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Jandaias, pombas, sabiás e bem-te-vis: todas as aves amam as cidades

Engenheiro e ornitólogo Johan Dalgas Frisch conta sua aventura passarinheira para proteger e alimentar as aves de São Paulo.

 

Sem dependerem de qualquer tipo de transporte, sem se preocuparem com os terríveis engarrafamentos e sem se importarem se faz sol ou chuva, elas chegam às 7 horas da manhã. Numa algazarra incrível, elas vão direto para os dois refeitórios, abertos dia e noite, no jardim da casa de Johan Dalgas Frisch, na Praça Uirapuru, Bairro do Morumbi. Ali elas se alimentam à vontade de sementes de girassóis, frutas variadas e derivados de milho. Elas são as jandaias. De papo cheio, elas revoam e dão lugar às pombas asa-branca. Mais tarde, juntas, elas voltam para ao final do dia disputarem o que sobrou do precioso alimento. Todos os dias as revoadas se repetem. Por que? Simples, porque os pássaros amam as cidades como Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, Belém e São Paulo, a maior do País. E os cidadãos urbanos também amam os pássaros.

 

Johan Dalgas Frisch, o Senhor dos Pássaros, ao receber o Prêmio Verde das Américas, por sua dedicação à preservação da avifauna brasileira.

 

O bem-te-vi está em todos os lugares e encantam as populações urbanas com seu canto e sua beleza. (foto: Roberto Harrop – Recife-PE)

 

CASO DE SÃO PAULO

Como muitas cidades brasileiras, a cidade de São Paulo é uma selva. Uma selva de prédios, de gente, de árvores e de aves. Fundada em 1554, pelos padres Jesuítas, no coração da Mata Atlântica, a capital paulista tem um território de 1.530 quilômetros quadrados, localizada em uma área de ecótono, ou seja, uma região entre três biomas fronteiriços: floresta ombrófila mista, floresta ombrófila densa e cerrado. Habitam este maior centro cosmopolita da América do Sul, mais de 12 milhões de moradores brasileiros e, também, nativos de 196 países diferentes, além de uma fantástica população da avifauna. São 372 espécies diferentes de aves catalogadas na cidade pela prefeitura na Divisão de Fauna Silvestre, incluindo aves migratórias, endêmicas e até mesmo espécies ameaçadas de extinção.

 

RESTAURANTES SEMPRE ABERTOS

O engenheiro e ornitólogo Johan Dalgas Frisch, autor de oito livros sobre aves e presidente da APVS – Associação de Preservação da Vida Selvagem, conhecido como Senhor dos Pássaros, tem vários “restaurantes” de aves em pleno bairro nobre do Morumbi, centro de São Paulo. Esses “restaurantes” estão na cobertura de seu apartamento, outros “restaurantes” na casa que funciona como seu escritório na Praça Uirapuru e, outros, dentro da Reserva Ecológica do Morumbi, que ele próprio cuida e protege. Todos eles ficam abertos dia e noite. Não sofrem nenhum tipo de proibição e embargo por causa da pandemia de coronavírus.

Para o ornitólogo Dalgas Frisch, paulistano a quatro meses de completar 91 anos, “as aves amam São Paulo. E a recíproca é verdadeira: São Paulo ama as aves”.

 

DIVERSIDADE DE VIDA

Johan Dalgas Frisch explica que não são apenas as aves corriqueiras como sabiás, tico-tico, bem-te-vi, maritaca, pombas, rolinhas e outras mais de 370 espécies que habitam a capital paulista. “Essas são aves endêmicas, bem brasileiras, naturais das matas e arredores que habitam os 62 parques municipais e estaduais, como por exemplo o da Cantareira e o da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo. Também habitam São Paulo muitas espécies ameaçadas de extinção como arara, papagaio, jandaia, mutum, jacu, codorna, saíra-sete-cores. Inclusive aves migratórias, como as andorinhas azuis (progne subis) e falcões peregrinos, que vêm para o Brasil fugindo do inverno do hemisfério norte”.

Salienta Dalgas Frisch: “Nós paulistanos temos que seguir o lema de nossa cidade, presente em seu brasão oficial, que é “Non ducor, duco”, uma frase latina que significa “Não sou conduzido, conduzo“. É justamente com educação ambiental, respeito à natureza e solidariedade entre humanos e o meio ambiente que vamos conduzir nosso povo, nossos trabalhos para um bom termo de nossas vidas. Nós temos de agradecer por tanta diversidade que recebemos”, enfatiza Dalgas Frisch.

 

O ornitólogo Johan Dalgas Frisch lembra que as aves são prestadoras de serviços ambientais de valores inestimáveis. “As aves são essenciais para a polinização de flores, dispersão de sementes e, sobretudo, para o controle de pragas. Nunca podemos esquecer o valor das aves migratórias como as andorinhas-azuis que se alimentam de pequenos insetos, larvas, lagartas e pernilongos. Esses mosquitos são transmissores de malária, dengue, febre amarela e até da zica. Sem o predador natural, esses insetos começam a se procriar de maneira alucinante. O que acontece? Evidente que vão aumentar as doenças.

Conta Johan Dalgas Frisch que em 1980, esteve em Tóquio, no Palácio Aoyama, numa audiência com a equipe do então príncipe Naruhito. “Entreguei a ele meus livros e relógios sobre as Aves Brasileiras. Ele me disse que seu pai, o Imperador Akihito, tinha nos jardins do Palácio Imperial vários comedouros para diversas espécies de aves. Consegui autorização para ver de perto como era o local. A visita me inspirou a fazer o mesmo aqui em São Paulo”.

 

JANDAIAS, ASA BRANCA E BURLE MARX

Em suas publicações, Dalgas mostra que a natureza dá à vida do homem um sentido divino. Temos que entender a vida de forma holística, pois seus ciclos obedecem a caprichosos caminhos e mudanças. As aves são joias da natureza.

 

As jandaias têm hora marcada para chegar aos refeitórios construídos pelo ornitólogo Jahan Dalgas Frisch.

 

Dalgas Frisch lembra bem de um encontro que teve com o paisagista Roberto Burle Marx. Na conversa com o maior paisagista do mundo, Burle Max foi taxativo:

– “Olha, Dalgas, um botânico não entende de pássaros. E você, como ornitólogo, também não domina o conhecimento sobre as plantas. Mas aí está sua importância que é justamente fazer essa ponte entre o ornitólogo e o paisagista, duas profissões que tem a natureza como matéria prima. Você é um engenheiro apaixonado pela ornitologia e pela botânica. Use seu dom de divulgar os cantos das aves e de escrever sobre plantas para promover a arborização das praças e dos parques para compor um ambiente que valorize as cores e os cantos do Brasil”.

Dalgas Frisch aprendeu a lição e assumiu sua responsabilidade. Por isso, à véspera de completar 91 anos, Dalgas Frisch continua protegendo as águas e as florestas, gravando cantos das aves, filmando, fotografando essas joias da natureza.

 

AS JANDAIAS

Nos seus livros, o ornitólogo explica que a fauna mundial é muito diversificada, o que faz com que diversos gêneros de animais acabem gerando um grande número de espécies. E quando se fala especificamente de aves, é a mesma coisa. Elas também fazem parte desse grupo de animais que possuem diversos exemplares diferentes para o mesmo gênero. É também o caso das jandaias. A jandaia é uma ave que possui três variações de espécies com várias diferenças entre si.

As jandaias são encontradas mais facilmente nas matas brasileiras. Existem pelo menos três espécies, que fazem parte da família Psittacidae, a mesma família a que animais como a calopsita, o papagaio, a aratinga e o periquito pertencem, o que explica um pouco mais profundamente seu nome científico. É um pássaro de porte pequeno, medindo no máximo 30 centímetros, pesando no máximo 130 gramas, sendo pouco menor do que o papagaio.

Quanto à sua cor, as penas tendem a ser verdes, com pontos amarelos na região da cabeça, enquanto a barriga se aproxima do vermelho. As jandaias são ameaçadas por conta da caça ilegal, já que é uma espécie muito dócil e de rara beleza.

 

 

POMBA ASA BRANCA

Há algum tempo, depois das campanhas de proteção às aves, a pombinha asa-branca voltou aos parques e jardins de São Paulo. Tem o nome científico de Patagioenas picazuro. Voltou, diz a lenda, porque seus conterrâneos nordestinos viraram paulistanos. Ou, quem sabe, por encontrar benfeitores, como Dalgas Frisch, que promoveram um “Fome Zero” para as aves.

O fato é que as pombas asa-branca estão de volta como mostram a filmagem anexa de Johan Dalgas Frisch. Como na canção de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, a Asa Branca é uma promessa de dias melhores. De esperança. De deixar as lágrimas para cantar a volta do amor.

…Quando o verde de teus oios

Se espaiá na plantação

Eu te asseguro, num chore não, viu?

Que eu voltarei, viu? Meu coração…                                     

 

ASAS URBANAS

Com o isolamento social, a grande maioria da população confinada em casa tem olhares mais atentos para a natureza

 

Picapau

Beija-flor

 

As aves urbanas são inteligentes e têm capacidade maior de adaptação a ambientes diversos. É o que dizem as pesquisas. Segundo ornitólogos, como Johan Dalgas Frisch, as aves urbanas – das grandes e pequenas cidades – tem cérebros mais desenvolvidos e se adaptam com maior facilidade. Principalmente se elas encontram reservas, parques e matas próximas onde podem se reproduzir com segurança.

 

A coruja-buraqueira (Athene cunicularia também chamada caburé-do-campo, coruja-da-praia, coruja-do-campo, coruja-mineira e urucuera.

O gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea) é uma ave passeriforme da família Fringillidae. Também é conhecido pelos nomes de bonito, gaturamo-itê e guiratã.

Sabiá laranjeira, ave símbolo nacional, presente no cotidiano da vida nacional e a mais cantada em verso e prosa pelo cancioneiro popular.

 

Com o combate intensivo ao tráfico de animais e com o maior respeito pelas aves, se pode notar o aumento da quantidade e da diversidade das aves.
Com o isolamento social, a grande maioria da população confinada em casa tem olhares mais atentos para a natureza. E podem sentir melhor a sua presença. As aves estão por todos os lados. As espécies encontradas em áreas urbanas tendem a ser “comuns”, mas isso não diminui a importância delas, tão pouco a beleza e o brilho de contemplá-las.

 

TESE DE DOUTORADO

O doutor em Ecologia Alexandre Gabriel Franchin fez sua tese de doutorado sobre a “Avifauna em áreas urbanas brasileiras, com ênfase em cidades do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba”. Em sua tese, apresentada à Universidade Federal de Uberlândia, Alexandre Franchin diz que a despeito da existência de vários trabalhos isolados sobre a avifauna em cidades brasileiras, o conhecimento sobre essas aves em uma escala mais ampla ainda é incipiente. Fanchin focou sua pesquisa no Triângulo Mineiro, mas lembra que há muito a pesquisar outras regiões urbanas, em biomas diferentes como Mata Atlântica, Campos do Sul, Cerrado, Caatinga e Amazônia. Quais são as espécies que ocorrem nas cidades brasileiras? Como elas se distribuem em termos regionais? As áreas urbanas podem manter uma avifauna valorosa em termos conservacionistas? Qual é a avifauna encontrada nas cidades no Brasil e qual a status de conservação dessa avifauna no ambiente urbano?

 

 

 

 

 

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Fim de semana com música, teatro e algumas atrações gratuitas

Diversificada, programação inclui até um festival de flores, com palestras e estandes

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Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

 

O primeiro fim de semana do último mês do ano tem um pouco de tudo: flores, samba, cinema, teatro, música e arte circense. Tudo incentivado pelas secretarias de Turismo (Setur) e de Cultura e Economia Criativa (Secec), com eventos gratuitos para todas as idades. Confira, abaixo, a programação.

Festivais e feiras

Festflor Brasil apresenta diversos exemplares de plantas ornamentais, em programação que também inclui palestras | Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

O maior evento de flores e plantas ornamentais do Distrito Federal já começou e vai até este domingo (3), na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), das 11h às 19h. A oitava edição do FestFlor Brasil tem programação gratuita e conta com palestras e oficinas sobre floricultura, além de estandes para expor e comercializar plantas das mais variadas espécies.

O festival é organizado pela Sempre Eventos em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), a Setur, a Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), a Ceasa-DF e a Embrapa.

Outra atração deste fim de semana é a quinta edição do Festival Haynna e os Verdes, na Casa Akotirene, em Ceilândia Norte. Com entrada franca, o evento musical começa às 16h deste sábado (2), reunindo artistas do DF e do Brasil, como Maria Paula Andrade, DJ Kalectra, Mic Dias, Prethaís, Ane Êoketu, Haynna e os Verdes, Negra Eve, Lu Ferreira, Dj Lunary, Dark Style, Talíz, Marlene Souza Lima e Flor Furacão.

Já para quem aprecia a arte impressa, o Motim ocupará o Museu Nacional da República sábado e domingo, das 11h às 19h. O evento, gratuito, é uma feira colaborativa de talentos, com exposição de diversos artistas locais.

Samba e arte circense

Samba da Tia Zélia leva ritmos animados à praça central do Espaço Cultural Renato Russo | Foto: Divulgação

Como neste fim de semana é comemorado o Dia do Samba (2 de dezembro), o ritmo também compõe as atrações da agenda. No domingo, o Samba da Tia Zélia celebrará a data na praça central do Espaço Cultural Renato Russo, das 15h às 19h, em evento gratuito.

Samba da Tia Zélia virou o evento queridinho do público desde seu nascimento, em 2022. Diversos artistas reconhecidos passaram a frequentar a tenda da Vila Planalto, como os músicos do 7 na Roda, Goiabada Cascão, Samba na Comunidade, Teresa Lopes, Carol Nogueira, Cris Pereira e Litieh, entre outros.

Também neste sábado, o IFB Campus Gama será ocupado pela arte circense, com espetáculo Além das Palavras, às 19h, com entrada franca. O show é criado e estrelado pelo Intervenções de Circo Social, um grupo de educadoras que utiliza o circo como ferramenta para o desenvolvimento humano e social.

O coletivo utiliza as técnicas circenses, integrando-as com um projeto pedagógico inspirado na educação popular de Paulo Freire e trabalhando habilidades como malabares, equilíbrio, pirâmides humanas e acrobacias, além de abordar questões como melhora da autoestima, autossuperação, comunicação não violenta, coletividade e colaboração.

Cinema

Durante este fim de semana, o Cine Brasília exibirá, em parceria com a Embaixada da Rússia, uma sessão única do filme Khitrova, o Signo dos Quatro. A história se passa em Moscou, no ano de 1902, e segue o renomado diretor de teatro Konstantin Stanislavsky em sua busca por inspiração para uma nova peça. Com a ajuda de um especialista nas periferias da cidade, ele mergulha no lendário bairro dos bandidos, Khitrovka, para investigar o assassinato de um misterioso morador.

Clássico das chanchadas, ‘Carnaval Atlântida’ está em carta no Cine Brasília, em mostra gratuita | Foto: Divulgação

Ainda no Cine Brasília, segue em cartaz a mostra A Cinemateca é Brasileira. O projeto conta com a exibição dos filmes Carnaval Atlântida (1952), À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), São Paulo: A Sinfonia da Metrópole (1929), Bacurau (2019), Cabra Marcado para Morrer (1984), Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Limite (1931), O Bandido da Luz Vermelha (1968), Central do Brasil (1998) e Dona Flor e Seus Dois Maridos (1979). Todas as sessões da mostra são gratuitas.

Além disso, a animação Trolls 3 – Juntos Novamente continua em cartaz no Cine Brasília. As sessões contam com com recursos de acessibilidade de libras, legendas e audiodescrição por meio do aplicativo Mobi LOAD. Para acessar a programação completa e assistir aos trailers, basta entrar no site do Cine Brasília.

Teatro

Sábado e domingo, o coletivo Casa Moringa estreia a brincadeira-espetáculo Tawá Tingá: o Rio, a Cidade e a Onça. Protagonizada por mulheres, a peça reconta a história do povoamento de Taguatinga e da construção de Brasília, demarcando o protagonismo feminino nas culturas populares.

‘Tawá Tingá: o Rio, a Cidade e a Onça’ evoca seres da floresta para contar a história do povoamento de Taguatinga | Foto: Divulgação/Cied Pereira

Na apresentação, 18 mulheres retomam a amarração de fios da história que foram cortados na formação do Distrito Federal. Elas reocupam o território ancestral de Tawá Tingá (barro branco, na língua tupi), com um mutirão de reflorestamento do imaginário e de limpeza das águas profundas do rio da memória. Na travessia, vida e morte se encontram para celebrar o nascimento de um povo e de uma brincadeira, sob a proteção da guardiã da floresta, a onça Yayá.

As duas sessões de estreia serão apresentadas na Ocupação Cultural Mercado Sul Vive, em Taguatinga, com interpretação em Libras e audiodescrição. No sábado, a peça começa às 20h; no domingo, às 17h. A entrada é franca, com classificação indicativa livre.

 

 

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Cine Brasília tem sessão exclusiva para série sobre Juscelino Kubitschek

Cinema mais tradicional da capital exibirá terceiro capítulo da obra ‘JK, o Reinventor do Brasil’, produzida pela TV Cultura

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Nesta terça (28), o Cine Brasília exibe, com exclusividade, o terceiro capítulo da minissérie documental JK, o Reinventor do Brasil. Produzida pela TV Cultura, a obra narra, de forma acessível e em ritmo de podcast, a história do ex-presidente Juscelino Kubitschek, desde o dia do nascimento até o momento da morte trágica e jamais esclarecida.

A série documental mostra momentos importantes da vida e da carreira política de Juscelino Kubitschek, uma referência histórica de Brasília e do Brasil | Fotos: Divulgação

“Queremos que as novas gerações conheçam a figura do ex-presidente e seu legado para o país”Fábio Chateaubriand Borba, autor da minissérie e diretor-executivo da TV Cultura

Com linguagem diferenciada e didática, a série conta, no total, com quatro episódios de 50 minutos cada. O primeiro retrata a infância de Juscelino em Diamantina (MG) e vai até a eleição ao Governo de Minas Gerais. O segundo episódio, por sua vez, narra a eleição de JK para a Presidência da República e os desafios que ele precisou enfrentar até tomar posse – inclusive o de aprovar a transferência da capital federal, que era o Rio de Janeiro (RJ), para Brasília.

Já o terceiro episódio, exibido com exclusividade no Cine Brasília, relata essencialmente a construção da nova capital. “A série tem como objetivo mostrar a história de um personagem brasileiro da importância de Juscelino; queremos que as novas gerações conheçam a figura do ex-presidente e seu legado para o país”, explica o autor da minissérie e diretor-executivo da TV Cultura, Fábio Chateaubriand Borba.

Nova abordagem

O quarto e último capítulo aborda desde a cassação de JK até a morte em um acidente automobilístico, na Rodovia Presidente Dutra. “Juscelino foi o brasileiro médio, que vem do interior com dificuldades financeiras, perde o pai cedo e é criado pela mãe, uma professora que lutou bastante pelos filhos”, pontua Fábio Borba. “É essa epopeia que queremos levar para os jovens, com abordagens modernas, muita tecnologia e música”.

JK (de terno) entre os célebres compositores mineiros Lô Borges, Fernando Brant, Márcio Borges e Milton Nascimento: trilha sonora do documentário também é diferenciada

O diretor classifica como única a oportunidade de poder exibir a obra no Cine Brasília: “É uma felicidade muito grande poder trazer essa série para Brasília. A forma como abordamos essa jovem cidade quebra paradigmas e estereótipos que muita gente tem da nossa capital. Poder lançar nossa série nessa obra arquitetônica de Oscar Niemeyer dá importância ao nosso trabalho”.

JK, o Reinventor do Brasil é uma produção voltada para todas as faixas etárias. A série documental configura o maior trabalho iconográfico já feito sobre a vida do ex-presidente, tendo sido produzida a várias mãos, com o apoio de dezenas de instituições de arquivo público nacionais e até internacionais.

A obra completa conta com mais de 50 mil fotografias, 80 horas de vídeos captados e mais de mil horas de edição. Outro diferencial é a trilha sonora,  com canções que marcaram as várias fases da vida de Juscelino.

Serviço

JK, o Reinventor do Brasil

→ Terça-feira (28), às 20h, no Cine Brasília – Entrequadra Sul 106/107, Asa Sul
→ Classificação indicativa livre. Entrada: presença deve ser confirmada por meio deste link.

 

Victor Fuzeira, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

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A CASA DOS ANIMAIS

Mesmo com os avanços científicos conquistados, o ser humano tem ainda muito a aprender com a natureza.

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É maravilhoso estudar o comportamento de cada animal, seja ele mamífero, peixe ou pássaro, em relação à sua casa. Cada espécie tem sua característica, tem sua habilidade e tem, sobretudo, um padrão de arquitetura às vezes complexa, às vezes simples, mas sempre criando técnicas e usos de materiais que lhes permite edificar suas moradias ao abrigo das mais severas condições climáticas. Alguns animais preferem viver em delicados e confortáveis casulos de pelo, paina, lã ou musgo e outros buscam cavidades em árvores, rochas ou solo e, até mesmo, labirintos com formas diversas e adaptadas para chuva, vento, calor ou frio.

 

O Pássaro Pavilhão macho faz grandes cabanas com

galhos de árvores, com uma característica interessante:

enfeita seus lares com flores, bagas e outros arranjos para

atrair as fêmeas.

 

 

O Pássaro Pavilhão macho tem olhos azuis e habilidades de arquiteto e decorador. É um pássaro sedutor. O pássaro pavilhão (bowerbird em

inglês) diversifica os rituais de namoro e exalta a natureza.

 

 

Mesmo com os avanços científicos conquistados, o ser humano tem ainda muito a aprender com a natureza. É verdade que alguns animais se contentam em achar refúgios pouco confortáveis ou seguros como tocas e troncos secos, mas existem outros que constroem casas perfeitamente adaptadas a seu peculiar estilo de vida e às necessidades de sobrevivência. Para falar e explicar essa diversidade de moradias na natureza, conversamos como o arquiteto-da-paisagem Carlos Fernando de Moura Delphim.

 

CARLOS FERNANDO DE MOURA DELPHIM –  ENTREVISTA

 

 

Arquiteto e paisagista formado pela UFMG, Carlos Fernando é técnico do Iphan e membro da Comissão de Patrimônio Mundial da Unesco. Moura Delphim trabalha com projetos e planejamento para manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, histórico, natural, paleontológico e arqueológico. É discípulo de Burle Marx e foi o paisagista favorito do mestre Oscar Niemeyer. Moura Delphim é autor de várias publicações, entre elas JARDINS DO BRASIL.

 

 

Folha do Meio – É incrível o comportamento dos animais em relação às suas casas!

Carlos Fernando – De fato, é incrível e muito interessante. É justamente o comportamento construtivo de muitos animais que dá origem às mais curiosas formas de arquitetura, com construções muitas vezes escultóricas. Isto decorre de atividades adotadas por diferentes espécies que se utilizam dos recursos provenientes dos distintos ambientes nos quais habitam.

 

FMA – Tem animal que ganha sua casa da natureza e outros têm que construí-las, não é?

Carlos Fernando – Esse comportamento difere do surgimento espontâneo de abrigos como as conchas dos moluscos que crescem juntamente com o organismo dessas espécies. Alguns caracóis possuem conchas tão bonitas que sua captura para comercialização os coloca em risco de extinção, como o caracol de deslumbrante coloração de Cuba (Polymicta picta) do qual não existe nenhuma concha igual à outra. Já a arquitetura animal difere por não ocorrer espontaneamente. É consequência do trabalho do animal que não é apenas o arquiteto, mas também o mestre de obra e operário, atividades sem as quais não poderia fruir as vantagens de seu engenho.

 

FMA – Os humanos buscaram, de alguma forma, o ‘know-how’ com os animais para construírem suas casas?

Carlos Fernando – De certa forma, sim. Mas é evidente que a racionalidade e o conhecimento levaram o ser humano ao aperfeiçoamento e a uma sofisticação maior. A arquitetura bioclimática é, muitas vezes, inspirada em padrões da arquitetura animal. O fato é que alguns animais produzem estruturas extremamente complexas, com formas aparentemente mais racionais do que algumas soluções arquitetônicas humanas, como é o caso das abelhas da espécie Apis melifera, cujas edificações apresentam soluções tão ou mais lógicas do que as humanas. Os favos das colmeias são estruturas extremamente leves, compostas de uma sequência de compartimentos ocos e de forma perfeitamente hexagonal. As formigas, cupins, vespas e ninhos de aves são ou podem ser uma fonte de inspiração.

 

 

O fato é que alguns animais produzem estruturas extremamente complexas, com formas aparentemente mais racionais do que algumas soluções arquitetônicas humanas, como é o caso das abelhas da espécie Apis melifera, cujas edificações apresentam soluções tão ou mais lógicas do que as humanas.

 

 

FMA – Há casos em que os animais foram mais eficazes?

Carlos Fernando – Interessante, mas há um exemplo fantástico. Nenhuma obra humana pode ser comparada pela leveza, pela perfeição, despojamento e pela capacidade de cumprir suas funções com tanta eficiência como a casa da aranha. A teia de aranha serve não apenas de abrigo como também para capturar as presas nas quais são depositados os ovos que irão alimentar as pequenas aranhas recém-nascidas. Essas construções levíssimas, quase imateriais, cuja empreitada segue uma disposição rigorosa com cada passo de construção dependendo do anterior, resistem à ventania e chuvas. Sua criação segue em ordem rigorosa, não havendo nenhuma arquitetura humana que possa a ela se comparar. É residência, armadilha, despensa ou depósito de alimento, tudo da forma mais etérea e despojada possível.

 

 

Exemplo da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro permite que seus moradores, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos. (foto: José Raul Valério)

 

 

FMA – E existem outras tecnologias animais que o ser humano ainda não conseguiu copiar?

Carlos Fernando – Existem sim. Veja o caso da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro ou um termiteiro permite que seus moradores, os cupins, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos. Nos meios rurais há um costume de se cavar um cupinzeiro para em seu interior se construir fornos com a finalidade de assar alimentos. Quando não se retiram os cupins, o forno continua a crescer, mesmo sendo usado, o que se pode observar em um museu rural existente em Goiânia. Se a arquitetura erudita se utilizasse deste exemplo, mais conhecido pelas técnicas vernaculares, muito se economizaria em refrigeração doméstica. Muito também contribuiria para reduzir o aquecimento global que é acelerado pelo uso de condicionadores de ar.

 

 

 

 

 

Existem tecnologia que o ser humano poderiam copiar. É o caso da solução térmica adotada pelos cupins. Um cupinzeiro ou um termiteiro permite que seus moradores, mesmo durante um incêndio, permaneçam vivos.

 

 

FMA – E o que mais o surpreende nestes casos?

Carlos Fernando – Muitas coisas me surpreendem. Veja, por exemplo, como é surpreendente que, sem possuir ou manejar qualquer forma de ferramenta, sem ser dotados de habilidade como são as mãos, os animais bem adaptados a seu habitat puderam aprender ou criar técnicas e usos de materiais de construção. Isto lhes permitiu edificar suas moradias ao abrigo das mais severas condições climáticas. Muitas espécies, quando não dispõem de cavidades naturais das quais se aproveitem, constroem ninhos furando troncos, escavando o solo ou mesmo rochas, como é o caso de mamíferos como a toupeira e o texugo. Alguns insetos e pássaros criam labirintos de peças rigorosamente idênticas entre si, como ocorre com as admiráveis obras das abelhas e dos cupins.

 

FMA – Há outros exemplos?

Carlos Fernando – Sim. Há animais que optam por uma arquitetura que edifica o vazio das cavidades por eles esculpidas. Outros criam obras fazendo maciços com tecidos de fibras e galhos emaranhados como o guache, as cegonhas, águias e abutres. Outros preferem viver em delicados e confortáveis casulos de pelo, paina, lã ou musgo, de forma quase esféricas, como certos beija-flores.

 

FMA – O ser humano busca reciclar suas matérias primas para a construção. E os animais?

Carlos Fernando – Esta é outra característica interessante e muito curiosa em ver como certos animais reciclam também materiais e construções alheias. Aves, como a coruja, se instalam em buracos escavados nas casas de outras espécies, como os cupinzeiros.

 

FMA – Na verdade o sistema de construção pode ser bem diferente…

Carlos Fernando – É, cada um se baseia em um diferente sistema construtivo e na disponibilidade de materiais que encontram em seus habitats. Os ninhos das aves são construídos das formas mais engenhosas e intricadas. Enquanto o pica-pau e o martim-pescador escavam os troncos, o joão-de-barro, um hábil construtor, constrói um domo em barro com uma planta-baixa de desenho simples, mas com funções complexas. Uma forma espiralada na qual uma pequena abertura dá acesso ao túnel curvo que conduz à câmara central.

 

FMA – Enfim, os animais são mais engenheiros ou mais arquitetos?

Carlos Fernando – É verdade, alguns animais, mais do que arquitetos, são habilidosos engenheiros ao definir tipos de estruturas, suas formas e funções. Os castores são arquitetos e engenheiros construtores de barragens altamente resistentes. Constroem represas para conter as águas, utilizando-se de seus dentes de roedor e juntando galhos e troncos nas margens dos rios, com efeitos mais positivos menos danosos do que muitas barragens humanas em concreto armado.

 

As formas de arquitetura variam de animal para animal porque as funções referem-se à necessidade de abrigo e defesa, de acordo com o ecossistema. Sobretudo contra os predadores e contra as tempestades. E cada construtor tem suas necessidades e suas habilidades.

 

 

FMA – Por que pássaros da mesma ordem, do mesmo tamanho variam tanto o tipo de seus ninhos?

Carlos Fernando – É porque a arquitetura é forma, função e técnica. As formas de arquitetura variam de animal para animal porque as funções referem-se à necessidade de abrigo e defesa, de acordo com o ecossistema. Sobretudo contra os predadores e contra as tempestades. E cada construtor tem suas necessidades, suas habilidades e busca a melhor forma de proteger os ovos e filhotes. Protegem-se contra flutuações climáticas e mudanças ambientais, regulando temperatura, nível de umidade, danos mecânicos, troca de gases e ventilação. As técnicas dependem das funções e dos materiais, que variam tanto quanto as formas e funções, incluindo materiais naturais como barro, argila, areia, pedras, galhos, palha e fibras. Suas casas não obstruem a comunicação entre o interior e o exterior, permitindo-lhes observar tudo o que acontece à sua volta. Estudos mais acurados e uma observação mais atenta da vida e do comportamento dos pássaros e de outros animais, podem contribuir com novas e valiosas técnicas para o enriquecimento da arquitetura contemporânea. Integrar o projeto arquitetônico à simplicidade e despojamento das formas sustentáveis animais, pode ser uma alternativa à complexidade das construções modernas.

 

 

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