Artigos

Trilogia de As – árvores, aves e as águas

As aves, as águas e as árvores brasileiras


Silvestre Gorgulho



O Brasil é o país das águas, das árvores e das aves. Uma trilogia de As que faz do Brasil o campeão mundial de biodiversidade. Água, árvore e ave: três mundos de beleza, de cor e de fascínio… Três elementos que alimentam os sonhos dos homens e dos deuses.


Pau-brasil é uma belíssima árvore que deu nome e riqueza a uma Nação. Objeto de intensa cobiça, o Pau-brasil levou seu vermelho-sangue para as cortes européias. Sua cor inflava a vaidade e distinguia as vestimentas dos poderosos. Após três séculos de intensa exploração, promovendo um comércio que chegou a ser conhecido como o primeiro e mais forte monopólio da história do Brasil, a árvore-símbolo que deu nome à Terra descoberta por Cabral começou a agonizar. Em dezembro de 1978, o presidente Ernesto Geisel assinou um Decreto 6.607, fazendo do Pau-brasil a Árvore Nacional.


Já a Ave Nacional só nasceu em 2002. Vamos conhecer um pouco desta história. As aves exercem um encantamento tão grande na história e na vida dos homens que a Bíblia tem passagens lindas sobre pássaros, na mitologia grega as aves tiveram importância extraordinária e os povos antigos tinham aves que eram literalmente adoradas.


São como as penas das aves
As nossas penas de amor
Quando é preciso arrancá-las,
Nós damos gritos de dor!


Cada nação, entre seus símbolos nacionais – como o Hino e a Bandeira – têm também uma ave típica para representá-la. Uma espécie de ave, que pela beleza e pela característica da região, se identifica com as populações, com seus costumes, sua cultura e suas crenças. Assim, por exemplo a Andorinha (Hurundo rústica), expressão de liberdade cantada pelos poetas e músicos austríacos, é a ave nacional da Áustria; a Índia tem como ave nacional o pavão (Pavo cristatus) que respresenta a pujança e a beleza de uma Índia misteriosa; a Suécia tem o Tordo (Turdus merula) que anuncia com seu canto a primavera depois do terrível inverno ártico; o Federal (Amblyramphus holosericeus) é a ave nacional do Uruguai que, com sua cabeça bem vermelha simboliza o soldado bem alerta que guarda a fronteira; a ave nacional da Argentina é o nosso popular João de Barro que lá tem o nome de Hornero (Furnarios rufus) e representa o povo dos pampas que constrói sua casa com competência para se proteger do frio vento minuano; e o Chile tem como ave nacional o Papapiri (Tachuris rubrigastra) que vive nos juncais chilenos em harmonia com os camponeses de descendência Inca.


Homem! não sofras à toa
Buscando o conhecimento:
Olha o pássaro que voa
Sem teorias do vento.


E qual a Ave Nacional do Brasil? Pois é, o Brasil que é campeão mundial da biodiversidade em plantas e em aves só agora em 2002 conseguiu sua ave nacional. E olha que o Brasil tem 1.677 espécies de aves registradas e tinha até um dia dedicado a elas, 5 de outubro, devidamente decretado pelo governo federal como Dia da Ave.
Segundo o ornitólogo Johan Dalgas Frisch, presidente da Associação de Preservação da Vida Selvagem, foram quase 30 anos de promessas e de muito trabalho para conseguir que o governo brasileiro criasse uma ave símbolo do Brasil. No ano passado ele conseguiu, com o apoio dos ministros do Meio Ambiente, da Educação, e do Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, e assim o ex-presidente da República assinou decreto fazendo do Sabiá a Ave Nacional.


Traz o vento ao meu ouvido
Das matas por onde erra,
O cantar longo e sentido
De um sabiá lá na serra!


Outros ornitólogos defendiam outras propostas. Na verdade outras belas aves mereciam também ter esse prestígio. Como não se encantar com uma Ararajuba que tem as cores da bandeira nacional, verde e amarela? Como não se encantar com o Canarinho da Terra ou com o Uirapuru? Mas qual a ave brasileira que está mais presente no coração do povo, nos poemas de nossos poetas ou nas canções de nossos compositores? Aí não tem a menor dúvida, o Sabiá ganha disparado.


Vejam só, fazendo uma varredura no cancioneiro popular vamos encontrar dezenas de canções que têm como título Sabiá. Que citam o Sabiá, é até difícil de pesquisar. E canções de compositores de primeira grandeza como Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Luiz Gonzaga, João Chaves e Paulo César Pinheiro até nomes para muitos desconhecidos Cláudio Rios, Marcos Viana, Ênio Pereira e Ge Lara.


Para representar o mundo das poesias, nada melhor do que “Minha Terra tem palmeiras / onde canta o Sabiá / As Aves que aqui gorjeiam / Não gorjeiam como lá” do poeta maior Gonçalves Dias.


Assim, abundante em todos os terreiros e quintais das casas de campo e das cidades, o Sabiá por sua própria presença no cancioneiro popular está no coração dos brasileiros. É a ave mais cantata em prosa e em verso na vida cultural do Brasil.


As trovas anteriores são de autoria do poeta mineiro Soares da Cunha. Aliás, é também de Soares da Cunha essa última trova que ele usa o exemplo das aves migratórias para filosofar sobre o comportamento da alma humana. É uma das trovas mais conhecidas, mais recitadas e mais belas da língua portuguesa:


Amigos são todos eles
Como aves de arribação
Se faz bom tempo, eles vêm…
Se faz mau tempo, eles vão…

Continue Lendo
Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos

VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

Publicado

em

 

No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
Continue Lendo

Artigos

METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

Publicado

em

 

Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE O PRADOS”.
Para continuar no mote dos vagalumes ou pirilampos tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
Quando a cachoeira desce nos barrancos
Faz a várzea inteira se encolher de espanto
Lenha na fogueira, luz de pirilampos
Cinzas de saudades voam pelos campos.
Lindo demais! É a arte de vagalumear.
Continue Lendo

Artigos

A LUA CHEIA DE MARÇO FAZ DUAS HOMENAGENS ÁS MULHERES E AO TIÃO NERY PELOS 91 ANOS

Publicado

em

 

Vou confessar. Sou como o Sebastião Nery: gosto de viajar mais por palavras do que por avião, ônibus ou carro.
Mas viajar de trem, gosto também. Sabe por quê? Simples, porque a vida é uma viagem de trem. Embarca aqui, desembarca ali. Conhece um aqui, fica amigo de outro ali. Perde um tempão aqui, mas ganha uma surpresa imensa acolá.
E nesse trem de sobe e desce, entra e sai, dorme e acorda a gente vai curtindo Manuel Bandeira com seu
“Café com pão, café com pão, café com pão… Virge Maria que foi isso maquinista?”
Este 8 de março é lua cheia para duas homenagens. Às MULHERES e ao jornalista Sebastião Nery, que completa hoje 91 anos.
Em 1976, eu organizei a festa dos 44 anos do Nery aqui em Brasília, com um churrasco. Meu Deus, e o tempo passa. Depois fiz a sua festa de 50 anos e muitos outros aniversários passamos juntos.
Quando Nery fez 80 anos, a festa foi no restaurante Forneria (hoje Rancho Português) lá na Lagoa-RJ. Junto com meu irmão João Vitor fizemos a cachaça TIÃO NERY – 80 graus. Um sucesso!
Voltando ao trem da vida, vale lembrar Villa Lobos com seu Trenzinho Caipira:
“Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra
Vai pelo mar”.
O trem é assim mesmo: vai pela serra, vai por aldeias, matas, pontilhões, corações e atravessa a vida.
Hoje, dia 8, o NERY faz 91 anos. E o trem vai chegando na Estação da Saudade para a gente embarcar em mais uma viagem de aniversário. O Nery na Barra da Tijuca, agora sem a Bia, e eu aqui em Brasília.
Trem difícil é passar aniversário longe dos amigos de fé.
ABRAÇO DE

PARABÉNS

, MEU AMIGO!

O trem é assim mesmo: vai pela serra, vai por aldeias, matas, pontilhões, corações e atravessa a vida.
Hoje, dia 8, o NERY faz 91 anos. E o trem vai chegando na Estação da Saudade para a gente embarcar em mais uma viagem de aniversário. O Nery na Barra da Tijuca, agora sem a Bia, e eu aqui em Brasília.
Trem difícil é passar aniversário longe dos amigos de fé.
ABRAÇO DE

PARABÉNS

MEU AMIGO!

FOTOS:
1) Nery e eu esperando o trem… que já vem, que já vem…
2) A Cachaça que comemorou os 80 do Nery
3) O Nery e a charge do MENSALÃO, quando contou num artigo bombástico como começou o Mensalão do governo PT.
4) NERY, testemunha ocular do Mensalão.
5) Nery no Seminário, estudando muito porque queria ser ‘O BISPO DE ROMA”.
Continue Lendo

Reportagens

SRTV Sul, Quadra 701, Bloco A, Sala 719
Edifício Centro Empresarial Brasília
Brasília/DF
rodrigogorgulho@hotmail.com
(61) 98442-1010