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Brasília não pode ser a ovelha Dolly


Silvestre Gorgulho


Brasília, uma quarentona de dois milhões de habitantes, não pode ser Dolly, a ovelha clonada. O que são 42 anos para uma cidade? Nada! Ainda está na placenta da história. Mas será que Brasília não está lembrando uma clonagem? Como a ovelha Dolly, concebida com os mais modernos avanços tecnológicos, será que Brasília não está sofrendo de envelhecimento precoce!


Salvador, a velha cidadela barroca no coração do Brasil recém-descoberto, foi a primeira capital brasileira. Envelheceu. O desenvolvimento proporcionado pelas descobertas de ouro e diamantes em Minas Gerais e pelas fazendas que brotavam no Rio de Janeiro e São Paulo, no século XVII, deslocou o progresso para o eixo meridional. Ficou para lá Salvador e veio a necessidade de trazer a Capital para o Rio de Janeiro, que acolheu o governo da Colônia, do Império e da República. Até que chegou a hora do Brasil parar de ser caranguejo e desgrudar-se do grande litoral para embrenhar-se por esse Cerradão a fora. O Rio de Janeiro também envelheceu.


A hora era de atender a reivindicação expressa pelos constituintes de 1891: interiorizar a Capital Brasileira. Construir Brasília. O potencial brasileiro, a alma dos desbravadores, o futuro estava num ponto eqüidistante do País que pudesse irradiar transformações, nacionalidade, esperança e energia para a ocupação econômica e política do Centro-Oeste e da Amazônia.
Fêz-se Brasília. E ela nasceu questionada. Usaram de todos argumentos culturais, econômicos, políticos contra a meta síntese de Juscelino Kubitschek.


A polêmica foi mil vezes maior do que os plebiscitos para escolher entre os regimes presidencialista e parlamentarista. Do que as privatizações. Saudosistas, ainda hoje, não perdoam essa ousadia. Não fosse a determinação de JK, Brasília continuaria a ser apenas um sonho e o Brasil produtivo estaria, ainda, igualzinho aos caranguejos, arranhando esse belo e maravilhoso litoral.


Pelo progresso que Brasília trouxe para essa região, antes esquecida e que representa cerca de 70% do País, sua construção há muito pagou seu preço. Mas tem uma coisa. É hora de repensar a Brasília. Nossa Capital não pode padecer de um envelhecimento precoce. Brasília, 42 anos, dois milhões de habitantes, uma cidade tão nova e com os mesmos grandes problemas das metrópoles brasileiras. Não podemos deixar Brasília virar uma megalópole. Temos que preservar o verde, ás águas, o solo e o ar.
É bom lembrar. Se Brasília tem os mesmos problemas, diferente de todas as outras cidades, ela ainda tem as soluções muito mais fáceis. Mais fáceis, mais rápidas e muito mais baratas.


Portanto, vamos gente! Vamos preservar o Céu de Brasília, evitando novos prédios no seu centro administrativo. Vamos racionalizar seu trânsito, evitando construções de mais shoppings e edifícios nos setores comerciais, bancários e hoteleiros, norte e sul.


O departamento de engenharia da USP já provou: cada 1.200 metros quadrados de construção de prédios no centro das cidades provoca, pelo menos, 300 metros de engarrafamento. Mais importante do que asfaltar e fazer edifícios é arborizar, construir praças e parques, é arejar e deixar os olhos chegar ao infinito. Brasília nasceu assim: deixando nosso olhar chegar ao céu. Por que não continuar sendo a cidade dos espaços vazios?


Governo e povo. Empresários e políticos. Corpo diplomático e visitantes. Cada um na sua. Por favor, não vamos deixar Brasília ser a Dolly da clonagem. Ninguém quer vê-la envelhecer tão precocemente.

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Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

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Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

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VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

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No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
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METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

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Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE O PRADOS”.
Para continuar no mote dos vagalumes ou pirilampos tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
Quando a cachoeira desce nos barrancos
Faz a várzea inteira se encolher de espanto
Lenha na fogueira, luz de pirilampos
Cinzas de saudades voam pelos campos.
Lindo demais! É a arte de vagalumear.
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