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7 maneiras de fazer com que sua viagem melhore o mundo

Conhecer culturas de povos tradicionais e proteger os recursos naturais durante a sua viagem são algumas das formas de gerar impacto positivo através de viagens

 

Turismo Sustentável

 

Viajar de forma consciente, além de ser uma ótima opção de lazer, faz bem para o turista, para os moradores da área visitada e também para o meio ambiente. O turismo sustentável é indicado para quem tem consciência que sua viagem gera uma série de impactos socioambientais e deseja que estes sejam positivos, contribuindo com a biodiversidade e a população da região visitada.

A consultora Alexandra Viana Von Keszycki é adepta ao turismo sustentável. Recentemente, ela fez uma expedição no Rio Tapajós, no Pará, com a agência de turismo sustentável Vivalá e afirma que escolheu o roteiro pois queria ter um impacto social positivo, mesmo nas férias. “Eu estava viajando sozinha e queria ter o impacto social nas minhas férias. Eu passo o ano inteiro falando que quero gerar impacto social positivo, mas isso é difícil no dia a dia, e a Vivalá me deu a oportunidade de ter contato com uma comunidade ribeirinha. Isso eu não conseguiria sozinha e muito menos fechando com agência tradicional”, comenta a norte-americana que reside no Brasil há cinco anos.

 

 

Os roteiros de turismo sustentável geram impactos socioambientais positivos, proporcionando novos conhecimentos e contato com pessoas e culturas que, no turismo tradicional, é mais difícil de acontecer. “Acho que eu não conseguiria viajar de fato de forma sustentável sem a Vivalá. Eu amo viajar, mas não dedico muito tempo pesquisando lugares para ficar ou passeios para fazer. Para mim a maior diferença é saber que meu estilo de viagem reflete meus valores, que eu pratico o que eu falo mesmo em momento de lazer”, completa Alexandra, que também ressalta que já tem uma nova expedição marcada com a Vivalá para 2022.

 

Turismo sustentável x tradicional 

O setor de turismo é uma das áreas que mais movimenta a economia todos os anos no Brasil e no mundo, gerando milhões de empregos, integração entre culturas, troca de experiências e muitos outros benefícios. Por outro lado, também significa aumento das emissões de gases de efeito estufa, esgotamento de recursos naturais e excesso de lixo.

Com o turismo sustentável é possível fomentar a economia, gerar empregos e renda, compartilhar culturas e tradições com o compromisso do impacto ambiental ser o mais positivo possível. A Vivalá, por exemplo, oferece o turismo sustentável, no qual cria experiências únicas e autênticas, incentiva a imersão em áreas naturais e a mensagem de proteção ambiental, mas fortalece as economias e famílias locais com emprego e renda dignas, além de ajudar no desenvolvimento social em seus programas de voluntariado.

As expedições são feitas em unidades de conservação, com turismo de base comunitária em conjunto com comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas e sertanejas, e em programas com ou sem voluntariado em suas viagens. Até 2023, a Vivalá tem planos de expandir seus roteiros para unidades de conservação de todos os estados do país, injetando mais de R$ 1,618 milhões nessas comunidades.

“Hoje o Brasil recebe menos turistas internacionais que o Museu do Louvre, em Paris. Isso demonstra uma oportunidade de crescimento gigantesca, mas esse crescimento precisa ser focado naquilo que a Vivalá acredita ser a vocação do Brasil: tornar-se o maior destino de turismo sustentável do planeta. Somos o país com a maior biodiversidade do mundo e queremos, com o turismo sustentável, provar que a floresta em pé também é muito mais rentável do que destruí-la. A gente constrói isso por meio de experiências de viagem com muita conexão com a natureza e protagonismo das comunidades tradicionais brasileiras, que são as grandes guardiãs desse patrimônio natural e cultural”, explica Daniel Cabrera, cofundador e diretor executivo da Vivalá.

Pensando em turismo sustentável, a Vivalá listou sete maneiras de fazer com que sua viagem melhore o mundo:

1 – Valorize culturas e saberes tradicionais

As comunidades tradicionais brasileiras, a partir da sua comunhão com o bioma, são as reais guardiãs da flora, da fauna e das águas. Quando o turismo preserva e valoriza os saberes ancestrais de indígenas, ribeirinhos, quilombolas, sertanejos e outros povos – por meio de oficinas e apresentações culturais ou da culinária regional, por exemplo – permite que essas comunidades mantenham seus modos de vida sustentáveis.

2 – Utilize o máximo de produtos e serviços da rede de fornecedores locais

É fundamental que a maior parte da renda seja direcionada para as comunidades locais e que seu consumo de fato melhore a vida daquelas pessoas. Você pode fazer isso se hospedando em uma pequena pousada, almoçando em um restaurante local, ou até mesmo consumindo produtos e serviços gerados pelos canoeiros, artesãos, guias, confeiteiros, dançarinos, entre tantos outros, que buscam solidificar cada vez mais suas iniciativas.

3 – Coloque a comunidade local como protagonista

Todo projeto ou atração turística deve ser criado em parceria com os comunitários e colocando estes como protagonistas. São eles que vivem a realidade local diariamente, conhecem os problemas e devem apontar as soluções. Organizações que atuam ali devem atuar como colaboradoras, mas sempre ouvindo as populações regionais e jamais impondo suas ideias ou visões de mundo.

4 – Conheça e proteja áreas de preservação

A gente preserva mais o que a gente conhece melhor. As Unidades de Conservação (UCs) são geralmente reservas biológicas, parques, monumentos naturais ou estações ecológicas que devem garantir a proteção e conservação do que vive lá dentro. Um dos destinos da Vivalá, por exemplo, é o Geoparque Seridó, localizado no semiárido nordestino. Nessa expedição, o turista tem a chance de conhecer geossítios e uma rica biodiversidade presente na região, tudo isso dentro de uma área que possui proposta de grande impacto social e ambiental positivo, pois trabalha com a preservação da natureza e de pinturas de 10.000 anos.

5 – Pratique o desenvolvimento pessoal (autoconhecimento, propósito, habilidades, expansão mental)

Cada local desbravado faz com que o viajante desenvolva aptidões que antes não sabia que tinha, além de se desenvolver internamente ao conhecer novos lugares, pessoas e culturas. Ninguém volta igual de uma viagem, principalmente quando se tem uma experiência única. As viagens são divertidas, mas também servem para provocar reflexões e mudanças de atitude, além de ampliar nossa consciência crítica.

6 – Combata os preconceitos

A ignorância é a mãe do preconceito. Ao fazer uma imersão em comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas ou sertanejas, liberte-se dos estereótipos e esteja de mente e coração abertos para o novo e o diferente – que, às vezes, não é tão diferente assim. O turismo sustentável aproxima pessoas e mostra que diferenças culturais não nos separam, ao contrário, são motivo de celebração e tornam a experiência muito mais enriquecedora.

7 – Apoie organizações sustentáveis

Você não precisa fazer tudo sozinho. Uma das lições do turismo sustentável é a valorização da coletividade, da cooperação e do trabalho em conjunto, cada um fazendo sua parte. Por isso, apoie organizações que atuam em uma ou mais frentes do turismo sustentável, que têm responsabilidade socioambiental e transparência no impacto das suas ações

Reserve agora o seu roteiro

Atualmente, a Vivalá atua em sete unidades de conservação, nas regiões do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste brasileiro, ou nos biomas da Amazônia, Caatinga e Cerrado. Suas vivências são na Amazônia Rio Negro (AM), Amazônia Rio Tapajós (PA), Amazônia Aldeia Shanenawá (AC), Geoparque Seridó (RN), Grande Sertão Veredas (MG), Chapada da Diamantina (BA) e Chapada dos Veadeiros (GO). Até o final de 2023 pretende expandir seu modelo de negócio sustentável e atuar em todos os estados do Brasil.

Os preços das expedições variam entre R$ 2.050 e R$ 4.800, a depender da data, duração e do destino escolhido. O valor inclui hospedagens, refeições, transportes a partir do ponto de encontro até o retorno à cidade com aeroporto mais próxima, todas as atrações da vivência, facilitador Vivalá sempre presente, orientação pré-viagem, seguro-viagem e kit viajante. Não estão inclusos no roteiro passagens aéreas até o destino de ponto de encontro. Para conhecer mais sobre os roteiros, datas e se inscrever,  acesse o site da Vivalá, em www.vivala.com.br.

Sobre a Vivalá

A Vivalá Turismo Sustentável no Brasil surgiu em 2015 como um negócio social com a missão de ressignificar as relações das pessoas com o Brasil através do turismo sustentável, empoderando comunidades e transformando percepções. A organização é especializada em expedições em unidades de conservação com profunda interação com a natureza e imersão nas comunidades locais através do turismo de base comunitária e voluntariado. A Vivalá recebeu 8 prêmios e reconhecimentos importantes em sua trajetória, sendo convidada para compor a rede Young Leaders of Américas do departamento de estado americano em 2018, a agência mais sustentável do Brasil em 2019 pela ONU, Organização Mundial do Turismo e Braztoa, além de ter sido escolhida em 2021, pela Fundação Grupo Boticário, Aceleradora 100+ da Ambev e PPA, e da iniciativa global da Yunus & Youth para fazer parte de seus programas de aceleração. Mais informações pelo e-mail contato@vivala.com.br ou telefone (11) 95658-5778.

 

 

 

 

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Comemoração dos 64 anos de Brasília tem teatro e oficinas

Programação em homenagem ao aniversário da capital inclui uma agenda extensa de atividades culturais, shows e eventos esportivos e cívicos gratuitos ao longo do mês

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Por Ana Flávia Castro, da Agência Brasília | Edição: Igor Silveira

 

A programação em homenagem aos 64 anos de Brasília promete agenda cheia para os brasilienses. A lista de atividades se estende até domingo (21), com diferentes atrações gratuitas, que vão desde apresentações musicais e artísticas até eventos esportivos e cívicos por toda a cidade.

Nesta quarta-feira (16), os brasilienses poderão aproveitar oficinas, apresentações de teatro e mostras culturais gratuitas em várias regiões do Distrito Federal. A lista de atividades inclui atrativos para todos os públicos.

Memorial JK e o Museu do Catetinho receberão a cada dia cerca de 40 crianças em vulnerabilidade social em visitas guiadas intituladas ‘Descobrindo Brasília: um passeio pela história’ | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

“A ideia do governador Ibaneis Rocha e da vice-governadora Celina Leão é levar as comemorações para todas as regiões administrativas e definir o aniversário de Brasília como um evento no calendário nacional, para que as pessoas venham curtir essa semana do aniversário, movimentando a cidade, enchendo os hotéis e dando visibilidade aos artistas locais”, destaca o secretário de Turismo, Cristiano Araújo.

Projeto Cantoar e as Aventuras Encantadas fará, na quarta-feira, duas apresentações teatrais voltadas para o público infantil, apresentando ao público técnicas do universo do yoga e da meditação para encontrar o equilíbrio emocional por meio da musicalidade, palhaçaria e literatura. As exibições serão às 10h e às 15h, no Teatro Sesc Paulo Gracindo (Gama).

Além dos espetáculos, o projeto oferecerá oficinas ligadas ao mundo sensorial das crianças ao longo de todo o mês no Cepi Quero-Quero (Recanto das Emas), sempre às 10h. A atividade é gratuita, mas está sujeita à lotação, e é necessário retirar ingresso neste link.

História, arte e cultura

Até o próximo sábado (20), o Memorial JK e o Museu do Catetinho receberão a cada dia cerca de 40 crianças em vulnerabilidade social em visitas guiadas intituladas Descobrindo Brasília: um passeio pela história.

O Museu do Catetinho também está na programação do aniversário de 64 anos de Brasília | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Ao longo de todo o mês de abril, as estações do Metrô Galeria e Central terão a exposição de telas dos artistas plásticos Xande e Rivas, tendo Brasília como tema. Aulões de dança também serão ofertados nos espaços culturais do DF – complexos culturais de Samambaia e de Planaltina, Centro de Dança, Espaço Cultural Renato Russo e Casa do Cantador.

Já na Biblioteca Nacional de Brasília serão realizados clubes de leitura uma vez por semana com a discussão de obras de Nicolas Behr. Durante o mês ocorre a primeira edição do concurso de fotografia Regina Santos. Serão contempladas três categorias: fotografias de natureza, de pessoas e de arquitetura. A premiação varia de R$ 1 mil a R$ 10 mil. As imagens vencedoras ficarão expostas no Espaço Oscar Niemeyer, na Praça dos Três Poderes.

Clique aqui para ver a programação completa do aniversário de Brasília.

Veja, abaixo, a programação.

→ Projeto Cantoar e as Aventuras Encantadas – apresentação teatral
Data: quarta-feira (17)
Horário: 10h e 15h
Local: Sesc Paulo Gracindo, Gama

→ Oficinas Cantoar e as Aventuras Encantadas
Data: durante todo este mês
Horário: 10h
Local: Cepi Quero-Quero – Núcleo Rural Monjolo, Recanto das Emas

→ Exposição de telas dos artistas plásticos Xande e Rivas sobre Brasília
Data: durante todo este mês
Local: Estações de metrô Galeria (Xande) e Central (Rivas)

→ 1ª edição do Concurso de Fotografia Regina Santos
Data da premiação: domingo (21)
Local: Espaço Oscar Niemeyer – Praça dos Três Poderes

→ Aulões abertos nos espaços culturais
Data: durante todo este mês
Locais: Centro de Dança (Setor de Autarquias Norte Q 1), Casa do Cantador (Setor. N Quadra 32 Área Especial G – Ceilândia), Complexo Cultural de Planaltina (Avenida Uberdan Cardoso, Setor Administrativo Lote 02 – Planaltina), Espaço Cultural Renato Russo (Asa Sul Comércio Residencial Sul 508 Bloco A – Asa Sul) e Complexo Cultural de Samambaia | (Samambaia Sul)

→ Clube de leitura de autores brasilienses
Data: durante todas as semanas deste mês
Local: Biblioteca Nacional de Brasília

→ Projeto Cinema é Ralação – oficinas
Data: até o dia 26
Horário: 8h às 12h
Local: IFB Recanto das Emas

→ Visita guiada pelos patrimônios históricos e culturais de Brasília
Data: quarta (16),  quinta (17) e sexta (19) no turno vespertino; domingo (20), no turno matutino
Local: Memorial JK e Museu do Catetinho.

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Viva Brasília 64 anos: As várias faces da estética brasiliense

Especial de aniversário da capital tem início com reportagem explorando a identidade brasiliense, do sotaque à culinária, passando pela moda

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Por ‌Jak Spies e Victor Fuzeira, da Agência Brasília | Edição: Vinicius Nader

Prestes a completar 64 anos de vida, Brasília é a capital responsável por abrigar todos: desde candangos que edificaram prédios, passando pelos descendentes e aqueles que vêm somente para visitar e conhecer a construção da identidade cultural do Quadradinho.

No especial Viva Brasília 64 anos, a Agência Brasília convida você a lembrar, conhecer e viver o jeitinho brasiliense, contemplado pela arquitetura, culinária, arte, esporte e outras áreas.

Forjada na diversidade, a capital tem gerações que nasceram aprendendo a fazer o balão, descer a tesourinha e pegar o zebrinha – coisas que fazem sentido para os brasilienses e compõem o estilo de vida da cidade, mas podem causar estranhamento a quem vem de fora.

Arte: Agência Brasília

Para a antropóloga e professora do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Haydèe Caruso, Brasília pode ser pensada de forma muito diversa e com múltiplas identidades devido à própria concepção da cidade, que representa a junção de todas as partes e lugares do Brasil.

“A gente não estabelece padrões culturais por decretos ou protocolos, nós vamos vivendo e construindo a identidade cultural. É difícil dizer que há uma única identidade, até pelo distanciamento entre o Plano Piloto e as outras regiões administrativas, onde há vários movimentos que são berço do rap, do rock e do samba brasiliense. É um caldeirão que reúne o diverso que é o Brasil. A pluralidade pode ser nossa identidade”, explica a especialista.

Arte, cultura, arquitetura, moda e gastronomia ajudam a compor a identidade única de Brasília, cidade que reúne aspectos culturais de todas as partes do país | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

A antropóloga ressalta, ainda, que a identidade cultural é um processo contínuo de construção, em que a própria linguagem e expressões coloquiais locais podem ser citadas como exemplo.

Sotaque brasiliense

Para o brasiliense é comum pegar um baú ou camelo e ir ao Eixão do Lazer ou até mesmo morgar embaixo de um ipê e admirar o céu

Para o brasiliense, é comum pegar um baú ou camelo e ir ao Eixão do Lazer ou até mesmo morgar embaixo de um ipê e admirar o céu de Brasília – aquele conhecido como o mar da cidade. Depois, quem sabe, ir à Igrejinha e mais tarde ao Cine Drive-In ou ao Conic para um frevo.

Se você não é de Brasília, o parágrafo acima pode ser um pouco confuso de entender. Mas não se preocupe, nós o ajudamos a entender o dialeto da cidade que é só o ouro para você não pagar vexa, tá ligado, véi?

Essas são apenas algumas expressões típicas que fazem parte do sotaque brasiliense, tão claro para alguns e questionado por outros. O assunto foi tema do documentário Sotaque Capital, produzido pela jornalista Marcela Franco em 2013.

No curta, a resposta é que sim, existe um sotaque com características próprias no DF, fruto de uma mistura de diversas regiões do país. “Vinham pessoas de todos os estados para cá. Daí nasceu esse sotaque; dizem que é falado de forma cantada e que comemos algumas letras das palavras”, acentua a jornalista.

Outro termo peculiar é “babilônia”, usada para se referir às únicas quadras comerciais do Plano Piloto com ligação subterrânea. Considerada uma quebra de padrão entre as quadras modelos do Plano Piloto, a 205/206 Norte era conhecida como “a quadra estranha do Plano Piloto”, malvista por muitos e amada por alguns, e tema do documentário Babilônia Norte, dirigido por Renan Montenegro, 34.

O cineasta estava entre os que passavam pela quadra e a viam de forma diferente. Lançado em 2013, o curta explora os ângulos e espaços arquitetônicos do espaço, fazendo parte de um movimento de identificação cultural em Brasília que surgiu no mesmo ano. “O que mais potencializou esse movimento foi ser um trabalho feito por brasilienses, convidando mais artistas brasilienses para um público brasiliense. É um discurso bem bairrista: feito aqui, por nós, sobre nós e para nós. É pertencer à cidade e dar ressignificado para as coisas”, conta Renan.

O diretor aponta que o ano de 2013 foi uma virada para a identidade brasiliense e fez diferença na quadra para o que ela é hoje. A mesma lógica, que parte de ocupar os espaços públicos, é aplicada ao Carnaval de Brasília, que já tem um circuito a contemplar os brasilienses que não precisam mais viajar só para se divertir em bloquinhos.

“Para uma cidade nova, dez anos fazem muita diferença. Há um desenvolvimento dos artistas locais e do público. Brasília sempre foi muito fria pela construção arquitetônica e urbanística e pelos endereços cheios de números. Então, até esse movimento de apelidar os lugares, por exemplo, ajuda no processo de chamar a cidade de nossa”, destaca o cineasta.

Moda e gastronomia

O chef André Castro defende a gastronomia com ingredientes locais: “Precisamos começar a olhar para o quintal da gente”

Essa construção de identidade entra em outros campos. Os alimentos típicos do Cerrado são usados na elaboração de menus executivos, festivais gastronômicos e cardápios especiais. Entre os restaurantes que ressaltam essa culinária local está o Authoral, localizado na Asa Sul e comandado pelo chef de cozinha André Castro.

Durante o período em que esteve na Europa, André assimilou o importante aprendizado de enaltecer o local. “Valorizar o ingrediente que está próximo a você, seja porque ele faz parte da cultura, seja porque chega até você mais fresco: isso é valorizar, também, toda a cadeia produtiva que está próxima”, pontua.

Atualmente, há dois pratos incluídos no cardápio nessa linha. O primeiro leva óleo de babaçu tostado no lugar do óleo de gergelim. É um filé de pescada-amarela com crosta de castanhas brasileiras, musseline de batata-doce roxa, creme de moqueca e vinagrete de milho tostado. No outro preparo, é usada uma técnica espanhola para fazer uma croqueta com massa de galinha caipira com emulsão de pequi.

“Infelizmente, o brasiliense ainda conhece pouco do Cerrado. As pessoas nascem e crescem no Cerrado, mas não conseguem falar cinco ingredientes encontrados aqui. Precisamos começar a olhar para o quintal da gente”, comenta o chef.

Na loja Verdurão, Wesley Santos trabalha com duas ‘estações do ano’: seca e chuva

Não só a culinária é influenciada por características locais do DF, mas também a moda. Enquanto muitos países apresentam estações do ano bem-definidas, a marca de roupas Verdurão, criada em 2003, entende que isso não existe na realidade brasiliense.

“Temos duas estações: seca e chuva. E é assim que operamos, com roupas para época de seca e época de chuva. Eu até brinco que a Verdurão começou a falar da identidade cultural de Brasília em uma época em que a gente nem sabia que tinha uma identidade. A marca ajudou a mapear e explicitar essa identidade aos brasilienses”, afirma o diretor criativo da Verdurão, Wesley Santos.

Além de ser uma rede de apoio à economia local e às várias famílias que vivem da produção do vestuário, a Verdurão produz roupas sem nada de origem animal. Algumas são feitas com tecidos biossustentáveis, como fibra de bananeira e de cânhamo.

“Eu já rodei o mundo inteiro e nunca vi nada minimamente parecido com Brasília. É uma cidade cenário diferente de tudo”

Wesley Santos, diretor criativo

Uma das missões da empresa é, segundo Santos, “promover Brasília até para gringo conhecer” e “mostrar para o resto do país o quanto Brasília é massa”. Para o diretor criativo, não é tarefa difícil trabalhar com estampas que retratam o cotidiano da capital federal, usando e abusando dos símbolos brasilienses – placas, fauna, flora, gírias, costumes e cartões-postais.

“Estamos em uma cidade fora do normal, incrível. Temos um estilo de vida que não se encontra em nenhuma cidade do país. Eu já rodei o mundo inteiro e nunca vi nada minimamente parecido com Brasília. É uma cidade-cenário diferente de tudo”, afirma.

Brasília é poesia

Com oito livros repletos de poesias que falam sobre Brasília, o poeta Nicolas Behr compartilha dessa paixão pela cidade onde mora há 50 anos. O autor frisa que tudo está relacionado ao choque inicial que teve com Brasília, quando chegou aos 14 anos, vindo de Cuiabá (MT), e deu de cara com uma cidade estranha, nova e árida.

O poeta Nicolas Behr foi buscar inspiração nas curvas de Brasília para sua arte | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

“Essa aridez me causou um estranhamento, uma dificuldade de aceitar essa cidade e uma tentativa constante de dialogar com ela. Foi daí que nasceu a minha poesia, da tentativa de decifrar Brasília antes que ela me devorasse. É um conflito bom, que vai diminuindo à medida que você vai se incorporando à cidade”, observa.

Behr também comenta que a parte mais visível da estética brasiliense é a contribuição para a arquitetura, sendo impossível falar de Brasília sem passar pelas obras de Oscar Niemeyer. “Antes de Brasília, a arquitetura moderna era feia, pesada, sem leveza, sem graça, sem a criatividade que Oscar Niemeyer nos trouxe. Ele tirou os ângulos retos e trouxe as curvas, deu beleza ao que antes era uma coisa pesada”.

Para o poeta, Brasília representa a maior realização do povo brasileiro. “A grande história de Brasília é o que ela simboliza como uma ideia: a transposição para o papel e para o chão de uma tentativa de organizar o caos. Brasília é a cidade mais racional do mundo. É uma cidade instigante, que ganhou em vida e perdeu em mistério”, declara.

Ele finaliza reforçando que Brasília, por si só, rende muita poesia: “Aqui não existe limite para a criação intelectual. Brasília é uma cidade muito nova e, por ser nova, não tem uma tradição literária. Isso é bom para o artista, porque a tradição é um peso. Em Brasília, o horizonte está na sua frente”.

 

 

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Programa leva estudantes para visitas guiadas no Museu de Arte de Brasília

Mais de 3 mil alunos da rede pública já visitaram o Museu de Arte de Brasília por meio de projeto que oferece transporte gratuito, alimentação e oficinas educativas para os jovens

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Por Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Igor Silveira

 

Foi a primeira vez que a estudante Maiara Kelly Soares dos Santos, de apenas 6 anos, foi ao Museu de Artes de Brasília. De primeira, ela já demonstrou afeição pelas obras, elogiando não só as oficinas com brincadeiras, mas principalmente os quadros que viu durante a visita guiada. “Eu gostei mais das obras de arte, nunca vim aqui. É tudo bonito. Aprendemos o que é mais quente e mais frio”, destacou a pequena, referindo-se à tonalidade das cores ensinadas durante o passeio.

Já foram realizadas 168 visitas guiadas no equipamento público, que ocorrem desde 17 de abril de 2023 | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Maiara é uma entre os 140 alunos de educação infantil da Escola Classe Córrego Barreira, uma escola rural localizada na Ponte Alta Sul do Gama, e está entre os 3 mil estudantes do DF que já visitaram o museu por meio do MAB Educativo, que conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF). Além das mediações e práticas artísticas, o programa oferece transporte gratuito e lanche para as crianças.

Já foram realizadas 168 visitas guiadas no equipamento público, que ocorrem desde 17 de abril de 2023. Mais de sete mil pessoas já foram alcançadas pelo programa do MAB, divididas entre público espontâneo e público escolar, além de 335 professores de 94 escolas, de 20 regiões administrativas do DF – sendo 90 de escolas públicas e quatro de escolas particulares. Mais de mil pessoas foram atendidas com o transporte gratuito.

“É uma oportunidade que eles têm de sair do ambiente deles, porque nossa escola é do campo e os alunos são de comunidade bem carente, então é uma parceria muito importante. Melhora muito a criatividade, o repertório visual e de palavras, além do desenvolvimento deles no campo da arte”, destacou a vice-diretora da Escola Classe Córrego Barreira, Marlene Alves.

Mais de sete mil pessoas já foram alcançadas pelo programa do MAB, divididas entre público espontâneo e público escolar, além de 335 professores de 94 escolas, de 20 regiões administrativas do DF – sendo 90 de escolas públicas e quatro de escolas particulares

Essas visitas só foram possíveis porque o MAB foi reaberto em 2021, antes fechado desde 2007. A reabertura do espaço cultural foi um dos presentes do aniversário de 61 anos da capital federal. Para o aniversário de Brasília, além das atividades normais durante a semana, o Museu está com uma programação de oficinas especiais nos finais de semana. O MAB fica no Setor de Hoteis e Turismo Norte, trecho 1, Projeto Orla.

Interação com o mundo

O projeto, que tem capacidade atual de receber 480 crianças por semana, também disponibiliza visitas acessíveis em libras e um material educativo para as crianças. De acordo com a coordenadora pedagógica do MAB Educativo, Luênia Guedes, a acessibilidade e o transporte gratuito são a parte principal do programa. “Muitas dessas escolas estão em regiões que ficam longe e não têm condição financeira de levar esse acesso às crianças”, ressaltou.

Com supervisão pedagógica, a turminha recebe a visita mediada de forma lúdica pelo acervo, onde as crianças participam dos jogos desenvolvidos pela equipe de mediadores. Depois, elas seguem para uma oficina no laboratório, que conta com atividades interativas.

“Essa proximidade com a arte já começa transformando e dando a sensação de pertencimento para essas crianças, para que elas possam perceber que o museu é um espaço para a comunidade. A experiência com a arte acessa o sensível, o criar, as possibilidades de reflexão, de interação com o mundo e a capacidade de construir novas realidades e mundos possíveis. Esse trabalho é fundamental para a formação cidadã de cada criança”, reforçou a coordenadora.

 

 

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