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Dia da Caatinga
O bioma Caatinga ocupa cerca de 11% do Território Nacional

A Caatinga também tem seu dia. E a comemoração ocorreu no final de abril, dia 28. Sempre houve comemorações para ratificar a importância do ecossistema da Caatinga no cenário ambiental brasileiro. Seminários, demarcação de unidades de conservação como a criação do Parque Nacional e a Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão da Onça, protegendo cerca de 843 mil hectares.
CAATINGA É 11% DO BRASIL
A Caatinga ocupa cerca de 11% do território nacional. Abrange áreas dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. Vinte e sete milhões de pessoas vivem atualmente na região, o que causa forte impacto sobre os recursos naturais. Nada menos que 80% dos ecossistemas originais foram alterados, principalmente por meio de desmatamentos e queimadas, em um processo de ocupação que começou nos tempos do Brasil colônia. Ainda hoje, grande parte da população da Caatinga utiliza os recursos da biodiversidade para sobreviver. Importante salientar que esses mesmos recursos, se conservados e explorados de forma sustentável, podem impulsionar o desenvolvimento da região.
A proteção da Caatinga tem ainda ligação com a mudança do clima que, entre outras coisas, causa a redução do volume das chuvas e, em consequência, a dificuldade de recarga dos aquíferos – fator decisivo para acelerar o processo de desertificação. Tudo isso alerta ainda mais a sociedade para a importância de se conservar o bioma.
A Caatinga é frequentemente associada à seca, pobreza e pouca biodiversidade, mas ao contrário do que se pensa, esse bioma confere valores biológicos e econômicos significativos para o país. A “floresta branca”, como é chamada em tupi-guarani, evita a emissão do gás carbônico (CO2), conserva a água e o solo e é fonte de matérias primas como frutos silvestres, forragem, fibras e plantas medicinais.
Poligonal do Parque Nacional do Boqueirão da Onça
PONTO DE VISTA
CAATINGA: O VALOR DA FLORESTA BRANCA
Por Arnóbio de Mendonça Barreto Cavalcante – Pesquisador-adjunto, ecólogo do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Instituto Nacional do Semiárido
O Decreto Federal de 20 de agosto de 2003, publicado no Diário Oficial da União, seção 1, edição 161, página 5, de 21 de agosto de 2003 instituiu o Dia Nacional da Caatinga, comemorado no dia 28 de abril de cada ano. A data homenageia o professor João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), pioneiro na área de estudos ambientais no Brasil. (Ver matéria especial sobre o prof. João Vasconcelos Sobrinho)
O Dia Nacional da Caatinga foi celebrado oficialmente pela primeira vez no Seminário “A Sustentabilidade do Bioma Caatinga”, ocorrido nos dias 28 e 29 de abril de 2004, em Juazeiro, na Bahia.
Caatinga é um termo de origem Tupi-Guarani e significa floresta branca.
O termo resulta da combinação dos elementos ca-a (floresta), tî (branco) e o sufixo ngá, (que lembra). A razão para esta denominação reside na aparência que a floresta revela durante a estação seca, quando a quase totalidade das plantas estão sem folhas e os troncos brancos e brilhosos, extraordinárias estratégias para diminuir as perdas de água nesta estação. Outra estratégia destacável são as folhas modificadas na forma de espinhos.
Caatinga: tempo de pesquisa e estudos na Floresta Branca.
VEGETAÇÃO XERÓFILA
Com esse conjunto mínimo de adaptações à deficiência hídrica, a Caatinga se mostra como uma vegetação xerófila (amiga da seca), espinhosa e caducifólia, de certo, seus aspectos mais nítidos. Carl von Martius (1794-1868) renomado botânico alemão que esteve no Brasil no século XIX, referiu-se a caatinga como silva horrida (floresta feia).
Verdadeiramente, parece não existir beleza e alegria em algo seco e branco, no entanto, quando as primeiras chuvas caem sobre a caatinga uma extraordinária explosão de cor e vida emerge, numa mudança repentina de paisagem das mais espetaculares do mundo.
ECOSSISTEMA BRASILEIRO
Essa cobertura vegetal exclusivamente brasileira é singular, ou seja, não é encontrada em nenhum outro lugar do mundo além do Nordeste do Brasil. Ocupa uma área de aproximadamente 900 mil quilômetros quadrados englobando de forma contínua parte dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.
Durante muito tempo a Caatinga foi descrita como ecossistema pobre em espécies e endemismo. No entanto, estudos recentes apontam o contrário. A flora já levantada registra aproximadamente mil espécies, das quais um terço são espécies endêmicas (exclusivas). Estima-se que o total de espécies vegetais alcance 2 mil a 3 mil. Ademais, mamíferos, peixes, aves, répteis e anfíbios superam mil espécies com um nível de endemismo bastante variado. É desse patrimônio biológico que o sertanejo obtém madeira, carvão, carnes, frutas, plantas medicinais, fibras, mel e forragem para os rebanhos.
ESTRESSE AMBIENTAL À CAATINGA
Infelizmente, o mau uso e ocupação da terra pelo Homem têm, há tempos, levado um estresse ambiental à Caatinga sem precedentes na história. Isso ficou definitivamente constatado quando o Ibama divulgou um estudo apontando que 45% da Caatinga sofreu drásticas alterações provocadas pelo Homem.
As razões para esse desmantelamento da Caatinga tem sido o uso da mata nativa para lenha e carvão e o avanço de polos agropecuários. Para dar uma ideia da velocidade da destruição, entre 2002 e 2008, a Caatinga foi removida o equivalente a 1.657.600 campos de futebol, conforme o estudo do Ibama.
Essas informações são graves e mais graves se tornam quando apenas 7% da Caatinga recebem cuidados mediante unidades de conservação.
Que nos sirva de consolo a criação do Parque Nacional do Boqueirão da Onça (BA). Duplica a área protegida de Caatinga atual. Com cerca de 800 mil hectares será a maior unidade de conservação do Nordeste e a maior fora da Amazônia.
O Boqueirão da Onça é um lugar muito especial, importante pela sua natureza, com destaque para as onças. O parque, além de preservar a natureza, promoverá o turismo e permitir que a sociedade conheça essas maravilhas”.
O Parque Nacional do Boqueirão da Onça é um parque nacional brasileiro localizado na Bahia, nos municípios de Campo Formoso, Juazeiro, Umburana, Sobradinho e Sento Sé, às margens do rio São Francisco. A região do parque guarda a maior população de onças-pintadas da Caatinga.





Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma
O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.
A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.
“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.
Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.
“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.
Chuvas
Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.
“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.
Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.
Edição: Heloisa Cristaldo
EBC



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