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Eleição, política e meio ambiente

Decálogo da sustentabilidade eleitoral no Brasil


Silvestre Gorgulho


01. A cada eleição, uma verdade: o grande público está muito longe da política e dos políticos. Como comprovar? Fácil: uns quatro, cinco meses antes de cada eleição, 70% dos eleitores ainda não têm preferência eleitoral. Um mês antes, o índice permanece alto. Os cientistas chamam isso de indiferença. Indiferença? Muito mais grave: é indecisão por puro desinteresse. O voto é obrigatório, mas a maioria dos eleitores vê as eleições como uma árvore de natal: candidato bom é o que tem um presentinho para dar.


02. A cada eleição, uma constatação: as massas evoluem lentamente da posição de indiferente… para indecisos… para simpatizantes… e, por fim, para a adesão. Na última semana de campanha, por pressão de amigos, de vizinhos, de parentes, de colegas de trabalho, as decisões se precipitam. As pesquisas mostram decisões tomadas só nas últimas 24 horas. Tem indecisos até na boca de urna.


03. A cada eleição, uma advertência: a prova cabal da indiferença acontece depois das eleições. Antes mesmo da posse dos eleitos, se se fizer uma pesquisa e perguntar o nome de todos os candidatos (majoritários e minoritários) em que se votou, decepção total: poucos haverão de se lembrar. Se a mesma pergunta for feita, então, num final de legislatura, a surpresa será muito maior.


04. A cada eleição, um avanço: o voto eletrônico foi um salto. Um salto em megabites. Candidatos e eleitores agora ficam menos tensos com a possibilidade das fraudes eleitorais na apuração. Era terrível aquela contagem de votos jurássica. Um a um. Cadê a u-r-n-a? Que número é esse? Que letra é essa? Contabiliza ou anula? Informatizar também significou racionalizar, organizar e democratizar.


05. A cada eleição, uma decepção: virou político, a confiança se vai… e as desilusões chegam… O agressivo marketing eleitoral, que faz do candidato um produto, é um dos motivos. Vota-se por causa da propaganda, da autopromoção e da manipulação. O voto consciente e cristalizado é mínimo. O voto sujeito a manobras é imenso. Daí que a força, a coragem e a cara de pau dos maus candidatos – que prometem de tudo – inibe os candidatos sensatos e responsáveis que prometem pouco.


06. A cada eleição, um mistério: grande parte dos políticos gasta muito mais numa campanha eleitoral do que vai receber durante todo o seu tempo de mandato. Aliás, ficou claro nas últimas CPIs: prestação de contas de político é ficção contábil.


07. A cada eleição, muitos interesses: ninguém elege um deputado, governador ou presidente para grêmio recreativo. O eleito vai fazer leis, vai elaborar orçamentos, vai tomar decisões, vai administrar conflitos, vai nomear, demitir, gastar, construir… enfim, entrar num forte jogo de interesse. E a grande massa de eleitores não tem a mínima condição de identificar o fantástico jogo de interesses por trás de cada candidato ou de cada grupo político. Político costuma fazer discursos diferentes para agradar a todos: banqueiros, igrejas, ricos, pobres, camelôs, industriais… Por quê? Simplesmente porque o Estado brasileiro continua sendo um excepcional provedor de privilégios.


08. A cada eleição, um novo governo e um aprendizado: como equacionar o problema de transporte de massas, como resolver o desafio da energia, como ampliar a oferta de emprego, como solucionar a grave questão do saneamento, do tratamento do lixo, da educação, da violência, da saúde, e do bem estar social sem levar em conta o meio ambiente? Como administrar sem construir uma relação de equilíbrio entre o ser humano e a natureza? Como governar sem promover uma gestão sustentada dos recursos naturais?


09. Amigo eleitor: meio ambiente é o que vale. Depois de prosperarem por 180 milhões de anos, os dinossauros foram extintos. O ser humano não pode mais projetar, com ações irresponsáveis, os meios de sua própria destruição. Não há nenhuma causa mais urgente, nenhuma tarefa mais essencial e nenhuma hipótese econômica mais razoável do que a construção do futuro e a preservação do ambiente e da espécie.


10. Por fim, a cada eleição uma lição: todo eleitor deve e pode confiar nas promessas dos candidatos. Mas, como se diz por aí, nunca deixe de marcar a “carta do baralho”, para poder acompanhar o trabalho dos eleitos e cobrar ações eficientes e oportunas. Denunciando, se for o caso. A cobrança e a vigilância em cima dos eleitos têm que ser implacável e permanente! Eles foram eleitos para cuidar do bem público e não da vida deles.


Silvestre Gorgulho

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Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

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Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

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VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

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No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
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METÁFORAS… AH! ESSAS METÁFORAS!

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Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
“OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE O PRADOS”.
Para continuar no mote dos vagalumes ou pirilampos tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
Quando a cachoeira desce nos barrancos
Faz a várzea inteira se encolher de espanto
Lenha na fogueira, luz de pirilampos
Cinzas de saudades voam pelos campos.
Lindo demais! É a arte de vagalumear.
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