim, a possibilidade de homossexuais constituírem família e permitiu, também, que uma mulher implante um embrião em seu útero, para que nele se processe a gestação de um filho de outrem.
E como não inventar uma mãe para a era da informática e para as viagens espaciais? Mas é lógico que tem. Quem ainda não ouviu falar na placa-mãe do computador e na nave-mãe dos filmes e das aventuras no espaço?


Como se vê, mãe é o que não falta. Ainda bem. Sem mãe esse mundo não teria a menor graça. Aliás, não teria nem mundo. Isso que é invenção competente. Mãe gera, alimenta, cria, protege. Já pensou não ter um ombro para chorar? Não ter alguém que fique do lado da gente até quando a gente erra? Tem mãe para tudo, porque em tudo há que ter proteção, abundância, carinho, amor, segurança e alegria.
Se o mundo é movido pela luz do sol e pelos recursos naturais da terra, a vida é movida pela energia mais forte e mais doce que se tem notícia. Não há dúvida, amigo leitor, não há quem não seja movido a mãe.

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Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

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Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

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VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

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No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
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METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

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Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE O PRADOS”.
Para continuar no mote dos vagalumes ou pirilampos tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
Quando a cachoeira desce nos barrancos
Faz a várzea inteira se encolher de espanto
Lenha na fogueira, luz de pirilampos
Cinzas de saudades voam pelos campos.
Lindo demais! É a arte de vagalumear.
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