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MEU PRIMEIRO DIA DAS MÃES

A maior surpresa de minha vida e a poesia que até hoje sei de cor

 

(Lição: foi o vazio que provocou uma saudade e até mesmo o sofrimento que marcou na minha memória o primeiro dia sem minha mãe. Daí, a lembrança do meu PRIMEIRO DIA DAS MÃES)
Janeiro de 1958. Com apenas 12 anos, recém completados em 31/12/1957, tinha acabado de entrar no Seminário dos Padres Barnabitas, em Caxambu.
Tudo era novidade. A vida era dura para uma criança que ainda não entendia de mundo: dormir num dormitório com 70 meninos, acordar cedo, banho frio (pior: uma bateria de 25 chuveiros que o decano abria um registro ao mesmo tempo para todos), missa toda manhã, único recreio que se podia conversar era depois do almoço e depois do jantar, conversar durante o almoço só aos domingos ou feriados (durante a semana, havia sempre a leitura da vida de algum santo).
Na sala de aula, só se podia falar com o professor. No Ginásio Caxambu, tinha nós seminaristas e também alunos externos, mas era terminantemente proibido falar com eles. Castigo na hora: 50 linhas para decorar durante o recreio. Só voltava a ter recreio depois da decoreba.
Tudo isso eu levava numa boa. A única coisa que me tirava do sério era saber que férias em casa só em dezembro do outro ano. Sim, férias em casa era ano sim, ano não. Isso me incomodava.
A maior alegria no Seminário era receber cartas. Toda tarde, dois seminaristas iam até o Correio para buscar correspondências. Aliás, nunca um seminarista podia sair sozinho. Até ao dentista, por exemplo, tinha que ir alguém junto. Mas quando a dupla chegava do Correio e entrava na grande sala de estudo, todo mundo olhava. Uma piscadela denunciava que tinha carta para esse ou aquele. Aí era aquela aflição para saber de quem e quando chegaria às nossas mãos. Sim, o padre superior José Sisnando só entregava a carta bem mais tarde. E acredite: aberta. O padre lia todas elas e ainda fazia comentários. Se fosse de prima, aí ele dizia rispidamente para não responder.
Chorar? Só de noite debaixo das cobertas. Bem escondido. E o único choro no início era saudades de minha mãe.
Minha primeira emoção no Seminário foi quando, numa tarde, o padre Sisnando me chamou com muita formalidade:
– José Silvestre, sua mãe está na sala de visita. Você tem quatro horas para ficar com ela. Às cinco, em ponto, tem que estar aqui dentro.
Emoção grande. Depois de cinco meses no seminário, via minha mãe pela primeira vez.
Era domingo, 11 de maio de 1958: Dia das Mães. Lembro-me bem porque era antevéspera do aniversário de minha vó, Ana Maria Forastieri Flori.
Bem, na hora de minha mãe se despedir de mim, como ela sabia que eu gostava de colecionar poesias, deixou-me uma poesia. Estava escrita à mão. Não sei de onde copiou. Nem eu e nem o Google sabemos a autoria. A poesia conta justamente a história do filho que sai de casa para ir para o colégio interno. Claro que decorei. As poesias que gosto sei de cor. É a carta de um filho no colégio interno e a resposta da mãe ausente. Assim:
A CARTA do FILHO
Mamãezinha cheguei ontem
O Colégio está tão triste
Só saudade, só tormento
Em redor de mim existe.
Mas olha, estou vendo agora
Que razão de sobra havia
Quando chamavas teu filho
Distraído em demasia.
Imagina, mamãezinha,
Por não sei qual distração
Deixei por aí perdido
O meu pobre coração.
Procura-o, vê se o encontra
Tem pena de meu sofrer
Pois como sem coração
Pode teu filho viver?…
A RESPOSTA da MÃE
Já recebi, meu filhinho,
Tua carta, tens razão.
Deixaste, de fato, aqui
Perdido teu coração.
Sabes, porem, onde estava
Oh meu filhinho querido?
No coração da mamãe
É que ele estava escondido.
Na primeira ocasião
Eu mesma irei te levar
Um tal tesouro não quero
Por nada, a ninguém confiar.
PS:
Mas cuidado que não fique,
Na minha volta, oh benzinho,
O coração da mamãe
No coração do filhinho!

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JUCA CHAVES

APENAS UM DEPOIMENTO

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O compositor, músico, humorista e crítico, Menestrel Maldito, deixa saudades. O Brasil e a Bahia se despedem do carioca Jurandyr Czaczkes Chaves (1938-2023).
Juca Chaves fez muito sucesso com suas modinhas/sátiras durante o governo Juscelino Kubitschek.
Ele é autor de músicas que se tornaram sucesso no Brasil como “A Cúmplice”, “Menina”, “Que Saudade” e “Presidente Bossa Nova”.
Vale lembrar:
1) JK nunca censurou as sátiras de Juca Chaves. Pelo contrário, adorava suas modinhas sempre bem humoradas e criativas. Juca Chaves foi censurado durante governo militar, entre 1964 e 1985. Aí sim, ele foi perseguido, exilado e viveu alguns anos longe do Brasil, entre Portugal e Itália.
2) Em 2011, no lançamento do filme ‘JK NO EXÍLIO’, de Charles Cesconetto, aqui no Museu Nacional de Brasília, a meu convite, o Juca Chaves subiu ao palco com a filha de JK, Maria Estela, e cantou suas modinhas, abrindo com o PRESIDENTE BOSSA NOVA.
3) Nesse dia, Juca Chaves e Maria Estela Kubitschek, abriram a cerimônia com uma forte mensagem a favor da ADOÇÃO, por sinal, uma lei proposta por JK. Evidente lembrando a adoção da própria Maria Estela e das duas filhas de Juca Chaves: Maria Clara e Morena.
A filha de JK, deixou no seu FB a seguinte mensagem:
“A família do “Presidente Bossa Nova” está triste com o falecimento de Juca Chaves. O Menestrel popularizou JK com suas sátiras, sempre criativas e bem humoradas. Juca Chaves “Voou…. Voou pra bem distante…” e “a mineirinha debutante” está triste.
Maria Estela Kubitschek Lopes
Para quem quiser ouvir Juca Chaves cantando “Presidente Bossa Nova”
Fotos: Antes da exibição do filme “JK NO EXÍLIO”, no Museu Nacional de Brasília, Juca Chaves subiu ao palco e cantou várias modinhas, terminando com Presidente Bossa Nova.
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Dia Mundial da Água

Cerrado pode perder quase 34% da água até 2050

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Cenário considera impacto do ritmo de exploração agropecuária no bioma

 

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

“Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata”, disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

“O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral”, detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

“A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco”, comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.

Edição: Heloisa Cristaldo

EBC

 

 

 

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VENTO DA ARTE NOS CORREDORES DA ENGENHARIA

Lá se vão 9 anos. Março de 2014.

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No dia 19 de março, quando o Sinduscon – Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF completava 50 anos, um vendaval de Arte, Musica, Pintura adentrou a casa de engenheiros, arquitetos e empresários e escancarou suas portas e janelas para a Cultura.
Para que o vento da arte inundasse todos seus corredores e salões, o então presidente Júlio Peres conclamou o vice Jorge Salomão e toda diretoria para provar que Viver bem é viver com arte. E sempre sob as asas da Cultura, convocou o artista mineiro Carlos Bracher para criar um painel de 17 metros sobre vida e obra de JK e a construção de Brasília. Uma epopeia.
Diretores, funcionários, escolas e amigos ouviram e sentiram Bracher soprar o vento da Arte durante um mês na criação do Painel “DAS LETRAS ÀS ESTRELAS”. O mundo da engenharia, da lógica e dos números se transformou em poesia.
Uma transformação para sempre. Um divisor de águas nos 50 anos do Sinduscon.
O presidente Julio Peres no discurso que comemorou o Cinquentenário da entidade e a inauguração do painel foi didático e profético:
“A arte de Carlos Bracher traz para o este colégio de lideranças empreendedoras, a mensagem de Juscelino Kubitschek como apelo à solidariedade fraterna e à comunhão de esforços. Bracher é nosso intérprete emocionado das tangentes e das curvas de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Nos lances perfomáticos de seu ímpeto criador, Bracher provocou um espetáculo de emoções nas crianças, professores, convidados, jornalistas e em nossos funcionários.
Seus gestos e suas pinceladas de tintas vivas plantaram sementes de amor à arte. As colheitas já começaram.”
Aliás, as colheitas foram muitas nesses nove anos e serão ainda mais e melhor na vida do Sinduscon. O centenário da entidade está a caminho…
Sou feliz por ter ajudado nessa TRAVESSIA.
SG
Fotos: Carlos Bracher apresenta o projeto do Painel. Primeiro em Ouro Preto e depois visita as obras em Brasília.
Na foto: Evaristo Oliveira (de saudosa Memória) Jorge Salomão, Bracher, Julio Peres, Tadeu Filippelli e Silvestre Gorgulho
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