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OS MUNDURUKUS E A EXPEDIÇÃO LANGSDORFF
Em 1826, a Expedição Langsdorff percorreu no total 6 mil km pelos rios brasileiros.

Georg Heinrich von Langsdorff nasceu em Wöllstein, na Alemanha, em 8 de abril de 1774. Médico e explorador, deixou o conforto europeu, pelos idos de 1800, para pesquisar e documentar o sertão brasileiro. Contratou documentaristas de primeira grandeza para eternizar, em imagens, terras e florestas por onde passava. São os desenhistas Rugendas, Adrien Taunay e Hercule Florence. O barão assumiu a nacionalidade russa como Ivanovitch Langsdorff.
Para falar sobre os índios Mundurukus, vale antes falar da Expedição Langsdorff. Esta foi a maior expedição que se fez no Planeta e, no seu final, em Santarém, teve um longo contato com os índios Mundurukus. A Expedição Langsdorff foi financiada por dois países: pela Rússia, com o Czar Alecsander I, e pelo Brasil, por D. Pedro I. Seu filho, D. Pedro II, só assumiu como Imperador em 7 abril de 1831.
Os índios mundurukus desenhado por Hercule Florence em 1826.
A Expedição Langsdorff seria hoje como uma complexa expedição à Marte. O Brasil estava sendo redescoberto em suas entranhas. Langsdorff, um médico alemão naturalizado russo, falava português (trabalhou 2 anos em Portugal) fez pelo Brasil uma jornada de oito anos, de 1821 a 1829. Ele trouxe da Europa três “fotógrafos” para documentar – em desenhos – toda expedição: Rugendas, Taunay e Florence. Percorreu seis estados em duas etapas. Uma terrestre (1821-1825) e outra fluvial (1826-1829), a mais importante.
Dos 39 homens da tripulação, apenas 12 chegaram vivos ao destino. Um foi atacado por uma onça. O pintor Adrien Taunay desapareceu nas águas do rio Guaporé. O próprio Langsdorff perdeu o juízo, depois de contrair malária, em plena selva. A epopeia está toda documentada com desenhos e relatórios, enviados à Academia de Arte e Ciência de São Petersburgo.
Antes de mostrar o que a Expedição Langsdorff escreveu sobre os Mundurukus, apenas mais um detalhe importante.
A Expedição partiu em 22 de junho de 1826, do porto no rio Tietê, Porto Feliz. Trajeto: Rios Tietê, Paraná, Pardo, Coxim, Taquari, Paraguai, São Lourenço, Cuiabá, Preto, Arinos, Juruena, Tapajós, Amazonas. Só entre São Paulo e Cuiabá, foram sete meses de viagem, percorridas 530 léguas (3.180 km) e vencidas 114 cachoeiras.
Langsdorff percorreu no total 6 mil km pelos rios brasileiros. Isso em 1826. É mole?!
Com cerca de 15 mil indivíduos, os Mundurukus são os povos indígenas de maior população do Brasil. Eles dominam o vale do rio Tapajós, próximo a Santarém, Jacareacanga e estão, também, no Mato Grosso e Amazonas.
A EXPEDIÇÃO LANGSDORFF
E OS MUNDURUKUS
Há 193 anos: um relato da Expedição Langsdorff
Devido à doença do Langsdorff, Hercule Florence assumiu a chefia da Expedição Langsdorff quando adentrou o território dos índios Mundurukus. Florence continuou a produzir os relatos que Langsdorff fazia para a Academia de Ciências de São Petersburgo, na Rússia, compromisso assumido com o Czar Alecsander I.
Interior da cabana dos Mundurukus. À esquerda, duas mulheres se ocupam de espremer a massa pilada pelas duas ao centro. Em primeiro plano, a mulher seca a massa numa grande panela de barro. À porta, os negociantes. Desenho de Florence, que provavelmente se inclui, de barba, como o primeiro negociante.
É interessante sentir como, em junho de 1828, portanto há mais de 193 anos, depois de percorrerem durante mais de um ano as entranhas do Brasil, esses pesquisadores descreviam os índios Mundurukus.
“No meio d’aqueles mundurukus fui assentar uma espécie de tenda de negociante, buscando trocar facas, machados e colares de todas as cores, por galinhas, patos e raízes nutritivas; única coisa que pude, apesar dos esforços, conseguir. Entretanto, a privação daqueles alimentos nos era extremamente sensível”.
FLORENCE DESENHA ALGUNS INDIVÍDUOS E DESCREVE A CONSTRUÇÃO DE SUAS CABANAS:
“Como as mais choupanas de mundurukus e, aliás, as casas de pobres de todo o Brasil, essa era construída de paus-a-pique colocados juntinhos uns aos outros com um trançado horizontal de tiras de palmeiras ou taquaras amarradas com cipós, grade que, tapada com terra amassada n’água, forma muros e tapumes perfeitamente fechados. Fácil é, porém, conceber a pouca duração de tudo aquilo pelo que depressa se formam buracos e inúmeros interstícios, em que aninham múltiplos e nojentos insetos. A coberta é feita de sapé ou folhas de palmeira”.
FLORENCE ANOTA DETALHES DA ECONOMIA EXTRATIVA:
“Espontâneos são em sua maior parte os produtos de exportação; a salsaparrilha que os colhedores vão buscar do Pará nas matas do Tapajós, a borracha fonte de grande riqueza futura; (…) o guaraná, tão procurado da gente de Cuiabá, e que um dia juntará uma beberagem fresca e aromática ao luxo dos botequins das cidades da Europa”.
Vista de Santarém, em 1826, onde o rio Tapajós deságua no rio Amazonas. Ilustração de Hercule Florence.
PARTIDA: 18 DE JUNHO DE 1828, VELAS ABERTAS PARA CONTINUAR A VIAGEM. DEIXA O RIO TAPAJÓS E VAI PELO RIO AMAZONAS ATÉ BELÉM.
“Como a goleta estava prestes a seguir viagem, não perdemos esse excelente ensejo de comodamente alcançarmos Santarém. Dissemos então adeus à nossa camaradagem, e adeus eterno, pois ela, naquelas mesmas canoas, devia regressar para o lugar de onde tinha saído, afrontando novamente os perigos de que nos víamos livres; e, agradecendo ao comandante sua amável hospitalidade, abrimos no dia 18 de junho de 1828 as velas à bonançosa brisa, no meio de salvas que de terra e água saudavam nossa partida. Tão fraco se achava o Sr. Langsdorff, que só carregado em rede é que pode ser embarcado”.
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ADEUS A PEDRO NEHRING O PAISAGISTA DE INHOTIM
Referência do paisagismo tropical, Nehring deixa um legado na beleza das paisagens.

Tudo que o paisagista Pedro Nehring tocava virava flor. Se era terra, virava jardim. Se era gente, virava amizade. Aos 67 anos, em 13 de janeiro, faleceu o paisagista Pedro Nehring, um dos idealizadores do paisagismo do Inhotim, em Brumadinho-MG, e um dos mais respeitados paisagistas tropicais, com referência internacional. Seu último trabalho em Inhotim foi o “Jardim Sombra e Água Fresca”. Pedro Nehring (1955-2023) é conhecido nacional e internacionalmente como referência em paisagismo tropical contemporâneo. Ele foi figura central na construção da coleção botânica do Inhotim, uma das mais importantes do mundo, e de muitos outros jardins espalhados por várias partes do Brasil.
Autodidata, Pedro Henrique Nehring Cesar nasceu em Teresópolis, RJ, em 25 de maio de 1955, em uma família de paisagistas: seu irmão e seu pai também praticavam a arte da jardinagem. Em constante expansão, o Jardim Botânico do Inhotim tem muitas obras de Nehring, mas seu último trabalho é o jardim ‘Sombra e Água Fresca’, resultado de um processo criativo de quase dez anos. Construído em uma antiga área de pastagem de 32 mil m², o maior jardim temático do Inhotim é carregado de elementos que simbolizam o trabalho de Nehring: paisagens repletas de história permeadas por momentos de descanso e de fruição, árvores frutíferas, além de uma potente vocação para a educação ambiental.
Jardins de Pedro Nehring, um artista do paisagismo tropical.
JARDIM VEREDAS
Complexo e diverso, outro jardim assinado por Pedro Nehring é o Jardim Veredas – reflexo do desenvolvimento prático de Nehring, que afirmava que é preciso entrar na mata para entender o paisagismo. Equilibrando o rigor da forma e a impermanência da natureza, Pedro buscava compreender e, principalmente, refletir os ciclos do ano na materialização dos seus projetos. O Jardim Veredas, e todos os seus projetos no Inhotim, são frutos de observações periódicas, conhecimento ímpar sobre os ciclos das plantas e de percepção do tempo da natureza.
Na véspera de seu falecimento, o paisagista Pedro Nehring esteve no ‘Viveiro Educador’, coração do Jardim Botânico de Inhotim, em reunião sobre os próximos trabalhos em áreas que serão abertas ao público no futuro. Estava descontraído, despediu-se das equipes com alegria.
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Para o paisagista Pedro Nehring é preciso entrar na mata para entender o paisagismo e, assim, equilibrar o rigor da forma e a impermanência da natureza: “Há que se compreender e refletir os ciclos das plantas e a percepção do tempo”.
O INSTITUTO INHOTIM
Encontro entre natureza e arte
Vista aérea de Inhotim
Sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e considerado o maior museu a céu aberto do mundo, Inhotim é um parque de escultura, jardim botânico e museu situado no município de Brumadinho-MG, a 60 km de Belo Horizonte. Hoje é uma RPPN – Reserva Particular de Patrimônio Natural, tem 145,37 hectares com domínio de Mata Atlântica com enclaves de Cerrado. A instituição surgiu em 2004 para abrigar a coleção de arte modernista do empresário Bernardo Paz, então casado com a artista plástica carioca Adriana Varejão. Todo acervo está hoje em Inhotim, que recebeu ao longo do tempo muitas outras obras de arte, jardins, galerias, exposições e shows musicais.
SAIBA MAIS:
Endereço: Rua B, 20 – Fazenda Inhotim, Brumadinho – MG, 35460-000
Telefone: (031) 3571-9700
https://www.inhotim.org.br/
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Lá se foram 135 anos.
m 31 de janeiro de 1888, aos 73 anos, falecia em Turim, na Itália, São João Bosco. Vale uma homenagem em poesia ao Sonhador de Brasília.



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OS YANOMAMIS PEDEM SOCORRO
Aumento do garimpo ilegal nas terras indígenas levou à tragédia sanitária

O povo Yanomami, outrora longe dos ‘homens brancos’ eram felizes na Floresta Amazônica. Atualmente, enfrentam a ameaça da destruição pela intensa presença de garimpeiros ilegais. A verdade é que uma combinação de crise na gestão da saúde no território Yanomami e o aumento do garimpo ilegal nas terras indígenas levou à tragédia sanitária.
A terra Yanomami tem 9,6 milhões de hectares entre os estados de Amazonas e Roraima. É uma das populações mais isoladas do país, e a região é rica em minérios sobretudo o ouro. Segundo pesquisa da Fiocruz, em 4 % da população analisada havia concentrações acima de 6 microgramas de mercúrio por grama de cabelo, considerado o limite de tolerância biológica do corpo humano a essa substância.
HISTÓRICO – Os Yanomamis são de recente contato e não têm a memória coletiva imunológica como a da maior parte da população das cidades. A circulação maior de pessoas de fora acabou provocando uma profusão de viroses. Os riscos com a saúde da população indígena só aumentaram.
Com tantas questões de saúde, não há força de trabalho nas aldeias para manter as atividades de pesca, caça e cultivo das roças, enquanto, os jovens indígenas são aliciados por garimpeiros com armas, bebidas e até drogas.
A chegada do COVID também contribuiu, como explica pesquisador Estêvão Benfica Senra: “Ainda que o pai da família estivesse trabalhando, se a criança tem malária, duas, três vezes ao ano, mais COVID, fica muito complicado. A quantidade de crianças que morrem por doenças evitáveis é uma coisa absurda, impossível de se ver em outros lugares do mundo”.
ETNIA YANOMAMI
A etnia Yanomami é a sétima maior etnia indígena brasileira, com 15 mil pessoas distribuídas em 255 aldeias relacionadas entre si em maior ou menor grau. A noroeste de Roraima, estão situadas 197 aldeias que somam 9 506 pessoas e, a norte do Amazonas, estão situadas 58 aldeias que somam 6 510 pessoas.
Agora, no início de 2023, o governo federal divulgou que cerca de 570 crianças Yanomamis (entre um a quatro anos) morreram em razão do avanço do garimpo ilegal. Entre as causas das mortes estão a desnutrição, a pneumonia e a diarreia. Em 20 de janeiro último, o Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública para combater à desassistência sanitária das populações Yanomamis. O governo federal também estabeleceu um Comitê de Coordenação Nacional com o objetivo de discutir e adotar medidas para articulação entre os poderes para prestar atendimento aos indígenas.
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