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Acervo do Museu de Arte de Brasília ganha novas obras

Doações e contrapartidas ajudam a contar a história da arte brasileira do século XX

 

Agência Brasília* | Edição: Saulo Moreno

 

Um retrato produzido em grafite sobre papel por Di Cavalcanti, em 1943. Uma gravura em cores de Anna Letycia, feita em 1970. Outra gravura em preto e branco, de Djanira, produzida em 1968. E até mesmo uma icônica calcogravura de Portinari, datada de 1949. Essas são algumas das obras que agora compõem o acervo do Museu de Arte de Brasília (MAB) e, com isso, ajudam a apresentar para a população do Distrito Federal e seus visitantes a história da arte brasileira do século XX.

Gravuras de Debret, Rugendas e Arnoldus Montanus, que agora também fazem parte da narrativa promovida pelo MAB | Fotos: Hugo Lira/Secec

Construído na década de 1960 e inaugurado em março de 1985 para ser o primeiro museu de arte da nova capital do país, o MAB ficou fechado por 14 anos e, em 2021, foi finalmente reaberto. Um dos equipamentos culturais de Brasília sob gestão da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec), ele hoje recebe uma média de 2,5 mil visitantes por mês, consolidando-se como singular espaço de preservação e interpretação das artes visuais localmente.

Gravura em cores de Anna Letycia, feita em 1970, e outra gravura em preto e branco de Djanira, produzida em 1968

O acervo do museu é formado por cerca de 1.400 peças, entre quadros, esculturas, mobiliários e outros tantos objetos carregados de conceitos, significados e preciosos valores estéticos. E essas coleções estão, continuamente, sendo atualizadas e construídas. “O acervo do MAB é um dos mais importantes em artes visuais da cidade, mas tinha várias lacunas que precisavam ser preenchidas. E isso tem acontecido de três formas: por doações, por transferência de outros setores da Secec e por contrapartidas pelo uso do MAB ou da Concha Acústica”, explica o gerente do espaço, Marcelo Jorge.

As doações, em geral, são feitas pelos próprios artistas ou por colecionadores, interessados em ter a peça musealizada – já que isso impacta tanto no valor de mercado quanto na divulgação daquela obra ou autor. Como exemplos de doações, Marcelo cita três obras de Cícero Dias, pioneiro do modernismo no Nordeste, além de gravuras de Debret, Rugendas e Arnoldus Montanus que agora também fazem parte da narrativa promovida pelo MAB. A outra maneira é por transferência de peças dentro da própria Secec, que possui, nos diversos espaços culturais sob sua gestão, um variado acervo de arte. Serigrafias de Siron Franco e de Athos Bulcão são modelos de peças que foram para o museu por meio desse tipo de acordo.

Retrato produzido em grafite sobre papel por Di Cavalcanti, em 1943, e calcogravura de Portinari, datada de 1949

No caso das quatro obras citadas no início do texto, no entanto, a aquisição se deu por contrapartida pelo uso da Concha Acústica, que é um desses equipamentos geridos pela secretaria e vinculado ao MAB. A vantagem dessa opção, segundo Marcelo, é que, assim, o museu pode escolher as obras de que precisa, traçando uma melhor estratégia para preencher as lacunas do acervo.

Funciona assim: o interessado em utilizar os espaços da Concha ou do próprio MAB para fins privados, com cobrança de bilheteria eventualmente, pode “pagar o aluguel” por meio da doação de uma obra de arte. “A gente apresenta uma lista de importantes artistas que ainda não temos no acervo. O interessado nos apresenta opções de obras disponíveis e fazemos a seleção. A partir disso, é feito um acordo de patrocínio privado direto, em que a pessoa doa aquelas obras e, em troca, utiliza esses espaços. Foi assim que conseguimos adquirir nomes que ainda não tínhamos nas coleções da Secec, mais ou menos conhecidos, mas muito relevantes para a história da arte”, explica o gerente.

Grafite sobre papel feita por Di Cavalcanti em 1943

Quem participa da parceria aprova prontamente a negociação. Jorge Luiz é sócio-administrador da produtora Giral Projetos, que transformou o uso da Concha Acústica para o show do ator e comediante Fábio Porchat em uma obra de Cândido Portinari. Já a apresentação do influenciador Deive Leonardo foi convertida na aquisição de uma serigrafia de Judith Lauand e outra do húngaro Victor Vasarely, primeiro grande nome internacional do acervo do MAB. “Foi uma experiência incrível! Já havíamos participado de ações em que doamos serviços e equipamentos técnicos. Mas ter a oportunidade de doar obras de artes nos enche de orgulho, pois isso estará sempre contando parte de nossa história”, celebra.

Para Cinara Barbosa, curadora e professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília, é fundamental que a sociedade entenda esses trânsitos como uma possibilidade prazerosa de contribuir com a formação do repertório imagético, artístico e museológico da cidade, entendendo o acervo também como oportunidade de acessar outras formas de conhecimento. “A instituição tem ciência de que isso pode ocorrer, mas é preciso sinalizar para a sociedade que esse interesse pode ser espontaneamente dela”, argumenta.

Cinara conhece bem a história do MAB, pois integrou um projeto de residência artística no museu, realizado dentro do canteiro de obras durante sua reforma. Sob essa perspectiva é que ela observa a relevância da participação da sociedade na compreensão e na fruição do museu. “A população e os artistas precisam entender que a instituição [MAB] é um espaço para a cidade, que pode funcionar para a pesquisa, para lazer, para conhecimento. Precisam entender a importância desse espaço, com todas as suas problematizações, mas refletindo sobre de que forma a gente pode criar condições para que esses projetos sejam comentados e revisitados, e que essa discussão que a arte contemporânea provoca em seus próprios processos e modos de fazer ganhe mais visibilidade, pois a arte e os espaços da arte têm que estar em circulação”, conclui.

*Com informações da Secec

 

 

 

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Enriquecimento ambiental: Bem-Estar e Alegria das Tartarugas Marinhas nos Museus da Fundação Projeto Tamar

Conheça a rotina de cuidados que a equipe do Tamar tem com os animais dos museus

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Os museus da Fundação Projeto Tamar têm um papel fundamental no programa de conservação das tartarugas marinhas! Contribuem diretamente para a recuperação das populações selvagens por meio de seu papel essencial na comunicação e sensibilização de comunidades costeiras, turistas brasileiros e de outras partes do mundo. Neles, os visitantes têm a oportunidade de aprender sobre as tartarugas e as ameaças que afetam as populações destes fascinantes seres marinhos. Também é possível conhecer as atividades de manejo, pesquisa e inclusão social realizadas pela Fundação Projeto Tamar, em sua missão de promover a recuperação destas espécies no Brasil.

Além do compromisso com as tartarugas em seu ambiente natural,  a manutenção das tartarugas marinhas nos museus do Projeto Tamar demanda cuidados especiais com a saúde e qualidade de vida destes animais. As equipes de manejo mantêm uma rotina de cuidados com a limpeza de recintos e manutenção da qualidade da água,  nutrição e monitoramento regular da saúde das tartarugas. Uma atividade dessa rotina importante, é o fornecimento de estímulos aos animais, de forma que possam desempenhar comportamentos naturais para cada espécie. Tudo isto, para assegurar o bem-estar de cada indivíduo que reside nos museus.

Os enriquecimentos ambientais são utilizados para garantir o bem-estar físico e mental dos animais. Planejadas pelas equipes técnicas, estas intervenções no dia-a-dia das tartarugas têm como objetivo tornar os ambientes mais dinâmicos, oferecendo desafios e oportunidades de escolha para os animais. Os estímulos são aplicados respeitando a adaptação de cada indivíduo, e tem formas, frequências e intensidades variáveis que buscam reduzir a monotonia da rotina dos animais nas piscinas.


Alguns objetos são colocados nos recintos estimulando a curiosidade e interação das tartarugas, como o “quadrado de PVC”

Existem diferentes categorias de enriquecimento. Modificações na estrutura dos recintos que oferecem esconderijos, obstáculos ou oportunidades de exploração são chamados de enriquecimentos físicos. Variar os itens da dieta e também a forma de oferecer os alimentos são chamados de enriquecimentos alimentares. Enriquecimentos sociais visam promover interações positivas entre indivíduos da mesma espécie ou ainda de espécies distintas, enriquecendo assim as relações sociais no ambiente.


Os “picolés”, blocos de gelo com alimento, exigem um esforço extra das tartarugas para que abocanhem os petiscos congelados

No enriquecimento sensorial, objetos são oferecidos e atividades realizadas buscando reproduzir sensações agradáveis que as tartarugas encontrariam na natureza. Depois do enriquecimento alimentar, é uma das atividades mais apreciadas pelas tartarugas!

Quem visita os museus da Fundação Projeto Tamar tem a oportunidade de acompanhar, dentro da programação de cada local, os enriquecimentos ambientais e conhecer mais de perto os comportamentos naturais das espécies. Um exemplo é o enriquecimento ambiental apelidado de “lava rápido das tartarugas”, onde escovas fixas ou móveis são oferecidas às tartarugas para que possam interagir com os objetos, reproduzindo o comportamento de se coçar que realizam em recifes de coral e costões rochosos.


Estruturas fixas ou móveis são colocadas no recinto, permitindo às tartarugas se coçarem de forma semelhante ao que fazem em recifes de corais

Durante essa atividade, os monitores comentam com os visitantes sobre as fascinantes “estações de limpeza” presentes nos oceanos, locais onde os organismos marinhos se reúnem para serem cuidados por espécies especializadas de peixes e camarões limpadores.

Essa abordagem lúdica enriquece a experiência dos visitantes, estimulando ainda mais a empatia e a conscientização sobre a conservação marinha.

As atividades de enriquecimento são sempre monitoradas. As informações sobre o tipo de enriquecimento, os indivíduos envolvidos, o tempo de interação e comportamentos manifestados são registrados, possibilitando à equipe aprimorar o enriquecimento ambiental e melhorar cada vez mais o bem-estar das tartarugas marinhas nos museus do Projeto Tamar.

 

 

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Modo não indígena de pensar futuro é alienante, diz Daniel Munduruku

“É uma visão que educa as pessoas para o egoísmo”, avalia o escritor

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Daniel Munduruku não se ilude. Seja percorrendo o mundo para falar sobre literatura e divulgar os mais de 60 livros que escreveu, seja atuando em uma novela da emissora de maior audiência do país, está consciente de que o livre acesso a espaços até há pouco inacessíveis para indígenas como ele pode ser usado contra a luta secular de seus parentes.

“O fato de estarmos na literatura, na academia, na política, em vários lugares, pode gerar a autoilusão de acharmos que estamos fazendo uma grande coisa quando, na verdade, só estamos ajudando a, de certa forma, alimentar o sistema econômico que rejeitamos”, pondera Daniel.

Convidado a imaginar o futuro dos povos originários para uma série de entrevistas com intelectuais, lideranças e ativistas indígenas que a Agência Brasil publica esta semana, por ocasião do Dia dos Povos Indígenas, na sexta-feira (19), Daniel critica a fixação da sociedade não indígena com o futuro.

“Esse olhar para o futuro aliena as pessoas para a necessidade mais imediata de construirmos nossa existência no presente. É uma visão que educa as pessoas para o egoísmo”, argumenta, afirmando que, tradicionalmente, os povos indígenas concebem o tempo de forma diferente, com foco no passado e no presente, onde buscam respostas para seguir resistindo à destruição de seus territórios e de seus modos de ser.

“O tempo é circular, como a natureza. Ele alimenta a si mesmo, desdobrando-se e se projetando adiante. A história se repete. Neste momento, está se reproduzindo de forma muito dura, muito cruel, e não só para os povos indígenas”, acrescenta.

Nascido em Belém (PA), em 1964, Daniel é formado em Filosofia e doutor em Educação, pela Universidade de São Paulo (USP). É considerado um dos grandes divulgadores da cultura indígena. A maior parte de sua extensa obra é destinada a crianças e adolescentes. Em 2017, ganhou um Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do país, na categoria Juvenil, por seu livro Vozes Ancestrais – em 2004, já tinha recebido menção honrosa na mesma premiação, por Coisas de Índio – Versão Infantil. “Minha literatura é uma espécie de choro para sensibilizar adultos”.

Leia, a seguir, trechos da entrevista que Daniel Munduruku concedeu um dia após retornar de viagem à Itália.

Agência Brasil: Em suas palestras, entrevistas e livros, o senhor destaca o fato de que os munduruku e outras etnias indígenas concebem o tempo de outra maneira, pensando o futuro de forma diversa daquela com a qual o pensamento ocidental não indígena está habituado. O senhor pode comentar um pouco mais sobre isso?
Daniel Munduruku: Acho que posso generalizar sem medo de ser injusto. Em geral, os povos indígenas têm uma concepção de que o tempo é circular, como os ciclos da natureza. Eles não veem o tempo como algo linear, mas sim como algo que alimenta a si mesmo, desdobrando-se e se projetando adiante. O passado diz respeito a quem somos, de onde viemos, e o presente é onde vivenciamos o resultado disso tudo. Com isto, esses povos construíram uma visão de mundo que, originalmente, não é baseada no tempo do relógio, da produção, do acúmulo de riquezas materiais. Essa é a visão resultante da concepção linear de tempo, que tem a ver com a certeza de que existe algo além do presente, ou seja, o futuro. Por essa ótica linear, no futuro, as pessoas serão mais felizes. Assim nascem as grandes histórias ocidentais sobre uma busca por algo muito importante: do santo graal a uma vida após esta vida. Esse olhar para o futuro aliena as pessoas para a necessidade mais imediata de construirmos nossa própria existência no presente. É uma visão que educa as pessoas para o egoísmo, para a disputa, para a conquista e a colonização do outro. Toda a pedagogia ocidental está fundamentada na célebre pergunta “o que você vai ser quando crescer?’. Nas comunidades indígenas tradicionais, não se pergunta a uma criança o que ela vai ser quando crescer. Existe a compreensão de que ela já é aquilo que só lhe é possível ser no agora. Cabe à comunidade e aos adultos oferecerem as condições para que ela seja plenamente criança, cresça, se torne um jovem equilibrado e, por fim, um velho consciente do seu papel no mundo. Isso é ligar seu ser presente ao futuro, estabelecendo uma relação de circularidade e educando para o coletivo.

Agência Brasil: Mas, hoje, os próprios indígenas demandam que pensemos no futuro, reivindicando políticas públicas que, necessariamente, precisam ter metas e avaliação de resultados. Não é importante pensar o futuro como forma de responder aos problemas presentes?
Daniel Munduruku: O que os indígenas querem é viver uma vida longa. Para isso, precisamos das condições adequadas. E uma condição é não viver em constante disputa uns com os outros. Ao disputarmos, a gente destrói, domina, escraviza, mata. E nem todos conseguem ser felizes desta maneira. Daí a crítica a esse modo de ver o futuro, que resulta, como disse, em um olhar que aliena e educa para o egoísmo. Para resolver os problemas presentes dos povos indígenas – problemas que se desdobram a partir do passado –, teriam que demarcar todos os territórios e dar aos indígenas autonomia para decidir o que fazer com as terras homologadas. Caberia aos indígenas resolver o melhor caminho a seguir. Repito: não se trata apenas de modos de vida. Trata-se de como a economia governa o mundo. Embora exista o conceito de economia circular, a economia que efetivamente governa o mundo é linear. Seria necessário e urgente dar aos indígenas a oportunidade de decidirem como fazer a junção entre a economia circular indígena e a economia linear.

Agência Brasil: Feitas essas considerações, como o senhor imagina o futuro dos povos indígenas? O senhor concorda com a tese de que o futuro é ancestral ou não haverá futuro?
Daniel Munduruku: Gosto da ideia de o futuro ser ancestral. Seria a comprovação de que o que está por acontecer já aconteceu e de que o tempo é circular. De que a história se repete e que, neste momento, ela está reproduzindo um momento muito duro, muito cruel, não só para os povos indígenas.

Agência Brasil: Duro e contraditório, não? Ao mesmo tempo em que os territórios indígenas são alvo da cobiça de garimpeiros, madeireiros e da expansão das fronteiras agrícolas e que testemunhamos crises humanitárias como as que atingem os yanomami, na Amazônia, e os guarani e kaiowá, em Mato Grosso do Sul, a população indígena segue crescendo e há cada vez mais indígenas ocupando espaços até há pouco inacessíveis.
Daniel Munduruku: Mas a contradição não é nossa. É do sistema que olha e sempre olhou para os povos indígenas como um problema. Há milhares de anos, nós, indígenas, temos construído respostas para parte dos graves problemas que a humanidade está enfrentando. Existem, no Brasil, 300 povos indígenas lutando bravamente para se manterem vivos. O que envolve também a luta pela demarcação de territórios. Óbvio que não há soluções fáceis.

Agência Brasil: O senhor acaba de retornar da Itália, onde participou da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, acaba de retornar dos Estados Unidos, onde, entre outras coisas, participou de um evento em Harvard. O Ailton Krenak tornou-se, na semana passada, o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Pela primeira vez, a Funai é comandada por uma indígena, a advogada Joênia Wapichana. Há cada vez mais escritores indígenas, alguns com relativo sucesso comercial. A sociedade está ansiosa por conhecer o que o senhor acaba de chamar de “respostas indígenas para parte dos graves problemas que a humanidade enfrenta”?
Daniel Munduruku: Eu diria que estão tentando impingir na gente a obrigação de dar respostas, de dar solução à crise que o próprio homem branco gerou. Claro que os indígenas estão buscando se fazer cada vez mais presentes, pois não há outro caminho. Ou a gente se apresenta como parte dessa sociedade à beira da destruição e da loucura, ou a gente é engolido por ela sem ter nem sequer direito a falar. A questão é que, às vezes, o que pode parecer uma grande coisa pode ser um engodo. O fato de estarmos na literatura, na academia, na política, em vários lugares pode gerar a autoilusão de acharmos que estamos fazendo uma grande coisa quando, na verdade, só estamos ajudando a, de certa forma, alimentar o sistema econômico que rejeitamos.

Agência Brasil: O senhor acabou não completando a resposta sobre quais são, a seu ver, as possibilidades de futuro para os povos indígenas?
Daniel Munduruku: Como eu disse, as soluções para os problemas não são fáceis. Existe futuro para os povos indígenas neste sistema em que vivemos? Um futuro em que possamos manter parte de nossas tradições, incluindo a opção de seguir vivendo na floresta se assim quisermos? Não sei. Temo que isso acabe logo. Porque o sistema, guloso como só ele, vai querer devorar tudo, como vem acontecendo há séculos. Há 524 anos os indígenas travam uma guerra contra esse sistema, preservando seus territórios. Não sou um bom profeta, mas acho que o que se desenha para nós é, pouco a pouco, irmos cada vez mais para os centros urbanos sob risco de morrermos em confrontos.

Agência Brasil: O senhor, portanto, é pessimista quanto ao futuro dos povos indígenas?
Daniel Munduruku: Não digo pessimista. É que a esperança é uma ficção. E uma ficção é uma forma de embarcarmos na ideia de futuro sobre a qual já falamos. De buscar, no futuro, respostas para os problemas presentes, quando a realidade é muito mais cruel e o inimigo, muito mais forte do que a gente imagina. Às vezes, o inimigo vai transformando nossa esperança em um produto com o qual acaba nos iludindo. Se admitir isso é ser pessimista, que seja, tudo bem.

Agência Brasil: Por outro lado, boa parte de sua obra literária é destinada a crianças e adolescentes, o que comporta boa dose de otimismo.
Daniel Munduruku: Sim, há algo de utopia nisso. Uso minha escrita para crianças como forma de atingir os adultos. Imagino que um adulto vai ler um livro antes de oferecê-lo a um filho e procuro atingir o adulto por meio de temas universais. Às vezes, a gente precisa usar o choro das crianças para sensibilizar os adultos, que são, de fato, quem precisa de remendo. Minha literatura é isso: uma espécie de choro para sensibilizar adultos.

*A primeira entrevistada para esta série especial que a Agência Brasil produziu para o Dia dos Povos Indígenas foi a demógrafa Rosa Colman, primeira e, possivelmente, única especialista em estudos populacionais a se autodeclarar indígena no país. Nos próximos dias serão publicadas as entrevistas com a escritora Eliane Potiguara e com a ministra Sonia Guajajara.

Edição: Juliana Andrade

ebc

 

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Banheiros do Parque da Cidade são reabertos após reforma

Nova estações já podem ser usadas a partir desta quarta (17); a entrega das outras sete será feita de forma escalonada para garantir o bom uso dos espaços

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Por Agência Brasília* | Edição: Carolina Caraballo

 

Depois de passarem por reformas, os banheiros do Parque da Cidade Sarah Kubitschek começaram a ser reabertos nesta quarta-feira (17). A Secretaria de Esporte e Lazer do Distrito Federal (SEL-DF) e a administração do local liberaram para uso nove estações: 1, 2, 3, 5, 8, 10, 14, 15 e 16. A entrega dos novos toaletes será feita de forma escalonada para garantir o bom uso dos espaços – ao final, todas as 27 unidades estarão à disposição dos usuários.

A partir desta quarta (17), nove estações de banheiro do Parque da Cidade estarão liberadas para uso; os espaço passaram por reforma completa | Foto: Divulgação/ SEL-DF

Os banheiros receberam reforma na parte hidráulica; revestimento de parede; troca de cuba, vaso sanitário, piso e louças; pintura e impermeabilização. A obra não apenas visou a estética dos espaços, mas também procurou atender a Norma Regulamentadora de Sanitários (NBR 9050:2020), reforçando o compromisso com qualidade e acessibilidade. Na próxima etapa, será implantada a iluminação das estações.

Para garantir a conservação dos banheiros, a segurança do parque será reforçada com mais oito postos de vigilância diurna.

Esta foi a primeira vez que todas as 16 estações do Parque da Cidade e a estação do parque Ana Lídia receberam uma reforma desta magnitude. Nelas, os usuários encontram banheiros masculinos, femininos e para pessoas com deficiência (PcDs).

*Com informações da Secretaria de Esporte e Lazer do Distrito Federal (SEL-DF)

 

 

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